Uma grande perda

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Ainda me lembro daquele dia de 1987 em Brasília. A
capital da república respirava os ares da Assembléia Nacional Constituinte.
Estava no restaurante do aeroporto. Avistei o Senador. Desde criança gostava de
política. Então, naquele dia, aos 13 anos, me encaminhei até a mesa daquele
político que tanto admirava. Ele estava sendo entrevistado por um jornalista.
Avistando minha aproximação, abriu um sorriso. Depois de trocarmos algumas
palavras, ganhei um forte e sincero abraço. Voltei até a mesa onde estava com
lágrimas nos olhos. Havia conhecido o Senador Mário Covas. Hoje me recordo
deste momento, 14 anos depois, quando meu Senador foi vencido por um
incontrolável câncer.

Hoje recebi um E-mail que dizia não se
recordar de uma manifestação popular tão forte na despedida de alguém desde que
perdemos Ayrton Senna. Pode ser verdade. Mas o que fazia Covas ser uma pessoa
tão especial? É difícil enumerar. Mas, sem dúvida, sua maior qualidade era
saber ser um democrata. Ele representava a essência do PSDB, ou seja,
personificava os valores que levaram os dissidentes do PMDB a formá-lo. Suas
qualidades, neste sentido, assemelhavam-se a de outro ilustre político que
perdemos recentemente, o Governador Franco Montoro. Em uma rápida leitura,
percebemos como o PSDB perdeu figuras importantes nos últimos anos, pessoas que
eram verdadeiros ícones das causas sociais-democratas
defendidas pelos tucanos. Agora, o PSDB preciso de novos comandantes com as
qualidades destes dois políticos.

Covas deixa uma imagem irretocável, de homem
público honesto e trabalhador, exemplo de moralidade. Administrador de
qualidade, que estava guiando São Paulo para fora do emaranhado de dívidas e
más administrações dos últimos tempos. Covas representava
a dignidade política, independentemente de sua posição ideológica. Jogava
limpo. Em época de denúncias de corrupção que resultam em desilusão do povo com
a classe política, provou que esta é também formada por pessoas honestas e de
qualidade.

Tinha suas posições, mas não hesitou em modifica-las, quando verificou
a realidade da administração pública. Muitos consideravam o Governador um estatista. Esta pecha o acompanhava na eleição presidencial
de 1989. Então, em um discurso (uma de suas grandes qualidades, a oratória)
durante a campanha, colocou alguns atônitos quando disse que o Brasil precisava
de um “choque de capitalismo”. Naquele momento desagradou a
esquerda e não convenceu os liberais. Perdeu a eleição, mas deixou sua marca.
Entretanto, em uma outra leitura, poderíamos perceber que Covas estava atento as mudanças que aconteciam no mundo e verificava que
o Estado não podia mais suportar aquele nível de endividamento para gerar
desenvolvimento. Era necessário incentivar os empreendedores, abrir os
mercados, ou seja, desestatizar. Foi o que fizeram os
governos seguintes. Foi o que fez em São Paulo quando assumiu o governo do estado,
pois sabia que esta era a melhor forma de poder proporcionar bem estar para o
cidadão.

Era também um líder decidido, não se
afinando com grande parte dos tucanos, que muitas vezes permaneceram “em cima
do muro”. Foi assim na decisão de integrar o governo Collor. Não era um líder
omisso, mesmo que isto lhe trouxesse a pecha de truculento e teimoso. Mas ao
contrário do que muitos pensam, era muito coração.

A perda de Covas é ruim para o PSDB,
para São Paulo, para o Brasil. Homens de sua estatura moral devem ser exemplos
que a nova geração de políticos deve seguir. Como disse, podemos não concordar
com suas idéias, mas pessoas de caráter, éticas, abnegadas, sensatas e lutadoras
não podem ser facilmente esquecidas. Que o nosso Governador descanse, inclusive
das injustas pedradas que recebeu durante uma manifestação, já doente. E para
terminar, faço minhas as palavras do Deputado Vittorio Mediolli:
“O Brasil perdeu um grande homem, um homem raro, um monumental exemplo de
virtude”.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Márcio C. Coimbra

 

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

 


 

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