OS MÉDICOS: Uma metáfora sobre a vaidade, que quase venceu os objetivos de uma profissão

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No século XVI, um recém-formado em Medicina, por ideal, resolveu fazer residência em Obstetrícia e com isso, como dizia, “seria o responsável pelo início da vida!”.

Terminado o curso, enfrentou o difícil certame público para Médico de sua Província-natal, sendo aprovado em ótima colocação e recebido com glórias por aquela comunidade. E ali seguiu vitoriosamente sua carreira, fazendo os partos dos filhos de Prefeitos, Juizes e de outras autoridades, bem como dos filhos dos artesãos, dos tecelões e dos lixeiros locais.

Um dia, noticiou-se que a Rainha, que teria nascido coincidentemente na Província do Médico-Obstétra, estaria grávida de seu primeiro descendente. O Rei, muito feliz, exigiu que seu primogênito nascesse naquela Província, a fim de homenageá-la.

O Médico-Obstetra foi procurado pelo Palácio para presidir o parto, sentindo-se muito honrado com o dificultoso e importante fardo daquele notório acontecimento.

Acontece que a Câmara dos Médicos do Palácio, forte Instituição da Capital, pressionou e conseguiu que o Senado aprovasse rapidamente uma Lei que dizia: “Os importantes nascimentos do Reino devem ser presididos apenas pelos Médicos da Grande Câmara.do Palácio”.

Foi enviado pela Câmara, destarte, um Médico-Pediatra para acompanhar a gestação e presidir o parto da Rainha.

Desapontado e prostrado com tal situação, o Obstetra procurou o Presidente da Câmara dos Médicos questionando a indicação, já que o Pediatra, apesar de ter sido seu colega de sala na Faculdade de Medicina, não teria conhecimentos específicos para o respeitável parto.

Ouviu do Presidente que apesar de terem sido colegas nas cátedras universitárias, o cargo do Pediatra junto à Câmara lhe dava notoriedade pública e maior importância e que inclusive ganhava ele o triplo do salário do Obstetra provinciano. Além do mais, a Pediatria cuida de toda a vida da criança até o final de sua juventude. “Ora, quem cuida da vida de uma criança por toda uma infância, tem plena capacidade de presidir sua nascença pois QUEM PODE MAIS, PODE MENOS!” Assim encerrou-se o assunto…

No dia do parto, o Pediatra ao ver a Província em festa, com a presença do Rei, das principais autoridades e dos membros da Câmara, resolveu chamar a imprensa para cobrir a tão famosa cirurgia.

Desrespeitando a ética Médica do segredo profissional e da tranqüilidade do parto, colocou os principais veículos de imprensa do Reinado na sala de operação e descreveu a eles todos os dados do pré-natal e das atividades cirúrgicas. Descreveu inclusive algumas intimidades da Rainha.

Iniciado o trabalho de parto, foi retirado o lindo bebê do ventre da Primeira-Dama com um grito em coral pelos jornalistas: “É uma menina!!!”.

Durante aquele momento de comoção, o Pediatra não reparou que a Rainha sofria um “choque anafilático”, perdendo completamente os sentidos.

O Obstetra provinciano, que fazia a mesma cirurgia na sala do lado viu o impaludismo da Rainha e o “roxeamenento” de sua boca. Observou o desespero do Pediatra e dos Jornalistas que não sabiam o que fazer. Correu para a sala dos “notáveis”, iniciou uma massagem cardíaca e aplicou uma injeção no braço da neófita mãe. O quadro clínico se estabilizou e a Rainha voltou ao normal.

Todos aqueles que acompanharam o parto, assustados com o acontecimento, perguntavam sobre o fato. O Obstetra respondeu que o Rei tinha sangue positivo, da mesma maneira que o nascituro. A Rainha, ao contrário, tinha sangue negativo. Ao nascer, há uma leve troca sanguíneo-umbilical entre mãe e filho, o que ocasionou o incidente. Se a massagem não fosse feita e a vacina não fosse dada, a Rainha poderia ter morrido ou não poderia mais gerar outros filhos, o que inviabilizaria o nascimento de um filho homem, indispensável para a normal troca da coroa.

Envergonhado, o Pediatra viu que sua vaidade era maior que seu conhecimento. Enfim notou que a importância da profissão não está no cargo que ocupa ou no salário que ganha. Pensou: “A Pediatria não é mais importante que a Obstetrícia. São atividades totalmente distintas, apesar do mesmo propósito. O Obstetra “investiga” o feto com o pré-natal, descobrindo o sexo do bebê, buscando métodos para mantença de sua saúde, procurando avaliar a melhor hora e a melhor forma de colocá-lo no mundo. Sua atividade é o início da persecutio vitae. O Pediatra recebe o neonato e “processa” toda a sua infância, cuidado de sua saúde, promovendo sua sobrevivência, até que Deus o faça Homem, quando assim caminhará por si só. Cada um tem o conhecimento específico para suas atribuições e responsabilidades.”

A ignorante e preconceituosa Lei foi derrubada. No ano seguinte, na Capital, o Obstetra presidiu o nascimento do primeiro filho homem do Rei. Na sala de cirurgia só estava o Pediatra, que acompanhava oficialmente o parto, por ordem da Câmara dos Médicos do Palácio que, com sua velada soberba, conseguiu que o Senado promulgasse uma Lei que dava aos seus Médicos da Câmara o poder de acompanhar e controlar externamente as atividades dos obstetras provincianos, quando o parto fosse de repercussão social…

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Geraldo do Amaral Toledo Neto

 

Autoridade Policial Judiciária – MG;
Especialista em Direito Público – Pós Graduação na PUC/SP;
Mestre em Direito Público – Mestrado na PUCCamp;
Membro da Academia Brasileira de Direito Tributário – Estudos dos Crimes contra a Ordem Econômica e Tributária;
Professor da PUC/MG e das Faculdades ASA.
Belo Horizonte, MG.

 


 

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