Um vice para Serra

Enquanto a magnífica voz da bela e
festejada cantora de jazz norte-americana Jane Monheit
encantava no Americel Hall de Brasília sob calorosos
aplausos, a capital da República era palco de inúmeras articulações políticas
com vistas a escolher o nome que acompanhará o senador José Serra em sua
campanha à Presidência. O jogo da sucessão havia mudado depois da recusa do
governador Jarbas Vasconcelos ao convite para concorrer a Vice-Presidência na
chapa do governo.

Desde este fato político inesperado, o
PMDB começou a procurar nos seus quadros alguém que pudesse aglutinar suas
tendências, especialmente aquelas que hoje detém o controle o partido.
Curiosamente, os nomes em especulação eram de políticos que até pouco tempo
divergiam das posições adotadas pelo Palácio do Planalto, ou pelo menos, haviam
mantido certa independência em relação ao governo na votação de determinadas
matérias no Congresso Nacional. O primeiro nome foi o da deputada capixaba Rita
Camata. Estrategicamente, o nome é ótimo para Serra,
pois na qualidade de mulher e parlamentar competente, ela pode tirar votos da
candidata Roseana Sarney. Também foi lembrado o nome do combativo senador
gaúcho Pedro Simon, de notória seriedade e político histórico do partido. Por
fim, foi cogitado o nome do governador das Minas Gerais, Itamar Franco.

Itamar traria ótimos dividendos
eleitorais para Serra, principalmente por carregar os importantes votos de
Minas Gerais – segundo colégio eleitoral brasileiro. Além disto, esta situação
poderia acalmar a guerra na delicada sucessão mineira. Explico. O presidente da
Câmara dos Deputados, Aécio Neves, poderia lançar-se candidato ao Palácio da
Liberdade, acompanhado pelo deputado Hélio Costa para o cargo de vice. Na chapa
para o Senado, a coligação poderia contar com os nomes de Eduardo Azeredo e
Newton Cardoso, o que fecha o círculo das forças de Minas. Apesar de Itamar
agradar Serra e o PSDB, assim como os nomes de Rita e Simon, tudo leva a crer
que todos podem ter sido vetados pela atual cúpula do PMDB. Vale lembrar que
estes nomes não se aliaram a ala governista do partido, que há tempos deseja
aliança com os tucanos.

Então começaram a surgir inúmeros
candidatos para vice, alguns até inusitados e desconhecidos, porém dispostos a
“vestir a camisa” e acompanhar Serra na campanha presidencial. No meio de toda
esta turbulência causada pela recusa do governador de Pernambuco, a cúpula do
PMDB começou a sondar alguns nomes como Henrique Eduardo Alves (RN), Ramez Tebet (MS) – presidente do
Senado e Luiz Henrique (SC) – prefeito de Joinville. Os dirigentes do PMDB não
acham justo que a posição de vice caia nas mãos do grupo que sempre defendeu a
candidatura própria e rechaçava a aliança com o PSDB. Logo, o nome procurado
deve ser aquele que forneça a estabilidade necessária para conduzir, juntamente
com Serra, uma delicada campanha e se vitorioso, a perspicácia necessária para
negociar a melhor acomodação do partido nos quadros de um futuro governo.

A aliança PSDB/PMDB está fechada e
muito dificilmente fará água como muitos acreditam. A cúpula do PMDB lutou
muito para chegar nesta posição e não abrirá mão do privilégio de ter o governo
como companheiro de chapa facilmente. O PMDB, contudo, quer mais. Deseja
negociar desde já as próximas presidências da Câmara e do Senado e delinear a
importância que terá em um possível governo José Serra desde já. As
negociações, portanto, não param, já que os líderes desta coligação esperam
consolidar o nome do vice em
breve. Enquanto essas discussões seguiam, há poucos
quilômetros do Congresso, a suavidade e a calma da voz de Jane Monheit ainda encantava sua atenta platéia. Penso que
talvez estivesse lá a inspiração necessária que faltava aos políticos para
chegar finalmente a uma decisão sobre o colega de chapa de Serra.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Márcio C. Coimbra

 

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

 


 

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