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As notas de repúdio anteciparam o curso preocupante da cobertura de imprensa

presidente da Federação Nacional das Empresas de Rádio e TV (Fenaert), Guliver Leão

Há meses vivemos em meio a uma pandemia mundial, que decretou, inclusive, que o jornalismo é serviço essencial e que deveria seguir atendendo à população com informações responsáveis e objetivas. Por outro lado, os jornalistas brasileiros registram uma escalada nos casos de ataques e agressões, originados principalmente em membros do Governo e no presidente Jair Bolsonaro.

Quantas notas de repúdio sobre casos de hostilidade e violência contra profissionais de imprensa lançamos nos últimos meses? As emissoras de rádio e televisão iniciam e terminam o dia com o ímpeto de realizar o serviço essencial a que se destinam, mas com a preocupação do exercício da profissão de cada um de seus jornalistas, cinegrafistas, produtores e equipe de apoio com dignidade e liberdade de imprensa, direito garantido pela Constituição Federal.

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A mais recente nota de repúdio emitida pela Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (Fenaert), na segunda-feira (25), tratava de mais um ataque registrado durante cobertura no Palácio do Planalto, digo mais um pois eles acontecem semana após semana, e que culminou em uma ação drástica dos principais veículos do País. Folha de São Paulo, jornais do Grupo Globo e outros deixarão de cobrir diariamente os pronunciamentos e entrevistas de Bolsonaro. Perde o jornalismo e perde a população.

Em março, durante um dos ataques aos jornalistas, o próprio presidente questionou: “Se vocês sofrem ataque todo dia, o que vocês estão fazendo aqui? O espaço é público, mas o que vocês estão fazendo aqui?”. A resposta é simples, o jornalismo é um serviço essencial, como digo no início deste artigo, é um serviço de interesse público, que atende à sociedade em geral e que se dedica a informar a população sobre o que acontece, é, por muitas vezes, os olhos e ouvidos de cada pessoa que está em casa, no trabalho, em tempo real.

O que está acontecendo com nossos jornalistas e com as emissoras que se dedicam a proteger seus profissionais, como o que motivou a retirada de cobertura do Palácio do Planalto, é bastante sintomático. Outros dados somam sintomas de que algo não vai bem: o Brasil perdeu posições no Ranking de Liberdade de Imprensa, os registros de ataques aumentaram consideravelmente no primeiro trimestre de 2020 e, claro, as notas de repúdio surgem com expressiva recorrência.

Resta saber o que faremos e como lidaremos com o que virá após os sintomas, como remediaremos e como sairemos disso tudo. A proteção de nossos profissionais de imprensa, questão que sempre foi relevante às empresas, agora é fundamental. Temos cobertura jornalística diária em Brasília há décadas, temos jornalistas atuando em pautas que precisam do máximo esforço na segurança e ainda assim continuamos e, agora, teremos cancelamento dos pronunciamentos do Governo por riscos. A situação é extremamente preocupante.

Precisamos refletir e somar esforços para lidar com o contexto atual, precisamos ter consciência do que significa a retirada de jornalistas de uma cobertura diária que era realizada há tanto tempo sem interferência e respeitando os direitos da imprensa. Esperamos não só repudiar os fatos, mas alterar o curso de desrespeito. Valorizar profissionais que atuam na linha de frente das principais informações é valorizar a liberdade e a democracia nacional. Sem isso, perde o jornalismo e, consequentemente, perde a população.

Guliver Leão
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