Acolher vivências individuais é recomendado para um melhor desenvolvimento da autonomia e comunicação das crianças no processo de aprendizado
As técnicas de avaliação do desempenho na educação infantil vão além de notas e compreendem o acompanhamento de habilidades, atitudes e comportamentos. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) sugere que as instituições precisam acolher vivências das crianças tanto do contexto familiar, quanto comunitário. Na maioria das vezes esse é o primeiro momento em que há uma separação dos vínculos familiares e o desenvolvimento da socialização, autonomia e comunicação é o foco.
Escolas, curso de idiomas e centros de aprendizagem infantil passaram a implementar o método das avaliações formativas. Nelas, o aluno é avaliado de maneira individualizada e contínua a partir de suas dificuldades e necessidades. A técnica baseia-se, em parte, no pensamento de Paulo Freire sobre a educação ser a criação de possibilidades e não a simples transferência de conhecimentos.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI) definem a criança como sujeito que constrói sua identidade pessoal e coletiva através de interações diárias, brincadeiras, imaginação, aprendizado e observação. Avaliações formativas para a área da educação infantil, portanto, incluem a associação do aprendizado com interações e brincadeiras.
A coordenadora pedagógica de educação infantil da Prefeitura do Município de Londrina, Gláucia Regina Macioni Lovo, defende que os alunos não aprendem da mesma forma e nem ao mesmo tempo. Para ela, “falar em padrões de aprendizagem na Educação Infantil é uma tentativa de engessar algo que se apresenta em contínuo movimento”, aponta em artigo.
Nas avaliações tradicionais ou classificatórias, os estudantes são classificados com base em níveis de desempenho pré-definidos, que costumam ser expressos como nota de 0 a 10. Para a especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Rebecca Faria da Silva, esse método apresenta fatores negativos de motivação para os alunos. Eles se empenham nos estudos porque estão sujeitos à ameaça de reprovação e “são levados a estudar pelo medo, o que gera uma mera memorização momentânea”, disse em artigo.
Por outro lado, as avaliações formativas têm o objetivo de realizar um acompanhamento contínuo dos estudantes ao longo do período letivo. Seu propósito é avaliar se estão atingindo os objetivos estabelecidos pela disciplina e permitir a identificação dos erros e acertos e, consequentemente, uma melhora progressiva.
Para Rebecca, essas avaliações buscam uma maior inclusão do aluno e se baseiam na valorização individual. Ela explica que o educador deve optar por abordagens que reconheçam que o conhecimento está sendo construído pelo aluno em processo de desenvolvimento. “Refletir sobre a importância da avaliação na escola é pensar e agir democraticamente para que no futuro ela não seja apenas encarada como um mal necessário, mas como oportunidade para a construção do conhecimento”, considera.
Na prática, instituições de curso de inglês para crianças, por exemplo, estão aderindo aos portfólios como instrumentos avaliativos formativos. Para a especialista em ensino de línguas estrangeiras, Lívia de Souza Pádua, esse método permite a valorização e a inclusão da diversidade, ao reconhecer as características individuais de cada aluno e aceitar que o aprendizado pode ocorrer de várias maneiras.
De acordo com Lívia, no contexto do ensino de línguas estrangeiras, o portfólio representa mais do que uma compilação de trabalhos. Na realidade, ele representa evidências do conhecimento adquirido durante as aulas de idiomas, incluindo um conjunto significativo de materiais, anotações e experiências.
De acordo com a pesquisa Atitudes pela Educação, realizada pela ONG Todos pela Educação, somente 12% dos pais estão plenamente engajados no processo educacional de seus filhos. Muitas vezes, o afastamento da família nesse processo acontece por considerarem que a escola é a única instituição responsável pela aprendizagem. Entretanto, o Artigo 205 da Constituição determina que a educação é dever do Estado e da família.
A psicopedagoga Milena Vega defende que as famílias devem adotar uma postura mais ativa em relação ao processo de aprendizagem de suas crianças. “O ponto principal da aprendizagem é a motivação, e sem esse componente dificilmente a criança construirá seu conhecimento”, disse em entrevista à imprensa.
Milena sugere ações práticas para estar mais presente nesse processo, como definir um horário regular para participar das atividades de casa em conjunto com a criança. Reforços positivos, como elogiar ou recompensar uma criança após completar uma tarefa, são bem-vindos. “Esse momento deve virar uma parceria entre pais e filhos, onde o adulto não é apenas aquele que dita as ordens”, explica a psicopedagoga.
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