O Partido dos Trabalhadores lançou a
candidatura de Lula à Presidência da República três vezes. Perdeu todas. À
exceção do pleito perdido para Fernando Collor, o candidato do PT perdeu ainda
no primeiro turno para o presidente Fernando Henrique em 1994 e 1998. O eleitor
havia enviado uma mensagem ao PT: era preciso mudar se o partido desejasse
chegar ao Planalto. Na esteira deste pensamento e com o objetivo centrado na
próxima eleição presidencial em 2002,
a facção de esquerda representada pelo partido de Lula
operou modificações em seu discurso para torná-lo mais palatável para classe
média. No intuito de mostrar a nova roupagem das idéias petistas, foi
contratado o ex-marqueteiro de Paulo Maluf, Duda
Mendonça. Tudo ia bem, até que…
Até que Roseana apareceu no caminho de
Lula. A pré-candidata do PFL comandou uma série de programas de televisão que catapultaram sua candidatura para além dos 20% de intenções
de voto. O que parecia um “balão de ensaio”, segundo analistas políticos, tomou
proporções de uma real candidatura. Os 20% de Roseana são o que provavelmente o
presidente FH gostaria para algum candidato tucano, contudo, os pré-candidatos
do PSDB continuam patinando nas intenções de voto. Talvez o percentual de
Roseana baixe, como muitos afirmam (ou desejam?), mas
o fato é que suas intenções de voto parecem consistentes, visto que atingem
significativamente todas classes sociais em todas as regiões. No que se tornará
a candidatura da Governadora, só o tempo dirá. Mas este artigo não é sobre o
avanço de Roseana…
Enquanto isso, o candidato petista se
dirigiu à França. Lá começaram os problemas. Em conversa com o
primeiro-ministro Lionel Jospin, defendeu o regime de
subsídios daquele país, um dos principais empecilhos às exportações
brasileiras. O fato repercutiu muito mal no Brasil. De volta ao país, começaram
os preparativos para a próxima viagem do pré-candidato petista ao exterior.
Lula traçou um roteiro por três países:
Peru, Cuba e Venezuela. O governo de Lima não passa por uma boa situação.
Segundo Mario Vargas Llosa, o presidente Alejandro
Toledo prometeu mais do que poderia cumprir. Este fato criou uma grande
agitação popular, que dificulta um entendimento maior entre as diversas forças
políticas daquele país. Mas o Peru somente foi uma escala para outro destino:
Havana. Lá, o pré-candidato do PT foi participar de um encontro entre
organizações e partidos de esquerda na América Latina. Lá estiveram,
além de Lula e sua comitiva composta pelo ex-governador do Distrito Federal Cristóvam Buarque e do atual do Acre, Jorge Vianna, membros
das Farc, guerrilha comunista que controla parte do
território da Colômbia, e da ELN. Do Peru, veio o Tupac
Amaru.
De lá, a comitiva petista rumou para
Caracas, onde o presidente Hugo Chavéz enfrenta seu
momento mais difícil depois de baixar um pacote de 49 medidas econômicas
controversas. Lula, durante sua estada na capital venezuelana indicou: “Ele
pensa o que eu penso”.
Cuba e Venezuela adotaram modelos
polêmicos. Castro “El Comandante”, com 75 anos, é um
dos últimos ditadores do mundo. Dirige um país com economia precária, acusado
de comandar um regime que tolhe as liberdades civis e, justiça seja feita,
possui altos índices de alfabetização, porém, com um problema: só é possível
ler o que o governo permite. Já, o grupo que comanda o Palácio Miraflores, tem como líder Hugo Chavéz,
um Coronel pára-quedista que esteve preso por tentativa de golpe. Lá, entidades
empresariais (Fedecámaras) e trabalhadores (CTV) se
uniram contra seu governo. Durante seus quase dois anos no poder, Chavéz convocou um novo congresso, alterou a constituição,
se reelegeu para um termo maior, alterou os juízes da Suprema Corte e colocou
em curso o que chama de “revolução bolivariana”.
Se Lula deseja conquistar a classe
média e evitar um novo fracasso nas urnas, deve estar atento ao recado que
recebeu nos últimos três pleitos: deve evitar radicalismos. Um Lula “light” não pode se inspirar em modelos adotados por Cuba e
Venezuela, claros casos de autoritarismo.
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).
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