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Os limites do marketing

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Em política os postulantes aos mais
diversos cargos sabem que não vão a lugar nenhum se não tiverem recursos
financeiros e um bom especialista em marketing. Partido serve para obter
legenda e pode ser trocado na hora que se quiser. Ideologia é coisa do passado.
Programas não têm o charme das promessas e quase ninguém se interessa por eles,
já que política é jogo, aposta, emoção, entretenimento para a maioria dos
eleitores. Portanto, o negócio é aprender artes cênicas e pisar firme no palco
das ilusões, escudado por um bom publicitário.

Os campaign management, surgidos nos
Estados Unidos, aos poucos foram copiados no Brasil. Não há dúvida de que essa
é uma profissão interessante e, em épocas de campanha, muitos dos nossos
especialistas em marketing se notabilizam em “vender produtos
políticos”. Esses profissionais sabem que os apelos à clientela política
tem que ser feitos às emoções, pois como afirmou Ernest Dichter, fundador nos
Estados Unidos do Institute for Motivational Research:

“…os políticos, os homens de
negócio ou os publicitários, que deixando de lado as exterioridades, reconhecem
a irracionalidade fundamental do homem e compreendem suas necessidades e seus
desejos, têm mais probabilidades de vencer.

Por ocasião das pesquisas efetuadas
no decorrer de campanhas eleitorais, nós verificamos que o público prestava
muito mais atenção aos gestos, às expressões, ao sorriso dos candidatos… que
ao sentido e ao conteúdo dos discursos”.

Na sua quarta tentativa de chegar ao
poder o candidato do PT obteve êxito. A imagem trabalhada na base de paz e
amor, o discurso amenizado apesar de algumas gafes, outros fatores que já
comentei em artigos passados e, de modo especial, a presença do publicitário
Duda Mendonça, conduziram finalmente à presidência da República Luiz Inácio
Lula da Silva. A grande promessa baseava-se na mudança do País e incluía, entre
outras coisas, redução dos juros, 10 milhões de empregos, três refeições
diárias para os mais pobres, reversão completa da política efetivada por
Fernando Henrique Cardoso. Afinal, este tinha cometido um crime de lesa
majestade: ganhou de Lula duas vezes seguidas.

Mas será que alguma coisa mudou?.
Naturalmente é de bom tom dizer-se que o governo tem pouco mais de quarenta
dias e por isso não pode ser julgado. Mas a questão é que nesse curto espaço de
tempo muitos fatos aconteceram: os juros subiram, a alíquota do imposto de
renda de 27,5% foi mantida e a famigerada CPMF idem. Além do mais, vários
ministros protagonizaram um festival de besteiras nunca visto em intensidade e
quantidade, sendo que o ministro José Graziano bateu todos os recordes ao
confundir pobre e nordestino com bandido. Note-se ainda, que o Programa Fome
Zero até agora não passa de uma tremenda confusão. Também as tais medidas pomposamente
anunciadas foram pífias e o corte de 14 bilhões podia ter sido menor se o
presidente não tivesse criado tantos ministérios para premiar petistas que
fracassaram nas eleições ou apaziguar os chamados radicais, que melhor seriam
denominados de autênticos.

Claro que Duda Mendonça continua a
fabricar os mitos necessários ao fortalecimento da nova classe dirigente. Ainda
funciona bem o Lula messiânico, sempre em campanha a distribuir autógrafos. O
simpático Programa Fome Zero está amparado de forma espetacular pela Rede
Globo. E, como último recurso de manutenção de prestígio, pode-se apelar para a
velha fórmula: “a culpa é de Fernando Henrique”.

Aos poucos, porém, a realidade vai
se impondo. Quando passar o carnaval e os brasileiros voltarem das praias, vão
perceber que aumentaram os impostos e a inflação. Os combustíveis já sofreram
sua segunda alta no governo da mudança e não está mais tão fácil pagar as
contas da energia, de telefone… Desse modo é provável que, apesar do talento
de Duda Mendonça, o presidente possa em breve vir a conhecer os limites do
marketing, pois governar não é o mesmo que prometer. Governar é agir. De
preferência, com acerto.

 


Informações Sobre o Autor

Maria Lucia Victor Barbosa

Socióloga, jornalista e escritora, autora entre outros livros de: “O voto da pobreza e a pobreza do voto: a ética da malandragem (Jorge Zahar Editor) e América Latina: em busca do paraíso perdido (Editora Saraiva).


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Equipe Âmbito Jurídico

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