Interdisciplinaridade: breve análise histórica, ambiental e social

Resumo: Este trabalho é o resultado de várias leituras de obras que tentam demostrar a necessidade de se implantar o método da interdisciplinaridade em benefício do meio ambiente. É feito uma breve análise da evolução histórica das formas de conhecimento, o aperfeiçoamento da ciência e da tecnologia. Demonstra-se, ainda, a importância da interdisciplinaridade no meio acadêmico e na sociedade. E, por fim, o que se pretende é inserir a interdisciplinaridade como meio eficaz de se buscar soluções para os problemas ambientais enfrentados pela humanidade, o conjunto mútuo de várias disciplinas traz resultados mais completos do que aqueles obtidos por disciplinas isoladas.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade – ciência – sociedade.

Abstract: This work is the result of several readings of works that attempt to demonstrate the need to implement the method of interdisciplinarity to the benefit of the environment. It made ​​a brief analysis of the historical development of forms of knowledge, improvement of science and technology. It is shown also the importance of interdisciplinarity in the academic and in society. And finally, the idea is to insert the interdisciplinarity as an effective means of seeking solutions to environmental problems facing humanity. The mutual set of disciplines, brings more complete results than those obtained by isolated disciplines.

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Keywords: Interdisciplinarity – science – society.

Sumário 1. Introdução. 2. Histórico e fundamentos da interdisciplinaridade. 3. Interdisciplinaridade e o Saber Ambiental. 4. A sociedade em meio à interdisciplinaridade. 5. Conclusões. Referências.

Introdução

A evolução do homem passou por inúmeras modificações, dentre elas a formação do conhecimento. O aperfeiçoamento das tecnologias e das ciências em consonância com as novas formas de consumo e de mercado modificaram em muito a vida socioambiental da humanidade.

O novo estilo de vida do homem altamente consumista, onde a civilização do “ser” deixa de existir em virtude da civilização do “ter”, tem levado o meio ambiente a um colapso e a uma degradação constante. Os problemas advindos das atividades do homem têm gerado consequências graves ao meio natural.

Diante disso, a problemática ambiental pede por um novo modelo de conhecimento que possa de forma ampla abarcar todas as questões dando para elas várias opções de respostas e soluções.

Essa nova forma de conhecimento quanto ciência, é a interdisciplinaridade, que tenta realizar um diálogo entre todas as ciências em prol de um fim comum.

2. Histórico e fundamentos da interdisciplinaridade

Os paradigmas de como formar o conhecimento foram vários, a evolução do conhecimento e os desafios enfrentados durante toda a história e que perdura até então, tiveram como fundamento principal a interdisciplinaridade.

Na construção da ciência, alguns momentos históricos acabaram por contribuir com esse fenômeno, a citar os preceitos impostos pela Igreja Católica, a implantação do sistema capitalista e a Revolução Industrial, onde o homem deixou de ser mero espectador para dono de suas próprias razões, vindo a colaborar com a resistência da ciência ao adotar seu método individualista de acesso ao conhecimento verdadeiro (ALVARENGA et al., 2011).

A Ciência Moderna apresentava como metodologia a racionalidade científica, aquela razão como resultado dos cálculos, deixando de lado qualquer relação com as racionalidades humanas, objeto do ser e da filosofia. Buscou distanciar-se de outras áreas do conhecimento, sendo assim, extremamente simplificadora o que para os seus defensores significava o único método de certeza do conhecimento cientifico.  A ciência dá início a um processo fragmentador que deu procedência as disciplinas específicas e fechadas em suas especialidades.  

Entretanto, tanta evolução também trouxe problemas de ordem econômica, ambiental, social e educacional exigindo-se que ultrapassem limites na tentativa de solucionar as grandes dificuldades geradas pelo paradigma hegemônico da ciência moderna.

 Nesse período, a fragmentação do conhecimento é vista como impedimento para se entender o mundo e o homem moderno diante de tanta complexidade. Como alternativa de solução para se resolver as grandes questões surgidas no meio social em busca de respostas para as fronteiras disciplinares, apresentou-se a interdisciplinaridade.

Uma proposta inovadora que se firmou a partir da década de 60 e que vem ganhando espaço dentro das universidades, a qual propõe o diálogo entre os vários tipos de conhecimento, uma vez que o estudo disciplinar tornou-se frágil, incompleto e incapaz de responder as grandes indagações do mundo inteiramente complexo dos dias atuais.

Isso ocorre porque um estudo disciplinar limita o objeto da pesquisa a análise de uma única disciplina, ao contrário do que ocorre no estudo interdisciplinar, onde a interação entre vários conhecimentos fornece ao pesquisador uma visão mais ampla do elemento estudado. Em outras palavras, pode-se dizer que uma pesquisa realizada sob o enfoque disciplinar tem um olhar egoísta, que teme a diferença e acredita que seus métodos são capazes de responder a qualquer indagação. Por outro lado, o estudo interdisciplinar tem um olhar deslumbrado, amplo, capaz de entender que a natureza é muito complexa e, por isso, torna-se impossível que a mesma seja abarcada por uma única disciplina.

Em síntese, percebe-se que em um projeto interdisciplinar um único conhecimento não conseguirá dar todas as respostas necessárias às problemáticas que surgem ao longo da construção de uma ideia, o que levará à busca por conhecimentos em outras áreas para o preenchimento das lacunas que a disciplinaridade não conseguiu resolver. Assim sendo, outras serão as disciplinas que poderão complementar o projeto que de início foi baseado em uma única disciplina, havendo um diálogo entre os campos do saber.

Entretanto, não significa dizer que a disciplinaridade deixará de existir, na construção do estudo o fundamento seguirá o método disciplinar, e em determinados instantes, de forma complementar se aplicará a interdisciplinaridade. O que se busca com a interdisciplinaridade é abrir os horizontes do conhecimento, buscar respostas em outras disciplinas para as complexidades que o seu conhecimento disciplinar não conseguiu solucionar.

A interdisciplinaridade tem o viés antropocêntrico, ou seja, tem o homem como centro do mundo. Os estudos, a ciência ou a construção do conhecimento devem sempre estar embasados na relação homem e universo, seu contexto social e econômico.

Relacionado ao conceito de interdisciplinaridade ainda surge a multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade. A primeira propõe que a mesma questão seja ponderada por diferentes disciplinas sem, no entanto, exceder suas fronteiras e procedimentos. A segunda, não demarca limites estáveis para a pesquisa, admitindo a construção de uma ciência flexível e abrangente.

A luta por uma pesquisa interdisciplinar caminha a passos lentos e com várias pedras pelo caminho, batendo de frente com muitos profissionais extremamente disciplinares e irredutíveis quanto a sua utilização. Percebe-se que a falta de planejamento de toda a comunidade acadêmica também significa empecilho à implantação efetiva da interdisciplinaridade. A inclusão desse método no meio científico requer uma mudança de hábito considerável por parte de alunos, professores e da sociedade em geral, que apesar de chegar ao ápice da modernidade ainda não conseguiu ter um olhar desfragmentado e horizontal do mundo e do ser humano.

3. Interdisciplinaridade e o Saber Ambiental

O que se percebe ao longo de toda a história é a luta do homem em busca de algo novo, de forma a facilitar seu modo de vida e que o torne cada vez mais inserido nas plataformas sociais, uma vez que para sobreviver no mundo hodierno é preciso aceitar o que ele impõe e, acima de tudo, sempre estar de acordo com o paradigma construído nos moldes daquilo que é mais conveniente ao sistema de acumulação de capitais.

A sociedade atual encontra-se atordoada com os movimentos modernos, da informação rápida, da globalização, da revolução tecnológica, ou seja, a Era do conhecimento exacerbado, onde todos os dias surgem coisas novas e onde o ontem se encontra cada vez mais arcaico e ultrapassado. O que se vê é uma sociedade bastante inconformada com sua própria existência, uma vez que a miséria humana cresce consideravelmente, vários idealismos encontram-se em constantes conflitos e batalhas e ainda o caminhar sem medidas dos desastres ambientais.

A sociedade é construída pelo próprio indivíduo que a desenvolve e alicerça, no entanto, em determinado momento, com a evolução desenfreada dessa mesma sociedade, atualmente os papéis se inverteram, é a sociedade que está produzindo o indivíduo e este tendo, de todas as formas, que adequar-se a ela. 

O século XX foi marcado pelo começo de uma crise da civilização moderna onde o crescimento da economia está intensamente ligado à degradação ambiental e a uma imensa complexidade dos problemas ambientais. Por conseguinte, a comunidade contemporânea, diante de uma nova consciência ecológica, insere-se em um paradoxo, qual seja: consumismo x meio ambiente (LEFF, 2006).

O que fica acentuado, diante da problemática ambiental, é a necessidade da visão holística dos conhecimentos sobre a natureza e sociedade em conjunto com o conhecimento interdisciplinar, fazendo com isso predominar a reflexão crítica da relação sociedade-natureza (LEFF, 2006).

O desenvolvimento tecnológico e científico contribuiu decididamente com a formação dos valores sociais, do individualismo, e do consumismo da sociedade moderna. As instituições familiares, religiosas e econômicas acentuam ainda mais os valores sociais nocivos do ser humano, prejudicando e retardando a mudança de valores que se faz necessária à construção da consciência de preservação ambiental que tem o homem moderno. Valores esses que devem ser urgentemente repensados, o que ocorrerá muito lentamente, mudanças não acontecerão em um curto espaço de tempo.

Perante de tanta complexidade, vislumbrou-se a possibilidade de analisar a problemática ambiental por uma ótica interdisciplinar, ou seja, uma mudança na forma de organizar, produzir e aplicar o conhecimento ambiental.

As demandas ambientais são eminentemente complexas, uma vez que são resquícios da relação homem e natureza. Assim sendo, não existe a mínima possibilidade de serem encontradas soluções eficazes por meio de um método de conhecimento fragmentador. É necessário um estudo amplo que aborde não somente os fenômenos físicos e biológicos, mas também os econômicos e socioculturais.

A partir do momento da construção de um novo método de avaliação para as questões ambientais se abre então espaço para a interdisciplinaridade, dando-se enfoque a reformulação do saber que busca a solução da complexidade ambiental com o conhecimento adquiridos em diversas áreas do saber (LEFF, 2006).

No Brasil, o nível de maturidade das relações entre disciplinas no que diz respeito à problemática ambiental é baixíssimo, as instituições de ensino, pesquisa e extensão ainda não conseguiram se ater a essa nova visão dos estudos ambientais. Sabe-se que as iniciativas individuais, seja de um profissional ou de uma instituição, não conseguiram dar força a essa perspectiva interdisciplinar, seria necessário a prática em conjuntos de todos os envolvidos.

É conveniente registrar que apesar da grande importância da pesquisa interdisciplinar a sua aplicação depara-se com a resistência considerável entre os estudiosos. Diversos são os fatores que contribuem com esse fenômeno, a citar a falta de artifícios científicos que levem a resultados interdisciplinares e, indo mais além, o egoísmo e conformismo do indivíduo que não lhe permite vislumbrar novos caminhos para suas pesquisas.

A quebra dos paradigmas e a mudança de valores são extremamente imprescindíveis na resolução dos problemas ambientais e na reconstrução da consciência humana quanto as suas ações por meio do método interdisciplinar do conhecimento, não se pode mais aceitar, diante da complexidade ambiental, o uso de apenas um campo de conhecimento para o estudo da natureza.

4. A sociedade em meio à interdisciplinaridade

Fica cada vez mais evidente o crescimento da interdisciplinaridade, ainda mais no que diz respeito às questões ambientais atuais e sua complexidade. No entanto, ainda percebe-se a presença constante e necessária dos conhecimentos disciplinares, porque é através dos mesmos que se conseguirá realizar ligações entre os diversos ramos do conhecimento no intuito de aprimorar os conhecimentos sobre a complexidade ambiental.

O desenfreado crescimento das disciplinas ambientais deu-se pela formação da consciência que a sociedade foi adquirindo sobre os movimentos ambientais dando assim, a devida importância aos respectivos problemas e a colaboração cientifica para os mesmos.

No que diz respeito às soluções das questões ambientais, observando a inter-relação com a sociedade, as pesquisas interdisciplinares devem se valer de baldrames de nível moral, prático, estético ou político. 

A Agenda 21 é o que existe de mais completo sobre as questões ambientais, admitindo que a grande maioria dessas questões devem ser analisadas pela ótica interdisciplinar (ASSIS, 2000). Por esse instrumento de política ambiental é obrigação de todos os comandos da sociedade contribuir na formação do conhecimento de soluções para os problemas socioambientais.

Observou-se que existia uma extrema independência entre os projetos de pesquisa, apesar de eles apresentarem diferentes áreas do conhecimento. A associação entre esses pesquisadores nos projetos de roupagem ainda independente estudava o meio tomando como base apenas os aspectos biológicos e físicos, desconsiderando os meios social e econômico em seus estudos (COSTA, 2000).

Com a necessidade de se entender a complexidade ambiental pela sua importância foram criadas diversas novas ramificações dentro das áreas de conhecimento a fim de se especializarem sobre o assunto, isto pelo fato da resistência ainda existente quanto a um estudo interdisciplinar, fragmentando o meio ambiente nos paradigmas específicos de cada ciência. Contudo, o estudo interdisciplinar exige uma abordagem integral das ciências, ficando constatado que o modelo disciplinar de pesquisa pouco contribui para a solução dos problemas ambientais.

A interdisciplinaridade encontra ainda alguns empecilhos, como o consequente nivelamento entre as disciplinas, que pela metodologia desfragmentada do conhecimento passam a ter tratamento paritário, quebrando com a hierarquia entre as mesmas, isso faz com que parte dos pesquisadores fiquem temerosos quanto a perca da identidade de suas disciplinas específicas.

Em contrapartida, algumas entidades incentivaram a proposta da interdisciplinaridade nas pesquisas ambientais, a exemplo do CNPq e o Finep (ASSIS, 2000).

Os posicionamentos quanto à interdisciplinaridade vão adquirindo formação ao ponto que vão surgindo, ao longo do tempo, fatores internos referentes ao conhecimento nas universidades e na tecnologia com o desenvolvimento corriqueiro das pesquisas interdisciplinares.

As certezas conquistadas a partir de pesquisas exclusivamente disciplinares, hoje, encontram um elevado grau de questionamento, abrindo caminho para as pesquisas interdisciplinares como meio de atingir a universalidade. Ainda assim, não se pode ver o modelo interdisciplinar como concorrente às ciências disciplinares, mas sim complemento de obtenção de resultados ambientais eficazes.

5. Conclusões

Conclui-se que, a interdisciplinaridade em meio à realidade atual do ser humano e seu desregrado estilo de vida, onde as pessoas são vistas pelo que possuem e não pelo que efetivamente são, é meio eficaz para conduzir o conhecimento às soluções para a problemática ambiental. Tem-se que uma pesquisa direcionada à apreciação de uma questão ambiental específica sob o olhar de várias disciplinas inter-relacionadas e dialogando entre si é conscientemente, o meio mais hábil de se fazer ciência.  É notória a obrigatoriedade de minimização da hierarquia existente entre as disciplinas para se chegar ao objeto primordial da interdisciplinaridade, ou seja, a busca de um saber científico unificado e harmonioso.

A utilização do método interdisciplinar ainda caminha a passos lentos e restritos entre as universidades, professores e alunos, isso devido a fatores históricos, científicos, tecnológicos e culturais da sociedade. As ações humanas são ainda reflexos diretos dos ditames mercadológicos ou capitalistas, no entanto, o desenvolvimento dessa metodologia depende d ação de todos diante da consciência ecológica que hoje vive a comunidade mundial.

 

Referências
ALVARENGA, A.T.; PHILLIPI JR, A., SOMMERMAN, A. ALVAREZ, A.M.S., FERNANDES,V. Histórico, fundamentos filosóficos e teórico-metodológicos da interdisciplinaridade. In: PHILIPPI JR, A., SILVA NETO, A.J. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia & Inovação. Barueri –SP, Manole. P. 3-69
ASSIS, Luiz F. S. Interdisciplinaridade: Necessidade das ciências modernas e imperativo das questões ambientais. In PHILIPPI JR. A. et al. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São Paulo: Signus. 2000.
COSTA, V. L. Interdisciplinaridade e Sociedade. In PHILIPPI JR. A. et al. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São Paulo: Signus. 2000.
LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2006.
PHILIPPI JR, A., TUCCI, C.E.M., HOGAN, D.J. NAVEGANTES, R. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São Paulo: Signus Editora, 2000.

Informações Sobre os Autores

Layana Dantas de Alencar

Mestranda em Recursos Naturais – CTRN/UFCG, Bacharela em Direito – UFCG

Hérika Juliana Linhares Maia

Mestranda em Recursos Naturais – CTRN/UFCG, Bacharela em Direito – UFCG. Professora Substituta da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB

Livia Poliana Santana Cavalcante

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais – UFCG/CTRN, Licenciada em Ciências Biológicas – UEPB


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Equipe Âmbito Jurídico

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