A globalização como uma incógnita sobre a necessidade de uma identidade

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Resumo: Ponto importante que fundamenta o conceito de identidade é a questão do reconhecimento de uma identidade por exclusão de outra. A identidade também é marcada por símbolos sendo estes formas de identificação e de percepção da existência de determinada cultura, de um determinado grupo, de uma identidade. A globalização possui alguns fatores que influenciam diretamente nesta perspectiva da necessidade e das mudanças sofridas na identidade, demonstrando assim a importância de tratar do tema.


Palavras-chave: Identidade. Globalização. Aspectos gerais.


Sumário: Resumo. 1 Introdução. 2 Conceito de Identidade. 3 Globalização: seus fatores diante do conceito de identidade. 4 Conclusão. 5 Referências Bibliográficas.


1 INTRODUÇÃO


Com o advento do crescimento e expansão do fenômeno da globalização os conceitos científicos e tecnológicos tomaram novos rumos. Entre estes conceitos os de cultura, identidade.


Há a necessidade de fazer uma nova observação destes conceitos, com o objetivo de analisar melhor as pretensões e incógnitas correlacionadas com o fenômeno global.


É necessário fazer uma análise da verdadeira posição que a globalização tem com relação as culturas e se o global atinge as identidades multiculturais de forma positiva ou negativamente.


Analisar estes parâmetros é fundamental para entender as posições das culturas mundiais na atualidade e reconhecer o fenômeno global como peça chave ao entendimento identitário dos grupos sociais.


2 CONCEITO DE IDENTIDADE


Nos últimos tempos se deu uma busca e também a necessidade de se identificar, ou seja, de se ter um conceito de identidade. Na verdade a identidade não é um assunto novo, pois, sempre existiu, o que acontece que é mais atualmente que se dá a preocupação com a busca da identidade, ou melhor pela sua observância de forma cuidadosa.


Ao falar em identidade, em um primeiro momento, nos dá a impressão que não existem assuntos que se correlacionem ao tema, nem mesmo que haja muito para se discutir sobre o assunto apresentado.


A identidade está diretamente ligada ao homem e a este enquanto membro de um grupo social. Exemplo muito claro nos dá a autora Kathryn Woodward, ao relacionar para melhor explicar o conceito de identidade, as relações existentes entre dois grupos sociais:


“Essa história mostra que a identidade é relacional. A identidade sérvia depende, para existir, de algo fora dela a saber, de outra identidade (croácia), de uma identidade que ela não é, que difere da identidade sérvia, mas que, entretanto, fornece as condições para que ela exista. E identidade sérvia se distingue por aquilo que ela não é. Ser sérvio é ser um “não croata”. A identidade é assim mercada pela diferença.” (WOODWARD, Kathryn, 2000,p.9).


A identidade de um grupo social somente existe e se estrutura na visão de outra identidade cultural, ou seja, o ser diferente é que acaba por dar esqueleto e sustentação ao outro grupo social.


Ponto importante que fundamenta o conceito de identidade é a questão do reconhecimento de uma identidade por exclusão de outra, como por exemplo, o que a já citada autora menciona que sendo sérvio significa não ser croata.


A identidade também é marcada por símbolos sendo estes formas de identificação e de percepção da existência de determinada cultura, de um determinado , de uma identidade cultura.


Esses símbolos funcionam como um significante, determinante da diferença e da prevalência de uma identidade específica. A autora Kathryn WoodWard aponta um fundamento sobre os símbolos como conseqüência material de determinação da identidade: “Assim, a construção da identidade é tanto simbólica quanto social. A luta para afirmar as diferentes identidades tem causas e conseqüências materiais”.


A identidade se apresenta de forma a dar autonomia para um determinado grupo com as suas respectivas culturas identitárias. O autor Tomaz Tadeu da Silva aponta a identidade como uma auto-afirmação:


“A identidade é simplesmente aquilo que se é: “sou brasileiro”. “sou negro”, “sou heterossexual” (…). A identidade assim concebida parece ser uma positividade (“aquilo que sou”), uma característica independente, um fato autônomo. Nessa perspectiva, a identidade só tem como referência a si própria ela é auto-contida e auto-suficiente.” (DA SILVA, Tomaz Tadeu, 2000 p10).


Na verdade com relação a essa auto-suficiência, tem-se que dar ênfase ao fato de que a identidade caminha junto com a diferença, fundamento base para evidenciar uma cultura de outra.


O já referido autor, oportunamente, afirma que “assim como a identidade depende da diferença, a diferença depende da identidade. Identidade e diferença depende da identidade. Identidade e diferença são, pois, inseparáveis.”(DA SILVA, Tomaz Tadeu, 2000, p. 68/69).


3 Globalização: seus fatores diante do conceito de identidade


A globalização está apresentada como fenômeno que está acabando com as identidades. Stuart Hall aponta a globalização como um fenômeno que atravessa fronteiras nacionais:


“A globalização se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço – tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. A globalização implica um movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica da sociedade como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e do espaço.” (HALL, Stuart, 2000, p. 75).


A globalização surge abarcando todas as identidades culturais, formando um conjunto onde tudo e todos estão em um mesmo ambiente. Surge neste sentido novas formas de conhecimento, de cultura, de símbolos e de identidades.


A globalização acaba com os limites que até a poucos anos atrás existiam no âmbito das sociedades, acarreta com isso, então uma homogeneização de culturas, apresentando efeitos dentro do conceito e de exteriorização da sociedade.


O autor Joanildo Burity mostra a posição tradicional da identidade e o processo de evolução com a globalização:


“Tradicionalmente, a idéia de identidade foi associada a um “seu-próprio” que não se dividia com outros, que se pretendia proteger dos outros e que determinava uma uniformidade interna entre os “portadores” de tais atributos. Além disso, a identidade se revestia de uma atemporalidade que escondia tanto a história de seu desenvolvimento como a existência de outras possibilidades de sua expressão que foram preteridas ou derrotadas ao longo desta história. O cenário da globalização, ao alterar os processos tradicionais de produção e reprodução da identidade, confronta-a com sua própria historicidade – e, portanto, com a possibilidade de ser diferente de si mesma, heterogênea consigo mesma – e com a relação ao outro – e, portanto, com a necessidade de reconhecer dentro de si a presença (ausente) de outros sujeitos e de negociar com eles suas demandas e valores”. (Joanildo Burity, 2001)


Interessante, também, é a reflexão que o autor Stuart Hall faz com relação as conseqüências da globalização nas identidades culturais, examinando que:


“As identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do crescimento da homogeneização cultural e do “pós-global”. As identidades nacionais e outras identidades “locais” ou particularistas estão sendo reforçados pela resistência a globalização. As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas- estão tomando seu lugar”. (HALL, Stuart, 2000, p. 69).


A primeira conseqüência aponta para um fato típico desenvolvido pela globalização onde as identidades, bem como seus símbolos estão sendo destruídos, o que atinge os grupos culturais, principalmente os menores.


Em segundo lugar também como conseqüência aos aspectos da globalização, questão impressionante, qual seja, a de que ao invés de muitas identidades culturais e também a sua simbologia estarem se homogeneizando, se tornando um único conjunto ou grupo cultural, o fenômeno que está se dando, é totalmente contrário a esta reflexão, uma vez que as culturas específicas de determinados grupos estão lutando para buscar a concretização e segurança para a sua própria identidade.


Estes grupos locais estão fortalecendo as suas barreiras para que seu conjunto de idéias consiga caminhar sem que a globalização os atinja e faça desaparecer a intimidade cultural dos grupos sociais.


A terceira conseqüência apontada é que há um declínio das identidades nacionais, dando então espaço para novas formas de identidade.


Ocorre que ao apontarmos que existem grupos sociais que procuram proteger seus aspectos identitários, não está-se negando a existência de novas identidades, pois está ocorrendo o surgimento de novas formas indentitárias, usufruindo de vários aspectos principalmente o do hibridismo, que Stuart Hall, aponta “hibridismo a fusão entre diferente tradições culturais são uma poderosa fonte criativa, produzindo novas formas de cultura, mais apropriadas à modernidade tardia que às velhas e contestadas identidades do passado.” (HALL, Stuart. 2005, p. 91).


Na verdade observa-se que ao mesmo tempo em que ocorre a homogeneização de várias culturas formando uma nova identidade, esta hibrida, há também a questão da busca e da resistência das culturas e ai das identidades locais como forma de afirmar em um mundo globalizado.


Dentro desta idéia de busca da resistência da identidade local em posição a globalização e sua homogeneização, Stuart Hall, lecionando idéia por Kevin Robin:


“Ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da alteridade. Há juntamente com o impacto “global”, um novo interesse pelo “local”. A globalização (…) na verdade, explora a diferenciação local. Assim, ao invés de pensar no global como “substituindo” o local seria mais acertado pensar numa nova articulação entre “o global” e “o local”.” (HALL, Stuart, 2005, p. 77).


Engana-se se assim quem pensa que a globalização rouba a cena e acaba por abater as culturas étnicas individuais o eu aparece na idéia dada pelo autor é de que há especo para todas as culturas e identidades, aqui parece mais provável que esta possa produzir, ainda, novas identidades.


Muitos ainda apontam que a globalização detém um poder dentro do globo e que também seria um fenômeno acidental, embora afete o globo como um todo, fenômeno este que junto com a evolução da modernidade acabou confundindo o ser humano que está perdido em seu conceito de identidade. 


Voltando a idéia da globalização como possibilidade de preservar as culturas dos grupos étnicos, pode-se perceber que apesar dos grupos estarem procurando preservar sua identidade estas mostra-se estes mostra-se abertas para as influências culturais externas.


O global pode até intervir nas culturas existentes e no modo de vida de seus personagens, mas, no momento em que estes lutam para manterem as suas identidades, estes acabam até mesmo se interessando em conhecer a cultura e a identidade do outro, como forma indireta e por que não, até mesmo direta de conhecer e efetivar o multiculturalismo.


O autor Getúlio José Moreira da Costa, acompanha este mesmo raciocínio apontando:


“Nessa mesma linha de raciocínio, poderíamos salientar para o fato de que a globalização acaba por diminuir, muitas vezes, o sentimento nacionalista dos povos em relação ao seu Estado-nação, através do desenvolvimento de relações sociais entre comunidades de diferentes países, como também pode acelerar esse sentimento, fazendo fortalecer os laços de identidade cultural regional.” (COSTA, 2008).


Já o autor Boaventura de Souza Santos em seu livro Reconhecer para libertar, faz menção entre suas teses sobre multiculturalismo emancipatório e as lutas contra a dominação, das formas de resistência entre o local e o global;


“Diferentes formas de opressão de dominação geram formas de resistência, de mobilização, de subjetividade e de identidade coletivas também distintas, que invocam noções de Justiça diferentes. Nessas resistências e em suas articulações locais, globais reside o impulso da globalização contra-hegemônica.” (SOUZA SANTOS, Boaventura. 2003, p. 61).


Observa-se que da opressão e da humilhação, pode surgir uma nova forma de resistência das identidades, ou acarretar o surgimento de novas perspectivas identitárias, aqui destaca-se o trabalho de uma globalização que se volta contrária a modalidade voltada para a hegemonia.


Mais adiante o mesmo autor ainda considera em outra tese que:


“O sucesso das lutas emancipatórias depende das alianças que os seus protagonistas são capazes de forjar. No inicio do século XXI, essas alianças têm de percorrer uma multiplicidade de escalas locais, nacionais e globais, e têm de abranger movimentos e lutas contra diferentes formas de opressão.” (SOUSA SANTOS, Boaventura. 2003, p. 64).


O reconhecimento e a liberdade das culturas e das identidades geralmente passam por lutas nacionais e globais, abrangendo os movimentos sociais e todas as formas de opressão contra estes.


A globalização abrange um fenômeno, que no mínimo é duplamente intrigante, pelo fato que em últimas conseqüências acaba com as culturas minoritárias dando espaço as culturas dominantes, fazendo com que, estes grupos percam sua identidade originária; e por outro fortalece determinadas culturas que buscam a partir deste fenômeno preservar e conservar sua identidade cultural.


A globalização e a multiplicidade de culturas, ou seja, o multiculturalismo são compostos de várias divergências entre os dois, mas ao contrário do que pode-se pensar estes podem caminhar juntos, desde que possam atingir o entendimento de obterem um ponto de equilíbrio.


4 Conclusão:


Estudar as questões que envolvem a identidade e a globalização requerem uma analise aprofundada destes fenômenos e seus efeitos na vida em sociedade, o que se revela difícil de embasar em poças laudas.


A identidade deve ser buscada por cada ente do grupo social e cultural, através de seus costumes e símbolos, para que não se parca as suas origens culturais em meio aos processos identitários modernos.


A globalização, ao contrário, do que muitos pensam, ajuda a sedimentar e concretizar as culturas dos povos, preservando assim as suas identidades. Claro que, não se pode negar que a globalização também possui aspectos negativos com relação a identidade, como o que ocorre quando determinadas pessoas passam a viver diariamente a partir da cultura de massa, ou da cultura do outro.


Ao mesmo tempo em que a globalização, com suas culturas de massa, procuram homogeneizar o mundo em uma única identidade cultural, este fenômeno acaba também acarretando a busca dos pequenos grupos pela preservação de sua identidade originária.


Ocorre que com o mesmo processo global, ainda surgem, como já evidenciado, novas identidades, a partir, das já existentes, mas somente tem base própria e determinação na sociedade aquele que detém seu lugar no seu grupo social, da mesma forma que sabe manter o equilíbrio com as identidades e inovações advindas do processo moderno e global.


 


Referências bibliográficas:

Burity, Joanildo. Globalização e identidade: desafios do multiculturalismo. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br/tpd/107.html>. Acesso em: 28. jun. 2008.

COSTA, Getúlio José Moreira da. Globalização e a perda da identidade do Estado Nação. Disponível em: <http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/getulio.html>. Acesso em: 30. jun. 2008.

DA SILVA, Tomaz Tadeu; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

SILVA. Tomaz Tadeu da. (org.). Identidade e Diferença a perspectiva dos estudos culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

SOUSA SANTOS, Boaventura. Reconhecer para Libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

Informações Sobre o Autor

Carina Deolinda da Silva Lopes

Advogada em Santa Maria (RS), Mestre em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões de Santo Ângelo/RS. Pós-graduada em Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa Catarina; Pós-graduada em Direito Processual Civil pela Universidade Luterana do Brasil campus Santa Maria/RS.


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Equipe Âmbito Jurídico

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