As covardes ações terroristas de 11 de
setembro deixaram marcas profundas nas relações internacionais. Apesar da estrutura mundial continuar a mesma, visto que não
ocorreu desaparecimento ou surgimento de Estado ou algum evento com força
histórica como a queda do muro de Berlim em 1989, acredito que a dinâmica das
relações entre os Estados pode ter sofrido importantes alterações. Como já
comentei, o contexto internacional está encarando uma forte mudança nas
correlações de forças através das importantes modificações no tabuleiro
do xadrez diplomático.
O primeiro país a vivenciar as mudanças
do 11 de setembro foi os Estados Unidos. Depois de uma
década de política expansionista, o governo norte-americano havia percebido que
deveria fornecer mais atenção aos seus problemas domésticos do que tentar
resolver conflitos entre outros países ao redor do mundo. Depois de uma década
de colheita dos frutos plantados durante a era Reagan/Bush, a economia interna
mostrava sinais de desgaste. Uma mudança de rumo era necessária. Este foi o
recado do povo americano para seus políticos na eleição presidencial que elegeu
George W. Bush. Logo, o Presidente colocou em prática sua política liberal,
propondo uma forte redução de impostos. De outro lado, iniciou
uma realocação de recursos para agências e departamentos importantes, como os
sistemas de inteligência. Nas relações externas, o governo Bush adotou a
postura de não interferir nos problemas de outras nações, como ocorreu no caso
da crise argentina. Em outros casos, diminuiu sua interferência, como nos
conflitos do Oriente Próximo.
Contudo a agenda americana foi forçada
a se modificar após as ações terroristas contra o WTC e Pentágono. Com vistas a
formar uma grande coalizão antiterror, os Estados
Unidos realizaram certas concessões e voltaram a mediar negociações de paz
entre nações em conflito.
Em resumo: mudou a forma que o Estado americano interage com
a comunidade internacional.
Em razão da reorganização de forças
como resultado dos atentados em 11 de setembro, alguns países assumiram papéis
de maior importância no plano internacional e outros saíram enfraquecidos. O
Brasil, que de maneira hábil realizou a convocação do Tiar,
baseando sua posição de apoio aos Estados Unidos no Direito Internacional,
surge fortalecido. Além deste, a Rússia também alcançou uma posição
privilegiada no xadrez político-diplomático através do presidente Putin e seu principal assessor, o chefe do Estado Maior,
Alexander Voloshin. Vale lembrar que o antigo reduto
comunista e Estados Unidos nunca estiveram tão próximos
desde a 2ª Guerra Mundial. Além destes, a China (em virtude da fronteira com a
Índia) tende a se beneficiar em razão do apoio americano fornecido ao
Paquistão, visto que o peso político indiano aparece um pouco diminuído neste
momento. Além destes, crescem a Inglaterra, Canadá, Dinamarca e Espanha, além
da Otan, aliados desde o princípio com os EUA.
A lista dos países que saem
enfraquecidos neste primeiro momento, além da Índia, é curiosamente encabeçada
por Israel, visto que líderes como Tony Blair, George
W. Bush e recentemente o presidente FHC, declararam apoio a
constituição de um Estado palestino viável, bem como a exigência da comunidade
internacional para que judeus e palestinos voltem a caminhar a passos largos em
direção da paz. Se Israel concordar, terá que promover a desocupação de algumas
áreas, o que enfraquece a postura do primeiro-ministro Ariel Sharon. Além
destes, a América Latina e parte da África tendem a perder espaço nas
conversações internacionais, vez que o foco estará localizado em outros lugares
do mundo.
A dinâmica externa se modificou após as ações criminosas em solo
americano, assim como as agendas nacionais e internacionais. A mais recente
reunião ministerial da OMC foi uma prova disto, assim como as posturas adotadas
pelo Banco Mundial, FMI e as Nações Unidas. O xadrez da diplomacia está tomando
contornos peculiares. Diferentes países poderão assumir posições de destaque e
outros poderão perder grande parte de sua influência.
A habilidade diplomática de cada líder será fundamental para a consolidação do
novo contexto internacional que se desenha atualmente.
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).
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