Em todo o transcurso da História houve mitos e símbolos encarnados em pessoas. À primeira vista podemos incorrer no equívoco de supor que um mesmo fenômeno psicossocial transforma personagens em mitos ou em símbolos. Mas, na verdade, esses conceitos são bem diferentes.
A figura mítica é um sucedâneo da realidade. Preenche o vazio existencial das multidões. Consola o ser humano, esmagado pelas estruturas sociais opressivas. As infinitas carências de homens e mulheres sem rumo e sem esperança encontram na personagem mítica uma ilusória satisfação. Os mitos enganam o homem e retardam o avanço da História.
Os aparelhos de propaganda fabricam mitos. Bandidos podem ser transformados em heróis. Mas a mentira não é eterna. A posteridade faz o acerto de contas e destrona mitos.
Muito diferente da personagem mítica é a personagem que se transforma em símbolo. O tempo não esmaece o fulgor do símbolo. Muito pelo contrário, o símbolo ganha vigor no suceder das gerações.
O mito é produzido pelas várias espécies de poder – poder econômico, poder político, poder de interesses mesquinhos, poder de manipulação de consciências etc.
O símbolo tem radicação na alma do povo. O símbolo não precisa de propaganda porque é autêntico e tem a vocação da eternidade. O símbolo é eleito pelo amor, brota do coração, tem seu fundamento na verdade.
Cachoeiro de Itapemirim (ES) vem de prestar homenagem a um símbolo. Foi lançado naquela cidade o livro “Deusdédit Baptista – cidadão em tempo integral”.
Trata-se de um elenco de cinqüenta artigos sobre a figura do advogado, professor, jornalista, pai de família, cidadão Deusdédit Baptista.
Deusdédit Baptista já conquistou a posição de símbolo na cidade de Cachoeiro. Mas a história de Deusdédit Baptista merece transpor os horizontes de sua cidade porque ele não foi apenas um símbolo de dimensão local.
Deusdédit foi símbolo como advogado pela inteireza de sua ética, pela fidelidade aos seus patrocinados, pela chama que se tornava gigantesca quando defendia um pobre.
Deusdédit foi símbolo como político, dos mais brilhantes vereadores que este país já teve, quando, na Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim dava toda quinta-feira (dia das sessões) uma lição de cidadania, defendendo sem esmorecimento os interesses da coletividade. E – diga-se de passagem – que Deusdédit foi esse Vereador ímpar num tempo em que a vereança era gratuita.
Deusdédit foi símbolo como professor, pela dedicação ao magistério, pela finura com que tratava os colegas e os alunos, pela extraordinária cultura, pelos valores que inculcava na alma dos jovens, mais pelo exemplo do que pelas palavras.
Deusdédit Baptista, símbolo em minha terra natal, símbolo para o Brasil, símbolo para esta época que tanto precisa de luz, foi verdadeiro “cidadão em tempo integral”, conforme o inspirado subtítulo dado à coletânea pelo seu organizador, Bruno Torres Paraíso.
Livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor
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