Um humorista brasileiro já disse que homem público é o masculino de mulher pública. Comparações desse tipo já foram consideradas insulto para a segunda.
O Brasil oferece um leque de exemplos significativos para essa avaliação. Algumas pessoas já entram corrompidas ou se corrompem na vida pública (para não usar palavra apropriada à comparação), com maior ou menor facilidade, oferecendo-se ou fazendo-se de difícil, de acordo com o preço que atribuem à firmeza de sua consciência ou à suposta dignidade de que se dizem possuídos.
Assim, quando estão no comando sentem-se cada vez mais à vontade para comprar posições, declarações, condutas, votos, consciências e dignidades. Quem quer se dar bem explorando o desespero ou a ganância de quem quer manter o controle do poder a qualquer custo vende essas mercadorias. Só não pode entregar a última, pois quem vende as outras é porque não tem a última.
Por isso tem-se visto presidentes, governadores e prefeitos dilapidando o patrimônio e os recursos públicos, comprometendo a eficiência da administração pública, tudo para controlar os respectivos legislativos.
A barganha já avançou tanto que alguns parlamentares já falam abertamente sobre as negociatas que fazem para decidir como serão seus votos.
E os chefes do Executivo ou seus prepostos também já não escondem sua disposição de pagar por votos que, ao contrário, deveriam ser dados de acordo com a consciência de cada parlamentar e os interesses da sociedade. Lamentavelmente se transformaram em simples mercadoria pela qual os interessados pagam qualquer preço e os vendedores exploram ao máximo a fraqueza dos compradores.
Pior de tudo é que tanto o dinheiro como os cargos e outras moedas usadas nesse comércio não pertencem aos que pagam pelos votos, mas ao patrimônio público, que acaba pagando também pelo despreparo, incompetência e corrupção de pessoas indicadas para cargos públicos, como moeda podre nessa transação imoral e escancarada que vem tomando conta do Parlamento no País.
Do outro lado, os eleitores assistem a tudo isso e muitos, com certeza, ainda acreditarão quando os mesmos que agora vendem seus votos por conveniências pessoais voltarem nas próximas eleições em busca de votos para se reelegerem ou se elegerem para novos cargos.
Mas esses, com certeza, nem se sentem comprometidos com o povo, pois, assim como venderam e vendem seus votos nos parlamentos, compraram os com os quais se elegeram. Por isso mesmo é verdade que muitos eleitores não têm do que se queixar, porque também venderam seus votos.
Assim, continuaremos a assistir, impotentes, às negociatas feitas ousadamente para obter maioria de votos e conquistar posições e cargos públicos a qualquer preço.
Dá para acreditar que quem procede de tal maneira quer o cargo ou a posição para defender a sociedade ou apenas procura mais poderes para cuidar de seus próprios e escusos interesses?
Para os indignados só resta o consolo infeliz de que os votos vendidos hoje para satisfazer uma decisão favorável ao último pagante serão vendidos amanhã, da mesma forma, por quem vai pagar maior preço por decisão desfavorável ao pagante anterior, que não terá razões para reclamar.
Afinal de contas, os vendedores de voto poderão sempre se defender dizendo a seus compradores que todos sabem que se trata apenas de um jogo: o jogo do maior preço, que tem como princípio a máxima de que a venalidade é da natureza do venal.
E que se dane o interesse público.
João Bentivi é médico, advogado, jornalista e músico em São Luís do Maranhão
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