Andreza Maria Vidal Barros
Resumo: O presente artigo trata-se da compilação de ideias de três autores e filósofos que realizam análise sobre a forma de dividir o trabalho, a ocupação do homem para o capital, as mudanças ocorridas no decorrer do tempo e os impactos do trabalho na individualidade do trabalhador. Foi utilizado o método de investigação em material sobre o assunto, especialmente nas obras dos seguintes estudiosos: Adam Smith, filosofo e economista influente entre os liberais, o político e economista britânico David Ricardo e economista americano Sthepen Marglin. Foi realizado estudo acerca dos posicionamentos de cada um dos filósofos os quais iram colaborar para o atual entendimento do trabalho e da o processo de desvalorização do homem trabalhador.
Palavras-chave: Trabalho. Desenvolvimento social. Valorização do trabalhador.
Abstract: This article deals with the compilation of ideas by three authors and philosophers who analyze how to divide labor, the occupation of man into capital, the changes that have occurred over time, and the impacts of labor on the individuality of the worker. . The method of inquiry into material on the subject was used, especially in the works of the following scholars: Adam Smith, philosopher and influential economist among the liberals, British politician and economist David Ricardo, and American economist Sthepen Marglin. A study was conducted about the positions of each of the philosophers who will contribute to the current understanding of work and the process of devaluation of the working man.
Keywords: Work. Social development Worker valorization.
Sumário: Introdução. 1.O Trabalho pela visão liberal de Adam Smith. 2.O valor do trabalho: David Ricardo 3. 3. Crítica a hierarquia e parcelamento de tarefas de Sthepen Marglin. Conclusões. Referências.
INTRODUÇÃO
O homem como ser social depende de determinadas circunstancias para manter-se inserido na sociedade, para o homem comum, trabalho é como uma locomotiva para o esta introdução e desenvolvimento, como animal integrativo no contexto a sua realização é pertinente para que o ciclo de alimentação entre consumo, trabalho, manutenção e subsistência se mantenha vivo e equilibrado. O presente artigo tem como fundamento analisar como alguns teóricos e seus posicionamentos sobre a divisão do trabalho e a valorização do trabalhador neste aspecto. As concepções partem de ideias que defendem pontos críticos do trabalho e sociedade a partir da visão de diferentes filósofos, economistas, liberais e defensores do socialismo.
Serão abordados nesta pesquisa conceitos e análises diferentes sobre os mesmos aspectos, o homem e o trabalho, a importância de um para outro, a divisão de tarefas no processo produtivo, relações sociais advindas da necessidade de oferta de mão de obra e da contraprestação do serviço prestado. Alguns filósofos compreendem necessário o trabalho como peça primordial e encaixe do sistema social, outros defendem teses de subjulgamento do homem a favor do trabalho e caminho para o estímulo da exploração humana, especialmente quando distinguem burgueses de proletários para o aprofundamento das relações do trabalho.
O processo de produção mudou e permanece em transição em todos os instantes, a introdução das máquinas nos processos produtivos, e a forma de aumento de produtividade permitem uma análise pelos estudiosos do quanto os processos podem ajudar ou prejudicar o trabalhador. O trabalho a partir da concepção individual de cada filósofo possui uma identidade própria que merece ser analisada de forma a ampliar a concepção sobre as mudanças e movimentos nos processos de produções.
A partir de então serão analisadas as ideias antagônicas dos estudiosos no processo histórico para maior compreensão conceitual da presente pesquisa. Nesta senda vislumbra-se conhecer e analisar como os estudiosos percebiam fraquezas e avanços no trabalho diante das mudanças enfrentadas do decorrer dos séculos. Compreendendo aspectos temporais diversos entre estes, considera-se num processo cronológico um viés de mudanças de análises, comportamentos, percepções históricas, influências do aspecto social vivenciado por cada um. Para maior compreensão será respeitada a ordem cronológica e o aspecto social da época de cada Filósofo estudado no presente capítulo.
1. O TRABALHO PELA VISÃO LIBERAL DE ADAM SMITH
A escolha de Adam Smith como sendo o primeiro autor a ser analisado permanece pela forma em que o filósofo demonstra no seu livro Riqueza das Nações no Capítulo I narrativa sobre divisão do trabalho e a importância para o método que pressupõe o fomento a empregabilidade e maior ocupação de postos de trabalho, todavia Smith busca durante suas ideias explanar em que posição fica o homem nesta relação de trabalho.
Com fundamento de que o trabalho está na base da produção da riqueza, Adam Smith principiou num período histórico hegemonizado pelas convenções do mercantilismo a teoria do valor, em que afirma que toda coisa custa ao homem que deseja adquiri-la o trabalho e o esforço para mantê-la. Determinando que o trabalho é uma das principais formas de valorar coisas em que o homem pretende adquirir, indica Smith que o trabalho é fonte de riqueza e berço do desenvolvimento mercantilista/capitalista. Colocando o trabalho como oportunidade de vivenciar o aumento de produção e riquezas, sendo, portanto, criticado por outros estudiosos, uma vez que supõe a ideia de sobrepor o trabalho e o capital acima do interesse do valor humano.
A oposição Marxista critica o posicionamento do liberalismo clássico de Smith, os opositores compreendem a defesa deste como um instrumento de exploração do proletariado, o que será expresso nas próximas páginas será o posicionamento de Marx e Marcuse pela defesa dos trabalhadores em face do liberalismo de Adam Smith. O autor como expectador do nascimento da revolução industrial passou a determinar teorias que tratam do período vivenciado a época, sendo uma de suas principais teses a da “mão invisível”, quando o homem sozinho e sem interferência do estado agrega a partir de seu interesse pessoal oportunidades sociais para os que o rodeiam, a qual sugere que o indivíduo ao buscar seu interesse individual contribui para o bem comum, com criação de empregos e oportunidade de trabalho para a sociedade.
O autor do livro A Riqueza das Nações afirma que o estado não deve interferir nas relações sociais, permanecendo a economia sobre caminhar natural das consequências do mercado, assim hasteou a bandeira da não intervenção, ou seja, “mão invisível” do estado, considerando ideias e concepções distintas de Karl Marx apresenta em sua criação, o livro Riqueza das Nações trata de teorias que defendem seus posicionamentos filosóficos políticos e compreende o trabalho como uma concepção de fonte direta de riqueza.
Permanecendo com interesse de liberalismo clássico, Smith defende também que o trabalho é aprimoramento de forças produtivas, e que a dividindo as tarefas entre os trabalhadores, a partir de uma concepção de trabalho, é permitido consequentemente um desenvolvimento de produção infinitamente mais lucrativo e robusto, do que permanecer centralizando todas as tarefas em um único operário. Para explanar suas percepções acerca do trabalho, Smith apresenta no capítulo I da sua obra A Riqueza das Nações o exemplo de uma fábrica de alfinetes, onde menciona o quanto é importante a realização de divisão do trabalho entre os operários para que ao fim do processo cada um tenha conseguido fabricar pelo menos um alfinete e todos em conjunto – no exemplo do autor – conseguiu produzir 4.800 unidades, em que mencionando numericamente a forma que a indústria produz seu produto final – alfinete – e como a divisão do trabalho entre os operários pode realizar um aumento e organização na produção do produto final.
Tratando-se de divisão de trabalho, um aspecto defendido por (SMITH, 1996, p.66) no livro Riqueza das Nações apresenta:
“Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele está dividido em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior parte também constitui provavelmente um ofício especial. Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas.”
Não se trata de novidade o fato das indústrias dividirem os trabalhos por setores e que a produção funciona como um quebra cabeça no contexto produtivo, além das esteiras de produtividade que já conhecemos, Smith apresenta em suas letras o lado positivo de desenvolver o trabalho segmentando a função de cada operário, levanta a defesa de que desta forma é criado maiores campos de contratação de mão de obra, a divisão do trabalho, na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho. Assim, para o Filósofo a diferenciação das ocupações e empregos efetua-se de maneira a apresentar vantagens para a sociedade. (SMITH, 1996, p.66).
Compondo uma compreensão das escritas de Smith para os dias atuais, denota-se que tal realidade é constituída no cotidiano dos trabalhadores, em que empresas, industrias, comércios, contratantes de mão de obra em geral permite-se dividir tarefas com o intuito de aumentar sua produtividade e ter maior controle sobre a sua gestão e economia empresarial. Menciona o autor em sua tese que a divisão do trabalho, na medida em que pode ser introduzida, gera, em cada ofício, um aumento proporcional das forças produtivas do trabalho, ainda que a divisão de tarefas tenha sido por muito tempo sinônimo de trabalho mecânico e automatizado, o que gera para o operário fadiga e desvalorização, todavia, compreendendo a defesa de Adam Smith, devemos considerar que o processo de divisão de trabalho pode gerar maior número de empregos e possibilidade de produção, do que apenas um trabalhador realizasse todas as tarefas
Sobre divisão de trabalho, menciona (SMITH, 1996, p.71):
“O casaco de lã, por exemplo, que o trabalhador usa para agasalhar-se, por mais rude que seja é o produto do trabalho conjugado de uma grande multidão de trabalhadores. O pastor, o selecionador de lã, o cardador, o tintureiro, o fiandeiro, o tecelão, o pisoeiro, o confeccionador de roupas, além de muitos outros, todos eles precisam contribuir com suas profissões específicas para fabricar esse produto tão comum de uso diário. Calcule-se agora quantos comerciantes e carregadores, além dos trabalhadores já citados, devem ter contribuído para transportar essa matéria-prima do local onde trabalham alguns para os locais onde trabalham outros, quando muitas vezes as distâncias entre uns e outros são tão grandes! Calcule-se quanto comércio e quanta navegação — incluindo aí os construtores de navios, os marinheiros, produtores de velas e de cordas — devem ter sido necessários para juntar os diferentes tipos de drogas ou produtos utilizados para tingir o tecido, drogas essas que frequentemente provêm dos recantos mais longínquos da terra!”
Ao definir as tarefas que são necessárias para a criação de um simples casaco, o filósofo economista cita exemplos de quantas pessoas conseguem atingir o seu intuito de empregar-se pelo processamento da divisão do trabalho, deixando o leitor orientado que não apenas no processamento de produção se vincula um produto acabado, ainda considerando o transporte e todo o prosseguimento da cadeia de produção, compreende-se que o processo sistemático defendido possui um ciclo que empreende na defesa da sua teoria, que verdadeiramente vem sofrendo alterações de acordo com a época e com as novas formas de se trabalhar.
O trabalho muda com o desenvolver do tempo e da história, as leis mudam e o contorno dos operadores de direito precisam adaptar-se as mutações, um estudo minucioso dos estudiosos contemporâneos denota-se que mesmo com o advento das revoluções industriais terem passados por três degraus e vivenciando hoje a quarta revolução, ainda se vislumbra o trabalho dividido de forma segmentada, e a qualificação individual de cada profissional no estado moderno constitui um diferencial no contexto do mercado do trabalho e economia capital.
Quanto maior a capacidade do operário em qualificar-se em uma única operação, melhor ele se tornará no que está capacitado a exercer, seja dentro da indústria, comercio, ou qualquer outra proposta de trabalho. Adam Smith na sua teoria compreende esta divisão como sendo benéfica para o setor produtivo e para a sociedade. O autor menciona a Polônia em seus escritos como sendo um país desenvolvido e que quase não se utiliza de manufatura, e na oportunidade da defesa de sua teoria, Smith menciona a inclusão das máquinas como sendo um dos fatores que une algumas tarefas distintas em um único operário, o que retira o vínculo com a necessidade humana de produção em maior quantidade de trabalhadores.
Considerando a Polônia na época como referência sobre trabalho, (SMITH, 1996, p.68),
“Esse grande aumento da quantidade de trabalho que, em consequência
da divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é devido a três circunstâncias distintas: em primeiro lugar, devido à maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um tipo de trabalho para outro; finalmente, à invenção de um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, possibilitando a uma única pessoa fazer o trabalho que, de outra forma, teria que ser feito por muitas.”
Quando o autor menciona em seu texto sobre destreza, ou seja, trata-se da habilidade individual de cada trabalhador, menciona a perda de tempo do mesmo trabalhador em se dedicar a mais de um serviço dentro do processo produtivo, e finalmente menciona as máquinas como sendo ferramentas que conseguem unir várias tarefas sob o comando de um único operário, seria o vislumbre de que a tecnologia consegue realizar mudanças na percepção de trabalho e mão de obra.
Considerando o tempo da escrita, pode-se concluir que Smith nesta sua compreensão já poderia conceber que o processo tecnológico alcançaria as funções dos operários, e como objeto de estudo da presente pesquisa o valor social do trabalho que isenta alguns trabalhadores de seus postos de trabalho, permanecendo um único homem operando o lugar de outros através das máquinas de produção. A utilização das máquinas realiza mudanças no processo do trabalho, para Adam Smith o trabalho é facilitado e abreviado pela utilização de máquinas adequadas, para o autor a criação e invenção de todas essas máquinas de processo produtivo que tanto facilitam e abreviam o trabalho parece ter sua origem na divisão do trabalho. (SMITH, 1996, p.69).
Sendo Smith um economista que defendia a teoria do utilitarismo, possuía apoio do também economista David Ricardo o qual defendia o valor do trabalho como base do capitalismo.
Na mesma senda do estudo das máquinas, será proposto uma análise sob outra vertente, divergente do contexto em que defende Smith, posteriormente nesta mesma pesquisa, uma análise dos impactos das máquinas e tecnologias nas relações do trabalho, sob a perspectiva prejudicial ao trabalho do homem será composta para uma completa averiguação.
2. O VALOR DO TRABALHO: DAVID RICARDO
O inglês Davi Ricardo (1772-1823) foi sucessor de Smith ao também adotar a teoria do valor, referendando o valor das coisas a partir de sua utilidade e do trabalho nela empregado, o também filósofo sofreu forte influência Smithiana em suas pesquisas e teorias, possuidor de conhecimento da bolsa de valores adquiriu fortuna antes dos trinta anos sendo jovem conhecedor do capitalismo, e apesar de toda expansão de estudos acerca do trabalho e economia, o teórico nunca recebeu instrução formal em seus estudos. Autor de livros históricos de economia, tem seu principal livro denominado de Princípios da Economia Política e Tributação entre os mais lidos e enaltecidos em sua época, além de permanecer vivo entre os economistas é verdadeiro sucessor de Adam Smith.
A contribuição de Ricardo sustenta que o trabalho é importante elemento gerador de riqueza para a sociedade, estudo que aperfeiçoou a composição de valor-trabalho. Neste item do presente trabalho será analisado os capítulos I e XXXI do principal livro do autor economista, Princípios de Economia Política e Tributação . O primeiro que trata de valor do trabalho e seguinte que estuda a maquinaria nas produções, a partir de então uma maior consciência sobre os estudos Ricardianos podem iluminar a compreensão de trabalho da época.
O valor da mercadoria, ou uma suposta quantidade de qualquer outra que pode ser trocada, irá depender da quantidade de trabalho empreendida na sua produção, não tendo relação portanto com maior ou menor remuneração de trabalhador que emprega forças a este trabalho. (RICARDO, 1991, p.18). Numa concepção ampla do autor as mercadorias derivam seu valor de duas possibilidades, da sua escassez e da quantidade de trabalho necessária e empreendida naquela produção. Em seu estudo esclarece que a sua teoria irá depender do produto analisado, uma vez que existem produtos que o seu valor irá depender unicamente de sua falta no mercado, sendo assim o seu valor independe de mão de obra, além de oscilar de acordo com a modificação das riquezas e da preferência daqueles que consomem este tipo de produto, como por exemplo obras de artes, moedas e estátuas.
Ricardo como um pensador de grande expansão de conhecimento de mercado e economia, compreende que a sociedade produz riquezas a partir da produção de produtos que possam ser multiplicados os esforços para o aumento de produção, não há hesitação ao afirmar que a maioria dos produtos consumidos pelo homem depende da produção humana pelo trabalho. O aumento de produção possui relação com emprego do trabalho irá regular a expansão das mercadorias inclusive a introdução destas em outros países, o que dependerá exclusivamente dos esforços empreendidos em trabalho para esta tarefa. Por conseguinte, tem-se o trabalho como primeiro preço que serviu para comprar e adquirir todas as coisas. Empreende-se na defesa de que se toda mercadoria é valorada a partir da quantidade de trabalho empregada no produto, para Davi Ricardo, o valor do trabalho irá ordenar o aumento e diminuição dos valores das mercadorias, sendo assim, quanto maior o emprego de esforços na produção, maior valor terá a obra final, e quanto menor este emprego de trabalho, a tendência natural é que a valoração diminua.
Como destaca RICARDO, (1996, p.24):
“Ao referir-me, porém, ao trabalho como fundamento de todo valor e da quantidade relativa de trabalho como determinante quase exclusivo do valor relativo das mercadorias, não se deve supor que negligencio as diferentes qualidades de trabalho nem a dificuldade de comparar uma hora ou um dia de trabalho, numa atividade, com a mesma duração do trabalho em outra. A estimativa do valor de diferentes qualidades de trabalho se ajusta rapidamente no mercado, com suficiente precisão para todos os fins práticos, e depende muito da habilidade comparativa do trabalhador e da intensidade do trabalho realizado. Uma vez constituída, essa escala fica sujeita a poucas variações.”
Da mesma forma que valora mercadorias de acordo com a quantidade de emprego do trabalho em sua produção, distingue da qualidade do trabalho empregada naquela realização. Não se pode de acordo com sua teoria, apesar de valorar a mercadoria de acordo com o trabalho necessário para sua produção, desconsiderar a qualidade da mão de obra investida naquele produto. A estimativa do valor de diferentes qualidades de trabalho se ajusta rapidamente no mercado, com suficiente precisão para todos os fins práticos, e depende muito da habilidade comparativa do trabalhador e da intensidade do trabalho realizado. (RICARDO, 1996, p.29).
Esta verificação de qualidade e valor do trabalho torna-se penosa, pois a análise de proporção entre duas quantidades de trabalho é subjetiva e relativa em suas nuances e técnicas. Ao gastar a mesma proporção de tempo em diferentes formas de trabalho, não será suficiente para determinar aquela proporção de esforço e valor de trabalho. Devem ser considerados diferentes aspectos, como habilidade do trabalhador que se dedica aquela tarefa, e o esforço adotado para sua execução. Considerando o tempo, elemento fundamental na análise, diante de uma tarefa de trabalho que se leva menor tempo de execução, pode ser necessário adotar-se maior esforço, e refletindo sobre a execução de um trabalho com necessidade de maior tempo cumprimento o esforço praticado pode ser relativamente menor do que aquele. Ou seja, pode haver maior esforço de trabalho em apenas uma hora de trabalho que exige maior dedicação, do que uma ocupação necessária utilização de dez anos para aprender e executar. Não é simples constatar uma medida ideal para o esforço quanto para habilidade necessária para execução.
No capítulo um do seu livro, o que está sendo analisado nesta oportunidade, Princípios de Economia Política e Tributação, Ricardo analisa o valor das mercadorias, atribuindo inclusive na sua análise o emprego do trabalho, o tempo gasto para o desenvolvimento e produção, a qualidade da mão de obra que pode distinguir a depender da especificidade de cada mercadoria, e mais adiante considera também a importância da análise de valor sob os implementos, ferramentas e edifícios que contribuem para o processo produtivo.
Para caçar uma presa, o homem primitivo necessitaria de capital investido na sua execução, sendo mesmo realizado por suas mãos a criação de uma arma, aplicação de tempo para produção desta, sendo assim necessário se contabilizar no animal caçado não somente o emprego do trabalho da caça, mas todo capital investido para que a caça se desse por completa em sua realização. As ferramentas utilizadas no processo de produção para se chegar a mercadoria final, são de toda forma elementos essenciais, assim como o esforço do trabalho, o tempo dedicado, os implementos e ferramentas merecem ser valoradas no processo do valor-trabalho.
Destaca Ricardo (1996, p. 27);
“Se considerarmos um estágio da sociedade no qual grandes progressos já foram realizados, e no qual florescem as artes e o comércio, observaremos que o valor das mercadorias também varia segundo este
princípio: ao estimar o valor de troca das meias, por exemplo, descobriremos que o seu valor, comparado com o de outras coisas, depende da quantidade total de trabalho necessária para fabricá-las e lançá-las no mercado. Primeiro, há o trabalho necessário para cultivar a terra na qual cresce o algodão; segundo, o trabalho de levar o algodão ao lugar em que as meias são fabricadas — no que se inclui o trabalho de construção do barco no qual se faz o transporte e que é incluído no frete dos bens —; terceiro, o trabalho do fiandeiro e do tecelão; quarto, uma parte do trabalho do engenheiro, do ferreiro e do carpinteiro que construíram os prédios e a maquinaria usados na produção; quinto, o trabalho do varejista e de muitos outros que não vem ao caso mencionar. A soma de todas essas várias espécies de trabalho determina a quantidade de outras coisas pelas quais as meias serão trocadas, enquanto a mesma consideração das várias quantidades de trabalho utilizado nesses outros bens determinará igualmente a porção deles que se dará em troca das meias.”
O processo de fabricação contém ramificações de valores que vão sendo agregados ao produto final/mercadoria, considerando trabalho uma das principais forma de construção de valor, assim como a inclusão de outras espécies de valores necessários para construção que determinará a porção a que se dará segundo o autor a troca de mercadorias.
Ainda sob esta análise e já nos adentrando no capítulo XXXI de Ricardo, o qual tratará sobre maquinário, o aproveitamento de menor quantidade de homens na produção de uma mercadoria poderá ser valoroso para a indústria, a consequência de redução do número de homens para o cultivo de algodão, por exemplo, ou de marinheiros para transportar navios, sendo utilizado menor número de pessoas, haverá redução significativa do valor da mercadoria final, o produto final será mais barato porque foi necessário menor quantidade de emprego de trabalho para realizar a produção, A redução na utilização de trabalho sempre reduz o valor relativo de uma mercadoria, seja tal redução realizada no trabalho necessário para produzir a própria mercadoria, seja no trabalho necessário para a formação do capital que contribui para a sua produção. (RICARDO, 1996, p.32).
Ao analisar a maquinaria no contexto social da sociedade, o autor permite concentrar sua análise sobre a utilização das máquinas como manancial de economia de trabalho que constitui, portanto, benefício para a produção, porém não desconfigura o efeito também deletério que acompanha a transferência de capital e de trabalho no processo produtivo. Em seus argumentos Ricardo defende preliminarmente que os produtores ou proprietários de terras seriam beneficiados pela maquinaria em suas propriedades, uma vez que os preços consequentemente seriam reduzidos com a implementação das máquinas nos processos de produção.
O homem produtor que veio a descobrir a máquina, e que também empreendeu no processo moderno de utilização da tecnologia seria beneficiado pela novidade, logo usufruiria de vantagem e aumento de lucros em seus negócios. A percepção inicial do defensor é de que os lucros iriam aumentar com a utilização das máquinas pelos iniciantes da utilização da tecnologia no processo produtivo. Acreditava na popularidade das máquinas e na baixa de preços pela concorrência, que seria quando trabalhadores/consumidores e produtores teriam acesso a produtos mais baixos. (RICARDO, 1996 p.287)
Assim como as teses são criadas com o intuito de apresentar ideologias que vão favorecer o corpo social, surgem os contrapontos de ideais de vantagens, logo Ricardo apresenta mudanças no seu estudo, ou seja, de possíveis desvantagens de utilização de maquinaria no processo produtivo, sugerindo desta forma que nem sempre poderão ocorrer vantagens com a utilização da tecnologia nos processos de produção. A redução de salários não era uma preocupação aos olhos do filósofo, o poder de empregabilidade não seria alterado, o capital seria poupado com as inovações nas produções de novas mercadorias, a linha de raciocino segue na posição de que a mesma quantidade de trabalho, porém com o aumento significativo de produção encaminharia os trabalhadores para produção de novos produtos que não poderiam deixar de faltar aos consumidores.
“Como naquela época parecia-me que existiria a mesma demanda de trabalho que antes, e que os salários não diminuiriam, acreditava que a classe trabalhadora, assim como as demais classes, participaria igualmente das vantagens do barateamento geral das mercadorias decorrente do uso da maquinaria. (RICARDO, 1996 p.280)”
A população poderia ser beneficiada com a chegada das máquinas nos processos de produção, a mesma demanda sempre existiria, a necessidade por mão de obra seria uma constante para manutenção do capital, logo, os salários não diminuiriam e a classe trabalhadora assalariada, assim com as demais classes seriam beneficiadas com as vantagens de barateamento de produtos de consumo final pelo uso de maquinas do sistema produtivo. A interpretação compreendia apenas vantagens, até que em estudo aprofundado e dado a experiência, Ricardo em sua tese transmuta seu posicionamento e convence-se de que a maquinaria e a substituição do trabalho humano prejudicam o trabalhador e o interesse da classe de operários. (RICARDO, 1996, p. 288)
E se os trabalhadores como peças fundamentais fossem afetados pelo aumento de rendimento líquido dos proprietários de terras e dos capitalistas, assim os benefícios não seriam de toda a sociedade, não havendo, portanto, um rendimento bruto, onde todos pudessem ter acesso as melhorias da implementação de máquinas no trabalho do homem. A mesma fonte que aumenta o capital e rendimento do país em que se implementa as máquinas, é a mesma fonte em que decompõe a dignidade dos trabalhadores, e diminui a qualidade de vida da população mais pobre e vulnerável, que depende do trabalho para sobrevivência sua e de sua família.
Ao se deter no estudo do maquinário na introdução do processo de produção, inicialmente esclarece que era anteriormente Ricardo convencido de que as máquinas apenas trariam indubitáveis vantagens aos capitalistas e aos operários, tendo portanto preliminarmente analisado sob uma ótima otimista, diante da percepção de barateamento do processo de produção e possibilidade e maior acesso as mercadorias pelo proletariado, uma vez que produtos mais baratos em decorrência da implementação das máquinas, maior o poder de acesso e compra destes trabalhadores. De forma inequívoca e com arranjo transparente, no início do capítulo de que trata sobre este tema, vai deixando claro para o leitor que se permitiu mudar de opinião com o decorrer do tempo e a partir de novas concepções da nova era. Disse-se convencido em suas descobertas dos enormes prejuízos causados aos trabalhadores com a instalação das maquinarias no ambiente de trabalho e produtividade.
Sobre todas as formas de produção, os operários independente do século em que se dialogue, sempre formam uma cobertura mais pobre, vulnerável, necessitada e sempre a disposição das implementações de novidades no processo de produzir capital, sendo portanto inclinado a prejudicar a vida desta célula a sua substituição por máquinas, uma vez que o seu trabalho mantém viva sua dignidade e sua introdução no corpo social, estaria então Ricardo convencido que o surgimento de máquinas no meio de aumento de capital dos produtores, efetivamente apresenta prejuízo para os trabalhadores operários.
3. CRÍTICA A HIERARQUIA E PARCELAMENTO DE TAREFAS DE STHEPEN MARGLIN
Sthepen Marglin é autor de inúmeras obras sobre economia e trabalho, em sua obra critica a hierarquia e parcelamento de tarefas, além dos seus reflexos e seus posicionamentos sobre o mundo do trabalho serem de grande influência até os dias atuais. Verdadeiro defensor da subjetividade humana no trabalho, Marglin realiza seu estudo a partir da explanação e crítica do capitalismo, afirma o autor ser o sistema do capital o principal responsável na forma e motivos de divisão de tarefas no trabalho.
Inicialmente Marglin em sua obra menciona a existência de um processo desnecessário de hierarquia, sistema este que não nasceu na modernidade do capitalismo, no período pré-industrial havia uma relação hierarquizada entre mestres, companheiros e aprendiz, um processo capaz de realizar uma sequência de ordem de poder e ocupação do capital, ou seja, todos do sistema hierarquizado pré-capitalista tinham a possibilidade de alcançar o lugar mais desejado, o do empresário.
O sistema de Mestre, Companheiro e Aprendiz aconteceu antes do sistema industrial, a sociedade trabalhadora funcionava sobre processo de hierarquia naquela sequência, a ordem seguida permitia que todos os trabalhadores alcançassem a real possibilidade de lucros, estes vendiam para o mercado o produto, e não seu trabalho. Afirma Marglin não existir um intermediário da sua produção, diferente dos dias em que vivemos, em que o trabalhador apenas é operador daquela tarefa, não tendo o norte de ser guiado a voos maiores, como o alcance do topo da pirâmide hierárquica.
A partir da análise do autor, o sistema de produção através da hierarquia funcionava numa sequencia crescente, possibilitando o alcance do mestre. Abaixo imagem ilustrativa da ordem existente entre os trabalhadores pre capitalistas:
A relação de trabalho se dava de forma hierarquizada respeitando o aprendizado e a subjetividade individual de cada momento do trabalhador, e não controlada por terceiros, com a existência de intermediadores de trabalho, produção e mão de obra, antigamente havia um sistema de produção manufatureira onde os produtos eram fabricados por artesãos e o controle de produção era feito a partir dos trabalhadores que realizavam controle do seu próprio tempo e do sistema produtivo.
Para Marglin há uma constante argumentação sobre a verdadeira necessidade da hierarquia no sistema de produção. Na obra Origins and functions of hierarchy in capitalista production o autor realiza posição quanto a possível alienação do produtor em relação ao trabalho, uma vez que este trabalha recebendo ordens em uma escala hierárquica e pode este sistema, segundo o economista, ser prejudicial para subjetividade humana.
Porquanto, numa sociedade em que o sistema de hierarquia se encontra enraizado desde o sistema de ensino escolar até o trabalho do adulto, seria determinado o fracasso a tentativa de mudar a organização do trabalho, uma vez que nem em processo experimental seria permitido já que para comprovar a alienação da hierarquia seria necessário experiências que demonstrem ser ou não utópica uma organização que funcionasse de forma igualitária, e as ciências sociais não permitem este tipo de experimento. (MARGLIN, 1978, p.7).
A perda do controle da produção pelo trabalhador para a produção capitalista, permite a perda do posto de laborar em uma organização em que todas as partes estivessem em pé de igualdade. O trabalhador enquanto instrumento de produção para o capitalismo, continua produzindo em escala de ordem e controle deixando de forma automática de ser dono de si, passando a ocupar lugar do trabalho apenas como uma forma de sobrevivência, não permitindo, portanto que seja realizada integralização como parte que integre a vida humana, vivendo apenas uma vida activa .
De acordo com MARGLIN (1978,p.8)
“A organização hierárquica do trabalho não tem por função social a eficácia técnica, mas sim a acumulação. Ao interpor-se entre o produtor e o consumidor, a organização capitalista permite gastar muito mais com a expansão das instalações e a melhoria dos equipamentos do que o fariam os indivíduos se pudessem controlar o ritmo de acumulação do capital”
A acumulação do capital para Marglin é o principal fator de ordenar as produções através de ordem hierárquica, não considerando, portanto, a função social que o trabalho permite. Considerando que o trabalho é instrumento de inserção do homem na sociedade, de dignidade individual, de valorização humana, de manutenção da família, compreende-se ser instrumento de função social e portanto, é ponto primordial numa organização igualitária e desmembrada de organograma hierárquico, assim os operários conseguem ter acesso ao labor como sendo a base para a sua inserção e participação no corpo social em que está inserido. Porém, a crítica está exatamente na ausência desta percepção de valorização do trabalho igualitário e o maior implemento de fatores que somente aumenta o capital financeiro.
Considerando um cenário capitalista, onde o trabalhador exerce apenas as funções impostas pelo próprio sistema, observa-se a ineficácia do trabalho como meios de desenvolvimento humano, numa sequência horizontal o trabalhador não possui expectativas de alcançar o posto de controle e obtenção de lucros como o do empresário. Preso ao sistema, permanece fadado a manter-se estagnado na base que apesar necessária para o alcance de lucros do capitalismo, não permite o seu crescimento vertical.
Para que o sistema do trabalho no capitalismo exista, necessário a existência do intermediador dos produtos, sendo, desta forma, o trabalhador apenas vendedor de mão de obra para o sistema de produção, não há expectativas de que como na era pré-capitalista o trabalhador assuma o lugar do mestre, o trabalhador ocupe o lugar do empresário. Despreza-se o homem trabalhador como membro da sociedade capaz de ocupar todos os espaços, sendo o atual processo responsável por determinar o único lugar em que o operário poderá ocupar, na base da pirâmide, emprestando o valor do seu trabalho para o acumulo de riqueza do sistema capitalista sem valorizar a sua subjetividade e possibilidade de alcançar o lugar do mestre e consequentemente ser permitido a obtenção de lucros como o do intermediador do sistema.
CONCLUSÕES
O advento de tecnologias nas relações de trabalho permitem muitas análises e possibilidades de interpretações nesta nova seara, estamos vivenciando a implementação desmedida de máquinas na produtividade de consumo em meio aos trabalhadores que desde a primeira revolução industrial ocupam um lugar de instrumento produtivo. Os postos de trabalho, sejam estes compostos pela divisão de tarefas individuais, ou compartilhando seu posto com robôs, são de extrema importância pelo valor social que o trabalho possui.
Smtih, Ricardo e Marglin possuem arcabouço de análise de divisão de tarefas dos postos de trabalho e permitem uma análise do atual cenário em que se encontram os trabalhadores dentro das indústrias e relações sociais do trabalho. As mudanças dos séculos demonstram que há um desenvolvimento nestas composições, todavia, a importância do homem trabalhador não muda, permanece o ser humano como sendo o principal motor de processo de desenvolvimento do corpo social em que se encontra.
Desvalorizar o homem trabalhador em busca de poder, seja através da divisão de trabalho, seja por meio da implementação de máquinas para o maior aumento de capital não retira da essência humana a necessidade de posicionamento de valor e fomentador de desenvolvimento do ambiente em que se encontra. Investir no trabalhador enquanto sujeito de direitos significa oportunidade de contribuir com o seio social, uma vez que é através do homem trabalhador que ocorre todo e qualquer desenvolvimento.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah. A condição humana. Ed. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
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