Desastroso
o fim da novela que, ao invés de apaixonadas, mostrou mulheres em várias
situações de discriminação e desrespeito, em situações de submissão e
inferioridade, impotentes e coniventes com os clichês de violência e
impunidade.
Se não,
vejamos.
Mulheres
solteiras não conseguem encontrar em si mesmas um ponto de equilíbrio. Uma
delas, ainda que uma educadora bem sucedida profissionalmente, joga-se ao vício
do alcoolismo, só controlado quando encontrou um par. Já outra, acintosamente,
não parou de insinuar-se a um vizinho, contando com a conivência de sua mãe, e
não se intimidando sequer com a presença da esposa. Esta, corroída por um ciúme
doentio, se desequilibra, manifestando instintos suicidas e homicidas. Acaba
por ser internada em uma clínica psiquiátrica e perde o marido para a vizinha.
Nem a
figura da avó escapou, pois se revelou perversa e agressiva com a pobre neta
órfã, que tem visões paranormais da mãe exemplar que
lhe concedia excelente padrão de vida dedicando-se à prostituição e foi vítima
de uma bala perdida.
Mas a
situação degradante das mulheres foi além. Um médico pretensioso, vaidoso e
intolerante, foi disputado durante toda a novela por três mulheres, sendo uma
enteada da outra, as quais a ele se ofereciam de forma lasciva. Venceu a que
foi cúmplice da infidelidade do doutor durante o casamento.
Fora
tudo isso, nos pares em que as mulheres eram mais velhas do que os homens,
estes pertenciam a classes sociais inferiores
e possuíam precário nível de instrução, procurando mostrar a incapacidade de
uma mulher madura ser alvo do amor de um homem de seu status social e
cultural.
Ainda
bem, que desta vez as lésbicas não foram incendiadas. Entretanto, não trocaram
nenhuma carícia. O único beijo aconteceu quando uma delas representava o papel
de um homem e que estava morto, ou seja, um carinho heterossexual e não
correspondido.
No
plano das instituições, lastimável o total desprestígio da Justiça. A solução
para o problema da violência doméstica – só denunciada quando foram agredidas
outras pessoas – foi a morte do agressor. Mas a vítima
também foi punida, pois seu namorado adolescente morreu, deixando-lhe como
consolo um filho em suas entranhas.
No
último capítulo, a cena mais deplorável foi a surra que o pai infligiu à filha a
submetendo a vexatória exposição em seu local de trabalho. Como depois ela
aparece beijando os avós, aos quais sempre agrediu, acabou chancelada a
violência intrafamiliar como o melhor método
educacional.
Quem
entra em todos os lares precisa ser mais responsável. Imperioso, que a mídia
tenha consciência de seu compromisso social, não podendo deixar de assumir como
verdadeira missão ser um veículo de resgate da cidadania.
Advogada, Ex-Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM
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