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Globalização e Terceiro Mundo

Resumo: O presente artigo tem o intuito de elucidar as teorias cética e globalista que tratam do fenômeno da globalização. Tem o intuito de abordar os aspectos culturais e econômicos do fenômeno sob o ponto de vista dos paises subdesenvolvidos realizando uma análise entre a globalização e a realidade de dominação econômica existente entres os países desenvolvidos e subdesenvolvidos.


Palavras chaves: Globalização – países subdesenvolvidos – teorias cética e globalistas- relações culturais e econômicas


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Sumário: 1. Introdução. 2. Um conceito e um significado para globalização. 3. Aspectos econômicos. 4. Aspectos culturais. 5. Conclusão.


“…não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido…” Gilberto Gil


1. Introdução:


O fenômeno é inegável. Basta observar. O mundo realmente se tornou menor. Está mais próximo, mais interconectado. Estamos todos muito mais sujeitos a sofrermos com consequências de atos praticados por outros povos, de outrora distantes lugares. Reverberamos com uma velocidade inédita acontecimentos oriundos das mais diversas partes do planeta. Nos comunicamos, influenciamos e somos influenciados por povos antes poucos conhecidos. Até a Africa se tornou mais reconhecível, mesmo para nós, africanos tortos, que antes pouco sabíamos dela. O Oriente não é mais um lugar onde o sol nasce. È uma cultura que desperta interesses que hoje são saciados por programas que passam no horário nobre da nossa televisão.


Ataques especulativos nos EUA afundam o balancete de nossos bancos. Desfalcam nossos milionários. Crises políticas nas metropóles modernas desequilibram econômicamente dezenas de economias nacionais. Economias essas menores que muitas empresas transnacionais. Astros e estelas de cinema são reconhecidos em qualquer calçada do mundo. O inglês é o esperanto realizado. A bolsa Louis Vuitton é desejada pela cambojana, pela nigeriana e pela uruguaia. Basta que elas sejam “antenadas”.


A fala de Obama repercute na roda de samba no Rio de Janeiro e a campanha criada pelo publicitário brasileiro vende celular Norueguês na India. Quando não vende político na Argentina. Ou em El Salvador. É inegável. Há no mundo uma rede que, se não amarra todas as pontas soltas, deixa muito poucas delas livres. É a chamada globalização.


E a globalização não tem lugar de atuação definido. Acontece no mundo como um todo, um inteiro. Atinge os países do primeiro ao terceiro mundo. E é enquanto sujeitos oriundos de um país de terceiro mundo que sentimos sua presença. Suas manifestações.


Discutida pelos estudiosos, desacreditada por muitos e festejada por tantos outros a globalização é pauta de discussão já a muito tempo.


Mas a constatação desse fenômeno alterou e forma efetiva as relações entre os países de primeiro e terceiro mundo? Houve, com a aproximação das economias, dos povos, da cultura, da geografia, uma mudança nos paradigmas que pautam as relações entre esses “mundos”? Ou essa mudança da dinâmica mundial continuou perpetrar a dominação econômica e cultural dos países desenvolvidos em relação aos países periféricos?


O objetivo desse texto é analisar a globalização sob o ponto de vista dos países subdesenvolvidos, sempre questionando se as relações de dominação já existentes entre o conjunto de países do norte e do sul sofre ou sofreu alguma alteração com toda essa reformulação da dinâmica mundial.


Esse artigo foca-se no contexto ecônomico e cultural para mostrar que, independente da posição que se assume em relação a existência da globalização –adotando uma posição globalista ou cética – é inevitável a confirmação que não há alterações significativas nas relações entre ricos e pobres.


2. Um conceito e um significado para globalização:


Podemos, desde já, deixar claro que não há unanimidade para o conceito de globalização.


Na esteira do trabalho de David Held e Antonhy Mcgrew compreendemos que esse termo cunhado para nomear um fenômeno com diversas facetas pode representar:


“Ação a distância (quando os atos dos agentes sociais de um lugar podem ter consequências significativas para terceiros distantes); como compressão espaço-temporal(numa referência ao modo como a comunicação eletrônica instântanea vem desgastando as limitações da distância e do tempo na organização e na interação sociais); como a interdependência acelerada (entendida como a intensificação do entrelaçamento entre economias e sociedades nacionais, de tal modo que os acontecimentos de um país têm impacto direto em outros); como um mundo em processo de encolhimento(erosão das fronteiras e das barreiras geográficas à atividade socioeconômica); e, entre outros conceitos, como integração global, reordenaçao das relaçõs de poder inter-regionais, consciência da situação global e intensificação da interligação inter-regional” (HELD e McGREW, 2001, p. 11)


A grande questão é encontrar uma definição que consiga alcançar todos os significados que o processo de globalização representa. Esse conceito deve, desde já, ser contrapostos com ressalvas. O global aqui conceituado não representa o fim das ordens locais, tampouco significa o prenúncio do “surgimento de uma sociedade mundial harmoniosa” (HELD e McGREW, 2001, p.11).


Globalização, portanto, é entendida como o fenômeno de aproximação da ação e da organização social numa escala internacional, assim como “a aceleração e o aprofundamento do impacto dos fluxos e padrões inter-regionais de interação social” (HELD e McGREW, 2001, p.11).


O impacto dessas “aceleração do fluxo” e da “aproximação da ação e organização social” é talvez um dos temas que cause maior controvérsia quando se trata de globalização. Há, nesse impacto, somente efeitos positivos? Ou essa inédita e violenta aproximação do globo traz consigo efeitos desagregadores? Como aqui mesmo ja ponderamos, há uma ausência de harmonia na globalização do mundo e, longe de resultar numa sociedade internacional desenvolvida e equilibrada, traz consigo uma série de efeitos prejudiciais.


É claro, e é fundamental ressaltar, que esse fenômeno tem efeitos positivos para os países que sentem seu acontecimento. Longe deste trabalho passar um idéia pessimista ou apocalítica. Mas os efeitos são notados de forma distinda nos países de primeiro e terceiro mundo. O que devemos observar é que, apesar de seus beneficios, não há benesses nesse processo. Não há lucro gratuito. E o preço pago por nós, países subdesenvolvidos, é maior que os lucros obtidos com esse fenômeno.


Há quem diga, aqueles chamados de céticos por estudiosos do assunto, que o a idéia de globalização representa na verdade uma construção ideológica que buscaria legitimar a internacionalização do mercado, da economia. É a reformulação do imperialismo, a expansão do capitalismo, do projeto neoliberal que continuará a sugar àqueles que possuem suas veias já expostas, que contuanarão explorados: Nós, o terceiro mundo.


Há, portanto, uma reformulação da já conhecida exploração entre ricos e pobres? É através de uma análise da globalização na America Latina que tentaremos responder essa pergunta.


3. Aspectos Econômicos:


Para a corrente cética dos estudiosos da globalização, a despeito da formulação de um economia global, não há dúvidas que a economia nacional ainda existe e é de uma importância central para os Estados.


Enquanto para alguns a economia nunca chegou a ser globalizada, sendo ainda baseada na economia interna do Estado, não tendo ainda surgido uma economia global integrada, nem tampouco inédita, já que os padrões de interconecção econômicos já eam observados na belle époque (1890-1914), outros, como Garreton, Cavarozzi, citando Dicken, identificam ao menos seis caractrística da economia global:


“crescente competição global e emergência de novos centros de produção(por exemplo, os países recentemente industrializados- PRI); proliferaçao, expansão e reestruturação das corporações transnacionais(CTs); crescente avanço do espaço tecnológico, em particular no que ser refereàs novas tecnologias de transporte e comunicação; sistema financeiro global; contexto político internacional, incluindo a hegenomia dos Estados Unidos, as políticas econômicas de nação-Estado, as formas supranacionais de integração econômica regional, como no caso da União Européia(UE), do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta) e do Mercado Comum do Sul (Mercosul); e crescente desilgualdades mundiais, tanto entre as regiões como dentro dos países” (GARRETON (et al.), 2007, p.38 e 39)


Embora interpretados de maneiras diferentes o fenômeno da Globalização econômica nunca deixa de ser obervado com instrumento de manutenção de poderes econômicos a muito daqueles que já o detinham anteriormente. Seja cético ou globalista não há como não reconhecer que as desigualdade existendes e a exploração econômica realizada pelos países de primeiro mundo nos de terceiro ainda subsiste.


Toda a construção a economia mundial ainda é decidida em países de primeiro mundo, onde as empresas transnacionais mantêm suas sedes e decisão e para onde toda o lucro criado ao redor do mundo é remetido. A diversificação dessas empresas reduz-se na proliferação ao redor do mundo de unidades que fabricam seus bens a um preço módico, fruto de um salário cruel que nenhum sindicado de trabalhadores de primeiro mundo aceitaria. A economia mundial ainda continua sendo gerida pelo principal país do globo que sustenta e controla todo o sistema econômico mundial, sempre, é claro, digiridindo essa política em prol dos interesses dos países economicamente centrais.


Aos países de terceiro mundo, que construíram sua economia num modelo de exportação de matérias primas como produtos agrícolas ou foram industrializados com a intenção de atender o mercado internacional restam as intransponíveis barreiras protecionistas que impedem o produto manufaturado de países como Brasil e México alcancarem a preços competitivos nos mercados desenvolvidos, além de bloquear a entrada em massa de produtos primários. O caso das laranja subsidiadas pela Flórida ou dos governamentalmente protegidos agricultores franceses são emblemáticos.


Enquanto globalistas e céticos discutem a importância dos Estados para empresas transnacionais e sua manutenção, é quase nula qualquer forma de modificação na divisão internacional do trabalho baseada na exploração e, como bem lembrou Held e McGrew “ A atual divisão internacional do trabalho é tal que Marx a reconheceria instantaneamente” (HELD e MCGREW,2001, p.55).


Portanto, independente da força estatal, principalemente dos países de primeiro mundo defendida pelos céticos ou a “nova economia global” onde as economias locais conectam-se umas às outras foramando um grande todo econômico, a realidade continua dividindo os países de primeiro mundo como o celeiro maior dos donos dos meios de produção e os países de terceiro mundo como os fornecedores de operários e matéria prima para o benefício dos poucos privilegiados. Apesar de hoje conseguirmos observar o surgimento de empresas oriundas em países de terceiro mundo com importância global, facilmente observarmos essas mesmas empresas deslocando todo centro de decisão para longe do terceiro mundo, ou seja, transferem suas sedes para Europa ou EUA juntamete, é claro, com todo seu dinheiro que tem nos bancos europeus seu “porto seguro”. Exemplos não faltam, da brasileira Ambev a indiana Mittal.


A economia globalizada mostra-se portanto como um imensa desigualdade de resultados e consequências como bem relata José Maria Goméz:


“Nesse sentido, uma multiplicidade de consequências sociais geradas ou reforçadas por esse processo desigual de globalização do capitalismo, é, hoje, bastante conhecida: aumento da exclusão social e espacial (os supérfluos que não conseguem integrar-se à dinâmica da economia globalizada), concentração de renda, acatamento salarial, incremento do desemprego estrutural, flexibilização dos direitos sociais e aumento do sentimento de insegurança no trabalho, debilidade das antigas identiddades e solidariedades de classe, crescimento das correntes migratórias internacionais (…) ” (GOMEZ, 2000, p.36)


A internacionalização do sistema financeiro também deixa clara a que o sistema globalizado não altera em nada a já histórica dicotomia capitalista que separa países pobres e países economicamente fortes. Por mais que os céticos afirmem o contrário o sistema financeiro internacional dispensa a presença do Estado que, acuado, não fortalece as instituições multilaterais de controle com medo de perderem sua já enfraquecida soberania. Resultado: Crescimento de negociações especulativas, e fortalecimento de investidores que atuam como verdadeiros piratas de bolsas de valores e, novamente, enfraquecimento dos países de terceiro mundo que, presos em avaliações sobre a segurança de seus mercados internos feitas por empresas privadas oriundas do primeiro mundo, e pela necessidade de segurar investimentos de especuladores, transformam seus juros em exorbitâncias que impedem o capital produtivo nacional interno de investir no país. Neste sentido afirmam Held e McGrew:


“Espremidos entre as limitações dos mercados financeiros globais e as opções de saída do capital produtivo móvel, os governos nacionais de todo o globo têm sido forçado a adotar estratégias econômicas (neoliberais) cada vez mais parecidas, que promovem a disciplina financeira, a limitação do governo e uma sólida administração econômica” (HELD e McGREW, 2001, p.67)


Não fica difícil compreender como todo o sistema se transforma em um círculo vicioso que alimenta o capitalismo dos países desenvolvidos às custas do temor financeiro dos economicamente frágeis países subdesenvolvidos.


Cercados pelos reflexos da exploração histórica dos países de primeiro mundo, somada a uma integração econômica que consome sua mão de obra por preços módicos, impede seus melhores produtos de alcancar os grandes mercados, atrai empresas que utilizam dos benefícios dados a elas pelos governos para se instalarem e que ao mesmo tempo enviam seus lucros a suas sedes estabelecidas nas metrópoles, além de serem vítimas da especulação financeira que toma as bolsas como reféns de capital especulativo que só as frequenta para beneficiar-se dos juros que, ao mesmo tempo, impedem o países de crescerem internamente, o fenômeno da globalização econômica pode ser uma realidade constatada como querem os globalistas ou pode apenas ser uma ilusão como apregoam os céticos mas – é evidente – que, independente da posição escolhida, a exploração e as desigualdades continuam acontecendo, muitas vezes com outra roupagem ou característica, mas sem sombra de dúvida existente nas relações entre as nações que não deixam de aprofundar suas diferenças econômicas porque o mundo encontra-se nesse processo de aproximação.


4. Aspectos culturais:


Na já exposta divisão entre céticos e globalistas, muitos são os argumentos utilizados por ambos os lados para defender a ausência ou presença da globalização em seu aspecto cultural.


Para os céticos a história cultural é o rescurso utilizado na defesa do ponto de vista que nega que a globalização seja uma realidade para os países.


Ao afirmarem que o Estado nação foi construído utilizando da cultura como forma de aproximação aos muitas vezes distintos povos ocupantes de um mesmo território, sustentam que, depois de tão bem sucedida manobra, fica difícil transformar os parâmetros culturais em tão pouco tempo como querem os defensores da globalização. A cultura, juntamente com diversos outros fatores , pensados ou não pelas elites dominates, tem papel central na construção daquilo que hoje conhecemos como Estado.


Ao tratar do tema, assim manifestam-se Held e McGrew:


“A consolidção das idéias e narrativas da nação e da nacionalidade foi ligada a muitos fatores, dentre eles: a tentativa de as elites dominantes e os governos criarem uma nova identidade que legitimasse o aumento do poder estatal e a coordenação oplítica (Breuilly,1981); a criação, através de um sistema de educação em massa, de um arcabouço comum de compreensão – idéias, sentidos e práticas-, para promover o proceso de modernização coordenado pelo Estado (Gellner,1983); o surgimento de novos sistemas de comunicação – em especial, de novos meios (como a imprensa e o telégrafo), …, ou seja, de uma nova comunidade imaginária (b.Anderson,1983); e pautando-se no sentimento histórico da pátria e em lembranças profundamente arraigadas, a consolidção de comunidades étnicas através de um cultura popular comum, de direitos e deveres legais compartilhados…” (HELD e McGREW, 2001, p.38 e 39)


Como resultado dessa série de fatores surge a chamada identidade cultural que, além de colocar fim a diversas conflitos internos em Estados em formação serve, hoje mais do que nunca, como alicerce para a existência do Estado como assim o conhemos. Hoje, mais do nunca e fruto da identidade cultural, há aquilo que os céticos chama de consciência da diferença.


Finalizando sua análise do pensamento cético arrematam Held e MacGrew: “ A luta pela identidade cnacional e pela condição de nção foi tão vasta que os céticos duvidam que esta última possa ser desgastada por forças transnacionais e, em particular, pelo desenvolvimento da chamada cultura global de massas” (2001, p.41)


Já para os globalistas iniciam o debate contra argumentando que essa construção cultural que tem como objetivo fundar Estados, justamente por ter sido criada pelo próprio homem “não é tão imutável assim”.


Reconhecendo a dificil tarefa que é alterar identidades culturais, os globalistas diferem o nacionalismo político e o nacionalismo cultural reservando ao primeiro, por suas próprias características, a categoria mais dificil de ser influenciada, apesar de, ressalvam os globalistas, ainda assim sofrerem reflexos da globalização.


Por outro lado, é inegável, ressaltam os defensores da globalização, que desde a saída das caravelas da península ibérica ocorreram diversas formas de globalização cultural.


Atualemente, com a expansão dos meios de comunicação, com a consolidação do cinema, do rádio, da Tv e, principalemtne com a internet, a comunicação é feita quase que no mesmo momento possibilitando a troca de informações entre os povos que, “nem mesmo o fato de todos falarmos línguas diferentes, pode deter o fluxo de idéias” (Held e McGrew, 2001, p. 45). A afirmaçao do inglês como língua mundial não é esquecida pelso globalistas e é também utilizada como justificativa para a aproximaço cultural.


Como resultado desse desenvolvimento tecnológico que inevitávelmente resulta numa aproximação dos povos a globalização cultural, afirmam os globalistas, traz consigo a idéia de uma identidade nacional e política, nuam identidade mais consciente que abandomando sua fidelidade a todo custo ao Estado começa a partir para a busca de um compromisso ético com conceitos mais globais como o respeito aos direitos humanos, a preservação do meio ambiente e a diminuição da pobreza. Para os defensores da globalização é o surgimento da “sociedade civil global”.


Como podemos observar a discussão cético/ globalistas quando centra seus esforços no aspecto cultural nada trata do debate países desenvolvidos e subdesenvolvidos.


É fácil perceber que, no que diz respeito ao aspecto cultural, os globalistas levam vantagem em suas argumentações. É inegável que a cultura contemporânea extrapolou as fronteiras estatais e hoje anda sem amarras pelas mais diversas partes do globo. Um filme feito no Brasil pode tranquilamente ser reconhecido pela comunidade artística de um outro país, uma marca de moda ou carro é conhecida em todos os lugares do mundo devido a propagandas. Astros e estrelas de outros países fazem diversas publicidades locais.


A internet tem um papel particular nessa expansão da comunicação. Sem sombra de duvida é ela a principal responsável pela aproximação dos povos. Ferramentas como Orkut e Facebook conectam pessoas, que acabam se tornando “amigos virtuais”, das mais diversas partes do mundo. Cantores de garagem ganham reconhecimento mundial com a divulgação de seus trabalhos através do Myspace. Conferências podem ligar o Casaquistão com o interior de Minas Gerais via Skype. Não há dúvida, a cultura é um dos aspectos mais latentes da globalização.


 Apesar dos benefícios que essa aproximação nos trouxe, devemos discutir o quanto ela atua como instrumento de manipulação. O quanto a globalização cultural é utilizada para fortalecer ainda mais a dominação econômica.


Held e McGrew em diversos momentos nos dão pistas de que como a globalização cultural muitas vezes atua como mais uma das forças inequívocas de manutenção dos poderes econômicos. Ao tratar da questão linguística relatam os autores: “A língua inglesa vem se tornando tão dominante que fornece um infra-estrutura linguítica de poder igual ao de qualquer sistema tecnológico para transmitir idéias.” (HELD e McGREW, 2001,p.45). É evidente que a economia mais forte do mundo também se faz presente na cultura. A indústria de cinema mais poderosa do mundo e a indústria de tecnologia, responsa´vel pela divulgação da internet, são sediadas nos EUA. A divulgação de sua indústria cinematográfica, com o objetivo claro de vender seus produtos em todo o mundo, divulga a língua inglesa com a empatia única que só os artistas possuem. O inglês, portanto, além de “aproximar culturas”, vende produtos.


Mais adiante, continuam os autores, e desta vez fica simples concluir a influência econômica na globalização cultural, “o que impressionana globalização cultural hoje é o fato de ser impulsionada por empresas, e não por países” (HELD e McGREW, 2001, p. 45). A sustituição dos países por emrpesas da globalização cultural é a marca inequívoca da utilização da cultura como forma de manutenção da globalização econômica. Hoje, mais do nunca, não se conhece as cultura francesa, mas seus carros, não se compreende a Suiça, mas seus bancos, não se consome idéias americanas, mas seus hamburguers, astros e ipods. Nessa levada, a cultura é substituída por produtos, tanto quando os países foram subistituídos pelas empresas na divulgação cultural. A consciência do outro divulgada pelos céticos é substituída pela idéia do produto mais moderno, oriundo, é claro das metrópoles que, com suas empresas mais preparadas tecnologicamente imundamo ideário dos países de terceiro mundo com conceitos que na verdade não divulgam cultura, vendem produtos. O resultado desse processo maquiavélico é o sufocamento da cultura interna desses países subsdesenvolvidos que veem suas produções serem substituídas por produtos pasteurizados oruindos de mais uma tipo industria do primeiro mundo.


É evidente que por mais benefícios que a globalização cultural posa nos fornecer, a aproximação dos povos, o conhecimento do diferente, a conexão com o novo, ou seja, toda essa nova forma de entender o mundo com influências das mais diversas partes do planeta, tudo ficará em segundo plano enquanto essas mesmas mudanças forem utilizadas como forma de um mercantilismo velado. Longe deste texto dizer que essas mudanças devem ser impedidas de conviverem conosco. O importante é ter a real dimensão daquilo que elas trazem consigo, para que conscientes da verdade muitas vezes camuflada, tenhamos condição de optarmos de forma esclarecida qual cultura devemos conhecer para só assim, consumir.


Conclusão:


A discussão que desperta o interesse de grande parte dos estudiosos, a existência ou não da globalização tem dividido o mundo acadêmico em duas grandes linhas.


Por um lado os céticos afirmam que a globalização não conseguiu construir um mundo novo, com características distintas do mundo já anteriormente estabilizado. Não há substituição do Estado pela sociedade global, não houve a construção de uma nova identidade cultural global nem tampouco a economia se encontra num estagio distinto daquele já experimentado em outras épocas. Enfim, o mundo mudou, mas nem tanto.


Já os globalistas, com argumentos que defendem a substituição da importância do Estado nas relações internacionais, com a inevitável ligação das economias que, mais do que nunca, estão conectas e influenciam umas as outras, além da construção de um impressionante mosaico cultural mundial, defendem o surgimento de um novo tempo, onde as relações entre os Estados e as pessoas experimenta um momento único de intenso descobrimento mútuo e influência levando o mundo assim a uma aproximação nunca antes vista. É a globalização.


Independente dos pontos de vista levantados aqui uma coisa é inegável: assim como o homem, o mundo tem a capacidade de transformar-se com o passar do tempo, conhecendo novas formas de comunicação, novas realidades culturais, novas construções sociais que refletem no dia a dia das relações internacionais.


Há, porém, relações que não se modificam. E a exploração econômica é, fundamentalmente, uma delas. Por mais que posamos identificar mudanças no mundo dito globalizado a forma de relacionar economicamente entre países de primeiro e terceio mundo não mudou de forma substancial. Mais do que nunca, ainda há entres esses “dois mundos” a marca do abuso do poder econômico, das desigualdades econômica que refletem-se na impressionante desigualdade social mundial. Ainda hoje não é possível dar tudo a todos. Resta ao terceiro mundo as sobras do primeiro. Inclusive as sobras que uma eventual globalização pode oferecer.


Na cultura, assim como na economia, essa desigualdade fruto da exploração também é sentida. Com a transformação da cultura em comercio o mundo desenvolvido ocidental vende idéias, conceitos, tendências. Vende arte. E tal qual um produto industrializado, o Norte nos impõe produtos que não servem para aproximar culturas. A intenção é vender cultura. Assim como qualquer outro produto. E , novamente, a desigualdade que marca essas relações se faz presente, impedindo que talvez um dos mais interessantes desdobramentos da globalização se faça presente.


Ao tomarmos consciência de que, independente da posição nesse histórico imbrólio entre céticos e globalistas, a exploração existente entre ricos e pobre ainda é eficaz, temos a certeza que há muito a ser feito na busca pela igualdade material dos Estado no mundo que, seja ele globalizado ou não, é, certamente, cada vez mais desigual.


 


Bibliografia

GOMEZ, José Maria. Política e democracia em tempo de globalização. 1ªed. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

HELD, David e McGREW, Antony. Prós e contras da Globalização. 1ª ed. rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

GARRETON, Manuel Antonio (et all). América Latina no século XXI: em direção a uma nova matriz sociopolítica. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.

PRZEWORSKY, Adam. Estado e Economia no capitalismo. 1º ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.

WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2007.

Informações Sobre o Autor

Deo Campos Dutra

Mestre em Ciências Jurídicas pela PUC/RJ. Professor do curso de Direito da Faculdade do Sudeste Mineiro e do Instituto Doctum de Educação e Tecnologia em Juiz de Fora/ MG. É avaliador ad hoc do Ministério da Educação para fins de reconhecimento dos curso de Direito no Brasil


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Equipe Âmbito Jurídico

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