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Mais milhões para a corrupção

Chega a ser hilária essa celeuma sobre o empréstimo de 30 milhões que o Governo diz que quer para ajudar os pobres do Maranhão e acusa os senadores do Estado e mais um do Amapá de estarem impedindo sua liberação.

O pior de tudo é que essa grana, mais cedo ou mais tarde, vai ser liberada. Só não vai é ajudar nenhum pobre. Vai diluir-se na rotina das verbas públicas, evaporando-se de comissão em comissão. Seus verdadeiros destinatários não terão nem a notícia dela. Os que quiserem questioná-la ainda terão direito a uma cínica desculpa: a verba não deu pra nada porque demorou a sair…

O único reflexo que o pobre vai ter desses milhões será o ônus de contribuir para pagar o empréstimo, involuntariamente, na medida em que paga tributos no seu cotidiano, sem sequer saber que os está pagando.

Isso poderia ser diferente se as verbas públicas fossem acompanhadas desde sua liberação e a comunidade fosse informada do destino dado a cada centavo. De modo claro, direto, sem camuflagens.

O Ministério Público poderia fazer isso. Poderia ter Curadorias específicas para acompanhar a liberação e a aplicação das verbas públicas. Os custos dessas curadorias seriam infinitamente insignificantes diante da economia que decorreria dessa fiscalização.

Teríamos mais e melhores escolas, mais e melhores estabelecimentos de saúde; os professores e os médicos seriam decentemente remunerados; nossas estradas e pontes seriam melhor construídas; nossas cidades seriam mais limpas e disporiam de adequada infra-estrutura para garantir a prestação de todos os serviços sociais e sanitários a que tem direito a comunidade; a segurança pública não seria privilégio de algumas autoridades; a cidade, os lugares públicos, as estradas teriam um policiamento eficaz, garantido por policiais preparados, educados e condignamente remunerados.

Mas isso se…

Como não se…, a única chance segura de os pobres terem acesso a esse dinheiro será nas próximas eleições, se for liberado antes dela. Aí vão receber uns trocados na feira livre da compra e venda de votos. Mesmo assim será apenas uns trocados, porque o grosso mesmo….

Adivinhe com quem ficará?

Publicado no Diário da Manhã, São Luís, 17/04/2005

 


 

Informações Sobre o Autor

 

João Melo e Sousa Bentivi

 

João Bentivi é médico, advogado, jornalista e músico em São Luís do Maranhão

 


 

Equipe Âmbito Jurídico

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