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Rousseau que se cuide!!


Resumo: A princesa Carola, veja você, está escrevendo um tratado político! Talvez constitua um equívoco pensar que o hermetismo e o elitismo que vêm caracterizando a ciência política sejam imprescindíveis ao desenvolvimento ‘puro’ da mesma. Não o são. Carola deve saber muito bem o que escreve. Rousseau que se cuide.

Muito me incomoda e preocupa o futuro da literatura política em todos os seus espectros de análise. Dir-se-á que, desde Weber, Keynes* e Berger, nenhuma novidade insurgiu do bojo político-doutrinário da humanidade. Far-se-á necessária, entretanto, uma análise mais criteriosa das razões pelas quais não mais se logrou nenhuma nova magna-teoria ou ideário relativo às pautas da ciência política.

Não deixa de ser verdade o fato de que os tratados políticos costumam ter como gênese um período marcado por transformações bruscas e/ou violentas, a exemplo de Locke – vide Revolução Gloriosa – e Marx – vide Segunda Revolução Industrial. A título prosaico de citação, mencionou-se tão-somente dois exemplos de maior relevância para a pauta política contemporânea – bem como a contraposição ideológica entre os exemplos supra-mencionados. É, todavia, passível de citação, outra extensa gama de exemplos que constituem gênios da ciência política – Rousseau, Montesquieu, Voltaire e uma opulenta pauta de personalidades que, descontadas suas divergências ideológicas, vieram a contribuir para  a formação do pensamento político novecentista.

Atuarco, de volta à idílica contemporaneidade desprovida de quaisquer ideários políticos dignos da alcunha de “geniais” ou até mesmo “inovadores”, contempla-se, pois, o limbo da criatividade política humana – nada – ou muito pouco – se cria, tudo – ou quase tudo – se copia.

Poder-se-ia afirmar que o fenômeno tem como gênese a sutileza na qual a dinâmica social vem pautando suas transformações. Crassa inverdade! A sutileza reside tão-somente na maquiagem cor da pele –  – branca ou negra? – que a colossal infra-estrutura da mídia confere aos fatos. Desvinculando-se soturnamente dessa primeira vertente argumentativa, alegar-se-ia, não obstante, que o nascedouro da falta de inovações na seara da ciência política consiste no binômio hermetismo-elitismo que vem, grosso modo, isolando o meio daqueles cujo ofício é  interpretar uma das mais nobres artes desenvolvidas pelo homem. Nem mesmo o pernicioso binômio hermetismo-elitismo responde por todo o vácuo de criatividade que se expande numa velocidade irascível. A problemática tem sua gênese engendrada na embusteira acepção de “sociedade dinâmica” que vem se incutindo no indivíduo já imbecilizado por conceitos supostamente “cibernéticos”(?) , de modo que este isola-se em seu contexto, digamos, fenomenológico, para se ocupar unicamente de suas questões singulares e, de certa forma, egoístas.

Grosso modo, justifica-se a afirmação de que o indivíduo eleva a patamar de primeira grandeza suas aspirações individuais, mesmo que a realização destas implique na subjugação do modelo social cujo baluarte seja o bem comum. Interrompendo a argumentação e atencipando-me à prerrogativa dos intelectualóides céticos e pseudo-democratas, a idéia sustentada não é, de modo algum, uma ode ao modelo socialista. Procura-se compreender, pois, a razão pela qual a ciência política se esvaneceu na metade final do século XX, bem como justifica a argumentação acima. A  (ir)responsabilidade, inversamente ao que se costuma arquear defesa, não recai sobre a adoção de um novo modelo social. Se tivesse havido a tentativa de transformação de uma nova concepção social, as, digamos, “forças revolucionárias” entrariam em choque com a falange conservadora-reacionária, de modo que, geradas pelo embate hipotético, surgiriam novas vertentes na ciência política. Recai, pois, a culpa, justamente na ausência de qualquer modelo digno de ser rotulado de social.

Existem, todavia, congregados idealistas que tentam, talvez em vão, nadar contra a corrente. A título de exemplo de maior relevância, citar-se-á o cientista político italiano Norberto Bobbio, que se empenha na árdua tarefa de parir novas concepções em meio ao breu opaco que se afigura na modorrenta política contemporânea. Bobbio é, entretanto, uma exceção à regra. Não mais se constituem personalidades geniais da ciência política, a exemplo de Maquiavel ou Montesquieu. Não é menos factual a tese de que a política, por ser um instrumento viabilizado tão-somente pela racionalidade, tem também em seu bojo estrutural acepções idiossincráticas e personalísticas. Não se pode, porém, prescindir do elemento social, que é, sob um equivocado espectro de análise, independente das convicções inerentes ao intelecto humano.

Ater-me-ei, pois, às argumentações que são por vezes irônicas, mas nem por isso menos plausíveis e/ou coerentes: vou redigir um tratado político. Vou mesmo! Por que não? A princesa Carola, ex Sra. Scarpa, veja você, está escrevendo um! Talvez constitua um equívoco pensar que o hermetismo e o elitismo que vêm caracterizando a ciência política sejam imprescindíveis ao desenvolvimento “puro” da mesma. Não o são. Carola, a ex de Chiquinho Scarpa, deve saber muito bem o que escreve.

Concluir-se-á, talvez numa atitude precipitada, que Carola irá rechear seu precioso tratado político (ha ha ha) de absurdos e bravatas verborrágicas tão plausíveis quanto um manual de auto-ajuda. Talvez estejamos todos errados. E talvez vocês também o estejam sendo comigo, julgando-me incapaz – ah, falaciosa pretensão! – de redigir um tratado político. Mas procurem esquecer o meu caso por um tempo. Atenhamo-nos, pois, ao de Carola. A ciência política está realmente precisando de sangue novo – e nobre! – em suas veias vergastadas pela mesmice. Carola, veja você, julga-se a Princesa contemporânea de Maquiavel! Deixemos que ela continue a devanear. De qualquer forma, aguardo ansiosamente o tratado político de Carola. Acredito até que seja muito bom, ou, quem sabe, genial. Rousseau que se cuide.

* Muito embora o economista britânico John Maynard Keynes tenha baseado suas teorias no espectro de análise macro-econômico, não logra sensatez a atitude de excluí-las das teorias políticas como um todo.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Lindolpho Cademartori

 

Acadêmico de Direito na Universidade Federal de Goiás e colunista da Revista Autor (www.revistaautor.com.br), do Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org), d’O Debatedouro (www.odebatedouro.com.br), do DupliPensar (www.duplipensar.net) e do Jornal Opção.

 


 

Equipe Âmbito Jurídico

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