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Vítimas de crimes em hospitais buscam montar associação

Infelizmente, hospitais no Brasil são área de atuação de criminosos. E isto ficou evidenciado durante a pandemia. As autoridades diplomáticas dos Estados Unidos emitiram alertas de segurança para cidadãos norte-americanos no Brasil e outros países sobre situações de risco em potencial. O comunicado chamou a atenção pela inclusão de instituições hospitalares como locais onde estão acontecendo crimes. De acordo com a mensagem enviada pela Embaixada dos Estados Unidos, criminosos estão se disfarçando de profissionais médicos e de segurança. De acordo com o comunicado, o ambiente de comoção por conta do coronavírus interferiria dramaticamente nas condições de vigilância de instalações de saúde. Registros policiais demonstram que o problema não é novo.

Ao contrário das imagens de ambientes confortáveis como resorts, de refeições por chefs estrelados e tranquilas como retiros tibetanos, hospitais são locais tensos, quase sempre preparados para atendimento ao inesperado, com recursos no limite e fluxo intenso de pessoas e, sobretudo, dados. Recursos humanos e técnicos estão voltados para o que interessa, cuidar de pacientes. Por isso, ao lado da esperança sinalizada pela cruz vermelha faltam advertências: “Cuidado, seus dados podem sofrer ataques de criminosos digitais”; ou pior, “Atenção, pessoas podem se passar por funcionários deste hospital para cobranças indevidas”.

Para se entender a dimensão do problema é preciso conhecer os riscos mais comuns de segurança num ambiente hospitalar:

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1 – Furto de dados digitais

No check-in tem várias etapas: Atendimento na chegada com conferência de dados e plano de saúde, triagem, atendimento médico e internação. Todos têm acesso aos seus dados e de seus acompanhantes. Dados disponíveis: RG, CPF, Endereço, telefones de contato e plano de saúde, seja do paciente e do acompanhante. Infelizmente, qualquer pessoa que acessa o sistema pode fazer mau uso.

2 – Atendimento por inabilitados

Falhas no sistema de recursos humanos têm permitido a contratação de profissionais sem capacitação para as funções ou até mesmo sem diplomas.

3 – Pagamento de taxas e honorários irregulares ou ilegais

Há vários crimes onde familiares de pacientes recebem ligações de golpistas exigindo pagamentos para tratamentos e/ou medicamentos. O criminoso recebe os dados do paciente por vazamento interno com informações chave como de contato do familiar, com acesso também aos dados do prontuário. Ligam para o familiar fingindo ser da equipe médica e informar sobre o estado do paciente, o tratamento necessário, a urgência e falta de cobertura do plano. Por conta disso, mandam depositar um valor numa conta fictícia de PJ.

A freqüência deste golpe é tamanha que há modelo de comunicado dos hospitais entregue em folha de papel como um aviso do tipo “Nunca solicitamos pagamentos por telefone”. Isso não é eficaz. O problema é que na entrada do paciente, os acompanhantes se deparam com dezenas de páginas de papel, idas e voltas entre PS, internação, etc. que ninguém consegue parar para ler um aviso enfiado no meio da documentação. O que deveria acontecer é o atendente alertar paciente e família diretamente que existe o crime e fazer o paciente assinar um termo admitindo ter tomado conhecimento do comunicado.

4 – Pedido de resgate por seqüestro (falso) de parentes

Diferentemente da situação acima onde os familiares são contatados, nesse caso o paciente internado na UTI, totalmente indefeso e encurralado, é informado que familiares foram seqüestrados ao sair da visita hospitalar, mantendo o paciente na linha até receber o valor do resgate. Nesse caso, paciente na UTI já com a saúde debilitada é impactado diretamente, colocando em risco uma piora do quadro clínico.

Terror noite à dentro

Um exemplo dos riscos apontados pela autoridade diplomático aconteceu na cidade em São Paulo e está sob investigação da polícia civil e do Ministério Público. A história começa com acidente doméstico em que uma pessoa sofre queda da própria altura em casa e fratura o crânio na noite de 3 de novembro de 2018. Sua esposa e filha de 9 anos o levam ao Pronto Socorro do Hospital Samaritano no bairro de Higienópolis de onde foi transferido para a UTI na madrugada seguinte. Em 02 de dezembro elas chegam para a visita às 19h e retornam diretamente para casa às 20h51, conforme registros de entrada e saída do hospital.

Quarenta minutos depois da saída delas, o paciente recebe telefonema em seu celular onde alguém afirma que sabe que ele está internado na UTI e que sua esposa e filha, ao atravessarem a rua na saída do Hospital, foram seqüestradas por uma quadrilha fortemente armada.

Os criminosos sabiam os nomes, nacionalidades e descrição física de ambas; que o paciente estava sendo tratado na UTI, demonstrando conhecer detalhes da rotina da entrada de enfermagem

De acordo com o registro policial, embora seja proibido na rotina da UTI um paciente utilizar aparelhos digitais, o paciente estava de posse de notebook e celular para pagamentos que dependiam do uso de sua conta. No aparelho telefônico foram registrados 944 minutos de ligações a cobrar itemizados em conta TIM ao longo de 10 horas nas quais o paciente fica, acordado, negociando com supostos seqüestradores no leito da UTI. Ele pagou o resgate inicial de R$ 2.800, transferindo o saldo disponível em sua c/c naquele domingo, e ficou preso na linha aguardando horário bancário para quitar a exigência da diferença.

Um dos detalhes que mais chamaram a atenção policial foi o fato de golpistas avisarem que enfermagem entraria e exigirem que o celular fosse colocado na bandeja para sinalizar normalidade.

Há ainda dois dados sob intensa atenção. À meia noite, o paciente diz estar no auge das ameaças telefônicas. O enfermeiro mediu sua pressão arterial que registrou pico de 17:94. O médico responsável não foi notificado, como também a equipe médica de plantão não prestou atendimento. Entre 02:00 e 04:00 horas da manhã, a enfermagem registra o paciente como “Dormindo”. Não mediram ou trataram da pressão ou aceleração cardíaca do paciente enquanto acordado, e que acreditava estar negociando a vida de sua família.

Em depoimento, o paciente declara que a omissão do atendimento médico o fez entender que estava “encurralado”. Quanto mais tempo passava, mais ele sentia o coração disparar, a cabeça latejar e a visão embaçar. Ele compreendeu que não podia pedir ajuda internamente. Ao longo da madrugada, enviou mensagens pedindo socorro, via web WhatsApp para três pessoas fora do hospital.

Mais vítimas

Com o trauma sob controle de medicamentos, centra-se agora esforços na estruturação de entidade que ampare vítimas.

– Na medida em que começarmos a compartilhar a nossa história na busca de uma sincera manifestação da instituição de saúde constatamos que não somos únicos, pela omissão, silêncio e esforço da instituição de nos afastar. Fomos encorajados pela AVARC e especialistas em crime a lutar pelo nosso direito e buscar entender a permissibilidade de tais atos dentro da UHG, e mais ainda, a razão pelo qual fogem como raio e não apoiam as vítimas, muito menos reconhecem erros técnicos médicos de suas equipes decorrentes de crimes cometidos dentro do ambiente controlado do UTI.

Concluímos então que apenas somos aqueles que deram um passo à frente para dizer: Isso que aconteceu foi errado, é crime, é negligência técnica e exigimos satisfações. Corroborou isso o que avaliamos como comportamento leniente da administração de todo o grupo UHG, tanto do Hospital quanto do Plano de Saúde que joga de um lado para outro porque são da mesma holding.

– Não aceitamos o papel de vítimas aleatórias. Estamos chamando outras pessoas para darem um passo à frente!  Sentimos MUITO MEDO durante MUITO TEMPO.  O medo chegou a ser paranoia. Sentimos medo de retaliação, medo de perder o plano de saúde que seria trágico em nosso caso.  E é isso que eles bancam, um jogo sádico de revitimizar as vítimas. CHEGA.

O contato com as pessoas dessa história pode ser mais conhecido no blog www.souvítima.com.br no qual há formulário para relato de outros casos.

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Âmbito Jurídico

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