Hoje, 22 de fevereiro de 2002, os
jornais divulgam que Bush e Blair, respectivamente
Presidente e Primeiro Ministro dos Estados Unidos da América do Norte e do
Reino Unido, são candidatos ao “Nobel da Paz”. O prêmio, conforme o
nome indica, agracia cidadãos notoriamente conhecidos pelos
esforços desenvolvidos em favor da pacificação ou, até mesmo, da suavização da
tendência do ser humano a destruir seus semelhantes. Não há a mínima
semelhança, creia-se, entre as condutas de Bush, Blair
e Martin Luther King, Jr.
Não conheço as peculiaridades da
formalização das candidaturas. Consta que o Comitê se incumbe de examinar
personalidades recomendadas por organizações internacionais ou mesmo por nações
(Embaixadas, etc), havendo, obviamente,
as pressões costumeiras, não ausentes, sequer, na eleição do papa
ou canonizações. Realmente, um ou outro país precisa, em determinada época, de
um santo particular, nascido, criado ou morto em território nacional. Esforço
bem dirigido pode, eventualmente, santificar, para uso interno ou
externo, algum religioso de bom tamanho. Se o expediente vale para as almas
imaculadas, não pode ser desprezado quando se cuida do Presidente da
América do Norte ou do Primeiro Ministro da Inglaterra. Não se tem notícia da
realidade de ambas as candidaturas, mas se os dois tiverem juízo, hão de
colocar-se à margem da competição velada. A destruição das torres sagradas, em Nova York, gerou reação
extremamente irada de Bush. Recontou em dobro (ou triplamente) o número de
vítimas americanas. Dedicação um pouco maior teria transformado o Afeganistão
num buraco só, tantas foram as toneladas de bombas
lançadas naquele país em retorsão. Blair,
de outra parte, mandou afiar as baionetas dos soldados ingleses, pondo-as
a serviço da morte. Sobra, no fim das contas, uma indagação
curiosa: deve o prêmio Nobel da paz ser concedido a quem pratica
magistralmente o “olho por olho”? Centenas de homens, mulheres e crianças
tiveram seus corpos dilacerados pelos bombardeios americanos. A maioria morreu.
Há, mancando no Afeganistão, muitos sobreviventes desgraçados pelos estilhaços
ou reflexos indiretos dos petardos. Bush vai fundo nisso. E Blair
só não chega ao extremo porque não o deixaram atravessar o rubicão.
Portanto, as notícias das candidaturas só pode ser desinformação. Ou piada sem
graça. O Prêmio Nobel da Paz já teve sua credibilidade discutida.
Houve uma ou outra decisão contestada, mas os pretendentes tinham,
todos, currículos no mínimo aceitáveis. Tocante
a Bush e Blair, é
remotíssima a escolha. Poderia ser assistida por enorme platéia dos mutilados
pela terrível vingança de “Tio Sam”, todos em traje
de gala, as mangas e pernas das vestimentas enroladas no
vazio dos membros amputados. Ficaria bem. É esperar para ver.
Advogado criminalista em São Paulo e presidente, no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas do Advogado.
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