Nome do autor: Alana Sheilla Brito Leite – Acadêmica de Direito na Faculdade Maurício de Nassau. (e-mail; alanasheilla76@gmail.com)
Nome do orientador: Gustavo César De Freitas Silva. (e-mail: Gustavo.cesarfreitas@gmail.com)
Resumo: O que diferencia um psicopata de um sociopata? Por muito tempo esses termos pairavam na mente das pessoas causando perguntas sem respostas o que possibilitou um estudo no meio jurídico. Afinal como traçar um perfil para esses indivíduos se eles se escondem entre nós, podendo ser qualquer um, desde um membro da família até um amigo muito íntimo. Através da pesquisa foi analisada a inimputabilidade desses indivíduos e quais medidas podem ser aplicadas para estes se livrarem de sua responsabilidade penal. Dessa forma, buscou-se traçar um perfil psicológico tomando por base alguns serial killers famosos por tamanha crueldade aplicada a suas vitimas.
Palavras-chave: Assassinos em Série. Inimputabilidade. Sociopatia. Psicopatia
Abstract: What differentiates a psychopath from a sociopath? For a long time these terms hovered in people’s minds, causing unanswered questions, which made it possible to study in the legal field. After all, how to draw a profile for these individuals if they hide among us, and it can be anyone, from a family member to a very close friend. Through the research it was analyzed the inimputability of these individuals and what measures can be applied to get rid of their criminal responsibility. Thus, an attempt was made to draw a psychological profile based on some serial killers famous for such cruelty applied to their victims.
Keywords: Serial killers. Inimputability. Sociopathy. Psychopathy
Sumário: Introdução. 1. O perfil dos assassinos em série e de suas vítimas. 2. Psicopatia versus Sociopatia. 3. A inimputabilidade e sua aplicabilidade em relação ao serial killer. 4. Ed Gein. 5. Ted Bundy. Considerações Finais. Referências
Introdução
Os assassinos em série são criaturas que nos assombram e que ao mesmo tempo nos fazem questionar o porquê de tanta crueldade em seus crimes. O estudo desenvolvido se aprofunda no tema em questão, definindo a diferença entre sociopatas e psicopatas e quais as medidas de segurança podem ser aplicadas a tais indivíduos.
Foi tomado como parâmetro os estudos do psiquiatra forense Michael Stone e sua análise sobre o comportamento de todos os tipos de assassino. Dessa forma, foi possível traçar um perfil de um assassino em série e esclarecer o que por muito tempo gerou dúvidas. Mais afinal o que se passa na mente de tais indivíduos? E o que desencadeia comportamentos tão bizarros?
Com a pesquisa foi possível compreender a mente de um assassino e seus tabus, partindo do perfil criminoso chegando aos assassinos famosos que marcaram a mídia com os seus crimes hediondos.
Um assassino em série ou serial killer é um tipo de criminoso que comete crimes com determinada frequência, normalmente esses possuem modus operandi e tem a necessidade de controle sobre suas vítimas, utilizando métodos como a tortura e abuso sexual, deixando as mesmas em situações humilhantes.
Segundo (CASOY, 2014, p.26), alguns assassinos experimentam essa sensação de controle apenas com o óbito, em razão disso, matam rapidamente, outros necessitam desse processo doloroso para sentir a excitação, de modo que realizam a pratica de tortura por horas, às vezes dias, retardando ao máximo o óbito da vitima.
Nesse sentido, não é fácil identificar um assassino em serie, pois na maioria das vezes eles são pessoas normais, possuem família, emprego, e uma reputação admirada pelo publico em geral, pois são totalmente exemplares para com a sociedade. Porém, em seu mundo interior são pessoas extremamente perturbadas, são conhecidos pela sua total frieza e falta de sensibilidade.
Se por um lado possuem aparência impecável, nas suas relações intimas é complicado para tal individuo manter um relacionamento intimo de verdade com quem quer que seja. Nas definições de (CASOY, p.30), em razão dessa falta de empatia com as pessoas a sua volta, é através da vitima que consegue dividir os seus mais secretos desejos, mostrando a sua real face.
Nesse sentido, esses assassinos possuem o perfil de uma pessoa comum, quanto a esse perfil , ( Hickey, 2015) cerca de 76% seriam homens, com idade média de 29,5 anos. Deixam um rastro de crueldade por onde passam, assim como exemplo pode-se citar o metódico Ted Bundy que será estudado com maior ênfase a seguir, Ted ficou conhecido por tamanha crueldade em seus homicídios quase sempre escolhia moças muito jovens e as espancava, deixando suas mandíbulas quebradas, seus crânios perfurados e poucas foram aquelas que não espancou até a morte.
Assim, muitos desses homicídios fogem completamente da nossa compreensão, não só o ato de matar mais a tamanha frieza com que é feito sempre nos deixa perplexos.
Ainda no contexto, do perfil a escolha das vitimas nem sempre são conhecidas por ele, e na maioria dos assassinatos em série, não há relação entre a vitima e o agressor. Alguns as escolhem pelo simples acaso, porém essa escolha não é totalmente aleatória. Estas devem ter um significado especial para o assassino (Holmes e Holmes, 1994, Skrapec, 2001). Como por exemplo, para Ted Bundy, que tinha o padrão de escolher jovens atraentes para matar outros não tem um tipo de vitima definido. Entretanto, ainda que sua escolha seja circunstancial sempre representam algo para eles inconscientemente.
Dessa forma, após a escolha da sua vítima que muitas vezes é planejada detalhadamente o assassino sente prazer em tortura-la, alguns por horas, dias e até meses, outros matam rapidamente. Uma coisa é certa, só atingem o pico do prazer quando a vítima vem a óbito, os deixando aliviados e relaxados com o ato.
Porém, ele nunca ficará totalmente satisfeito, o que significa que irá continuar com novas vitimas.
A psicopatia é entendida atualmente no meio forense como um grupo de traços ou alterações de conduta em sujeitos com tendência ativa do comportamento, tais como avidez por estímulos, delinquência juvenil, descontroles comportamentais, reincidência criminal, entre outros. É considerada como a mais grave alteração de personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia são responsáveis pela maioria dos crimes violentos, cometem vários tipos de crime com maior frequência do que os não-psicopatas e , ainda, têm os maiores índices de reincidência apresentados. (AMBIEL, 2016).
Para a psiquiatria forense a psicopatia não é uma doença mental, pois o individuo portador não apresenta nenhum tipo de desequilíbrio, não mostrando nenhum tipo de sofrimento psicológico. O ponto crucial desse transtorno é a falta de sensibilidade pelos sentimentos alheios, e essa falta de empatia não é absoluta, podendo em determinado momento elegerem pessoas para demostrar afeto, o que os torna ainda mais manipuladores em suas relações.
Nos moldes do psiquiatra americano Hervey Cleckley(1941), a psicopatia foi pela primeira vez tratada como um conjunto de traços de personalidade e comportamentos específicos, entendidos como normais e até agradáveis para quem tinha uma relação superficial, mas quem escondia ou camuflava um caráter duvidoso, ausente de emoções e empatia para com o outro.
Assim, em muitos casos as pessoas próximas ao psicopata quando descobrem seus crimes ficam perplexas e sem acreditar que aquela pessoa cometeu tamanha atrocidade. Esses indivíduos não apresentam na maioria das vezes nenhum comportamento anormal, às vezes só são descobertos depois de cometido o crime. Possuem características como, falta de empatia, impulsividade, são egocêntricos, mentirosos, violentos e como já falado na maior parte dos casos são antissociais,
Se um psicopata é aquele acometido de algum distúrbio mental definido por comportamentos antissociais , um sociopata é aquele que sofre de sociopatia, é uma psicopatologia que provoca comportamentos hostis, antissociais e impulsivos. Esses indivíduos apresentam um falso encanto, se apresentando carismáticos, encantadores e simpáticos. Nesse sentido, por apresentarem tais características conseguem facilmente à confiança de suas vitimas por tamanha facilidade de manipulação.
Nesse contexto, a principal diferença entre ambos os termos é que enquanto a psicopatia é geralmente inata, a sociopatia é desenvolvida durante a vida da pessoa e está associada à educação e convivência social. Quanto aos crimes, enquanto os de um psicopata são mais calculistas, procurando não deixar evidências os de um sociopata são crimes espontâneos e acabam deixando muitas evidências.
Nesse sentido, existem atitudes justificáveis e compreensíveis e outras que podemos entender mais não justificar e outras que são incompreensíveis. Muitos desses comportamentos foram explicados pelo psiquiatra forense Michael Stone na sua escala da maldade, onde se classifica assassinos em série, psicopatas e sociopatas. Os estudos têm como principal razão entender o que se passa por trás da mente dos assassinos e o que os leva a cometer atos tão cruéis.
O psiquiatra forense com esse “índice de maldade” teve tamanha repercussão que até virou programa de TV, com produção hollywoodiana, nos EUA. Sua escala é instigante e curiosa, fazendo-nos pensar sobre os diversos tipos de distúrbios comportamentais.
A mesma fascina o publico em geral, com seus 22 níveis diferentes do mais brando ao mais cruel, sendo o primeiro de pessoas normais que matam em legitima defesa, não havendo pratica criminosa, e o nível mais alto é reservado para os psicopatas, assassinos e torturadores em série, que são aqueles que possuem traços de psicopatia, cometendo crimes bizarros e violentos.
Assim, com exemplo do indice 22, está o notório Ed Gein que serviu de inspiração para vários assassinos famosos como o do massacre da serra elétrica entre outros.
Muito se pergunta como é a responsabilidade penal de um assassino em série, e se para tais indivíduos é aplicada pena ou medida de segurança.
No nosso ordenamento jurídico o delito é dividido em três elementos principais: fato típico, ilicitude e culpabilidade. A culpabilidade é, portanto um elemento fundamental, principalmente no que diz respeito aos assassinos em série, pois ela serve como pressuposto essencial na aplicação de uma pena.
Nas palavras de Luiz Regis Prado a culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita inculpável. Devem ser levados em consideração, além de todos os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica e ilícita realizada, também, suas circunstâncias e aspectos relativos à autoria (PRADO,2007,p.408)
No que diz respeito à imputabilidade penal, que significa atribuir culpa pela pratica delitiva a uma pessoa. Um indivíduo imputável é aquele que pode ser responsabilizado por algo.
Segundo Marta e Mazzoni (2009), os assassinos em série são um capítulo à parte na criminologia e um desafio para a psiquiatria, visto que não se enquadram em nenhuma linha específica desse pensamento.
Nas palavras de Rogério Sanches Cunha: “A imputabilidade é elemento sem o qual entende-se que o sujeito carece de liberdade e de faculdade para comporta-se de outro modo, como o que não é capaz de culpabilidade, sendo, portanto, inculpável“. (SANCHES, 2016, p. 287).
Dessa forma, a imputabilidade está ligada a capacidade de entendimento do agente quanto à ilicitude do fato. Nesse sentido, também é disposto no artigo 26 do Código penal que:
Art.26 É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse sentido, se o infrator for doente mental ou tiver desenvolvimento mental retardado estará isento de sanções penais. E se no caso possuir idade acima de 18 anos poderá ser aplicada medida de segurança, e para o menor medida socioeducativa.
Alguns aspectos devem ser analisados para que um individuo seja considerado inimputável, critério biológico, no sentido exclusivamente da saúde mental do agente, se ele é ou não doente mental, ou possui ou não um desenvolvimento mental retardado. Critério psicológico, levando em consideração unicamente a capacidade que o agente tem de apreciar se o fato é ilícito. E por ultimo, é apreciado pelo juiz o biopsicológico, considerando-se os dois critérios anteriores unidos, verificando-se se o agente é mentalmente são e se possui capacidade de entender a ilicitude do fato ou de determina-se de acordo com esse entendimento. (NUCCI, 2005, p.26)
Nas palavras de Ramos (2002), determinados serial killers podem estar completamente lúcidos ao cometer crimes e em outro momento com a capacidade de compreensão totalmente afetada.
Assim, a imputabilidade nem sempre poderá ser aplicada ao serial killer, pois na maioria das vezes o mesmo tem total capacidade de entender a ilicitude de seu fato criminoso.
Aquelas histórias horríveis retratadas em filmes muitas vezes são inspiradas em casos reais, como é o caso do cruel Edward que nasceu em Las Crosse County, Wisconsin, em 27 de agosto de 1906, foi o segundo filho de George Phillip Gein e Augusta Wihelmine Gein.
Augusta desprezava o marido, um alcóolatra que era incapaz de manter um emprego; o mesmo trabalhou em várias épocas como carpinteiro, curtidor e vendedor de seguros. George foi dono de uma mercearia por alguns anos, mas vendeu o negócio e a família deixou a cidade para viver em isolamento em uma fazenda na cidade de Plainfield, em Waushara County, Winsconsin, que se tornou a residência permanente da família Gein.
Ed Gein sofria de distúrbios comportamentais e sua história começa com traumas ainda na infância, quando sua mãe o protegia exageradamente, proibindo-o de conversar com mulheres e com meninos de sua idade. A mãe de Ed era extremamente religiosa e sua vida foi contaminada por crenças e proibições. Já o seu pai era alcoólatra, desempregado e nas palavras de Ed um inútil.
O mesmo sofria Bulling na escola com frequência, pelo fato de ser uma criança tímida e com características semelhantes a uma menina. Ed foi criado em uma fazenda isolada da cidade em Plainfield, Winsconsin, nos Estados Unidos. Depois que sua mãe e seu irmão morreram ele se isolou totalmente, apresentando comportamentos estranhos, como manter o quarto de sua mãe sempre limpo diferente do resto da casa.
Entretanto, tal hábito não era o mais estranho de todos, Gein começou a ler compulsivamente relatos de experiências feitas por médicos nazistas em judeus, e livros sobre a anatomia feminina. Se esses comportamentos já eram bizarros, Ed começou a revirar sepulturas para anatomizar mortos parecidos com sua mãe.
Além disso, furtava lápides e violava as sepulturas sob o pretexto de realizar estudos científicos com os cadáveres. Retirava as partes e órgãos e passou também a retirar a pele, e posteriormente fazia com as peles roupas.
Ed Gein demonstrava fascínio por as partes intimas femininas e costumava retira-las dos corpos furtados e coloca-las em se mesmo. Admitia sentir enorme desejo de se tornar mulher.
Esses roubos em sepulturas logo perderam o encanto e Ed matou a sua primeira vitima com um tiro de calibre 32 na cabeça em 8 de Dezembro de 1954. Depois do assassinato, retirou a pele como de costume para depois vesti-la, decepou a genitália pintando-a em seguida de prata e expôs a mesma em uma caixa de sapatos. O que fazia era algo surreal, utilizava os ossos da vitima para confecções de móveis para sua casa e ainda comia algumas partes do corpo do cadáver.
Quando a policia invadiu a sua casa encontrou um cenário de filme de terror, uma caixa de sapatos contendo vaginas, pulseiras, poltronas, bolsas e vários objetos feitos de pele humana. A casa era tão bizarra que ficou conhecida como casa dos horrores.
E assim, Ed Gein fez dezenas de vítimas que até hoje não se sabe o número exato. Durante seu julgamento, em 21 de dezembro de 1957 o acusado se declarou como não culpado, e alegou insanidade. Foi considerado, mentalmente incapaz, e assim inapto a ser julgado, sendo internado em um hospital psiquiatrico onde passou o resto de sua vida e morreu acometido por um câncer.
A vida e os crimes cometidos por Ed Gein são dignos de um filme de terror, sua trajetória inspirou clássicos do cinema mundial, como psicose e o silencio dos inocentes. Esses criminosos se tornaram onipresentes em nossa sociedade e se tornaram verdadeiras celebridades (Schmid, 2005).
Louise Cowell tinha 22 anos de idade, quando deu á luz a Theodore Robert Cowell em uma casa para mães solteiras, em Vermont, no dia 24 de novembro de 1946. Era uma boa garota, criada por uma família extremamente religiosa no Noroeste da Filadélfia. É possível imaginar seu pânico quando se descobriu grávida de um homem a que se refere hoje apenas como ‘’um marinheiro. ’’
Quem era o pai biológico de Ted, isso nunca foi determinado com certeza. Alguns acreditam que ele foi fruto de incesto, gerado do pai de sua mãe, homem conhecido pelo comportamento violento. (Rule, p.35)
Três meses depois, Louise voltou para a casa da família com o pequeno Ted, e o pai de Louise tomou a decisão de adotar o pequeno Ted. Esta decisão pode ter sido tomada para evitar a desonra da família. Louise foi então relegada ao papel e status da irmã mais velha dele.
Quando tinha quatro anos, sua mãe mudou-se para Tacoma. O jovem Ted teria ficado muito ressentido com sua irmã que na verdade era sua mãe quando deixou a casa dos avós. Ao ir embora, Louise impôs uma mudança de nome de Ted Cowell que se tornou Ted Nelson. Ela não queria ser encontrada, o que leva a crer que Louise talvez tenha ido embora devido o ambiente familiar em que viviam.
Em 1951, Louise casou-se com Johnnie Culpepper Bundy, com quem teve quatro filhos. Ted mudou então seu nome pela terceira e última vez para Ted Bundy (Rule, 2009).
Para um psicólogo do FBI, ele relatou que a mãe era bastante controladora e é por isso que ele nunca soube como viver com uma mulher (Larsen, 1987). Na escola, Ted era considerado mediano por seus professores. Os vizinhos o descreveram como uma criança “boa e educada”, bem como “gentil e calma” Ele era uma criança: “inteligente, feliz e popular (…) com senso de humor” (Vronsky, 2005).
Por volta dos 13 anos, ele descobriu a verdade sobre sua filiação. Descobriu a verdade pelo seu primo e sua certidão de nascimento a confirmou. No lugar do nome do pai estava escrito: “desconhecido”. Seu nascimento ilegítimo aparece então como “uma dinâmica psicológica perturbadora para Ted”. No entanto, este negará totalmente ter sofrido por tal descoberta.
Já nesta idade cometia vários atos de delinquência, furtando diversas casas, além de equipamentos de esqui e falsificando ingressos. Ele vasculhava latas de lixo em busca de fotos de mulheres nuas, lia revistas de investigação com ilustrações de mulheres mutiladas, romances policiais. Ele saia também à noite procurando janelas sem cortinas para poder ver as mulheres se despirem.
Durante o ensino médio, era considerado reservado e medíocre . (Vronsky, 2005) e se sentia excluído pelos demais alunos. O jovem Ted se perguntava se seus problemas na escola eram devidos à genética e queixava-se de não ter um modelo em casa para ajudá-lo na escola. Já naquela época, expressou o sentimento de não estar em sintonia com o mundo social ao seu redor e de se sentir diferente dos outros.
Questiona-se o primeiro assassinato cometido por Ted Bundy teria se dado por volta dos seus 14 anos, com a sua pequena vizinha de 6 anos Anne-Marie Burr, visto que a pegada deixada por seu sequestrador ao adentrar em sua janela, era a de um adolescente. No entanto, na ausência de pistas e do corpo não foi possível provar o envolvimento de Ted em seu desaparecimento. Muitas pessoas afirmaram que a menina o adorava e o seguia para todo lado (Morris, 2014). Se este começou a matar quando era adolescente, o número de assassinatos pode ser maior ainda do que o estimado.
No total, em relação aos assassinatos conhecidos e provados serem de sua autoria, são 33 assassinatos, incluindo 11 em Washington, 8 em Utah, 5 no Colorado e o restante em outras localidades do Estados Unidos. (Castelaux, 2014)
Ao iniciar a faculdade, passou a esconder a sua profunda falta de confiança ao vestir a máscara do homem sedutor e autoconfiante. Seja no trabalho ou na universidade, ele era capaz de fazer as pessoas ao se redor confiarem nele, de modo que enganava seus amigos, sua família, suas namoradas, além de policiais, guardas da prisão e assim por diante.
Ted Bundy era um homem inteligente, mas não um gênio. Ele tinha um QI levemente superior ao padrão, era hábil e eficaz no trabalho, assim como nos estudos. Estudou arquitetura, chinês, psicologia e direito. (Rule, 2009).
Em 1967, conheceu e se apaixonou por Stephanie Brooks. No entanto, ela colocou fim a relação após um ano, por considerá-lo imaturo. Este relacionamento foi marcante para Ted, que cujas futuras vítimas tinham o mesmo perfil de Stephanie, garotas jovens de cabelos compridos e pertencentes a classe média alta. Depois de alguns anos, namoraram novamente e desta vez, foi Ted quem terminou o relacionamento, após ter certeza de que ela o amava (Vronsky, 2005).
Em 1971, conseguiu um emprego no Seattle Suicide Crisis Center, ao mesmo tempo em que se matriculou na universidade no curso de psicologia. Ao formar, se juntou à campanha de reeleição do governador Daniel J. Evans. Uma vez eleito, Ted foi contratado pelo presidente do Partido Republicano, Ross Davis como assistente.
Bundy continuou seus estudos universitários integrando a faculdade de direito da Universidade de Utah. Apesar dos resultados medíocres nos exames de admissão, foi aceito graças às cartas de recomendação de Evans, Davis e de seus ex-professores.
No ano de 1974, vários crimes envolvendo jovens com semelhança impressionante começaram a acontecer em três estados americanos, simultaneamente: Washington, Utah e Oregon. Ao escolher suas vítimas, ele as seguia por um tempo, geralmente alguns minutos, mas às vezes mais. Inicialmente, ele as abordava à noite, e depois passou à faze-lo durante o dia, após tornar-se mais confiante, em áreas de lazer, como o lago Sammamish em 1974 ou uma rua movimentada ou, mais frequentemente, em campos universitários (Rule, 2009). Para atrair estas jovens, por livre e espontânea vontade, ao seu carro, usava de seu charme para assim ganhar sua confiança e não levantar suspeitas, usando um status de autoridade, como um policial ou ainda como deficiente.
O serial Killer despersonalizava sua futura vítima e a manipulava de tal maneira a levá-la aonde quisesse. Ele se adaptou e evoluiu seu modus operandi usando uma ampla variedade de disfarces. Seu plano, bem elaborado, quase sempre funcionava. Quando sua futura vítima era cautelosa e ia embora, recusando-se a ajudá-lo ou segui-lo, ele perdia a concentração, ficava nervoso e com raiva.
Na situação em que a garota concordava em segui-lo, ele a sequestrava nocauteando-a com um grande golpe na cabeça. Em seguida, ele a levava para dentro de seu carro, no lugar em que deveria estar o banco do passageiro da frente. Em seguida, a estuprava, espancava até a morte e praticava atos de necrofilia com seu cadáver. Por fim, se desfazia do corpo em um lugar por ele escolhido anteriomente. (Vronsky, 2005)
Para o psiquiatra Carlisle, Bundy tinha “traços característicos da personalidade antissocial, como a falta de sentimento de culpa, a aspereza e a capacidade de compartimentalizar e racionalizar seu comportamento”.
Em seu julgamento, vários especialistas deram sua opinião sobre o tipo de patologia por ele sofrida, sua personalidade ou sua doença mental. Muitos ainda mudaram seu diagnóstico ao longo dos anos. Para alguns, “Ele não era louco”, mas ele tinha múltiplos transtornos de personalidade: narcisista, borderline e sociopata (Rule, 2009). Para outros a explicação é que ele era bipolar (Castelaux, 2014).
No entanto, o diagnóstico mais coerente, parece ser o de Ann Rule, autora de um livro sobre ele e que o conheceu pessoalmente, segundo o qual, ele era um sádico sociopata que estava desfrutando do sofrimento humano por ele causado e que gostava de controlar pessoas, pois nunca tivera real influência sobre ninguém antes de praticar seus terríveis crimes (Rule, 2009).
Em muitas perguntas feitas a autora uma delas foi se alguma vez sentil medo de Ted Bundy, durante seu trabalho com ele em uma clínica de preveção de suicídio:
A resposta é não. Sempre tive orgulho de mim mesma pela habilidade de detectar anomalias emoutras pessoas, porque era algo inato e desenvolvido com experiência e treinamento. E me repeendi em silêncio por um longo tempo porque não vi nada ameaçador ou pertubador na fachada de Ted. Ele era muito gentil comigo, atencioso com minha segurança e aparentemente empático. (Ann Rule, 2019, p.37).
Quanto a um sentimento de culpa, Ted Bundy terá uma opinião bastante explícita sobre o assunto: “Culpa? É um tipo de mecanismo de controle social – e é muito prejudicial. Isso faz coisas terríveis aos nossos corpos. E há maneiras muito melhores de controlar nosso comportamento do que isso. (Bundy,Theodore. Entrevistador Stephen Michaud e reproduzido por Vronsky, 2005, Capítulo 3).
Para o serial Killer o sentimento de culpa “não lhe dizia respeito” (Hare, 1999). Ele não se sentia culpado, ele só queria sobreviver, decidiu então se declarar culpado no processo de modo a evitar um longo julgamento. De fato, dado o número de assassinatos cometidos e o número de estados envolvidos, o julgamento levaria anos.
Na manhã da terça-feira de 24 de janeiro de 1989, às 7h16 da manhã na Prisão Raiford, Bundy foi executado por cadeira elétrica, deixando uma filha que tivera com Carole Boone. Ele tinha 42 anos e enquanto seu corpo era colocado em um carro funerário, vinte guardas comemoraram sua morte.
Seu corpo foi cremado em Gainesville e suas cinzas estão espalhadas entre as cachoeiras do estado de Washington, como ele havia solicitado em seu testamento.
Ted Bundy era tantas coisas para pessoas diferentes. Era ator, mentiroso, ladrão, assassino, golpista, perseguidor, sedutor, inteligente mas não brilhante, e condenado. Penso que nem mesmo Ted sabia quem ele era de fato. (Rule 2008).
Considerações Finais
O presente estudo buscou demonstrar a complexidade dos transtornos de personalidade psicopatia e sociopatia, representando estes um verdadeiro desafio para o judiciário. Isso mostru-se evidente, na analise dos casos de Ed Gein e Ted Bundy. . Os especialistas não conseguiram chegar a uma conclusão acerca do diagnóstico dos serial Killers, dificultando consequentemente o veredicto dos juízes.
Os psicopatas e sociopatas por muito tempo desencadearam dúvidas quanto ao seu nível de discernimento para responder por um crime. Essa foi a principal questão abordada no trabalho em foco, sendo possivel identificar os pensamentos, mas terríveis que pairam na mente de um serial killer e como os mesmo se encontram tão perto de nós.
Foi possível ainda observar, que podem existir tanto assassinos em série psicopatas, como nos parece ser Ed Gein, quanto sociopatas, como Ted Bundy. Ambos considerados imputáveis e consequentemente receberam punições severas o bastante para os impedir de reincidir.
Diante de todo o exposto, fica evidente que tais indivíduos necessitam da criação de estabelecimentos apropriados para sua custódia, visto que conforme evidenciado pelo presente estudo, estes homicidas, independentemente de serem ou não considerados imputáveis, são diferentes e deveriam consequentemente receber do estado um tratamento condizente com suas diferenças.
Referências
RULE, Ann. Ted Bund: Um estranho ao meu lado. Rio de janeiro: DarkSide Books, 2019.
MIRANDA DE SOBREIRA, Alex Barbosa. Psicopatia: Conceito, Avaliação e Perspectivas de tratamento. 2012. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/psicologado.com.br/atuacao/psicologia-juridica/psicopatia-conceito-avaliacao-e-perspectivas-de-tratamento/amp
Acesso em: 10 de junho de 2020
MOTA VASQUES, Guilerme. Assassinatos em série no ordenamento jurídico brasileiro: Aplicabilidade da lei penal aos serial Killers. 2019. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53574/assassinatos-em-srie-no-ordenamento-jurdico-brasileiro-aplicabilidade-da-lei-penal-aos-serial-killers
Acesso em: 20 de junho de 2020
DE AZEVEDO, Bernardo. Ed Gein, o louco carniceiro. 2016. Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/347778935/ed-gein-o-louco-carniceiro
Acesso em: 17 de agosto de 2020
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