O mundo assistiu a uma declaração
histórica. O líder do braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), Gerry Adams, anunciou que o grupo católico que visa a liberdade da Irlanda do Norte, está se desfazendo de suas
armas, renunciando a política de confronto armado. Logo após, em Londres, o
premiê britânico Tony Blair anunciou a redução de
tropas e a destruição de dois postos de comando militar na região. Enfim, o
mundo pode estar assistindo a fase final de um confronto que nos últimos 30
anos deixou mais de 3.700 mortos e cerca de 33.000 feridos.
Mas de onde se originou o IRA e o confronto entre católicos e protestantes na
Irlanda no Norte? Para responder esta pergunta devemos analisar um pouco da
história da região. Ao que tudo indica, o conflito teve o seu embrião quando no
século XVII a Irlanda foi invadida pela Inglaterra, dividindo o país entre
irlandeses católicos e ingleses protestantes. Com a continuidade da colonização
inglesa na região, o conflito resultou em uma divisão entre os republicanos de
origem católica, que desejavam a formação de uma república irlandesa
independente e os protestantes, a esta altura já irlandeses,
que procuravam manter-se ligados à coroa britânica. A situação se
agravou com o advento da Revolução Industrial no final do século XIX. Enquanto
o sul da Irlanda permanecia extremamente agrário e pobre, o norte da ilha,
formado por maioria protestante, se desenvolveu, beneficiando-se dos avanços
proporcionados pela modernização da indústria. O confronto entre as duas regiões
resultou em uma forte guerra civil que tornou o sul independente do Reino Unido
em 1921.
Décadas após a guerra civil, na década
de 60, a
Irlanda do Norte assistiu ao aumento das tensões entre a minoria católica e a
maioria protestante, ligada a Londres, que liderava o país. Nesta época, o
desemprego era cinco vezes maior entre os católicos e 90% da polícia era
formada por protestantes. A tensão havia chegado no
limite. Então, neste momento, em 1969, com a revolta dos católicos surge o IRA, que buscava a liberdade da Irlanda do Norte através
da implantação da política do medo, via atentados terroristas. Não tardou para
os protestantes constituírem suas próprias milícias armadas, como a UDA e a
UFF.
Mas porque o IRA está se desarmando? De
um lado, pode-se caracterizar como o resultado de um esforço político realizado
pelas lideranças inglesas e irlandesas, pois o Sinn Fein, braço político do IRA,
percebeu o brutal avanço alcançado pelos católicos através do debate pacífico e
democrático desde o “Acordo da Sexta-Feira Santa”, em que a Irlanda do Norte,
apesar de continuar parte integrante do Reino Unido, recebeu autonomia política
através do governo provincial em Belfast e a presença de partidos católicos e
protestantes em seu parlamento. Contudo, de outro lado, o IRA percebeu a
desconfiança dos americanos com sua política desde que foi descoberto o
envolvimento de integrantes do grupo irlandês com guerrilheiros das FARC (grupo
comunista guerrilheiro colombiano patrocinado pelo tráfico de drogas).
Entretanto, o golpe fatal no IRA ocorreu com as ações
terroristas em solo americano. Desde lá, a maioria do povo norte-americano,
inclusive os descendentes de irlandeses, se juntaram em uma só voz contra
qualquer tipo de ato terrorista. Hoje não há dúvidas para o
IRA: a solução política se tornou a melhor saída para a região.
Apesar de alguns analistas europeus
acreditarem que o confronto está controlado no curto prazo, mas que o IRA tentará a reunificação das duas Irlandas,
o que pode causar um ressurgimento de confrontos, do outro lado, o grupo
irlandês tem a grande chance de se livrar da acusação de ser uma organização
sectária, nacionalista e antiprotestante. A história
tem mostrado que a solução através do saudável diálogo político-democrático é a
mais eficiente e recomendável. O próximo passo é o controle dos grupos
extremistas de ambos lados, seja o IRA Autêntico do
lado católico, sejam as milícias do lado protestante. Hoje a Irlanda do Norte é
formada por 60% de protestantes e 40% de católicos. As pesquisas mostram que
80% da população deseja o desarmamento. O caminho para
paz foi aberto. Será tarefa dos líderes das duas vertentes religiosas cristãs acabar com o sectarismo entre as populações na região e
tornar harmônica a convivência entre protestantes e católicos na Irlanda do
Norte.
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).
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