Crônicas

O Inferno São os Outros

Se fizéssemos uma lista das pessoas que odiamos a nossa volta qual seria o tamanho dessa lista? A verdade é que muitas vezes não toleramos alguém por características como raça, gênero, religião, orientação sexual e até sem motivos aparentes. Alguns crêem que é direito seu odiar alguém, afirmam se tratar de liberdade de expressão quando na verdade utilizam, erroneamente, desse instituto para mascarar seu próprio preconceito, ultrapassando os limites de convivência social e indo muito além das ofensas verbais. Exemplo disso são os chamados “hate crime” ou “crimes de ódio”, manifestados na forma de insultos, ameaças de ataque e ataques físicos, em que as vítimas, selecionadas pelo simples fato de pertencerem a algum grupo social, são agredidas verbalmente, fisicamente e até assassinadas. Por esse motivo não se pode permitir a confusão entre liberdade de expressão e discurso de ódio. É sempre importante respeitar o direito do outro.

O ódio é algo que está arraigado em nossa sociedade desde os primórdios, quando Caim matou o seu irmão, Abel, por inveja. O ódio não está apenas relacionado ao fato de destoar de alguém. Há uma colossal dessemelhança entre não concordar e declarar ódio contra um indivíduo ou certo grupo social. Vivemos um paradoxo: evoluímos à velocidade da luz nas tecnologias, no entanto, regredimos à idade das trevas nas relações humanas. Não somos capazes de respeitar as desigualdades, desconhecemos os limites e reproduzimos manifestações preconceituosas, principalmente agora que possuímos a facilidade de afetar o outro através do anonimato da internet.

Ou que se acha possuir, posto que na internet nenhum indivíduo é completamente anônimo e/ou indetectável, apesar do anonimato que diversos serviços ofertam na Internet, vale ressaltar que tudo na Internet deixa evidências, quem pratica uma transgressão na rede pode ser identificado pelas autoridades.  Tais comportamentos têm de parar, não pelo fato de que podemos ser detectados e punidos, mas pelo motivo de que é errado, e apenas construiremos um mundo melhor fortalecendo as relações sociais fundadas na harmonia e pacificação social. A humanidade deve praticar a filosofia do cantor John Lennon e imaginar todas as pessoas vivendo a vida em paz.

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Mas por que motivo sente-se tanto ódio? Será parte de nossa natureza hobbesiana? Thomas Hobbes acreditava que o homem é naturalmente mau, possuindo a tendência de entrar em conflito com seus semelhantes. Talvez devêssemos justificar tanto ódio com a filosofia de Hobbes. Não obstante, aceitar que o ódio faz parte da natureza humana é aceitar que eventos como o nazismo eram inevitáveis, é aceitar a escravidão como algo natural e explicável, é aceitar torturas, estupros e qualquer forma de manifestação do ódio, como acontecimentos normais e esperados. Afinal, seria o ódio a essência humana.

Seria o ódio um reflexo da sociedade em que vivemos ou a sociedade um reflexo das atitudes que adotamos fundamentadas na cólera? Não há fundamento no ódio, nas palavras do psicólogo Augusto Cury, “Odiar alguém é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Ainda assim, tentando encontrar uma resposta ao fato de odiarmos tanto, chego à conclusão de que odiamos nos outros aquilo que vemos de pior em nós. É pelo olhar do outro que reconhecemos a nós mesmos, com erros e acertos.

Conquanto na maioria das vezes em que recebemos críticas alheias, não procuramos torná-las construtivas, muitas vezes chegando a odiar aqueles que nos mostram onde erramos. Desta forma, o olhar do outro se torna o grande revelador da nossa essência e tal ideia é perturbadora ao ponto de gerar ódio. Já que a convivência expõe nossas fraquezas, os outros são o nosso “inferno”.

 

Informações sobre a Autora

     Yasmin de Farias Ramos – Graduanda em Direito pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas – UNIFACISA.

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