A importância da pesquisa no ensino de graduação

Resumo: O presente artigo descreve a relevncia da disciplina de metodologia científica no ensino de graduação. Com efeito para o melhor aproveitamento do aprendizado é necessário que ocorra um incentivo à pesquisa científica desde a fase de graduação. Os recursos pedagógicos oriundos da disciplina de metodologia permitem que o aluno busque o conhecimento para além da experiência de sala de aula. Na denominada sociedade do conhecimento o desafio do aprendizado haverá de permanecer por toda a vida acadêmica e profissional. Nesse contexto o ensino aliado à pesquisa é apontado como requisito fundamental da pós-modernidade.

Sumário: 1.Ensino superior. 2.Pesquisa acadêmica. 3.Metodologia. 4.Sociedade do conhecimento. 5.Pós-modernidade.

No ensino superior brasileiro, em especial nos cursos de graduação, a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica quase sempre é vista por alunos e mesmo por alguns professores como de menor importância no contexto da grade de disciplinas especializadas de cada curso. Trata-se, porém, de um engano. O ensino/aprendizado de metodologia científica, quando levado a sério, tende a beneficiar o aluno ao longo de sua formação acadêmica.

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É fato que um melhor aproveitamento do aprendizado e da experiência acadêmica no seu conjunto se dá em razão dos conhecimentos obtidos na disciplina de Metodologia. A referida disciplina propedêutica vai muito além do necessário preparo para a elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), como pensam alguns.

As técnicas de estudo e leitura, os modos de análise, pensamento e escrita compatíveis com o rigor científico, as técnicas de produção de conhecimento válido, as normas de elaboração de resenhas, resumos e monografias com as especificidades da redação científica, os projetos de pesquisa e suas etapas, as fontes de pesquisa, os métodos de abordagem e procedimento, as tipologias da pesquisa, entre outros tópicos, tudo isso há de enriquecer a jornada do estudante em seu percurso universitário (RUIZ, 2009).

A formação acadêmica como é sabido não se limita ao cotidiano da sala de aula. Assistir às aulas, fazer os trabalhos e sair-se bem nas avaliações está longe de ser o suficiente. Ao longo dos cursos de graduação o acadêmico deve preocupar-se com o contínuo enriquecimento de sua formação, participando de eventos científicos, fazendo estágios, lendo obras de interesse, participando de grupos de pesquisa e publicando artigos em revistas especializadas com o apoio dos professores orientadores.

Há quem sustente a ideia de que algumas práticas comuns no ambiente universitário, como a pesquisa e a publicação, não condizem com o período da graduação. Não é verdade. Antes mesmo do ingresso nas universidades é possível encontrar estudantes que se destacam com louvor na área da ciência e da pesquisa, como comprova o Prêmio Jovem Cientista do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), atribuído também a alunos do nível médio de todo o país.

Os melhores educadores são unânimes em afirmar que não se deve transformar a pesquisa científica numa atividade reservada a uma elite. Qualquer estudante pode e deve participar de experiências científicas. A consolidação qualitativa do aprendizado exige uma ampla e necessária formação científica antes, durante e após a fase da graduação.

Em todo o país, nas escolas públicas de ensino médio, é comum ver alunos estudando Física, Química e Biologia sem que tenham qualquer contato com experimentos científicos, o que ocorre em razão da ausência de laboratórios e equipamentos. Para que tal realidade não se perpetue, é imprescindível que o aluno seja incentivado a enveredar-se pelos caminhos da pesquisa e do conhecimento científico já nos primeiros anos da graduação. “É muito difícil fazer pesquisa de ponta em nível de doutorado, partindo de uma graduação medíocre”, afirmou o ganhador do prêmio Nobel de química Kurt Wüthrich, em evento realizado em Campinas (LEONE, 2011).

Outro hábito fundamental a ser desenvolvido pelo estudante de graduação é o hábito da leitura. Através da leitura o aluno aprofunda os conhecimentos adquiridos em sala de aula e familiariza-se com o vocabulário técnico das obras especializadas. Ler com assiduidade eleva ainda a capacidade de redigir com presteza e objetividade.

Vale dizer que o maior desafio para o aluno ao se deparar com a necessidade de elaborar um trabalho científico não está no domínio de normas técnicas como as da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), mas no domínio da redação. Uma grande maioria simplesmente não sabe escrever, fato que denuncia a ausência do hábito de leitura. Ademais, no Brasil, muita gente ingressa no ensino superior sem o pleno domínio da língua portuguesa.

O grave problema do plágio nos TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) em faculdades de todo o país, retrata exatamente a dificuldade do aluno com a redação. Copiar um texto sem referenciar a autoria original, fazendo-se passar pelo autor, é um ato antiético, antipedagógico e, sobretudo, é um ato ilícito previsto em lei. Na elaboração de trabalhos acadêmicos e monografias o estudante pode e deve fundamentar seus dizeres com citações de autores nacionais e estrangeiros, porém sempre fazendo as devidas referências.

Para além do pleno domínio da língua portuguesa e da redação científica, sugere-se ainda, para o aluno de graduação, o domínio de uma língua estrangeira. Saber ler em inglês ou francês, por exemplo, facilita o acesso às fontes de pesquisa. Com efeito, muito do que se encontra publicado em revistas especializadas e mesmo na rede mundial de computadores, na área da ciência e do conhecimento, permanece em língua estrangeira.   

O aluno bem articulado com as orientações metodológicas de acesso ao conhecimento acabará naturalmente se sobressaindo. É o que se vê em algumas dentre as melhores universidades públicas brasileiras, onde jovens graduandos se destacam na condição de pesquisadores-bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Nos programas de iniciação científica mantidos pelos órgãos de fomento à pesquisa, são desenvolvidos trabalhos orientados nas mais diversas áreas do conhecimento. Desde os primeiros anos da graduação o estímulo à pesquisa rende ao estudante uma gama infinita de conhecimentos.

Além de complementar a formação profissional, a iniciação científica introduz os estudantes da graduação no universo da pesquisa. Na universidade estadual de Londrina, por exemplo, mais de mil universitários de diversas áreas estão envolvidos com a pesquisa acadêmica (CRUZ, 2010). A realidade se repete em outras instituições de prestígio.  

A estreita articulação entre ciência, pesquisa e ensino de graduação tem sido uma das orientações propostas pelos especialistas em educação superior no país. Em Londrina os universitários são aconselhados a se envolver com a iniciação científica desde o início da graduação (CRUZ, 2010).

 Na iniciação científica aprendem-se conceitos novos que não são vistos em sala de aula; trabalha-se a teoria na prática. A iniciação científica abre muitas possibilidades. É necessário, portanto, construir um sistema universitário que proporcione tanto a formação científica sólida, quanto a ampla divulgação das recentes conquistas da ciência e da tecnologia para todos os interessados. Isto somente se dará no contexto de uma instituição de ensino comprometida com a prática da pesquisa científica e seus métodos específicos de atuação.

No ensino superior privado, onde se encontra a maioria dos estudantes de graduação do país, lamentavelmente tem prevalecido uma mera preocupação com a formação do profissional voltado para os interesses de mercado. Ignora-se, frequentemente, que na atual sociedade do conhecimento – onde o vínculo com a universidade deverá permanecer por toda a vida – o aluno, desde a graduação, precisa aprender a buscar novos conhecimentos para além do aprendizado em sala de aula.

Durante toda a experiência de vida acadêmica e, sobretudo, durante o exercício da prática profissional se fará necessária uma contínua atualização quanto às inovações do conhecimento. Segundo Hebling (2006), hoje em dia a humanidade leva apenas dezoito minutos para dobrar o conhecimento acumulado. “Na primeira vez que isso ocorreu, foram necessários seiscentos anos de pesquisa. Assim, muito em breve, uma descoberta realizada no café da manhã já será obsoleta na hora do almoço” (HEBLING, 2006, p.04).

A relação entre conhecimento e pesquisa, precisamente em razão do acima exposto, deve estar fundamentada na ideia de que a busca sistemática, metódica e apaixonada pelo saber não termina com o fim dos cursos de graduação.

Na medida em que a universidade se propor a formar cientistas e pesquisadores desde os primeiros anos da graduação, estará contribuindo no sentido de consolidar uma educação superior de qualidade, pautada na autonomia do indivíduo/cidadão e conectada com as exigências futuras da pós-modernidade.

 

Referências:
CRUZ, Mirian Peres da. Jovens e… pesquisadores. Notícia: Boletim da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 30 jun. 2010. p. 05.
HEBLING, José Roberto. Conhecimento precisa chegar ao mercado. Jornal da UNESP, São Paulo, ago. 2006. Suplemento Fórum, p.04.
LEONE, Cínthia. Evento reúne quatro prêmios Nobel. Jornal da UNESP, São Paulo, out. 2011. Suplemento Fórum, p.03.
RUIZ, Álvaro João. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 6ª.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

Informações Sobre o Autor

Roberto Carlos Simões Galvão

Professor universitario, Mestre em Educacao pela Universidade Estadual de Maringa, Pos-Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual de Londrina, Graduado em Direito pela Universidade Norte do Parana, Licenciado em Sociologia pela Faculdade do Noroeste de Minas.


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Equipe Âmbito Jurídico

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