Constantemente os Estados Unidos são
acusados de assumir uma atitude imperialista em relação ao mundo. Entretanto,
se observarmos com atenção, o imperialismo não é uma atitude exclusiva dos
americanos, visto que esta prática encontra-se disseminada pelo mundo. Onde há
interesses geopolíticos, o imperialismo está presente, nas suas mais diversas
formas. O Brasil não está alheio a esta realidade e opera com cada vez mais
nitidez sua postura imperialista em relação à América Latina, especialmente por
meio da influência em assuntos internos de outros países, o que de certa forma,
viola princípios constitucionais pátrios. Enfim, está claro que o Brasil busca,
cada vez com mais intensidade, uma posição de destaque no continente com vistas
à implantação e consolidação de sua agenda em suas áreas de interesse.
A Venezuela surge como o primeiro
exemplo. Uma greve geral, convocada por setores organizados da sociedade,
paralisou o país. As manifestações em Caracas possuíam um alvo definido: o
presidente Chávez. A população clamava por sua
renúncia ou antecipação das eleições. A postura brasileira,
ainda no final do governo FHC, e consolidada após a posse de Lula, foi
de ajudar o presidente em apuros ao invés de ouvir os apelos vindos do povo
venezuelano. O Brasil, liderado por um ex-sindicalista, “furou” a greve, o que
fortaleceu Chávez. Houve, portanto, uma clara
interferência do Brasil nos assuntos internos da Venezuela.
Logo após, o Brasil recebeu a visita
do presidente colombiano Álvaro Uribe, que trava uma
corajosa luta contra o narcotráfico. Uribe veio
solicitar a classificação das Farc, uma das mais
sangrentas organizações terroristas em operação no mundo e aliados do
traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar, como grupo terrorista. A resposta
brasileira aos apelos de Uribe veio pelo chanceler
Celso Amorim, que afirmou categoricamente que o Brasil não mantém uma lista de
organizações terroristas e ainda rebateu: “Não vou fazer uma categorização que
não existe”. Houve, portanto, omissão brasileira em relação aos problemas
vividos por seu vizinho, o que determinou, de certa forma, uma influência em
seus assuntos internos. Penso, porque ajudar Chávez,
acuado pelo povo, e não auxiliar Uribe no combate ao
narcotráfico?
Assim, aproveitando-se do fato de a
atenção mundial estar voltada para o conflito vivido no Iraque, o regime
comunista caribenho de Fidel Castro prendeu 75 jornalistas, poetas, escritores,
bibliotecários e ativistas pelos Direitos Humanos que tentavam fugir para os
Estados Unidos. Depois de julgados sumariamente, três deles foram fuzilados. O
Brasil que poderia, nesta oportunidade, provar que é um país preocupado com
manutenção da democracia e defensor dos Direitos Humanos, se absteve na
Comissão da ONU que se manifestou sobre o caso. Penso,
como podemos pedir paz em relação ao Iraque e não nos manifestarmos sobre
fuzilamentos sumários em Cuba?
O outro exemplo vem da vizinha
Argentina, que passou por um delicado período eleitoral recentemente. Depois da
grave crise institucional e econômica, as eleições mostravam que até cinco
candidatos possuíam chance de vencer o pleito. Nestor Kirchner
e Carlos Menem foram conduzidos ao segundo turno. Kirchner,
ainda candidato, foi recebido no Brasil pelo presidente Lula, que mostrou, de
maneira clara, sua preferência eleitoral, o que gerou reflexos do outro lado do Prata. Deveríamos, ao contrário, nos silenciar até a
declaração do vencedor. Houve, portanto, clara tentativa de ingerência na
política interna de nosso vizinho. Ainda há o caso do Paraguai, noticiado pela
revista Primeira Leitura, que apresenta nota sobre o interesse do Brasil em que Lino Oviedo,
asilado em nosso país, retorne para assumir a Presidência.
Penso, por fim, que antes de acusar
os Estados Unidos de imperialistas de maneira pejorativa, devemos observar os
atos da diplomacia de nosso país e perceber que nossas atitudes não diferem, em
sua essência, daquilo que mais é criticado em relação ao norte da América,
guardadas as devidas proporções. Portanto, acusar os EUA de imperialistas neste
momento sem avaliar nossas atitudes é, no mínimo, uma hipocrisia.
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).
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