Ainda no começo do mestrado lemos na fantástica obra de Hobbes que o homem vive e fomenta um perpétuo estado de guerra, inicialmente, duvidamos, porém, após uma detida análise geográfico-temporal tivemos de nos curvar à genialidade do filósofo.
O Homem é um ser em constante conflito e parece sobreviver e evoluir melhor quando fomenta uma catástrofe, afinal, exemplos não faltam: a sociedade norte-americana estava completamente falida no início da década de 30 do século XX e o que aconteceu com menos de vinte anos transcorridos? Uma das nações mais ricas do globo.
O Japão terminou sua participação na Segunda Guerra Mundial com dois dolorosos genocídios: Hiroshima e Nagasaki, e como temos essa nação atualmente? Um proeminente e imperioso império econômico.
A França e a Alemanha, então, vivenciaram eventos reiterados, pois, sucumbiram e fora dizimados, praticamente, ao longo das duas grandes guerras, o saldo? Potências econômicas e lideranças dentro do bloco da União européia.
Poderíamos continuar com uma longa seqüência de acontecimentos e países que fizeram da guerra e do conflito armado seu potencial de desenvolvimento, será que a sina do homem moderno é financiar a sua própria desgraça?
Quando Shakespeare, na consagrada obra Hamlet, eternizou um dos maiores conflitos do homem com a célebre frase: “ser ou não ser”, o autor inglês, provavelmente, não imaginava que essa seria a indagação dos governantes.
Não existe respeito algum sobre a diversidade dos povos e a prova cabal foi a colonização, ou melhor, uma nova forma tida como civilizada de fomentar uma guerra, pois, o que temos hoje na África nada mais é do que um mapeamento geopolítico e geográfico calcado nos interesses essencialmente econômicos, sem a mínima consideração quanto à etnia, costumes, tradições, etc.
O saldo não poderia ser diferente: conflitos e milhares de mortes, já que povos diferentes são obrigados a conviver em limites territoriais impostos por forasteiros e, depois, os organismos internacionais ainda afirmam que os africanos são pessoas essencialmente primitivas e atrasadas, mas não teria sido o inteligente e sagaz homem branco que destruiu àquela cultura?
Claro, é muito mais simplista reduzir o problema de conflitos a um nível econômico, pois, assim, a conversa fica restrita a poucos protagonistas, aliás, os mesmos de sempre, que forçam e mobilizam os conflitos entre si, como forma de desenvolvimento.
Outro ator que ter verdadeira fixação por um conflito, como forma, de se perpetuar na figura de protagonista é Israel, num outro retrato de uma região que fora dividida indevidamente e o saldo é uma batalha sangrenta que é transmitida ao longo de gerações.
Naquela região simplesmente parece impossível à convivência, ainda que instável, entre palestinos, judeus, libaneses, egípcios e iranianos.
Povos com religiões completamente distintas, bem como hábitos e tradições simplesmente não conseguem respeitar o limiar de civilidades que deveria permear e habitar o íntimo de todo o ser humano.
E deveria ser diferente? Num mundo ao qual a palavra de ordem é a guerra, não estariam esses países seguindo o mandamento da luta pela mantença da adversidade da diversidade, ou seja, não podemos conviver em paz porque somos diferentes, numa clara manifestação que o importante é o conflito e não o respeito à diversidade dos povos.
Se a vontade dos governantes é lucrar com as constantes guerras seria muito mais sensato dizimar povos inteiros com o esdrúxulo pretexto de unificação das raças.
Todavia, restaria uma impossibilidade concreta a propositura de um plano de governo assim para qualquer nação, então, o discurso, sempre inflamado, é diferente (!?), pois os líderes para contarem com a aprovação popular propalam aos seus pares que a guerra é uma forma de lutar pelo nacionalismo e pela unidade do país.
Claro, que para a sobrevivência plena da nação o preço a ser pago é o extermínio do país inimigo, eis o caloroso e inflamado aplauso de seus habitantes, afinal, alguém luta pela unidade.
Quanta ilusão…
Em verdade, os governantes lutam para enriquecerem seus próprios bolsos e refrearam o desejo de expansão do vizinho, numa clara demonstração de que o homem precisa da guerra, afinal, essa é a forma mais rápida de…subir na vida.
Enquanto isso, o que antes era diversidade, agora é nomeado como animosidade, o que outrora foi diferenças culturais, atualmente temos o nome de racismo e assim caminha a humanidade rumo ao colapso e caminhando firme e forte em busca de eliminar as diferenças.
Os governantes medíocres que erguem a bandeira dos direitos humanos são os mesmos que a mancham de sangue inocente em prol de um evolucionismo comercial.
De tal sorte, que poderemos todos nos encontrar no único lugar em que estaremos todos seguros e livres dos medos da guerra, local esse em que, enfim, a diversidade será respeitada, qual seja? Um buraco negro, frio e profundo.
É para lá que marchamos inexoravelmente em velocidade constante…
Advogado, Membro da Association Internationale de Droit Penal, Membro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas. Membro da Comissão dos Direitos Humanos da OAB/SP, Mestrando em Filosofia do Direito – PUC/SP, Especialista em International Criminal Law: Terrorism´s New Wars and ICL´s, Responses – Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Especialista em Direito Penal Econômico Europeu pela Universidade de Coimbra, Pós Graduado em Direito Penal – Teoria dos delitos – Universidade de Salamanca, Pós Graduado em Direito Penal Econômico da Fundação Getúlio Vargas – FGV
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