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Tradição kantiana aplicada à guerra no iraque

Aufklärung, apesar de não ter estabelecido em outros idiomas um significado específico, na tradição kantiana, inscrita desde o século XVIII em nosso pensamento, está tomado sob a tradução de entendimento.

Kant diz que o entendimento é o êxodo por que passa o homem ao se destituir das cadeias da menoridade. Cadeias estas que são estabelecidas conforme a mandriice e a covardia do próprio ser humano, a partir da disponibilidade que apresenta na aceitação da nulidade do seu eu, da sua identidade e personalidade, ainda que a natureza lhe conceda a alforria de ser, e não apenas existir.

Essa submissão voluntária que se opta como filosofia de vida não é somente resultado da própria escolha do que se sujeita, mas também, e com grande importância, de um outro grupo de pessoas, as que exercem a tutela, as que supervisionam e domam de tal modo a assegurar que os menores não arriscarão andar sozinhos, tanto por não saberem, como por medo do que pode estar a espera-los no caminho. Assim, temos tutores e menores, que, na verdade, somam uma única identidade.

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Todavia, a opressão que os maiores exercem sobre os seus, na busca de seus próprios interesses, pode, e isso acontece, ter seu revés. O que é visível quando os mesmos que se subjugavam, a si mesmos se esclarecem, tornando, a partir daí os “senhores” da sua própria liberdade, e também, dos que outrora foram os seus. Ainda, não é possível cegar-se ao fato de que a menoridade não se pode confundir com a profissão que se exerce em prol de uma comunidade, e que por isso, exige passividade, no que tange ao raciocínio e análise de uma ordem recebida por um superior, o que não impede que isso seja feito, pelo subordinado, na qualidade de sábio, através de obras que exponham o seu entendimento. Disso se extrai que a condição do esclarecimento e da sabedoria é totalmente livre e desvinculada de qualquer outra face do homem. E essa manifestação é inevitável, ainda que se lute contra, pois por mais que se cerrem os lábios do entendimento e da crítica, em um determinado momento da história, é impossível que obriguem esse silêncio a perpetuar por épocas, refutando esclarecimentos posteriores. Sendo este processo o fator, a mola precursora do avanço da humanidade.

É considerável, outrossim, que é muito ousado afirmar-se como totalmente esclarecido, se levado em conta as inúmeras correntes políticas, sociológicas, religiosas, filosóficas, entre outras que, destemidamente, e imperceptivelmente, influenciam nossa existência. O que confirma que ainda estamos em um estágio de esclarecimento (Aufklärung), que fomos lançados à trabalhar na nulidade dos obstáculos que se impõem ao progresso do pensamento.

Finalmente, pode-se estabelecer uma congruência entre a teoria de Kant, sobre o esclarecimento e alguns dos fatos histórico, dentre os quais cito a Guerra no Iraque, promovida pelos Estados Unidos da América. Explica-se, quando se tem em mente que o presidente desta nação, George W. Bush, inobstante aos gemidos de dor das famílias iraquianas que se viam destruídas, às mães de seu próprio Estado, ao se verem privadas de seus filhos militantes; e, ainda, de todo o mundo, que por vários meios, procurou explicitar suas idéias contrárias à de Bush.

E, neste ponto, procurarei deter-me. Kant esclarece em seu texto que o esclarecimento não é, isoladamente, o suficiente para ditar o que é lícito ou não a um Estado. O que justifica o fato de vários países, mesmo não concordando com as atitudes de Bush em relação ao Iraque, não se oporem. Porque, ainda que não lhes falte o esclarecimento, não são auto-suficientes, e sim dependentes das grandes potências mundiais (embora hoje se reflita sobre isso, e haja correntes de pensamentos adversas), que se trata do mesmo país que iniciou o conflito, e alguns outros que o apoiaram.

Ou seja, desenvolve-se um paradoxo. O homem, que se revelou mais do que uma máquina inteligente, a favor de seu próprio pundonor, age de acordo com sua liberdade. Ou não, a partir do instante em que se vê mutilado por suas dependências, seu instinto de sobrevivência.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Levina Steffany Ferraz Lourenço

 

Estudante de Direito pela UNIVALE.
Governador Valadares – MG

 


 

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Equipe Âmbito Jurídico

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