Por Marcos Yabuno Guglielmi
Freelas, jobs, bicos, empregos temporários. Tudo isso não é apenas consequência de um período de recessão econômica, mas uma realidade para a qual todos devemos estar preparados. Sucessivas mudanças de comportamento e cultura culminaram no fim da era do emprego e início da era do trabalho, com cargos flexíveis e igualmente instáveis. Mas, afinal, o que isso significa?
O economista britânico Guy Standing, Ph.D pela Universidade de Cambrigde estuda há anos as mudanças no mercado de trabalho provocadas pela globalização e pela revolução tecnológica. Em 2011, ele publicou um livro falando sobre o “precariado”, combinação entre as palavras “proletariado” e “precário”. Segundo ele, esse grupo de pessoas passa a vida sobrevivendo entre trabalhos temporários que agregam pouco valor, sensação de pertencimento e realização pessoal. Extremamente frustradas, essas pessoas se tornam vulneráveis a líderes que consigam despertar esse tão almejado sentimento de união e podem até se deixar seduzir por correntes políticas extremistas.
Não é difícil perceber que isso já vem acontecendo há anos. Jovens recém-formados se frustram ao se deparar com um mercado de trabalho pouco acolhedor, que os recebe como mais um de uma linha de produção. E é aí que mora o problema. Enquanto a geração anterior foi condicionada a entrar em uma empresa e ir, pouco a pouco, conquistando seu espaço, hoje as vagas estão cada vez mais escassas e o mundo se tornou ainda mais volátil – ou líquido, como classificou o sociólogo polonês Zygmund Bauman.
Sendo assim, como encontrar propósito em empregos que podem durar alguns anos, no máximo? Como desempenhar sua função com valor e sentimento de dever cumprido? De fato, não é nada fácil para quem foi ensinado que bastava estudar e você estaria feito pelo resto da vida. A 4ª Revolução Industrial chegou atropelando todos os planos e dando uma nova cara ao emprego tradicional, mais especializado e menos operacional.
O relatório “Futuro do Trabalho”, publicado em 2016 pelo Fórum Econômico Mundial, estimava a perda de mais de 5 milhões de empregos até cinco anos – isso sem prever a pandemia que nos atingiria nos anos seguintes. Mas, mesmo uma notícia tão grave pode ser positiva para outros: áreas como computação, matemática, arquitetura e engenharia devem ter um ganho de 2 milhões de empregos.
Se é o fim da era do emprego, seremos nós os próprios criadores de trabalhos e funções – literalmente, pela maior facilidade de se abrir um negócio hoje, e metaforicamente, ao aderirmos a novas modalidades de exercer uma profissão. O marketing pessoal deve se tornar cada vez mais importante: é preciso ser visto para ser lembrado. Oferecer serviços com retorno sobre investimento previamente calculado. Ter aquela formação profissional invejável não é mais suficiente se você não se mostrar um profissional com uma boa rede de conexões, resiliência, proatividade, espírito de equipe e um cidadão ativo na sociedade. As empresas estão de olho em alguém com diferencial. Um trabalho comunitário pode fazer mais diferença no currículo do que, necessariamente, uma pós-graduação. Se os critérios de seleção mudaram, você também precisa mudar.
A pandemia acelerou tendências e mais do que nunca é preciso correr atrás do tempo perdido. Procure aprimorar suas características positivas, acadêmicas ou não, e elaborar aquilo que pode te enfraquecer profissionalmente. Entre as poucas certezas para os próximos anos está a que permanecer na zona de conforto não leva a nada. O trabalho com propósito parte do princípio de encontrar aquilo em que você se sente realizado e ir atrás de oportunidades para que isso se concretize. Bem-vindo, a era do trabalho já começou!
Marcos Yabuno Guglielmi é coach empresarial certificado da ActionCOACH, empresa número 1 do mundo em coaching empresarial.
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