Por Ruy Rede
Qual o real papel do advogado? Como ele pode ser diferenciado entre tantas opções existentes no mercado? A tecnologia ajuda ou atrapalha? Estas e muitas outras perguntas têm permeado as discussões nos escritórios de advocacia e faculdades de direito.
Vamos começar pela expectativa do cliente em relação à prestação de serviço de advocacia. O cliente espera uma prestação de serviço cada vez mais precisa e rápida. Busca um advogado que o ajude a ultrapassar rapidamente as barreiras que os impedem de fazer negócio ou buscar algum tipo de ressarcimento ou recuperação fiduciária. O advogado precisa ser estratégico, mas também precisa garantir o bom resultado para o cliente
Existem excelentes profissionais no mercado que podem ser ainda mais diferenciados com a adoção de ferramentas tecnológicas que os ajudem a navegar neste novo cenário. Embora ainda haja uma certa resistência, muitas vezes fundamentada em frases do tipo “sempre fizemos assim e sempre funcionou”, “ por que gastar dinheiro com tecnologia, se o que interessa é o argumento/tese?”, muitos escritórios de advocacia vem adotando práticas que envolvem mais tecnologia e, com isso, acelerando processos e aumentando sua produtividade.
Isso não é novidade. Saímos da máquina de escrever para o processador de textos, do telefone fixo para o celular, dos processos manuais para os automatizados, dos tribunais baseados em presença física e papéis para sistemas eletrônicos e do trabalhar no escritório para o trabalho remoto. Então, qual a próxima etapa? O que pode exponenciar os resultados?
Em uma análise empresarial simples: Reduzir custos e aumentar a produtividade!
A adoção de mais tecnologia, incluindo as ameaçadoras disruptivas, endereça estes dois pontos: Na redução de custos, o benefício é óbvio. Menos papel, menos deslocamento, menos tempo, entre muitos outros. No aumento de produtividade, a coisa complica um pouco, mas nada que não possa ser resolvido. O uso de robôs para captura de dados e os sistemas com inteligência artificial propiciam um papel muito mais estratégico para o advogado, concentrando sua atuação onde ela realmente importa e reduzindo drasticamente o trabalho operacional.
Pense em um sistema que captura as informações recém-chegadas dos tribunais e as tratam em velocidade de máquina, consolidando os dados e apresentando painéis (dashboards), incluindo o histórico de decisões e jurisprudência para decisão do próximo passo, com cálculos de probabilidade e de valores envolvidos. Depois disso, imagine a montagem automática de um documento (contrato, petição, etc) em alguns segundos e acessíveis de qualquer lugar/dispositivo. Isso tudo é realidade que em breve se tornará commodity e depois premissa para atuação no mercado.
Isso pode ser comprovado com o aumento de 300% na quantidade de startups com foco no segmento jurídico, entre 2017 e 2019, e o crescimento da AB2L (Associação Brasileira de Legaltechs e Lawtechs) que foi fundada em 2017 com 20 empresas e hoje já conta com mais de 600 associados.
Se pensarmos apenas do lado da proteção de dados, a própria Lei Geral de Proteção de Dados já considera, como premissa, o uso da tecnologia. A descoberta de informações pessoais em dispositivos de armazenamento e a governança são praticamente impossíveis de serem feitos sem ferramentas de tecnologia. O ciclo de vida dos dados pessoais precisa ser gerenciado desde a sua captura até o descarte. Chatbots (robôs de atendimento em sites) já estão chegando em um nível de integração e sofisticação cada vez maior e já capturam desde a consulta do titular do dado, passando por seu consentimento ou solicitação, até a eliminação do dado quando a legislação permitir.
Enfim, o advogado tem um papel cada vez mais estratégico e relevante nas organizações ou nos escritórios de advocacia à medida que adota a tecnologia como aliada em sua jornada.
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