Não começou bem a campanha da
reeleição do presidente Lula. Após muita discussão, foi escolhido o petista
José Filippi Jr., que se licenciou do mandato de prefeito de Diadema, para ser
o tesoureiro da campanha presidencial do PT. O novo responsável pelas finanças
da atual campanha petista teve suas últimas prestações de contas rejeitadas
pelo TCE. Além disso, responde a ações por improbidade administrativa, por atos
cometidos durante sua gestão na Prefeitura daquela importante cidade do ABC
paulista.
Ao conceder sua primeira entrevista
na condição de sucessor de Antônio Palocci, o novo tesoureiro disse que ficou
“três noites sem dormir”, preocupado com o que poderia vir pela frente. Segundo
ele mesmo admitiu, “a história deste cargo não é muito boa”. Sua preocupação
maior é a de ser chamado de PC Farias de Lula ou de Delúbio 2, o ex-tesoureiro
do PT, expulso do partido por causa do
esquema de corrupção conhecido por Mensalão.
Com o mar de corrupção praticado pela base aliada petista no
Congresso Nacional (aí incluídos petistas de primeira linha!), fica muito
difícil dissociar a administração financeira da atual campanha presidencial do Partido dos Trabalhadores do hediondo
esquema do Mensalão. A verdade é que Collor teve um PC Farias e o PT tem
vários. PC Farias parece ter agido de forma isolada e excludente.
Já o PT parece ter planejado e
executado um amplo esquema de corrupção, a partir do assalto à burocracia do
Estado. Tudo indica que, para se manter (e manter) o poder, o Partido dos Trabalhadores – com o
dinheiro drenado do Valerioduto –
comprou votos, mandatos e consciências política e se deixou envolver pela
prática sistêmica da improbidade administrativa e da corrupção desenfreada.
Tudo isto parece verdadeiro, mas não
tem sido suficiente para comprometer a vantagem eleitoral do presidente Lula.
Um pouco, por seu carisma de líder político. Outro pouco, por sua competência
de saber passar ao povo a imagem de um brasileiro pobre e politicamente bem
sucedido. Outro tanto, porque o povo acha que sempre houve corrupção e que a o
PT é apenas uma continuação da prática anterior (o que, em parte, é
verdadeiro!).
Enfim, o povo acredita que todos os
políticos são corruptos. Por isso, na falta de um outro candidato seguramente
honesto e livre das “impurezas” que envolvem a atividade política, a
alternativa é a de votar no candidato que mais se identifica com o estereótipo
do eleitor pobre e da pobreza brasileira.
Portanto, se após um ano de
Mensalão, Vampiros, Sanguessugas e outros esquemas de corrupção, que fazem
sagrar o patrimônio ético e financeiro público, o presidente continua firme na
dianteira da corrida presidencial, não haveria motivos para a preocupação
manifestada pelo atual coordenador financeiro da campanha petista.
Mas, a verdade é que o ex-prefeito
tinha, sim, motivos para estar preocupado com a inevitável exposição de sua biografia políticoadministrativa na
vitrina da mídia nacional. Nada a ver – diretamente, é claro, com o
ex-tesoureiro Delúbio Soares – nem com PC Farias. Sua preocupação, era consigo
próprio. Já nos primeiros dias no comando das finanças da campanha petista, é
objeto de mais uma investigação pelo MP paulista. Executado judicialmente, numa
ação por gasto indevido de dinheiro público, não conseguiu comprovar a origem
do dinheiro do pagamento, no valor de 183 mil reais. Uma das hipóteses com que
trabalham os promotores de justiça é de que o dinheiro possa ter vindo do
esquema do Mensalão.
É claro que o ex-prefeito petista
tem o seu álibi para o misterioso pagamento: “o dinheiro é do tio Moreira. Ele
é o tio mais rico da minha mulher. Fez uma contribuição a título de
empréstimo”.
Com Lula no poder, os petistas
aprenderam, rapidamente, a criar explicações as mais inverossímeis para as
encrencas em que se meteram muitos de seus militantes, flagrados com a mão no
dinheiro sujo da corrupção. Basta lembrar das versões levianamente desdenhosas
e surrealistas ou dos álibis engenhosos (ou mentirosos!) apresentados para
explicar o recebimento, documentalmente comprovado, de dinheiro do Valerioduto
de alguns de seus parlamentares (vergonhosamente absolvidos pelo plenário da
Câmara), de uma caixa de uísque com dólares, transportada em vôo de Brasília
para São Paulo ou do dinheiro na cueca.
Nesse novo episódio, que cheira à
improbidade administrativa, é claro que o tio Moreira também acabou confirmando
o empréstimo ao ilustre sobrinho e disse que a investigação do MP é coisa do
PSDB. Para confessar sua isenção, disse que “política é coisa mais nojenta do
mundo”, acrescentando que “não vota no Lula, iria votar no Alckmin, mas, agora,
está pensando em votar na Heloísa Helena”.
Tio Moreira deve ser um honrado
comerciante e agropecuarista de Diadema. Por isso, sua versão do fato deve ser
considerada verdadeira até prova em contrário. Mas, dá para perceber que, no
seu ímpeto de imparcialidade extremada, acabou exagerando na dose. Fica muito
difícil crer na sua intenção de voto. Na verdade, se o tio do tesoureiro da
campanha do PT emprestou ao sobrinho a elevada importância de 183 mil reais,
sem qualquer garantia e sem qualquer intenção de cobrar a dívida, deverá, sim,
votar no candidato do sobrinho.
Por isso, se o tio Moreira não está
dizendo a verdade quanto a sua intenção de voto para a escolha do futuro
presidente da República, é razoável desconfiar, também, de sua declaração sobre
o empréstimo ao sobrinho ex-prefeito de Diadema e, agora, coordenador
financeiro da campanha petista.
Por outro lado, o candidato petista,
que tem feito um competente discurso político sobre sua origem pobre, precisa
também explicar a origem de seu patrimônio, que dobrou em quatro anos e foi
declarado em 839 mil reais. Só em fundos de investimentos, nosso presidente tem
uma conta de mais 330 mil reais. Não é uma grande fortuna, mas é um excelente
patrimônio mobiliário para quem se apresenta com a biografia de ex-metalurgico
e líder operário.
É paradoxal, mas candidato dos
pobres é o mais rico dos candidatos à presidência da República. Se sua pequena
fortuna é resultado de muita economia, conforme informaram seus assessores, o
povo precisa conhecer essa fórmula mágica de economizar dinheiro.
Como um dos privilegiados
brasileiros credor do Tesouro Nacional, o presidente Lula não deve estar
preocupado com o tamanho da dívida pública do Estado brasileiro, em títulos
federais, que em junho ultrapassou a barreira de R$ 1 trilhão. A República se
endivida e o presidente acumula renda auferida no mercado financeiro protegido
pela política econômica herdada do governo anterior e preservada rigorosamente
por seus ministros da fazenda.
O Brasil é um país realmente
estranho: o candidato dos pobres e que faz um discurso apologético à sua origem
de pobreza é o mais rico dos concorrentes ao cargo.
Quanto aos
deputados mensaleiros, beneficiados com vergonhosas absolvições no plenário da
Câmara, a notícia é de pretendem concorrer à reeleição. A tropa dos
parlamentares mensaleiros – com João Paulo Cunha, professor Luizinho e Sandro
Mabel à frente – acreditam que o eleitor não vê nada, não sabe e nem escuta
nada. No mínimo, pensam que o eleitor não tem memória ou tem memória curta.
Livre Docente-Doutor – UGF/FURB. Professor dos Programas de Mestrado e de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Ciência Jurídica da UNIVALI – Itajaí – SC. Promotor de Justiça aposentado. Ex-Procurador Geral de Justiça de SC. Ex-Diretor do Centro de Ciências Jurídicas da FURB – Blumenau. Sócio do IBCCrim e da AIDP.
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