Resumo: No que
me concerne à memória, não lembro de ter ouvido que Montesquieu era advogado ou
que Adam Smith fosse graduado em ciências econômicas. Tampouco que Karl Marx
era filósofo, sociólogo, economista e/ou cientista político. Poderiam me dizer
se Hegel era bacharel em filosofia? Ou se Winston Churchill tinha formação acadêmica em estratégia militar?
Thomas Mann era formado em letras? Quanto a Orson
Welles, ostentava ele um diploma de cineasta?
Tive a oportunidade de ler, há alguns dias, um artigo do colunista
Diogo Mainardi, em que o mesmo preconiza a idéia de
que a função do intelectual é dizer o indizível e pensar o impensável. No que
tange à sua concepção, não há divergência alguma. Compartilho da opinião de Mainardi em todos os aspectos de sua argumentação. Ocorre
que este que vos escreve, pretensioso que é, resolveu estender a pauta de
análise do colunista retromencionado. Hei, pois, de
expor meu ponto de vista.
Há dois tipos de intelectuais no mundo – o intelectual sábio e
autêntico e o intelectual tacanho e replicante. Como
na vida está-se sujeito a confrontar com tudo quanto é estirpe de homo sapiens-sapiens – ou similar – que
manifeste existência, desfrutei da insossa e desagradável oportunidade de
confrontar-me com um intelectual do segundo tipo: tacanho, replicante
e, não obstante, cético e no limiar da imaturidade.
Dir-se-á, a priori, que não se invoca aqui uma crítica à pessoa, e sim às
idéias arqueadas pela mesma. Que sejam, pois, idéias. Combatamo-nas tanto
quanto pudermos, contanto que disponhamos de argumentos. Sigamos com o fato.
A pauta de discussão in casu aludia à Emenda Constitucional 16, referente à
reeleição de FHC, votada pelo Congresso Nacional no ano de 1997. Divergíamos,
por óbvio, em nossas concepções: ele era contra, eu a favor. Prescindindo dos
detalhes e demais aspectos acerca da pauta, disse-me ele que não respeitava
minha opinião em razão do fato de eu ser acadêmico de Direito, e não de
História, curso em que ele é graduado. Estávamos, obviamente, em um ambiente
constituído maciçamente por acadêmicos de História – três, num total de quatro.
O motivo pelo qual eu me sublevei é concernente ao fato de que sou esmerado
estudioso de tal ciência e, postando a modéstia de lado, tenho uma razoável
base teórico-argumentativa.
Veio-me
à tona idéias
um tanto deslocadas e que urgiam uma
argumentação mais concisa para melhor se coadunarem. A razão pela qual ele
alegou desmerecer minha opinião estava vinculada ao fato de eu não ser um
acadêmico de História. O mote da problemática é que, se é imprescindível ser
graduado em determinada ciência para ter sua opinião respeitada e discutida,
far-se-á necessário passar a borracha em pelo menos metade da – suprema
coincidência paradoxal! – História!
No que me concerne à memória, não lembro de ter ouvido que Montesquieu
era advogado ou que Adam Smith fosse graduado em ciências econômicas. Tampouco
que Karl Marx era filósofo, sociólogo, economista e/ou cientista político.
Poderiam me dizer se Hegel era bacharel em filosofia? Ou se Winston
Churchill tinha formação acadêmica em estratégia mlitar? Thomas Mann era formado em letras? Quanto a Orson Welles, ostentava ele um diploma de cineasta?
Longe deste que vos escreve almejar ser comparado às personalidades
eminentes acima mencionadas. Mesmo porque falta-me não
só a genialidade, bem como experiência e maturidade intelectual. Todavia, tais
fatores não prerrogam razões para minha subjugação
enquanto articulador de idéias e conceitos. Não aspiro que minhas opiniões e
pontos de vista sejam assentidos e corroborados por todos que deles tenham
conhecimento. Entretanto, o respeito à idéia alheia é condição sine qua non para o crescimento e simbiose conceitualista do
bojo intelectual de qualquer indivíduo.
Devo, porém, estar equivocado em minhas declarações. Talvez o diploma
realmente constitua ferramenta inalienável para a emissão de uma opinião
concernente à ciência em pauta discursiva. Quando forem discutir quaisquer
aspectos relativos à ciência histórica, devo me abster e permanecer calado. E
devo também ser exonerado de minha função de monitor da disciplina. O meu
desafeto ideológico deve mesmo estar certo. Quem sabe seja eu, e não ele, o intelectualóide. Qualquer imbecil que seja, contanto que
graduado – ou graduando – em História, está mais capacitado para discutir a
ciência do que eu. Ater-me-ei, pois, tão-somente ao Direito, ciência a que
me propus aprofundar meus estudos. E se
Montesquieu ainda estivesse vivo e ousasse discutir comigo quaisquer aspectos
atinentes à ciência jurídica, replicar-lhe-ia para que calasse a boca, pois
jamais respeitaria a opinião de um despreparado que não fosse graduado em
Direito.
Acadêmico de Direito na Universidade Federal de Goiás e colunista da Revista Autor (www.revistaautor.com.br), do Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org), d’O Debatedouro (www.odebatedouro.com.br), do DupliPensar (www.duplipensar.net) e do Jornal Opção.
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