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O bom revolucionário

As molas propulsoras do sucesso de uma
sociedade são as suas empresas. Elas geram emprego, riqueza, avanços
tecnológicos e bem estar para a população, especialmente quando atuam dentro de
um mercado livre. Por trás destes conglomerados econômicos ou até mesmo na
condução dos negócios de uma pequena empresa, existe alguém que assume riscos,
imagina novas formas de suprir as necessidades do consumidor e ainda paga
pesados tributos, em muitos momentos, sentindo diretamente a forte intervenção
do Estado na economia. Ele se chama “empreendedor”. Da sua iniciativa nascem
empresas, produtos e serviços que revolucionam o mercado. Alguns empresários se
tornam líderes em grande escala. O Brasil, nesta semana, perdeu um de seus
grandes líderes, o Comandante Rolim Amaro, Presidente
da TAM.

Muitos de nós conhecíamos o Comandante Rolim, talvez a bordo de aeronaves da TAM, ou até mesmo
durante seu habitual cumprimento aos passageiros durante o embarque.
Particularmente, conheci e passei a admirar muito mais o Comandante Rolim durante uma reunião do IEE, entidade formadora de
lideranças empresariais no Rio Grande do Sul, em outubro do último ano. Rolim não poderia estar mais à vontade, pois estava em seu
habitat natural: um salão cheio de empresários jovens, dispostos a assumir o
risco de empreender. Não havia alguém melhor para ensinar do que um empresário
com a sua história. Sua palestra foi marcante, tanto pelo seu jeito espontâneo,
que conservava o estilo caipira (com extremo orgulho), quanto pelos fatos que
marcaram a construção do império da TAM sob o seu comando.

Empresário de sucesso, mas também
preocupado com os destinos do país, especialmente na área de aviação, logo após
o encontro com os empresários gaúchos, gastamos um tempo conversando sobre o
projeto de criação da nova Agência Nacional de Aviação Civil, ANAC. Rolim me disse que estava muito preocupado com o aumento
excessivo de regulação no setor com a provável aprovação da criação da nova
agência, o que inibiria a livre iniciativa. Como conseqüência disto, estava
viajando periodicamente a Brasília com vistas a acompanhar o andamento do
projeto. Rolim desejava um mercado mais livre, menos
regulado, com liberdade para ousar e empreender.

Piloto, mas muito mais do que isto, um
empresário nato, o empreendedor Rolim conseguiu
construir aquela que neste mês se tornou a empresa líder do mercado nacional no
setor de aviação comercial. Quando se tornou acionista minoritário em 1971, a TAM ainda era uma
pequena empresa de Táxi Aéreo. Hoje, onde chegou sob
seu comando, com 91 aeronaves, ela emprega diretamente mais de 7.500 pessoas,
obtendo um faturamento de cerca de R$2,26 bilhões. Rolim,
com sua competência profissional, transformou a TAM com a aplicação de suas
idéias inovadoras e revolucionárias, desenhando o caminho que levou a empresa
ao sucesso. A perspicácia do empresário, que soube crescer em um mercado
extremamente fechado e competitivo, foi determinante para o sucesso em um setor
onde até pouco tempo somente existiam três companhias (Varig, Transbrasil e
Vasp). Seu principal trunfo foi a conquista do
consumidor mediante um tratamento diferenciado. A principal virtude da TAM
sempre foi a “qualidade”. Durante todos estes anos, a TAM passou somente por
três abalos: a queda do Fokker F-100 em S. Paulo, a explosão
criminosa em um de seus aviões e o câncer de garganta tratado enfrentado por Rolim, que ao invés de o abater,
deu-lhe mais vontade de vencer e crescer.

A perda de Rolim
é marcante para o Brasil, pois ele é o retrato do país que dá certo, de um
empresário de sucesso, obstinado, empolgado e audaz. Muitas vezes choramos a
perda de um político. Isto é natural no Brasil, um país que tem em seus valores
a cultura de valorizar pessoas ligadas ao Estado. Mas a perda de um empreender
do porte de Rolim Amaro é algo que deveria nos marcar
muito mais. Com ele aprendemos como é importante ousar e empreender,
descobrindo que o sucesso é resultado do esforço de cada um. Seu legado é muito
maior do que podemos imaginar. Ele foi um revolucionário, mas não daqueles que
derramam sangue em batalhas pelo poder, Rolim foi o
“bom” revolucionário, mudando conceitos, agitando o mercado, trazendo
modernidade, ousadia e gerando empregos. O Brasil perdeu um homem raro e seus
ensinamentos não devem ser esquecidos.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Márcio C. Coimbra

 

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

 


 

Equipe Âmbito Jurídico

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