Primeiramente cumpre explicar o real escopo do texto que é trazer maior esclarecimento sobre essa síndrome, racionalizando e buscando as causas. Não interessa promover nenhum julgamento ou mesmo linchamento moral ou ético de quem quer que seja. A real finalidade é promover maior compreensão a fim de promover os resultados fatídicos que afetam aqueles que não podem se defender por si mesmos.
Para compreendermos o comportamento humano e, principalmente cuidarmos da causa deste em determinadas circunstâncias, será necessário recorrer a muitos saberes, e particularmente à Biologia e à Psicanálise.
Alguns casos reiterados de esquecimentos de crianças no interior de veículos que resultaram em óbito, nos traz o alerta de que precisamos realmente refletir detidamente para equacionar a situação e, finamente, conseguir acenar com uma possível solução.
As crianças vítimas além de estarem em tenra idade, não estão aptas a se manifestar e se defender de forma adequada e, superar sozinhas o infortúnio de serem esquecidas.
E, nisso, reside a motivação principal de escrever sobre o tema. Que não deve ser interpretado como um pré-julgamento, ou um linchamento daqueles que infelizmente foram os algozes das crianças esquecidas.
Partirei de uma obra denominada “Mata-se uma criança” (1977) de autoria do psicanalista francês Serge Leclaire que nos aponta a aceitação com alguma tranquilidade a presença de desejos assassinos dirigidos ao pai e a mãe da criança edipiana.
Porém, a fantasia de matar crianças presente nas mentes de seus genitores é tida como algo que deve ser severamente evitado e causa verdadeira repulsa.
Inicialmente analisaremos a palavra “memória” cuja origem vem do latim e corresponde à faculdade de reter e/ou readquirir ideias, imagens, sons, expressões e conhecimentos adquiridos anteriormente, reportando-se às lembranças e reminiscências.
Leclaire sustenta sua argumentação e utiliza a tragédia Édipo Rei[1], de Sófocles, onde o personagem trágico Édipo não apenas assassinou o pai como ainda desposou a própria mãe. Porque quando criança que fora enviada pelo pai para morrer no monte Citerão, fora encontrada por um pastor e entregue a um casal real.
Faz-se necessário em breve resumo sobre a estória de Édipo. Laio era pai de Édipo e rei de Tebas, fora amaldiçoado pelos deuses pelo fato de ter seduzido Crisipo filho do rei Pélope. Consultando o oráculo de Delfos, Laio é informado de que sua maldição consistiria em que seu filho primogênito ainda não nascido, que viria a ser Édipo, o mataria e ainda desposaria sua mulher, Jocasta.
Diante do horror vislumbrado deste possível desfecho, coroado de parricídio e ainda de incesto, Laio manda matar Édipo assim que nasceu. Encontrado por um pastor no monte Citerão com pés amarrados e prestes a morrer, Édipo é entregue a Políbio, rei de Corinto, e criado por ele sua esposa como se fosse seu filho legítimo.
Quando já adulto e interessado em saber sobre suas origens, vem a consultar o oráculo de Delfos que mais uma vez revela a maldição que era matar seu pai e ainda casar-se com sua mãe. Apavorado e horrorizado frente à possibilidade de matar Políbio, vem a fugir de Corinto para Atenas.·.
Sem saber, que em verdade, corria direto ao encontro de seu destino tão terrível e temido. No caminho, encontra uma caravana liderada por Laio (seu pai verdadeiro) e mata a todos, inclusive Laio.
Já em Tebas, resolve o enigma da esfinge e, recebe como recompensa, o casamento com a viúva de Laio, Jocasta, com que tem vários filhos (Antígona, Polinices, Eteócles e Eumênides). A partir daí a cidade começa a ser dizima por uma terrível peste.
Trata-se de faculdade cognitiva de grande relevância particularmente para a aprendizagem. Assim tanto a aprendizagem como a memória são o suporte para todo conhecimento e civilização.
Somente quando podemos considerar o passado, conseguirmos nos situar no presente e, razoavelmente prever o futuro. Como sabemos a memória não está isolada no cérebro, sendo um fenômeno biológico e psicológico, significando uma aliança de sistemas cerebrais que funcionam simultaneamente.
O lobo temporal é a região ao cérebro que possui relevante envolvimento com a memória. Nesta região também se localiza um grupo de estruturas interconectadas que acionam a memória para fatos e eventos (memória declarativa) e, entre estas está o hipocampo, as estruturas corticais circundando-o e, ainda, as vias que conectam estas estruturas com outras partes do cérebro.
Questionando novamente o oráculo, este lhe informa que a peste se deve ao fato de que o verdadeiro assassino de Laio estava na cidade. E, a peste só cessaria quando afinal o assassino fosse descoberto.
Depois de laboriosas investigações do próprio Édipo que vai paulatinamente se aproximando da verdade, ou seja, que ele mesmo era o assassino do pai e o filho incestuoso – cego Tirésias lhe revela toda a verdade confirmando ser de fato o parricida e o gerador da peste.
Encarando o horror, Édipo desesperado fura os próprios olhos e é exilado por longos anos em Colono.
Serge Leclaire enfatiza para a pouca atenção que se dá aos elementos da tragédia que antecedem o parricídio e o incesto, embora determinantes no funesto destino de Édipo.
São estes: a homossexualidade de Laio e, o intento de assassinar o filho, que se estivesse vivo, revelaria ao pai seu crime sexual e maldição.
E, exatamente nesse contexto que transita as ponderações de Leclaire. Questionando a partir da peça trágica quais são as verdadeiras motivações inconscientes que tanto animam o desejo dos pais em matar sua criança e enumera alguma destas, a saber:
a) A criança real não corresponde à criança maravilhosa[2] do narcisismo dos pais;
b) A criança carrega consigo segredos sexuais dos pais; (nesse sentido justifica a expressão popular, “filho do meu pecado”).
c) A criança revela, em estado bruto, a ausência de recalque.
d) A criança fala, embora esta fala seja uma “outra” fala.
Segundo Freud o ódio é mais antigo que o amor no psiquismo, mas tal premissa não é válida quando se trata do eu. Ou seja, somente no caso do eu (ego), o amor é mais antigo do que o ódio. E, o que significa tal fato?
Que o primeiro objeto de amor que temos na vida é a gente mesmo. Na psicanálise é o que chamamos de narcisismo primário. Assim, cada ser humano lá no fundo de sua alma e mente, nutre profunda paixão por si mesmo (já repararam com tem pessoas que não resistem ao espelho, e quão são fascinados pela própria imagem). Esta é a nossa criança maravilhosa ou “sua majestade, o bebê” (como Freud chamava) e que habita sempre o nosso psiquismo.
Assim quando um casal vai ter um filho, Freud aponta que eles depositam nesse bebê imaginário (posto que ainda não nasceu, exceto na imaginação e no psiquismo de seus pais) esta “criança maravilhosa” que eles, os pais, foram e no inconsciente ainda o são.
Então, estes futuros pais acalentam a ideia e a esperança inconsciente de que irão poder reencontrar suas “crianças maravilhosas” em seus filhos. É mesmo muito comum, que desejemos as nossas crianças tudo aquilo que jamais tivemos e teríamos. Por esse razão, Freud afirma que é o narcisismo dos pais que anima o narcisismo da criança.
Mas, surge um entrave. Pois quando do nascimento da criança real, paulatinamente, terão que ir fazendo o luto pelo fato desta criança real não corresponder exatamente a “criança maravilhosa” (ou seja, a eles próprios) que existe dentro das mentes dos pais.
Por ser, como o nome mesmo expressa, uma criança real, e, portanto diferente dos pais. Acontece que, de maneira inconsciente, a criança percebe as expectativas que os pais depositam nela (de suas “crianças maravilhosas”) e para receber o que consideram o amor destes, esta fará de tudo para corresponder a esta “criança maravilhosa” que há dentro da mente dos genitores.
A partir daí já dá para entender e imaginar quantos imbróglios surgem, tanto na vida dos pais como também na vida da criança.
O pai espera que seu filho seja o mais bem sucedido, o mais, feliz, o maior esportista, o mais potente do que ele foi. A mãe, por sua vez, espera que sua filha se case com o homem dos seus sonhos, ou que ela não se destaque mais do que ela própria (principalmente quando existe competição e rivalidades excessivas).
O sofrimento é geral, principalmente porque esta “criança maravilhosa” não é consciente para os pais. Isto é, os pais não sabem que nutrem tais expectativas com relação aos filhos. Sentem mas não percebem racionalmente.
Lacan partiu daí para considera, no campo da patologia, que, por exemplo, a mãe histérica goza com o filho como se este fosse seu falo.
Daí já dá para entender porque os pais, lá no fundo de seu inconsciente, nutrem um desejo inconfessável de que seu filho ou filha morra, porque frustra e frustra a minha “criança maravilhosa”. O que explica bastante bem a depressão pós-parto[3] e o incontável número de acidentes domésticos que ocorrem com bebês pequenos.
E, também explicam o esquecimento de crianças dentro de carros, a queda de janelas, a violência física e sexual cometida contra crianças na família e na escola.
Aliás, Chuster e Trachtemberg comentando a obra de Leclaire apontam que quando uma criança é abusada sexualmente, o que o abusador mata nela, não é a criança que é morta por não estar preparada para lidar com aquele excesso de sexualidade?
Mas, quando a mãe não é muito narcísica os sentimentos de ódio e desejo de que a criança morra são recalcados e transformados no seu contrário: amor.
Aliás, do ponto de vista histórico, é possível hipotetizar que ao longo da evolução cultural – o que significa em termos psicanalíticos a instância superegóica (superego), representante da lei, colocando alguns freios nos impulsos, houve tentativas cada vez mais substanciais de recalque deste desejo de matar a criança.
Elizabeth Badinter em sua obra “O mito do amor materno”[4]faz uma extensa revisão histórica para mostrar como na Idade Média, por exemplo, era extremamente comum e banal que uma mãe deixasse seu filho no lixo ou simplesmente o desse para alguém.
O sentimento de amor materno não existia esculpido tal como o compreendemos hoje. E do ponto de vista psicanalítico, os mecanismos de recalque ainda não estavam bem instalados culturalmente.
Portanto, noção de culpa e remorso não fazia parte do repertório sentimental e nem do vocabulário daquelas mulheres. Pois, este sentimento só existe quando, no psiquismo, está havendo uma luta intensa entre os sentimentos de amor e ódio, sendo a culpa o resultado desta disputa.
Mas, a partir da obra “Mata-se uma criança” podemos realizar um exercício interessante ao refletir como este desejo comparece em nossa sociedade considerada “civilizada” como uma forma de solução de compromisso entre o desejo e a repressão.
Vejamos os rituais de iniciação tal como o batismo, por exemplo. Como não pensar na cena da criança tendo a cabeça molhada ou afundada na água, conforme ocorre em algumas religiões, como uma cena que representa simultaneamente um novo nascimento e também uma cena de afogamento (de morte).
Nos povos mais primitivos os rituais de iniciação[5] marcam as diferentes fases da vida e costumam ser bastante violentos. E, podemos extrair exemplos das cantigas de ninar[6]… “Dorme neném que a cuca vem pegar… Papai foi na roça e mamãe foi trabalhar”…
A inocente canção relata que os pais foram cuidar da vida deles, enquanto que você ficará dormindo sozinho. E, qualquer alusão à cena edípica (pai e mãe fazendo coisas juntos e bebê sozinho não é mera coincidência). E o que acontece com uma criança que fica sozinha… e, fatalmente morre.
Enfim, os exemplos se multiplicam e, antecipando-me a um possível questionamento se as cantigas de ninar fazem mal, é bom informar que não. Mas estas foram criadas ao logo de um processo de formação cultural e antropológica, e devem servir para algum propósito.
E, a psicanálise nos ajuda a entendê-las que é de transformar em narrativa uma história sobre possíveis desejos sinistros que assombram as mentes dos pais, mães e filhos desde sempre. Mas, tanto os rituais de passagem como as cantigas de ninar são ingredientes importantes para o crescimento e amadurecimento de nosso psiquismo.
O hipocampo ajuda selecionar onde os aspectos importantes para fatos e eventos serão armazenados e, estão envolvidos também com o reconhecimento da gravidade e com as relações espaciais, tais como o reconhecimento de um mapa rodoviário.
A amígdala é uma espécie de aeroporto do cérebro e, se comunica com o tálamo e com todos os sistemas sensoriais de córtex, através de suas extensas conexões.
Os estímulos sensoriais vindos do meio externo, tais como som, cheiro, sabor, visualização e sensação táctil de objetos são traduzidos em sinais elétricos e, ativam um circuito na amígdala que está relacionado à memória.
As conexões entre amígdalas e hipotálamo, onde as respostas emocionais provavelmente se originam, permitem as emoções que influenciam a aprendizagem.
A perda da memória pode estar associada a determinadas doenças neurológicas, e mesmo, a certos distúrbios psicológicos, a problemas metabólicos e também a certas intoxicações.
A mais comum forma de perda de memória é conhecida como esclerose ou demência. A demência mais comum e conhecida é o mal de Alzheimer[7] que se caracteriza por acentuada perda de memória acompanhada de graves manifestações psicológicas, como por exemplo, a alienação.
Alguns estados psicológicos alterados tais como o estresse, a ansiedade e a depressão também afetam a memória. Doenças da tireoide como o hipotireoidismo também podem comprometer seriamente a memória.
Igualmente o uso continuado de tranquilizantes provoca redução da memória, além de favorecer depressão que pode ser confundida com a demência. A vida sedentária com excesso de preocupações e acúmulo de insatisfações, bem como uma dieta deficiente favorece a perda de memória.
É fato que a memória é um processo cognitivo que consiste na retenção e evocação das informações, conhecimentos, acontecimentos e experiências.
A memória envolve um conjunto de processos como a codificação que corresponde à preparação das informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro; o armazenamento (quando a informação é conservada por períodos mais ou menos longos, para ser usadas quando necessário); e a recuperação (que corresponde a busca e atualização de informação armazenada, para usar na experiência presente).
Distinguem-se três tipos de memória[8]: a) memória sensorial (que é a recebida pelos sentidos tais como audição, visão, tato, olfato e sabor) é armazenada durante frações de segundos. Memória a curto prazo e a memória a longo prazo (que permite conservar as informações durante horas, meses e anos e, até mesmo, pela vida inteira).
Precisamos entender a memória como parte importante da consciência, e para tanto, didaticamente faremos analogia com o mecanismo dos computadores. Tal como os computadores, nossa mente igualmente está equipada com dois tipos de memória, a saber: a memória imediata (de trabalho) para tratar a informação do presente momento, e, a memória de longo prazo usada para arquivar durante longo tempo.
Ao contrário do que se pode pensar, nosso cérebro não está continuadamente registrando tudo que nos acontece para, num segundo momento, selecionar e apagar o que não é importante. A maior parte dos estímulos com os quais estamos lidando permanece por breve tempo na memória, mais precisamente, na memória imediata ou de trabalho.
A analogia que se faz com o computador é com a chamada memória RAM, u seja, a memória de acesso aleatório da máquina (Random Access Memory).
Depois de algum tempo esses estímulos trabalhados pela memória imediata se evaporam cedendo lugar a outros estímulos. A memória imediata nos permite realizar os “cálculos de cabeça”, permite reter números de telefone durante algum tempo, permite continuar diálogo baseado no início da conversa, permite saber o nome do interlocutor durante algum tempo (diretamente proporcional à importância deste para nós)[9].
Assim podemos considerar que a memória longo prazo seria como disco rígido do computador, registrando fisicamente as experiências passadas e vividas na região do cérebro chamado de córtex cerebral. A córtex ou a camada exterior do cérebro, contém aproximadamente dez bilhões de células nervosas (neurônios) as quais se comunicam intensamente trocando impulsos elétricos e químicos (sinapses).
Sempre que um estímulo atinge nossa consciência, seja imagem, som, ideia, sensação e etc, ativa-se um determinado conjunto de neurônios, o que chamamos de assembleia neuronal.
A teoria baseada nas assembleias neuronais representa um modelo bem convincente para a formulação da hipótese a respeito da construção da consciência. E, segundo essa teoria, o pensamento consciente é gerado quando vários neurônios de diversas colunas se uniam funcionalmente e atuam harmonicamente e constroem uma assembleia consolidando um estado consciente.
Depois desse novo estado de consciência esses neurônios do conjunto que participou do estímulo nem sempre retomam o estado original, assim costumam fortalecer as ligações uns com os outros, tornando-se cada vez mais densamente interligados e conectados.
Portanto quando isso acontece se constrói uma memória[10] consciente e o que quer que estimule a assembleia ou rede neuronal trará novamente de volta a percepção inicial sob a forma de recordação. Sublinhe-se que recordação recém-codificada pode envolver e abarcar milhares de neurônios simultaneamente, englobando todo o córtex.
É devido a essa organização e dissolução dinâmica que ocorre com as assembleias neuronais que podemos comparar a atividade mnêmica fugaz com a memória RAM do computador. Assim, concluímos que se for pequeno o número de neurônios recrutados, a memória resultante será pequena em intensidade e duração.
Geralmente, associa-se o termo esquecimento[11] a um valor negativo, sendo muitas vezes considerada grave falha da memória. Contudo, o esquecimento é importante, posto que seja a partir dele que continuamos a reter informações adquiridas.
É impossível conservar todos os materiais que armazenamos, portanto o esquecimento[12] tem função seletiva e adaptativa: afasta a informação que já não é mais útil, para enfim podermos adquirir novos conteúdos.
Para o pai da psicanálise, a mente tem um depósito onde guarda suas memórias e pensamentos reprimidos. E, lembremos que Freud elaborou suas teses bem antes de qualquer pesquisa neurocientífica, mas os estudos mais contemporâneos estão comprovando que tinha razão. O inconsciente realmente existe e possui um papel bem maior do que se acreditava.
O inconsciente tem um importante papel sobre a memória[13]. Mas, a memoria, tal como a inteligência como um todo, é fruto de genética, nutrição, ambiente, interesse, etc.
Existem pessoas que são muito hábeis em fixar algo na mente. Alguns usar estratégias de memorização muito eficazes, como realizar links mentais, as famosas regras “mnemônicas”. Isso consiste em atrelar o item a ser memorizado com algo que já está fixo e consolidado. Muitos alunos, vestibulandos e prestadores de concursos públicos fazem isso durante a preparação. Mas há que faça isso com nomes, rostos, eventos, etc.
Outra coisa importante é a recordação, cada vez que recordamos algo, mas forte este fica na memória. Uma história contada muitas vezes vai se fortalecendo a cada vez que a recordamos.
Memórias ligadas à emoção são mais facilmente fixadas. As emoções positivas tem prioridade sobre emoções negativas[14]. Um fenômeno conhecido como memória seletiva[15]. Viaje, encontre os amigos, reúna a família, viva com intensidade e otimismo, suas memórias serão mais vivas e resistentes.
Recorde sempre das boas coisas que viveu, reveja álbuns de fotografia, vídeos antigos e remonte os momentos na cabeça. Quanto mais vezes algo é lembrado, mais firme fica a lembrança. Com o tempo seu cérebro se empenhará cada vez mais em reter as experiências de vida.
Enfim, a memória é o disse Cícero o tesouro e o guardião de todas as coisas. As constantes distrações digitais e a realização de várias tarefas simultâneas podem ter um particular efeito negativo sobre a memória funcional.
Coletivamente, as memórias estão ficando cada vez manos precisas, e pesquisa recente descobriu que os membros da Geração Y[16] (entre 18 a 34 anos) têm maior probabilidade que o grupo de mais de 55 anos de esquecer a data atual ( 15% contra 7%) e onde colocaram as chaves (14%contra 8%).
É relevante aduzir que a memória fraca ocorrer em qualquer idade, prejudicando seu trabalho e vida pessoal. Por isso é importante nos lembrarmos de usar os dispositivos mnemônicos[17] na escola, e mesmo os truques de memória que podem ser ferramentas simples e práticas para ajudar a você se lembrar de tarefas, nomes de pessoas e parar de esquecer, por exemplo, onde estacionou o carro ou deixou as chaves.
A revista Exame (disponível em: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/8-truques-imbativeis-para-se-lembrar-de-tudo-tudo-mesmo) de Carolyn Gregoire do Brasil Post nos recomendou oito truques para dotar sua memória de superpoderes. In litteris:
Visualize (grifo meu):
Precisa decorar uma lista de palavras ou nomes? Você terá maior probabilidade de lembrar as palavras se elas forem associadas a imagens – especialmente se você se considera uma pessoa que aprende visualmente (65% da população, segundo estimativas).
Por exemplo, se você precisar se lembrar de uma reunião às 4:30 da tarde, experimente memorizar seu quarteto favorito (os Beatles?) e um bolo de aniversário de trinta anos. Pode parecer tolice, mas você ficará agradecido quando chegar na hora certa.
Experimente um jogo cerebral:
Jogos de estimulação cerebral como sudoku e palavras-cruzadas podem ser úteis. E também há o Lumosity, um conjunto de exercícios para fazer no computador ou no telefone criado por uma equipe de neurocientistas, que melhora a memória de 97% dos usuários com apenas dez horas de jogo.
Os estudos ainda não determinaram exatamente como esses jogos reforçam a memória, mas há bons motivos para acreditar que são eficazes: um novo estudo com pessoas de mais de sessenta anos descobriu que jogar um videogame destinado a treinar o cérebro aumenta a capacidade das pessoas de realizar multitarefas.
"Acho que jogá-los ativa as sinapses em todo o cérebro, incluindo as áreas da memória", disse Marcel Danesi, autor de "Extreme Brain Workout" [Exercício cerebral radical], à Fox News (vide http://www.foxnews.com/health/2013/09/14/7-tricks-to-improve-your-memory/ ).
Use o método de Cícero:
Também conhecido como o método de Locais ou "palácio da memória", a ferramenta de Cícero para lembrar informações, explicada em "De Oratore", usa o poder de imagens de apoio (neste caso, locais físicos) e relações espaciais memorizadas.
Como os psicólogos John O'Keefe e Lynn Nadel explicam em "The Hippocampus as a Cognitive Map" [O hipocampo como mapa cognitivo] (vide em http://www.cognitivemap.net/HCMpdf/HCMComplete.pdf ):
"Nesta técnica, a pessoa memoriza o desenho de um edifício ou a disposição das lojas em uma rua, ou qualquer entidade geográfica que seja composta de vários locais diferentes. Quando deseja se lembrar de um conjunto de itens, o sujeito literalmente 'caminha' por esses locais e atribui um item a cada um, formando uma imagem entre o item e qualquer característica distintiva daquele local. A recuperação de itens é obtida 'caminhando' pelos locais e permitindo que estes ativem os itens desejados."
Experimente esta técnica "caminhando"[18] mentalmente pelos cômodos da sua casa e atribuindo informação a cada um deles – e depois lembre da informação ao passar pelos aposentos.
Experimente o método de "Baker-baker" (“Padeiro-padeiro”):
Em um experimento psicológico conhecido como paradoxo de Baker-baker, os sujeitos foram divididos em dois grupos, aos quais mostraram a foto de um homem. Um grupo foi informado de que o sobrenome do homem era Baker (padeiro), enquanto ao outro grupo foi dito que o homem era um padeiro.
Quando mais tarde lhes mostraram a foto e pediram para lembrar a palavra associada, os que haviam sido informados sobre a profissão do homem tinham muito maior probabilidade de lembrar a palavra.
A explicação é simples: embora as duas palavras e fotografias fossem exatamente a mesma, quando pensamos em um padeiro, outras imagens e uma espécie de história vêm à mente (aventais, cozinha, pão fresco).
Um colaborador do site Fast Company (vide em: http://www.fastcolabs.com/3014088/open-company/the-memory-hack-that-got-me-through-med-school-and-inspired-a-startup ) disse que aplicar o paradoxo – usar a história de Lance Armstrong para lembrar-se de informação complexa e detalhada sobre quimioterapia – o ajudou a terminar a faculdade de medicina.
Assim, quando quiser se lembrar de detalhes, experimente criar um "gancho" que conecte a informação a uma pessoa ou uma história – a associação forte garantirá que você lembre a informação com mais clareza.
Tire um cochilo:
Eis uma boa desculpa para deixar o trabalho de lado durante uma hora nesta tarde: tirar um cochilo prolongado pode reforçar o aprendizado e a memória.
Pesquisadores do sono da NASA (vide em http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2005/03jun_naps/) descobriram que cochilar beneficia de modo significativo a memória funcional, e um estudo de 2008 usou exames de imagens magnéticas para determinar que a atividade cerebral nas pessoas que cochilam é maior durante todo o dia do que nas pessoas que não repousam.
Rotule as pessoas literalmente:
Franklin Roosevelt era conhecido por ter uma memória que causaria vergonha na maioria das pessoas – ele conseguia se lembrar do nome de alguém que encontrou apenas uma vez meses antes, aparentemente sem dificuldade. Seu segredo?
Roosevelt conseguia memorizar os nomes de todos os membros de sua equipe[19] (e de todo mundo que conhecia) visualizando os nomes escritos em suas testas, depois de ser apresentado a eles. Essa técnica é ainda mais eficaz quando se imagina o nome sendo escrito com uma caneta na sua cor favorita, afirma a CNN.
Nutrição adequada:
Os ácidos graxos ômega 3[20] – que podem ser encontrados em alimentos como salmão, atum, ostras, sementes de abóbora, couve-de-bruxelas, nozes e outros, ou ingeridos em forma de suplemento estão entre os nutrientes mais benéficos para o cérebro.
Um estudo feito pela Universidade de Pittsburgh em 2012 revelou que o consumo de ômega 3 intensifica a memória funcional em jovens adultos saudáveis.
O consumo de alimentos com alto teor dessa gordura saudável também pode reduzir o risco de se desenvolver a doença de Alzheimer, segundo um estudo da Universidade Columbia de 2012.
Preste maior atenção:
Talvez o melhor (e possivelmente o mais difícil) truque de memória é simplesmente prestar maior atenção na tarefa, conversa ou experiência atual. A distração torna nossa memória mais fraca e, consequentemente, aumenta nossa tendência a esquecer das coisas.
"Esquecer… é um sinal de como estamos ocupados", disse à "Reader's Digest" o diretor da Clínica de Transtornos da Memória no Centro Médico Beth Israel Deaconess, Zaldy S. Tan.
"Quando não prestamos atenção direito, as memórias que formamos não são muito firmes e temos dificuldade para recuperar a informação mais tarde."
Você tem dificuldade para acalmar seus pensamentos agitados?
Torne-se mais concentrado praticando meditação, apenas dez minutos por dia. Um estudo recente da Universidade da Califórnia descobriu que a meditação melhora a capacidade da memória e reduz a divagação entre estudantes.
E, em 2012 pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts identificaram um circuito neurológico que ajuda a formar memórias duradouras – descobriu-se que o circuito funciona de maneira mais eficaz quando o cérebro presta atenção naquilo que você está vendo.
Quando uma tendência desagradável se repete em nossas vidas, ou na vida da sociedade, seja um ato, uma enunciação, e algum vínculo, enfim, quando nos pegamos insistindo em fazer algo que nos é prejudicial ou estranho, chamamos isso de sintoma psíquico.
Cada criança representa aposta única para família esperançosa de perpetuar-se, aprimorar-se. Nada estranha que a fúria se dirija para o coração daqueles que centralizam tanto amor.
Quando nos anos oitenta, utilizávamos da expressão "quem ama não mata” [21], lembrando que não é aceitável qualquer condescendência com os crimes passionais. O busilis é quem ama muitas vezes possui (constrói pertencimento), engole literalmente o outro, e confunde-se com ele, e, infelizmente, em casos extremos pode até mesmo matar.
Tal arrebatação de sentimentos serve tanto para amantes, como também para pais e filhos e para todas as relações onde nossa vida se desenvolve e, ganha e perde seu sentido a partir do vínculo com a alguém.
Enfim, todos nós temos desejos, temores e ideias preconcebidas e que não sabemos exatamente de onde vêm, e muitas destas nem foram escolhas nossas e que simplesmente se manifestam. O psiquiatra Oswaldo Ferreira Leite Netto[22], diretor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo explica que muitos fatores inconscientes atuam sobre nossa vida psíquica e o tempo todo, até mesmo quando estamos dormindo.
E nesse particular as obras de Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, são esclarecedoras principalmente nos estudos sobre o inconsciente.
Aliás, para bem explicar o inconsciente usava a metáfora do iceberg como um modelo da mente, onde a maior parte está submersa.
A atividade mental consciente corresponderia, portanto apenas ao topo visível, explica. Com o notável avanço da neurociência[23], muitas das ideias de Freud foram confirmadas e outras foram revistas, e na concepção contemporânea, o inconsciente é nada mais do que a soma de nossas memórias, é um depósito infinito de experiências de vida. Porém, vamos muito além de apenas arquivá-las, ele ainda as associada, e elabora um processo que foge à nossa compreensão.
Enfim, existem memórias que não sabemos que temos e que podem surgir, chegando à consciência, sem que saibamos exatamente o porquê.
Em grande parte de nossos hábitos cotidianos são inconscientes, ainda que sejam iniciados voluntariamente. Assim como aprendemos a andar, guardamos aquele conhecimento e não precisamos mais pensar sobre ele a cada vez que caminhamos.
Já outras lembranças ficam num nível mais profundo do inconsciente e, simplesmente porque não julgamos que sejam tão relevantes deixam de existir e nos influenciar. Elas residem em nosso inconsciente, guardando os registros de experiências vivenciadas e, que, por algum motivo, insistimos em reprimir.
Uma das principais funções do inconsciente é manter o equilíbrio da nossa psiquê. É nossa bagagem de memórias e um repositório que nos alimenta constantemente de imagens e símbolos[24]. Tanto interage com a consciência, o que pode ser bom ou ruim, dependendo de como lidamos com os resultados que essa interação nos traz.
Explica-se que quando uma associação entre memórias é muito forte, mas reprimida conscientemente, esta pode escapar ou vazar seja por meio de ato falho ou mesmo através de um sonho que expressa aquele conteúdo de forma direta ou indireta.
Esse mecanismo explicaria, por exemplo, o fato de alguém dizer "tchau" em vez de "oi" a uma pessoa que acabou de encontrar e da qual não gosta muito. Isto também pode acontecer por pura distração. Se for recorrente, entretanto, merece ser analisado com cuidado.
O inconsciente pode nos colocar em contato com sentimentos viscerais ou com o que algumas pessoas chamam de intuição. Prestar maior atenção nesses sinais pode nos ajudar a tomar decisões mais acertadas no dia a dia, e reduzir os danos afetivos e morais dos que se arriscam a viver ignorando a existência do inconsciente.
Professora universitária, Mestre em Direito, Mestre em Filosofia, pedagoga, advogada, conselheira do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas.
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