Recebi a ligação de uma rádio local
e um radialista me pediu fazer uma entrevista que culminaria com uma pergunta.
Disse que já havia perguntado a mesma coisa a um padre e a uma criança. Como o
tema que ocupa no momento a mídia é a guerra, julguei que queriam minha opinião
sobre o conflito, que no Brasil está servindo admiravelmente para camuflar
nossas “guerras” particulares. Naturalmente seria estranho especular
sobre tal assunto com uma criança, mas como atualmente a infância praticamente
não existe, pois menininhas se vestem e se pintam como mulheres cada vez mais
cedo, meninos se comportam como homens e o sexo é cada vez mais precoce, talvez
a pergunta fosse feita para testar se ainda existe alguma inocência no período
inicial da vida, ou mesmo para conferir como vai a propaganda antiamericanista
nas mentes infantis. De repente até lembrei que dia destes, durante o jornal do
horário de almoço da nossa mais poderosa Rede de TV, haviam entrevistado
criancinhas de uma escola. Devidamente fantasiada de pacifista mirim, uma
delas, batendo alegremente sua bandeirinha branca, disse com aquela vozinha
encantadora e comovente: “tenho medo da guerra porque se eles (os
americanos) invadem lá (Iraque), vão também invadir aqui e jogar bomba na
gente”. Pelo visto a linda menina, que deve ter feito jorrar lágrimas em
todos os lares do território nacional, em seus verdes quatro ou cinco anos de
idade já tinha aprendido que o bicho papão se chama Estados Unidos, um dragão
branco, feio, grande e perigoso que vem aqui nos pegar.
Enquanto conversava com o radialista
ao telefone, ouvia a TV ligada na sala. Um sujeito um tanto histérico
papagueava de forma insuportável e, segundo o apresentador, tratava-se de um
estrategista. Em determinado momento o estrategista foi tratado como professor
e, de fato, parecia mais um desses doutores pedantes que se julgam donos da
verdade. O homem falava em rajadas, como se não podendo disparar bombas,
compensasse a frustração disparando saliva. Do alto de sua sapiência sobre
guerras das quais ele nunca participou, deitava falação sobre os erros
cometidos pelo exército americano e sua opinião seria hilária se não beirasse a
mais pura e insuportável chatice.
Aliás, não só na televisão, como
também na Internet, é impressionante a quantidade de desinformação que circula,
sendo que no computador pode-se colher a participação de internautas através de
seus palpites sobre a guerra. Em comum com a TV, o ódio aos Estados Unidos. É
como se todos tivessem virado subitamente estrategistas. Algo próximo a ser técnico
de futebol, com a diferença de que futebol é uma das poucas coisas que no
Brasil a maioria entende com profundidade. Com prazer indescritível,
estrategistas e também pacifistas virtuais, se dizem indignados com o
conflito e se expressam, inclusive, através de piadas e charges ofensivas ao
inimigo, no caso, os Estados Unidos.
Na TV terminou a arenga do
estrategista. Entraram notícias sobre o tiroteio nosso de cada dia, que mata
mais do que guerra do Iraque. Em seguida soaram promessas de acabar com a
“guerra da violência” no Brasil e mais críticas foram feitas a Bush,
sendo que Blair, já notei, é sempre poupado. Finalmente o radialista fez a
pergunta que coroava a entrevista: “o que é vida?” Vida, eu lhe
disse, é um cisco de tempo que pousa rapidamente no palco universal do absurdo.
Socióloga, jornalista e escritora, autora entre outros livros de: “O voto da pobreza e a pobreza do voto: a ética da malandragem (Jorge Zahar Editor) e América Latina: em busca do paraíso perdido (Editora Saraiva).
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