“Todo conhecimento para ser pertinente deve contextualizar seu objeto”. EdgarMorin
Edgar Nahoun (1921 – ), que já em 1942 resolve substituir o sobrenome Nahum por Morin[1]é um dos principais filósofos contemporâneos franceses. Coincidência ou não, sua trajetória intelectual não se pautou pela verticalização de um conhecimento específico e formal, obtido nos bancos universitários[2]. Acerca de sua brilhante jornada acadêmica, culminou no Centro Nacional de Pesquisa Científica – CNRS, onde é pesquisador emérito, além de ser agraciado e homenageado por várias outras universidades do mundo[3].Os vários livros escritos por Morin refletem sua preocupação com temas relacionados à complexidade das questões sócio-antropológicas e políticas da humanidade, aos problemas éticos e às implicações decorrentes do atual curso que as ciências trilharam[4]. Tem-se como premissa neste trabalho, apresentar reflexões críticas, acerca do livro Ciência com Consciência[5] de modo particular ao capítulo 5 ‘’a responsabilidade do pesquisador perante a sociedade e o homem’’[6].
Ao tratar sobre a responsabilidade ética, o autor nos demonstra, a necessidade mútua em se respeitar a particularidade, ou melhor, a individualidade de cada ser. Ele trabalha ainda, com a necessidade de um pensamento complexo, defendendo em seus estudos que, um pensamento complexo é algo capaz de cuidar da coexistência de opostos. Nesse sentido tem-se então, a proposta para se discutir a ética frente à ciência.
É evidente que esta leitura nos faz caminhar para um pensamento de que, a ciência verdadeiramente não tem consciência. Afirmo isso uma vez que, imaginemos tudo que é construído, criado, descoberto e inventando é sobre o prisma da tecnologia e ciência, tendo como base de interesses, o fator pessoal que caminha junto com o capitalismo seguido da política. No mundo globalizado da ciência sem consciência, encurtam-se as distâncias e o caráter também[7]. Torna-se claro então que a ciência e a consciência, deveriam caminhar em comum acordo de vontades, visando aquilo que ambos tanto defendem, que são a proposta de diminuição da pobreza, uma educação de qualidade e respeito mútuo as diversidades existentes, focando no desenvolvimento sustentável.
Ao analisarmos nosso tema proposto, Edgar Morin, retrata a responsabilidade do pesquisador como algo não tão simples de se resolver ou até mesmo falar. Por exemplo, Morin refere tratar-se de um problema difícil, pois os pesquisadores estariam embalados entre a irresponsabilidade e a culpabilidade[8].
Para Morin, (2001, p. 152)
“A irresponsabilidade é ver a ciência como um eremita admirável num universo mau. Se abomba atômica ameaça destruir a civilização, a culpa é evidentemente dos maus políticos e não nossa!Ora, ciência, técnica, sociedade são certamente coisas distintas, mas não separadas. Elas se entreinfluenciame se entre-transformam e produzem forças de manipulação enorme que dão à humanidade umpoder demiúrgico – o conhecimento científico também produziu as forças potenciais de submissão eaniquilamento. Então, nós nos arriscamos a cair na culpabilidade”.
Partindo de tal argumentação utilizada pelo autor, temos assim uma tarefa difícil, a qual reside no aspecto de entender simultaneamente o “bom” e o “mau”[9] lado da ciência. Sobre este prima, os problemas que permeiam a ética e os problemas científicos, são frutos ou mesmo espelhos de uma complexidade que permeia a vida moderna atual, de onde se exige com maior fundamento, uma ética da responsabilidade que possa de forma respeitável resguardar essa complexidade.
Nesse sentido, refere que “o ser humano está no ser vivo e o ser vivo está no ser humano. Precisamos tentar pensar o complexo bio-antropológico. A organização do nosso corpo é complexa, mas, além disso, somos indivíduos integrados na complexidade cultural e social. A complexidade não explica; é o que deve ser explicado”[10].
Pedindo autorização a você leitor, faço mister citar, uma de suas outras obras, onde Morin agrega tantos outros aspectos reflexivos e cuidado acerca dos termos em que concebe a responsabilidade. É de suma importância estabelece neste trabalho, uma melhor assimilação e compreensão da própria complexidade defendida por Morin (2000, p. 35),
“Somos responsáveis? Do que somos responsáveis? Responsabilidade! Cada um de nós pode, mais ou menos, sentir-se responsável ou culpado. Mas a responsabilidade não é um conceito científico. Porque a responsabilidade não tem sentido senão com relação a um sujeito que se percebe, reflete sobre si mesmo, discute sobre ele mesmo, contesta sua própria ação. O cientista se sente responsável. Mas ele deve tratar esse problema da responsabilidade como qualquer cidadão, com aquela diferença que o faz justamente em alguma coisa que pode produzir vida e morte, sujeição ou libertação.”
A análise hora discutida demonstra que os problemas que permeiam a ética e a ciência, são reflexo de uma complexidade que se envolve junto a vida moderna. É nesse momento, que se evidencia, se cobra ou que se exige uma ética pautada sobre os pilares e princípios da responsabilidade, podendo tão somente assim, ser responsável por está complexidade. Nesta esteria intelectiva, fica evidende que a ciência não têm consciência, de que lhe falta a própria consciência. A responsabilidade não pode ser estabelecida apenas para a ciência, uma vez que, ela não consegue preencher as lacunas dentro da sociedade, mas, sim o ser humano e a complexidade de suas ações e relações, a quem a ciência deve estar ligada, disponível e a serviço.
De tal modo, esse seria o melhor comportamento para a ciência jurídica e para com seus operadores, pois são eles que exercem e lutam por um papel igualitário transformador, frente à sociedade.
Mestrando em Constitucionalismo e Democracia pela Faculdade de Direito do Sul de Minas (FDSM/MG). Possui gradução em Direito pela Unisulbahia Faculdades Integradas, Especialista em Direito da Tecnologia da Informação pela Universidade Gama Filho. Possui Curso de Extensão em Direito da Tecnologia da Informação pela FGV – Fundação Getúlio Vargas. Membro do (IBDH) Instituto Brasileiro de Direitos Humanos. Palestrante e Conferencista.
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