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Pão e circo

Há muito, para que se aplaque a zanga do povo e se continue a manipulá-lo, se lhe dá “pão e circo”. Os “poderosos” o fazem, certos de que, na ignorância que o caracteriza, lhes basta encher estômagos e divertir consciências inconscientes dessa manipulação. É a antiga e surrada estratégia perversa, pela qual escondem seus malfeitos e se perpetuam no PODER, quais ratos em volta do queijo.

Este é um mundo difícil, não há dúvida. Em regra, os mais humildes não passam de massa de manobra nas mãos dos saltimbancos de plantão, a ridicularizá-los, com ares de sabedoria e superioridade. E, neste mundo, este País não foge à regra. Os festins licenciosos, em que imperam a total ausência de moral, acenam com aquela antiga perspectiva (histórica mesmo), de que tudo ficará bem, apesar do malfeito, desde que se mate a fome física e se realizem espetáculos circenses, pantomimas para iludir a população, tida e vista, pelos “comandantes”, como palhaços a lhes atender às conveniências.

Mas, sendo o homem um ser que evolui e estando o povo constituído de homens, é evidente que, na medida das luzes de seu esclarecimento, chega o tempo em que se lhe faz preciso outro tipo de alimento – o “pão do espírito”. Seu intelecto, desperto, pede algo mais que a comida física; e vai além – já não se satisfaz com a posição de bufão, comediante burlesco no circo da Vida, a divertir os sanguessugas que o tem escravizado.

Todavia, apesar disso, são teimosos os “senhores da situação”. Continuam a se fartar, a mais não poder, à vista e aos olhos, que começam a algo ver, de um povo sofrido, prisioneiro do círculo vicioso da falta de reais oportunidades de aprender e crescer.

E os espetáculos aéticos se repetem, na presença das muitas vítimas que, enxergando, se sentem impotentes à reação, pelo sistema estabelecido e pelas ramificações desse “gigantesco polvo”, de tentáculos sufocantes, a se espraiarem pela alma dorida de quantos lhe sofram a ação.

Muitos, a grande maioria, continuam cativos do egoísmo de poucos, que, à distância da honradez e dos princípios sobranceiros que devem nortear a vida social, fazem e desfazem, hoje, por cima e por debaixo do pano, certos de que ficarão impunes, pois, segundo inda pensam, ao povo basta pão e circo, sem se darem conta de que são os verdadeiros palhaços e de que uma justiça imanente e superior os haverá de atingir, um dia.

As cenas de descalabro moral se seguem, repetidas vezes, perante a aparente indiferença de muitos, mercê da gritante inversão de valores dos tempos atuais. O que, por princípio, não é correto, hoje tem sido considerado – em dadas circunstâncias – natural. Trouxa, dizem, de quem persevere na honestidade, cultuando os princípios de outrora e venerando os ensinamentos dos ancestrais.

E, por aí, a vida segue, no esmagamento do que há de melhor e na reiteração de velhas mazelas de dominação, sem quase nenhuma reação. De fato, ouvidos se fazem surdos ao rumor de conciliábulos diversos, ou por ignorância, ou por conveniência, ou por temor. Realmente, vozes emudecem, ante o tropel avassalador de ações inconfessáveis. Nesse contexto, a alma do povo se esvai, sem o escudo de lideranças verdadeiras e boas, comprometidas com aqueles antigos e sempre atuais princípios éticos e dignificantes.

Por inferência, todos poderão saber, nos tempos vividos, daquilo e daqueles a quem aqui se refere; até porque, a carapuça lhes cabe perfeitamente e de muitos é conhecida. Que os homens de valor desta Nação – que existem – fujam ao letargo e comecem a agir, para que, no grande circo da Vida, se convide a população a algo mais que palhaçadas em meio ao pão da indigestão.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Edison Vicentini Barroso

 

Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP

 


 

Equipe Âmbito Jurídico

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