Resumo: Este trabalho apresenta as normas e os elementos básicos comuns ao gênero textual artigo científico e visa servir de orientação para a escrita de artigos, especialmente por estudantes do curso de Direito, de acordo com os padrões da ABNT-NBR 6022/2003 e com os pressupostos teóricos da produção do gênero textual acadêmico científico. São abordadas as questões fundamentais envolvidas no planejamento de um artigo, as características, a estrutura e o detalhamento dessa estrutura. Desta forma, obtém-se uma maior preparação do iniciante para a escrita do texto no âmbito deste gênero científico.
Palavras-chave: artigo científico; especificidades; gênero textual.
Sumário: Introdução. 2 O artigo científico: especificidades. 2.1 Questões fundamentais. 2.2 Características. 2.3 A Estrutura. 2.4 Detalhamento da estrutura. 3 Considerações Finais 4. Referências.
INTRODUÇÃO:
O gênero textual artigo científico refere-se à apresentação de um relatório escrito de estudos a respeito de uma questão específica ou à divulgação de resultados de uma pesquisa realizada. De acordo com a NBR[1] 6022 (p.2, 2003), o artigo científico parte “de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”.
Geralmente, tem como objetivo tornar conhecido o diálogo produtivo com o referencial teórico utilizado no estudo, a metodologia empregada, a análise da questão-problema e os resultados obtidos. Promovendo, assim, o intercâmbio de ideias entre os estudiosos de uma área de atuação.
A questão motivadora do estudo, chamada aqui de questão-problema, pode ser uma questão prática, teórica ou simplesmente uma revisão de assunto, que nada mais é que analisar ou discutir informações já publicadas.
Podem ser escritos para trabalhos acadêmicos, sem fins de publicação, ou para serem publicados nos periódicos científicos de uma determinada área da ciência. É necessário observar que, ao submeter um artigo científico à aprovação de um periódico, o autor deve seguir as normas editoriais adotadas por tal suporte textual, que podem ou não coincidir com as normas da ABNT.
Para melhor percepção didática do gênero textual em estudo, serão tratadas dentro das especificidades do artigo científico: as questões fundamentais; as características; a estrutura comum e o detalhamento da dessa estrutura.
Desta forma, pretende-se deixar o estudante bastante “amparado”, textual e normativamente, quanto à elaboração deste gênero textual.
2. O ARTIGO CIENTÍFICO: ESPECIFICIDADES
2.1 Questões fundamentais
Na elaboração de um artigo científico, devem-se levar em conta as condições de produção envolvidas:
– O que se quer comunicar?
– Para quem se quer comunicar?
– Com que objetivo?
– Onde e quando se pretende comunicar?
Essas questões orientarão a forma de escrever, os padrões a serem seguidos e poderão ajudar na aceitabilidade do texto final pela comunidade discursiva na qual ele pretende se inserir.
2.2 Características
Como um gênero textual específico, o artigo apresenta características que lhes são próprias. As autoras Scheibel e Vaisz propõem que um artigo deva ser:
1. “Sistemático: estruturado de forma coerente, com continuidade entre as partes;
2. Criterioso: alicerçado nos critérios de validação científica e na correta conceituação dos termos. O autor deve indicar como, quando e onde obteve os dados de que se valeu para estabelecer suas afirmações e conclusões. […]
3. Embasado: as afirmações devem estar sustentadas e inter-relacionadas, bem como serem coerentes com um referencial teórico consistente.
4. Estilo de linguagem adequado: essa linguagem deve ser coerente, objetiva, precisa, clara, correta (sem erros), com alto grau de especificidade.
5. Preciso: os conceitos devem ser determinados com precisão. Por exemplo: ‘João estava com muita febre’. O melhor seria: ‘João apresentou uma temperatura axilar de 39,5ºC’ ”. (SCHEIBEL; VAISZ, 2006, p.60)
Tais pressupostos devem ser observados na/para a elaboração do texto do artigo, pois configuram características obrigatórias para o gênero.
2.3 A estrutura
A NBR 6022/2003 dispõe que os artigos científicos são compostos de elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, quais sejam:
Os elementos pré-textuais são constituídos de:
a) título, e subtítulo (se houver);
b) nome(s) do(s) autor(es)[2];
c) resumo na língua do texto;
d) palavras-chave na língua do texto.
Os elementos textuais constituem-se de:
a) introdução;
b) desenvolvimento;
c) conclusão.
Os elementos pós-textuais são constituídos de:
a) referências;
b) apêndice(s);
c) anexo(s)
É possível ainda a inserção de resumo em língua estrangeira e palavras-chave nessa língua, notas explicativas e glossário.
2.3.1 Detalhamento da estrutura:
a) O título deve descrever de forma coerente e breve a essência do artigo. Pode incluir um subtítulo. Atente para o fato de o título não ser finalizado por ponto final.
Exemplos:
O poder normativo e regulador das agências reguladoras federais: abrangência e limites
Exame da confiança interpessoal baseada no AFET
A origem do homem americano vista a partir da América do Sul: uma ou duas migrações?
Comida de gente: preferências e tabus alimentares entre os ribeirinhos do Médio Rio Negro (Amazonas, Brasil)
b) A autoria e as credenciais do autor constituem um elemento importante e figuram logo abaixo do título do artigo. Entenda-se por credenciais, neste caso, uma breve titulação e filiação do autor(es) do artigo. São alinhados à direita do título.
Ex:
c) O resumo de um artigo não deve ultrapassar 250 palavras. A NBR 6028/2003 que trata especificamente do resumo, dispõe o seguinte:
– No resumo, apresentam-se os pontos mais relevantes do texto e este deve ser apresentado de forma concisa, clara e inteligível;
– Deve ressaltar o objetivo, o tema, o método, resultados e conclusões do trabalho;
– Recomenda-se a utilização de parágrafo único e com extensão de no máximo 250 palavras (fonte arial ou times new roman, tamanho 10, espaço simples entre linhas e em itálico);
– Deve conter palavras-chave representativas do conteúdo do trabalho, logo abaixo do resumo;
– Utilizar uma sequência concisa de frases e não uma enumeração de tópicos;
– Não utilizar parágrafos, símbolos e ilustrações;fórmulas e equações;
– Deve aparecer abaixo do título e do nome do autor, precedendo o texto;
– Usar espaçamento simples para o texto do resumo, devendo ser encabeçado.
Podem ser seguidos os seguintes movimentos retóricos[3] para a elaboração do resumo:
É importante saber que, na proposta apresentada no quadro acima, só os movimentos constituem elementos obrigatórios, os passos são apenas elementos que podem ou comumente estão contidos nestes movimentos.
Exemplos:
d) As palavras-chave configuram um elemento obrigatório e devem aparecer logo abaixo do resumo, antecedidas da expressão “palavras-chave”, separadas entre si por ponto ou ponto e vírgula e finalizadas também por ponto. São descritores representativos do conteúdo do trabalho. Geralmente não são menos de três e nem mais de seis palavras ou expressões. Os exemplos acima, pós-resumo, são bons ilustradores deste elemento do artigo.
e) Na introdução do artigo, local em que é feito a contextualização do tema abordado, podem constar: a delimitação do tema trabalhado, o problema de pesquisa, os objetivos e a justificativa de seu estudo. Além disso, é corrente reservar-se a parte final da introdução para fazer-se uma breve descrição do que será tratado em cada tópico do desenvolvimento, ou seja, do corpo do trabalho. Isso demonstra que o autor teve um cuidado especial com o percurso de leitura, sinalizado para o leitor, para se compreender o que está sendo tratado.
Em alguns textos, é na introdução que se apresentam os principais conceitos com os quais se irá trabalhar.
O professor Tomaz Tadeu da Silva (2006) propõe algumas orientações sobre a escrita do trabalho acadêmico, de cunho científico, e que precisam ser observadas desde a escrita da introdução do artigo. Diz o professor:
“Conhecemos muito bem aquele tipo de texto que se resume a uma sucessão de citações ou paráfrases. Uma boa maneira de evitar esse encadeamento de invocações da autoridade alheia consiste em organizar a exposição em torno de uma questão ou de um problema. Se a sua exposição tiver um foco ou um tema central, você irá invocar as palavras alheias apenas para dar apoio às suas ideias a respeito desse tema, ou para contrastar com o que você pensa sobre o tema, ou ainda para comparar o que diferentes autores dizem, concordando ou divergindo, sobre o tema em questão”. (SILVA, 2006, p. 2)
E alerta,
“Se você não tiver um tema ou problema bem definido, você irá fatalmente invocar a palavra alheia de maneira errática e casual e a propósito de qualquer coisa. O foco não deve ser, nunca, um autor determinado, mas o seu problema ou o seu tema. Ou seja, não se trata de saber o que um autor determinado tem a dizer sobre qualquer coisa, mas apenas e especificamente sobre o problema que você está tratando”. (SILVA, 2006, p. 2)
É possível perceber-se que elaborar uma introdução não é uma questão de elencar algumas falas de autores e colocá-las em sequência, como muitas vezes ocorrem em trabalhos de alunos iniciantes. É preciso construir um texto com um propósito de exposição e argumentação bem definidos, com partes que formam um “tecido” de fato, como aponta Silva (2006), e não uma colcha de retalhos mal costurada e frágil demais. Recomendação que se ancora, também, no primeiro pressuposto, o de sistematicidade, preconizado pelas autoras Scheibel e Vaisz (2006), citadas anteriormente. Cuidado esse que é válido, por extensão, para todo o texto do artigo.
No quadro abaixo, tenta-se representar o formato de uma introdução[4] de artigo que pode ser empregado ou adaptado conforme a necessidade do autor.
Se, no entanto, ao pretender redigir um artigo científico faltar boas fontes bibliográficas, além das bibliotecas das instituições de Ensino Superior, há, hodiernamente, muitos repositórios de artigos, com qualidade científica atestada pelos periódicos científicos em circulação, que podem ser consultados inteiramente pela internet.
Antes de citarem-se alguns deles, é preciso salientar que a internet trouxe um volume de textos à nossa disposição jamais vistos na história do desenvolvimento das ciências. Todavia, o estudante precisa ter em mente que, mais textos em circulação significa ter que se tomar ainda mais cuidado com a qualidade do material selecionado, pois circulam na web muitos textos sem qualidade textual e científica, frutos de muitos “achismos”, especialmente nos blogs.
Por isso, procure sempre se respaldar nos bons periódicos e livros de sua área de estudos.
Um bom local para se pesquisar é no Portal de periódicos da CAPES. Disponível a qualquer pesquisador no endereço:
E também no banco de dados do Scielo:
Ambos são repositórios de trabalhos legitimados pelas comunidades científicas, das mais diversas áreas do conhecimento, e são amplamente consultados pelos pesquisadores de todo o Brasil e do exterior.
f) A parte “maior” de um artigo científico é o desenvolvimento, também chamado de “corpo do trabalho”. O desenvolvimento apresenta uma peculiaridade: recebe um “título” que é representativo da temática tratada, em lugar da palavra “desenvolvimento”, que não deve constar do trabalho[5].
É nesta parte que as argumentações, comparações ou análises serão realizadas, uma vez que ele representa a parte principal do artigo. Assim, é corriqueiro que apresente seções e subseções devidamente marcadas no texto, em forma de alínea (deslocamentos da margem), mas que não o seccionem abruptamente, pois cada seção deve preparar a “entrada” da próxima e todas devem manter um diálogo entre si.
Sempre que possível, dentro do mesmo parágrafo, articule as frases para que construa uma ideia de sequência textual coerente e bem articulada, para que indiquem uma progressão textual interessante. Empregue palavras que indiquem:
– as relações de tempo – não use repetidamente a expressão “e depois”, pode substituí-la por: “em seguida”; “mas antes”; “mais adiante”; “logo a seguir”; “anteriormente”; “posteriormente”…
– espaço – é sempre importante que indique o local ou a posição dos elementos a que se referir, por exemplo na análise de algum anúncio. Nas descrições utilize expressões como: “à esquerda”, “à direita”; “em cima”; “por baixo”; “ao fundo”; “logo à entrada”; “atrás”; “em primeiro lugar”; “por último”; “em primeiro plano”; “ao centro”; “acima”; “abaixo”…
– relações de causa – quando precisar de explicar porque acontece determinada situação, use as seguintes expressões: “é por isso que”; “porque”; “visto que”; “foi por causa de”; “uma vez que”; “devido a” “em virtude de”…
– relações de comparação e/ou oposição – quando necessitar de ligar duas ideias ou acontecimentos, utilize as seguintes expressões: “pelo contrário”; “do mesmo modo”; “por outro lado”; “por sua vez”; “porém”; “no entanto”; “contudo”; “mesmo assim”; “igualmente”; “contrariamente” “nesse âmbito”; “nesse ínterim”…
– demonstração de raciocínio – use para convencer o leitor do seu texto: “com efeito”; “efetivamente”; “na verdade”; “desta forma”; “com certeza”; “decerto” “tendo em vista”; “haja vista”…
– apresentação de exemplos – para apresentar exemplos ou esclarecer melhor, use as expressões: “isto é”; “por outras palavras”; “aliás”; “ou seja”; “quer dizer”; “ou melhor”; “no que diz respeito a” ; “por exemplo”…
Por ser a parte principal do artigo, normalmente, é no desenvolvimento que aparece o maior número de outras vozes, isto é, de outros autores citados para construir a argumentação daquele que elabora o artigo. Isso se deve ao fato de o discurso científico precisar entrar em comunhão teórica com a ciência da área, mesmo que seja para questioná-la. Todavia, fique atento para evidenciar ao seu leitor onde termina a sua voz e onde começa a voz alheia. E trace sempre um diálogo com o material que você cita, pois só colocá-lo no texto não convence o leitor do que é dito e nem de sua competência científica. Além disso, use as vozes alheias com muita parcimônia.
Veja nos três exemplos[6] abaixo, o bom e o mau uso da citação no estilo paráfrase:
1)A passagem original de Michel Foucault, em História da sexualidade, p. 17 (textualmente):
“É necessário deixar bem claro: não pretendo afirmar que o sexo não tenha sido proibido, bloqueado, mascarado ou desconhecido desde a época clássica; nem mesmo afirmo que a partir daí ele o tenha sido menos do que antes. Não digo que a interdição do sexo é uma ilusão; e sim que a ilusão está em fazer dessa interdição o elemento fundamental e constituinte a partir do qual se poderia escrever a história do que foi dito do sexo a partir da Idade Moderna. Todos esses elementos negativos – proibições, recusas, censuras, negações – que a hipótese repressiva agrupa num grande mecanismo central destinado a dizer não, sem dúvida, são somente peças que têm uma função local e tática numa colocação discursiva, numa técnica de poder, numa vontade de saber que estão longe de se reduzirem a isso.”
2) Uma citação textual disfarçada de paráfrase (inaceitável)
“Foucault não argumenta que o sexo tenha sido proibido e bloqueado desde a época clássica ou que tenha sido menos depois disso. Ele tampouco diz que a proibição do sexo seja uma ilusão. A ilusão, para ele, está em fazer dessa proibição o elemento central e constituinte a partir do qual se poderia escrever a história do sexo na Idade Moderna. Para Foucault, todos os traços negativos, tais como proibições, recusas e negações, que para a hipótese repressiva constituiriam um grande mecanismo central da negação, não passam de peças que têm uma função local e tática num aparato discursivo, numa técnica de poder, numa vontade de saber que não se reduzem a isso.”
3) Uma paráfrase legítima (aceitável, pois há realmente a reelaboração do proposto com as palavras do autor do artigo)
“Foucault (1979) não pretende negar que depois da Época Clássica houve uma forte repressão do sexo. A questão, para ele, não está em negar a realidade dessa repressão. O que ele questiona é que se possa compreender a história do sexo na Idade Moderna tendo essa repressão como elemento central. Para Foucault, não é a negação do sexo que é o mais importante, mas sim as formas pelas quais o sexo foi colocado em um discurso que é parte integrante de um processo mais amplo, constituído, além disso, por técnicas de poder e por uma vontade de saber.”
Claro que, ainda que se faça uma boa paráfrase de um autor, a autoria daquele discurso deve ser sempre evidenciada, citando-se o nome do autor e o data do texto. Por exemplo, “Foucault (1979)”, como feito no exemplo 3, logo acima.
Uma forma de citação que deve ser empregada com muito cuidado é a citação secundária, no estilo apud, aquela na qual se menciona a fala de um autor que se leu por meio da citação de outro autor. Sempre que possível, vá ao autor “primário” e leia-o.
Existem algumas expressões ou modos que sinalizam a abertura do texto para o pensamento ou a voz alheia, no discurso científico. Antes de citar algumas, no entanto, chama-se a atenção para que essa passagem seja o mais natural possível no texto, que surja em decorrência da argumentação traçada e não imposta abruptamente ao leitor.
Algumas formas de se introduzir a fala do autor diretamente:
O autor x menciona “….”
Cunha (1999) propõe que “…”
Orlandi postula que “…”
O autor x afirma “…”
O autor x indica “…”
Fulano define X como “…”
E de se fazê-lo indiretamente (note o emprego da vírgula):
Conforme propõe x, …
No entender do autor x, …
De acordo com Fulano, …
Para o autor x, …
Como afirma Fulano, … No entendimento de Fulano, …
Pode-se, ainda, subdividir o desenvolvimento nas seguintes partes: uma para tratar da parte da fundamentação teórica, outra para tratar da metodologia e outra para tratar da análise e da discussão de resultados. Essa divisão é mais comumente encontrada em artigos práticos, de análise ou estudo de caso.
Também, é preciso lembrar-se de nomear e citar as fontes dos quadros, figuras, mapas, tabelas, gráficos e de outras ilustrações que apareçam no texto, pois é preciso orientar o leitor sobre o que é aquele elemento, a que ele se refere e de onde saiu. Lembre-se que uma das características do artigo é ser embasado.
Como é passível haver certa dificuldade para se saber como iniciar o parágrafo de um texto científico, serão deixadas aqui algumas sugestões. São elas:
1) Iniciar por uma pergunta ou uma série de perguntas (para se discutir o problema nas páginas seguintes).
Ex:
São duas as questões que orientam esta minha exposição:
1. De um lado, como a teoria e análise do discurso está constituída hoje (a que metáforas recorre para compreender e se fazer compreender)?
2. Como o discurso é conceituado na contemporaneidade?
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.37.
2) Uma afirmação:
Ex:
Estamos, pois, no momento de uma virada na análise do discurso. Inauguração de um novo campo de questões. Uma nova conjuntura histórica da discursividade leva a análise do discurso a novas indagações. […]
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.43.
3) Uma citação:
Ex:
O político, ou o melhor, o confronto do simbólico com o político, como diz M. Pêcheux (1975), não está presente só no discurso político. […]
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.55.
4) Apresentação de um argumento que se vai contradizer:
Ex:
Aí se iludem os que reduzem a análise, afirmando só existência do discurso, absolutizando-o. Como M. Pêcheux, gostaria de reafirmar que além do real da língua há o real da história. E é deste real que se trata quando nos colocamos criticamente […].
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.34.
5) Anúncio de um acontecimento para confirmá-lo ou refutá-lo:
Ex:
Com o fim da guerra fria tem-se a ilusão de que nasce a “comunidade internacional”. O mundo é Um. Mas a aparente unificação planetária esconde profundas disparidades (BRUNEL, 2007). As tecnologias progridem, mas não abolem o tempo e o espaço. A distância se aprecia em função do equipamento os lugares em redes que define sua acessibilidade.
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.24.
6) Descrição de uma transformação sócio-histórica:
Ex:
Nos anos 1960/1970, estávamos no contexto da Guerra Fria, pegos pelas questões postas pela relação entre esquerda e direita, pela política praticada na relação entre USA e URSS. […] No século XXI, nossas questões passam pela mundialização e seus efeitos nas políticas dos estados nacionais […].
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.24.
7) Uma definição:
Ex:
A natureza humana é constituída de pulsões, sendo que, as duas principais, instaladas em todo indivíduo, são: – a pulsão alimentar, econômica, lógica, que conduz a uma propaganda do raciocínio argumentado, fundado na educação pela observação e reflexão; – a pulsão afetiva, agressiva, combativa, desembocando em uma propaganda militar de reflexos e de emoções, apoiada em uma liturgia estético-religiosa dos signos e gestos.
Retirado de Eni Orlandi, “Discurso em análise: sujeito, sentido, ideologia”. 2012, p.111.
8) Referência à etimologia ou à significação de uma palavra:
Ex:
Se buscarmos a palavra francesa connaissance, podemos observar que o termo conhecimento é originário da palavra nascer (naissance). Os homens são diferentes dos outros seres exatamente pela capacidade de conhecer, sua consciência. O conhecimento é uma forma de estar no mundo, e o processo do conhecimento mostra aos homens que eles jamais são seres prontos ou possuem formulações absolutas na medida em que estão sempre nascendo de novo, descortinar a realidade.
Retirado de Ivana Schnitman, “ Metodologia do Trabalho Científico”, 2011, p. 9.
Foram citadas algumas maneiras de iniciar-se o parágrafo, muitas outras existem e podem ser empregadas pelos redatores do artigo. O importante é primar-se pela qualidade da escrita tanto quanto do que é escrito. As duas juntas dizem igualmente do pesquisador e de sua competência.
A concisão, a objetividade e a clareza são qualidades textuais que deverão ser tomadas como referência de linguagem. E nem sempre essas qualidades são obtidas na versão preliminar da escrita, merecendo-se assim retomar o texto, após a finalização da primeira versão, para uma cuidada revisão textual. Afinal, toda escrita é orientada para um leitor, que merece o nosso cuidado.
g) A conclusão ou considerações finais refere-se à parte final do artigo, na qual se apresentam as conclusões correspondentes aos objetivos e hipóteses levantadas inicialmente. Ou ainda, às conclusões possíveis decorrentes do que foi exposto no artigo. Nela, podem aparecer algumas sugestões de pesquisas futuras.
h) As referências bibliográficas devem se referir aos textos empregados no artigo, citados ao longo deste, e não a todos àqueles lidos para a sua elaboração. Deverão estar de acordo com as normas da ABNT vigente, no caso atual, trata-se da NBR 6023.
i) O apêndice é um elemento opcional e refere-se ao texto ou documento elaborado pelo autor do artigo, com finalidade de complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho. De acordo com a NBR 6022, o(s) apêndice(s) é identificado por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos.
Exemplo citado na NBR 6022/2003:
APÊNDICE A – Avaliação numérica de células inflamatórias totais aos quatro dias de evolução
APÊNDICE B – Avaliação de células musculares presentes nas caudas em regeneração
j) O anexo refere-se ao texto ou documento não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração em seu artigo. A NBR 6022 propõe que o(s) anexo(s) sejam identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos.
Exemplo citado na NBR 6022/2003:
ANEXO A – Representação gráfica de contagem de células inflamatórias presentes nas caudas em regeneração – Grupo de controle I (Temperatura…)
ANEXO B – Representação gráfica de contagem de células inflamatórias presentes nas caudas em regeneração – Grupo de controle II (Temperatura…)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir dos elementos abordados neste texto, forneceu-se um arcabouço metodológico e textual que permite aos estudantes orientarem-se para a produção de artigos científicos com mais qualidade no âmbito deste gênero textual, o qual apresenta especificidades que precisam ser seguidas, a fim de que “pesem” positivamente para a aceitabilidade do texto dentro da comunidade discursiva da área em que se insere.
Mestre em Letras, Professora de Técnica de Redação Jurídica e de Leitura e Produção de Textos no curso de Direito. Autora dos livros: Ensaios de Leitura Crítica Leitura e Escrita: Nuances Discursivo-Culturais
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