Ser ou não ser de esquerda

Vivemos no Brasil tempos
cinzentos em termos de
ideologia? Muitos dirão que sim
como, por exemplo, os chamados radicais do PT. Isso ficou claramente ilustrado
nas palavras da deputada federal Luciana Genro (PT-RS), que no Congresso
Nacional da UNE (União Nacional dos Estudantes) afirmou: “A
direita, na verdade, está no governo. E os da direita que estão fora do governo
estão aplaudindo esse modelo que está aí” (Folha de S. Paulo de 21/06/2003).

A deputada, quem sabe, quis dizer
que o PT no governo tornou-se de direita, o que envolve seu próprio pai, um dos
ministros do governo Lula, sendo que a maioria dos demais colegas de Tarso
Genro são petistas. Acrescente-se que José Dirceu, o
ministro mais poderoso, é quem pode nomear todo o segundo e terceiro escalões
dos ministérios.
Ora, é sabido que o Partido dos
trabalhadores é generoso com os seus. Será que o PT tornou-se de direita?

Segundo ainda a Folha de S.
Paulo, a deputada Luciana afirmou no Congresso da UNE: “Queremos mostrar que
ainda existe esquerda. Quem se submete ao FMI não pode ser considerado praticante da política de esquerda”.

No mesmo evento a senadora
Heloísa Helena aproveitou para defender a retirada da reforma da Previdência de
pauta: “Esta proposta não atende aos interesses dos cortadores de cana citados
por Lula. Só atende aos gigolôs do FMI”.

Diante dessas convicções
arraigadas de esquerda, a mais recente frustração de petistas radicais ou não,
deve ter sido a ida do presidente aos Estados Unidos. Mas em que pese aqui no
Brasil o encontro entre Lula e Bush ter sido saudado pela mídia com aquele
clima de uma das Copas do Mundo, quando se disse, “o mundo se curva para o
Brasil”, o fato foi pouco comentado pelos jornais americanos. Por outro lado,
Lula, que parecia um garoto deslumbrado diante de Bush,  limitou-se a
retificar (sem medo de colonização) o prazo para a criação da Alca, em 2005, e  assinar alguns acordos de
cooperação. Nada muito espetacular, apesar do presidente brasileiro declarar
que “o mundo ia se surpreender em termos do relacionamento
entre o Brasil e os Estados Unidos. Seria o mundo da esquerda
petista?

Na verdade não foram discutidas
questões mais importantes como protecionismo, liberalização do comércio com a
OMC ou relacionamento bilateral, apesar de que muitos salamaleques foram
trocados. Mesmo porque, o acordo com o FMI vence em poucos meses e o
Brasil precisa renová-lo.  E no “Acordo Conjunto”, que o governo
brasileiro assinou, está clara a imposição dos Estados Unidos com relação às Farc, algo que
o presidente da Colômbia vai gostar:

“Cooperaremos em temas de interesse comum, que
contribuam para a defesa e a
segurança do hemisfério,
redobrando esforços conjuntos para combater o terrorismo, o tráfico e o consumo
de drogas, o tráfico de seres humanos e outros crimes transnacionais que
ameacem a paz da região”.

O encontro serviu também para
Lula fazer um relatório sobre as medidas restritivas do
seu governo e apontar para a recuperação econômica do país, como quem exibe o
dever de casa bem feito. Logicamente, nada foi dito sobre a queda da produção
industrial e das vendas do comércio, o aumento do desemprego, das taxas, dos
juros (apesar do meio por cento psicológico), da
violência, o fato do Programa Fome Zero não ter decolado. Mas como os
americanos sabem das coisas, disse o presidente Bush: “Estamos provando que os
especialistas estão errados a nosso respeito, porque você (Lula) se preocupa
com a política econômica e nós, republicanos, com a
pobreza.”

Na Argentina, o La Nación destacou que “Lula foi o primeiro
chefe de Estado que se opôs abertamente à guerra do Iraque a entrar no salão
oval da Casa Branca”. Entre as várias interpretações que daí se pode tirar, uma
é que o Brasil finalmente admitiu que os Estados Unidos estavam
certos em fazer guerra contra o sanguinário Saddam.

A estas alturas, não só a
esquerda do PT se encontra mais indignada, como os radicais
da direita xenófoba e ultranacionalista devem estar pensando que Lula vendeu o
Brasil para os Estados Unidos.  Mas para entender melhor o que se passa, nada como assistir Matrix Reloaded. Já está tudo programado e, como diria o Chaveiro,
o PT veio para cumprir esta missão. Isso significa que ser ou não ser de
esquerda é irrelevante. O problema é se persisitir
o vírus
de esquerda que deleta todos os programas que incluem o progresso.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Maria Lucia Victor Barbosa

 

Socióloga, jornalista e escritora, autora entre outros livros de: “O voto da pobreza e a pobreza do voto: a ética da malandragem (Jorge Zahar Editor) e América Latina: em busca do paraíso perdido (Editora Saraiva).

 


 

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