Para ensinar direito Direito – A necessidade da pedagogia para o curso Jurídico

Resumo: O presente trabalho tem por objeto a pedagogia para o ensino superior, com enfoque no ensino no curso de Direito e os desafios mais freqüentes do professor desta área do conhecimento. Lidando com alunos cada vez mais jovens e exigentes, e com as disciplinas técnicas cada vez mais deslocadas para o início do curso juntamente com as disciplinas básicas introdutórias, o professor de Direito deverá procurar meios de passar seu conhecimento de maneira adequada a este público alvo. Como professor no sentido da palavra, faz-se necessária a interdisciplinariedade, a aproximação das áreas humanas, tais como a psicologia e a pedagogia. Afinal, ensinar, qualquer disciplina que seja, é para aqueles que realmente amam a sua profissão. Mas não basta o amor, deve-se saber educar cada vez melhor, procurando-se meios, discutindo problemas, propondo e acatando as soluções que se entender melhores, sempre em nome do melhor ensino e desenvolvimento do ser humano.


Palavras-chave: Pedagogia; Direito; Ética profissional; Ensino Superior.


Abstract: This paper it´s about pedagogy for higher education, focusing on education in law school and the teacher’s most frequent challenges in this area of knowledge. Dealing with students getting younger and demanding, and technical disciplines increasingly shifted to the beginning of the course along with the introductory courses, professor of law should seek many ways to pass their knowledge adequately to this target audience. As a real teacher, it is necessary interdisciplinarity, the approach in the humanities, such as psychology and pedagogy. After all, teach any subject whatever, is for those who really love their profession. But it´s not just love, they should know better educate each time, looking up resources, discussing problems, proposing solutions and accepting that better understand where in the name of better education and human development.


Keywords: Pedagogy; Law; Professional ethic; Higher education.


Sumário: Introdução. 1. A pedagogia no ensino superior. 2. A pedagogia para o ensino de Direito. 3. Problemas atuais a serem lidados pelo professor. 3.1. Problemas atuais advindos da formação no colégio. 3.2. Problemas advindos com a formação do aluno enquanto pessoa – Individualizações e problemas da modernidade. 3.3. Problema de lidar com matérias mais técnicas com público cada vez mais jovem. 4. O desenvolvimento do aluno especificamente em direito. 4.1. O uso moderado da tecnologia. Considerações Finais. Bibliografia.


Introdução


Não se tem a audácia de propor regras à pedagogia, a autora, uma pessoa formada apenas na área jurídica. Muito pelo contrário, pretende-se apropriar-se dos meios pedagógicos para o ensino do Direito no âmbito do Ensino Superior como forma de melhoria do seu trabalho. Não obstante, faz-se necessária uma reflexão, e a tentativa de resgatar dos ensinamentos da pedagogia, de procurar mais formas de fazer o aluno aprender e se desenvolver de forma plena, mais que isso, como pessoa.


É certo que o ensino lecionado é espécie do gênero educação. Assim, o professor, mais do que sua profissão possa designar, não passa apenas ensinamentos, pois também é um educador, e como tal, forma caráter, forma ética, formar vida.


Com o auxílio da pedagogia, aliada a fatos ocorridos em sala de aula, bem como os ouvidos em conversas com colegas nas salas dos professores, “nos bastidores da educação”, apresenta-se uma série dessas reflexões, também como proposta e ao mesmo tempo como pedido de auxílio, sempre tendo em mente: educar para desenvolver, educar para construir e melhorar.


O enfoque no curso de Direito no presente trabalho, portanto, visa traçar rapidamente um rápido perfil do aluno de direito, suas necessidades, as dificuldades mais recorrentes, os pedidos, as reivindicações, o amadurecimento ao longo do curso, de modo a abrir o olhar do professor deste ramo da educação para vencer dificuldades e primar pela eterna melhoria de seu trabalho.


Mas é com certa ousadia que o presente trabalho tem por base a experiência de não tantos anos de sala de aula, mas suficientes para ao menos trazer ao debate alguns problemas enfrentados pelo professor de direito em sala de aula, a partir da observância dos fatos ocorridos no cotidiano da sala de aula, bem como da conversa com professores extremamente experientes.


Como dito por Carlos Rodrigues Brandão, antes de tudo se deve conhecer a própria realidade. Assim, a pesquisa social está diretamente relacionada à educação: É preciso conhecer a realidade para transformá-la. (BRANDÃO, 2001, p. 11).


Com efeito, é o professor envolvido com o ensino e não aquele que quer apenas repassar o que sabe, sem se preocupar com o aprendizado, que deve ser o mais ouvido. Não é uma questão de títulos. É uma questão de sensibilidade, uma questão de procurar o amadurecimento pedagógico.


Daí que tanto se diz que cada vez mais são necessários professores (em qualquer área do conhecimento) com conteúdo e preocupação pedagógicas. Não apenas pela exigência cada vez mais presente de uma interdisciplinariedade, mas principalmente pelo pressuposto básico da apreensão por parte dos alunos. O professor deve sempre procurar transformar alunos em estudantes, comprometidos com o estudo, a pesquisa e o pensamento próprio.


1. A pedagogia no ensino superior


Como alertado por Piazzi (2010b, p.19), o ensino fundamental e médio são extremamente deficientes no Brasil, acabando por formar (ao menos em boa parte do alunado) uma farsa onde há muitos alunos e nenhum estudante. Ou seja, eles fingem que aprendem, decoram, tiram boas notas e passam de ano – É o culto à nota e não ao real aprendizado.


Piazzi também atribui parcela de culpa aos pais, na educação no âmbito residencial, sendo que também caberia aos pais estimular seus filhos ao estudo e a educação. Afinal, são dos pais que parte o exemplo de se comportar quando uma pessoa fala, do respeito para com o próximo, do hábito da leitura e de procurar o saber. Não deveriam exigir nota, deveriam exigir estudo e aprendizado (PIAZZIc, 2010). E com razão o autor faz tais reflexões.


Em suma: Têm-se um problema social que aos poucos vem sendo objeto da pedagogia para a tentativa de melhoria no país. Logicamente isso reflete de maneira direta no ensino superior, e a preocupação com a metodologia de aprendizado não é e nem deve ser minimizada.


Mas como ter uma pedagogia se não se tem uma aproximação humana, não se pensando no educar? Afinal, dentro da pedagogia, a arte do bem ensinar, segundo Meirieu (1998, p. 24):


“Educar não é só desenvolver uma inteligência formal capaz de resolver problemas de gestão da vida cotidiana ou ao se deparar com dificuldades de ordem matemática. Educar é, também, também, desenvolver uma inteligência histórica capaz de discernir em que heranças culturais se estar inserido.”


A educação não pode passar longe da família e da escola, pois deve ter o auxilio da pedagogia. Pedagogia, do grego paidós (criança) e agogé (condução), não quer dizer que se dirija unicamente a crianças no sentido da palavra. Lembre-se sempre que na universidade, os alunos, por mais idade que tenham, voltam a aprender os primeiros passos da profissão que pretendem um dia abraçar – Voltam a ser crianças dentro daquela profissão, até caminhar para a vida adulta de quando conseguem o seu diploma.


Em tempos atuais, em que a aparência por vezes valhe mais do que o conteúdo, a pedagogia ja se inclina pelo método de ensino e nao mais pela aparência séria e inflexível do professor. A reviravolta está posta: A formação do ser humano é mais importante. A formação e fomento ético com o auxílio do trabalho da didática.


2. Pedagogia para o ensino de Direito


O curso de Direito é marcado por seu formalismo e certo distanciamento dos profissionais hierarquicamente tidos como “superiores” aos outros. Assim, há a tão conhecida (e falsa) cultura de imaginar que o juiz ou o promotor estão em patamar superior ao advogado, o advogado em patamar superior ao seu estagiário, o título em relação ao que é mestre, o professor em relação ao seu aluno.


 Logicamente, não se caindo no erro da generalização, em regra os professores estão distante da realidade dos alunos, não sabendo separar até que ponto suas reclamações são despropositadas ou até que ponto eles realmente estão no fundo “gritando por socorro” em suas dificuldades. Desta forma, por vezes uma aproximação faz-se necessária, quebrando-se o formalismo, ouvindo-se o aluno e suas opiniões. Separar a utilidade e a possibilidade dos meros caprichos e impossibilidades.


O excesso de distância do aluno e a indiferença de apenas pensar que “todo aluno reclama de tudo” e simplesmente manter-se na inércia, faz com que muitos alunos que querem aprender possam se desestimular com a aula, com a matéria e possa, com isso, ter dificuldades e até prejuízos com matérias que são pré-requisitos para outras.


A necessidade cada vez mais marcante da interdisciplinariedade no curso de Direito, como destacado por Barcelar (2008, p. 74), estabelecida nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Direito, Resolução nº 9 de 2004, a qual exige a interrelação não apenas entre ramos do direito, mas principalmente com outros ramos das ciências humanas, é outro ponto a ser destacado, em face da falta de corpo docente preparado pedagogicamente.


3. Problemas atuais a serem lidados pelo professor


Na verdade, os problemas atuais que enfrentam os professores no ensino superior são antigos problemas somados a novos fatores sociais e pedagógicos. A revolução dos direitos da criança e do adolescente, a revolução tecnológica e as demais exigências do mundo globalizado adicionaram mais fatores aos antigos desafios do sistema pedagógico do ensino superior.


Apesar de seu conhecido pessimismo poético, Arthur Schopenheuer (2008, p.19-20) já anunciava o problema de uma nova geração que devoravam os “resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado”, sempre tendo em mira apenas a informação, e não a verdadeira instrução.[1]


Mas por seu próprio estilo, atribui a culpa a alguns tipos de professores, aos que faz uma dura crítica: aos que são superficiais, apenas querem ganhar dinheiro e destaque, os sofistas, os mero especialistas que não possuem conhecimento de outras áreas, uma vez que desde aquela época ele já pregava que “a verdadeira formação para a humanidade exige universalidade e uma visão geral” (SCHOPENHEUER, 2008, p. 31).


De forma que, para Schopenheuer, deve-se sempre estimular o pensamento próprio, universalizado, evitando-se com isso “cabeças apenas enciclopédicas” (SCHOPENHEUER, 2008, p. 45).


Hoje, a este mesmo problema, junta-se o comodismo moderno, a ausência dos pais na educação da criança, a qual cresce e entra para o Ensino Superior com uma série de dificuldades que devem ser pensadas e repensadas de modo a adequar a didática do professor direcionada sempre como ele poderá ensinar de um modo diferente, para dirimir cada vez mais as dúvidas de seus alunos.


Basta uma reflexão simples: E quando o professor foi aluno? E as mudanças que ocorreram na mente dos alunos desta geração? Faz-se necessária paciência, admitir que os tempos mudaram e hoje há problemas os quais devem ser lidados com calma.


3.1. Problemas advindos da formação do aluno no colégio


Como já dito anteriormente, o professor deve estar preocupado sempre na formação do aluno. Mas antes, deve saber quais tipos de alunos irá ensinar, sejam eles advindos de escola pública ou particular.


Há de se enfrentar o pior de todos os problemas que parece generalizado: alunos com dificuldades de redação. Está se falando especificamente com aquele com dificuldade de compreensão na matéria ou aquele que sabe a matéria, mas não sabe se expressar. Não se deve expor o aluno, mas sim orientá-lo, afinal, nunca se sabe das dificuldades de cada um, mesmo porque há aqueles que fingem entender, decoram e fazem prova para tirar nota.


Além disso, há professores que se esquecem de um pequeno detalhe: Eles próprios não se fazem bem entender, com alunos que, ao menos ainda, não estão acostumados a ler (mas devem ser incentivados para tal), como ocorre com muitos brasileiros. Além de prolixos em sua didática, a elaboração das provas não é clara o suficiente, e o aluno não sabe exatamente o que responder de maneira correta.


Há de se falar que realmente se está vivendo uma verdadeira campanha de simplificação do direito. Mas deve haver direcionamento correto e cauteloso em relação a isso. A simplificação e o evitar do uso do latim não significa que os alunos não devam saber seu devido uso, mesmo porque devem ser conscientizados de que sempre há concursos públicos em que tais termos são pedidos ou mesmo na prática, quando forem ler uma decisão de um juiz mais antigo.


Quando se fala em matemática no curso de direito, instala-se mais ainda o pandemônio. Até mesmo o cálculo até de honorários e custas de um processo já é o suficiente para se observar alguns alunos fazendo “cara feia”. Pior ainda quando se fala em cálculos trabalhistas, afinal não querem admitir que a matemática, tão negligenciada, é extremamente importante até mesmo no curso de humanas.


Os alunos, desta forma, devem ser sempre conscientizados, sempre alertados de que nas provas em concursos não poderão portar calculadoras, ou mesmo como profissionais, nem sempre poderão contar com a sorte de ter em seu poder programas eletrônicos que possam fazer seus trabalhos.


Sempre devem ser estimulados a ler, nem que seja o livro da moda, de modo que sintam mais vontade de ler e melhorem seu vocabulário. É com calma e não com altos sermões de meia hora que se consegue isso. Afinal, há pessoas na sala que não merecem ouvir muitas das coisas que o professor, revoltado, fala. A simples chamada do aluno com mais deficiência, com calma explicando a situação já é suficiente. Depois, sim, pode-se dizer que é responsabilidade do mesmo.


3.2. Problemas advindos com a formação do aluno enquanto pessoa – Individualizações e problemas da modernidade


Outro problema para o professor administrar em sala de aula é o bullying, que não é um fenômeno exclusivamente escolar. É freqüente o professor de universidades comentar que não é professor de crianças e que não podem fazer nada. Mas podem. Promover dinâmicas de grupo, evitar os grupos pré-formados, isso força a integração entre os membros da sala para que se tolerem de modo civilizado em prol da produção de um trabalho.


Evita-se assim também o protecionismo. Afinal nunca é bom ficar exaltando um aluno em detrimento do outro, pois poderá aumentar tais práticas de comparação, podendo alimentar a intolerância e com isso a prática do Bullying.


 Têm-se como Bullying, de acordo com conhecidos professores da área:


“todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que acontecem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s) causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima”. (LOPES NETO e SAAVEDRA, 2003).


Logicamente, na faculdade, o Bullying tem uma forma mais velada, sob uma capa de pseudo-civilidade: O isolamento da pessoa diferente, por vezes que já vem junto com outros colegas do mesmo colégio, de maneira a prejudicar o aluno universitário. É o que mais estuda, que só é lembrado para a cola, que fica com todo o trabalho e ainda tem como paga o preconceito. É o que tem mais dificuldades na matéria que sofre por não conseguir grupo para trabalhar.


Como o professor não visualiza tal quadro em sala de aula? Claro que basta o olhar e quando da apresentação dos trabalhos, sabe-se quem é o aluno que ninguém quer no grupo, que todos taxam de “esquisito”, “metido”, dentre outros apelidos, no mais das vezes sem sequer conhecer a pessoa direito, mas prejudicando-a de graça.


A cada dia o Bullying está se desenvolvendo, e o pior é que, para alguns, é liberdade de expressão da criança, firmado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. O problema é que este pensamento estimula um desrespeito ao seu semelhante, e que pode chegar às raias do aluno pensar que assim como faz com o colega, também poderá fazer com o professor: Ofensas, gritos e outros sinais de grande desrespeito são uma das queixas cada vez mais freqüentes do professor universitário – Do mais novo ao mais velho.


Nesse novo quadro da universidade moderna, o professor ainda tem de lidar com o aluno que fica com celular, ipod e no computador com MSN. Às vezes é bom ir com calma, pois, psicologicamente, nunca se sabe da índole da pessoa que se está lidando. Assim, quando se fala que já houve pesquisa séria no sentido de que quem usa todo dia a internet em demasia tem o rebaixamento de QI maior do que quem fuma maconha, apesar de parecer engraçado, observa-se alguns fechando o notebook (disponível em http://forum.clubedohardware.com.br/mail-diminui-qi-duvida/258157?s=1492309cba8261f432a38605c7702983&).


Claro que não se está propondo a figura do professor que é mais propenso a uma brincadeira, mas a pesquisa é séria e pode ser citada. Logicamente arranca-se algumas risadas, mas logo depois o professor sabe até que ponto poderá coibir o uso da tecnologia em sala de aula, dependendo do caso.


A calma e a postura séria, mas não autoritária (e para alguns totalitária), sempre se pedindo respeito a figura da pessoa como ser humano antes de tudo, e não apenas porque tem mais idade ou porque é professor deve ser sempre lembrada: O respeito e a disciplina devem sempre ser lembrados.


3.3. Problema de lidar com matérias mais técnicas com público cada vez mais jovem


O deslocamento de algumas matérias que tradicionalmente eram aprendidas na metade do curso de Direito vem sendo deslocadas para o primeiro ano. Professores então, já acostumados com alunos já no ritmo de um ensino superior, ou seja, já tendo passado pela fase de transição ou “fase de choque”, já com certo vocabulário acadêmico, seja pelo uso do vernáculo ou mesmo do jargão, enfrentam sua primeira grande dificuldade.


Resultado: Catástrofes nos resultados de aprovação do aluno e uma onda de reclamações dos alunos em relação aos professores que “tem conteúdo, mas não estão sabendo passar a matéria” ou “Mas como, se caiu tudo o que o professor passou, mas tirei nota baixa?!”. Mas como, se o professor já é conceituado, e não tinha problemas até então? E como explicar um resultado tão catastrófico de reprovações em massa?


Desta forma, deve-se repensar a estratégia de ensino. A pedagogia é extremamente importante no ensino superior tanto quanto a do ensino fundamental e médio: Afinal, não se sabe quais as dificuldades de cada aluno, bem como não se sabe se o aluno teve ao longo de sua vida uma pedagogia aplicada de forma errada em sua escola.


Primeiro, deve-se pensar no público alvo: Estudantes cada vez mais novos, ou melhor, novos na matéria, aprendendo o alfabeto do Direito com o cabedal que em geral se desgastaram tanto para memorizar na escola e passar no vestibular.


Assim, já que o vocabulário dos alunos ainda é ilimitado, deve-se sempre partir do básico, do simples, até o mais complicado, sempre exaltando a responsabilidade e a importância da matéria e da melhoria vocabular. Deve-se explicar palavras que na óptica do professor são óbvias, mas para aquelas pessoas não, afinal, se apenas um aluno não sabe, cabe ao professor ensinar, nem que para isso tenha que desenhar no quadro com desenhos simples.


No segundo ponto, não se pode ser muito brusco na mudança, já que os alunos, em regra, acabaram de sair de um ensino médio. A proposição de exercícios extraclasses poderá ser útil: Questionários manuscritos, envio de exercícios, discussões em sala, refletindo sobre a matéria e a realidade e perguntas freqüentes se há dúvida. Deve-se ser acessível. Sempre se pode ter um minuto para ser acessível.


Processos simulados, modelos da prática, audiências simuladas previamente explicadas – são meios dos alunos visualizarem o processo, meios de visualizarem não apenas o mais comum: o civil e o penal – sem necessariamente atribuir nota ou ao menos muita nota. A saída é a orientação para que se possa cobrar a prática, afinal não se pode transferir o conteúdo programático da competência do professor para a pesquisa desnorteada de alunos, e o aluno só aprende fazendo e produzindo (PIAZZIa, 2010, p. 62)


Sempre os alunos vão pedir um norte, sempre vão pedir uma dica, mandar emails com mais de vinte perguntas começando “Professor (a), o (a) Senhor (a) poderia me tirar algumas dúvidas que eu acabei tendo enquanto estava estudando?” (Será mesmo que estava estudando? Por vezes tais perguntas são perguntas simples e conceituais, passadas em sala de aula).


Desta forma, deve-se sempre diferenciar entre dar um norte, uma orientação e conferir um atalho sempre que o aluno pedir. Como dito por Michael Jacobs (2009, p. 39): “Posso até entender, embora jamais concordar, que o aluno procure eternamente atalhos, mas já passou da hora dos professores pararem de facilitar”, afinal, “alunos adoram métodos rápidos para aprender” (JACOBS, 2003, p. 68).[2]


A facilitação excessiva é sempre muito complicada. Ministrar um conteúdo completo não é o mesmo de criar atalhos para tudo, tendo de se repetir tudo o que já se disse quando o aluno chega atrasado ou está conversando em sala de aula, tendo de se explicar novamente conceitos já passados em apontamentos de sala de aula. O problema não é tirar duvidas: é acostumar a ficar com o apelido de “código ambulante” ou de “livro falante”. Afinal, como dizem os alunos, “basta relembrar com o professor o que eu não quis estudar o suficiente”.


Afinal, eles já estão acostumados com dicionários eletrônicos e meios rápidos de conseguir informações. Não se deve dificultar, mas sim provocar cada vez mais o sentimento da pesquisa, da necessidade dos livros, da leitura e da produção acadêmica.


4. O desenvolvimento do aluno especificamente em direito


O principal ponto deste tópico é desenvolvimento e incentivo à ética no âmbito acadêmico. Há o estatuto dos advogados – de ética e disciplina. Como não fazer isso virar letra morta? Deve-se incentivar desde a sala de aula. Ela é o treino do futuro profissional.


Martin Luther King (2009, p. 46), em um dos seus discursos também reflete sobre este ponto importante acerca da educação como formação do ser humano. Em suas palavras:


“Muitas vezes me pergunto se a educação está ou não atingindo seu objetivo. A grande maioria das pessoas ditas instruídas não pensa de maneira lógica e científica. Ate a imprensa, a sala de aula, os palanques e o púlpito em muitos casos não nos dão verdades objetivas e imparciais. Salvar o homem do pântano da propaganda, em minha opinião, é um dos principais objetivos da educação. A educação deve permitir que a pessoa examine e pese as evidências, tenha discernimento para diferenciar o verdadeiro e o falso, o real e o irreal, os fatos e a ficção.


A função da educação, portanto, é ensinar a pensar intensamente e a pensar criticamente. Mas a educação que se contenta com a eficiência pode se provar a maior ameaça à sociedade. O criminoso mais perigoso pode ser dotado de razão, mas não de moral.


Devemos lembrar que inteligência não é o bastante. Inteligência mais caráter – esta é a meta da verdadeira educação. A educação completa dá à pessoa não somente o poder de concentração mas objetivos dignos em que se concentrar. A educação ampla transmitirá, portanto, não só o conhecimento acumulado da raça, mas também a experiência acumulada da vida social”.


Deve-se ter em vista a proposição de trabalhos de pesquisa intensamente, evitando ao máximo transferir a matéria do conteúdo programático, mas sim incentivando a fazer artigos científicos com foco em temas polêmicos ou atuais, como forma de aviso que é para seu próprio currículo.


É necessário acabar com o comodismo tão manhoso onde tudo pode comportar um “jeitinho” desta era de pós-modernidade. Deve-se sim, utilizar a era pós-moderna e explicá-la ao aluno. Afinal, não é todo dia que um professor explica a uma sala o que é, qual a importância e como se faz, dentro do site da capes e cnpq um currículo na plataforma lattes.


Aliás, os trabalhos podem ser divididos em técnicas, já que não se sabe quais alunos querem ser juízes, advogados ou apensas fazer concursos de área técnica. Então se deve treinar todos os âmbitos: O teórico, o prático e a pesquisa. Apresenta-se a seguinte proposta: prova composta de questões objetivas e subjetivas. Em relação as subjetivas, elaborar sempre com inspiração em concursos, ENADE e OAB, cobrando uma resolução de questão prática e outra teórica.


Os trabalhos também serão divididos: o prático, com elaboração de peças e o de pesquisa de um tema de alto relevo, sempre evitando o uso do trabalho digitado – As compras de trabalho e os meios de modificação de palavras nos trabalhos copiados na internet vêm se desenvolvendo, desviando-se do objetivo maior que é o aprendizado.


Se o professor está realmente comprometido com o aprendizado, estará mais preocupado de evitar que esta situação ocorra do que simplesmente ficar feliz em ameaçar dar um zero se conseguir encontrar o trabalho copiado na internet.


E porque não a implementação de questionário em forma de “tarefas para casa” e ainda, manuscritas? Parece infantil? Mas é uma boa forma de aprendizado, já que o aluno só aprende fazendo. E se o objetivo é fazer aprender, este é o caminho!


De acordo com PIAZZI (2010b. p. 170-174), deve-se ensinar o aluno assistir aula, a estudar e a criar o prazer pela leitura. Isso é a única forma de melhorar o ensino e respeitar as individualidades do aluno. Somente assim para desenvolver o potencial do alunado, e, no caso do presente trabalho, no âmbito jurídico. A universidade não é escola, mas trás uma boa herança dela: Os seus alunos, que devem ser sempre guiados.


O aluno deve ser sempre conscientizado. Conscientizá-lo do tempo e da seriedade da instituição, do tempo que é demandado para se requisitar livros e fazer pesquisa de preços, do seu Conteúdo programático, do plano de ensino didático, de prazos. Tudo deve ser transparente de modo que ele possa adquirir uma rotina e uma disciplina.


O professor é o grande exemplo no curso, assim como os pais são na vida. Como pedir que eles cheguem pontualmente se o professor atrasa ou costuma faltar? Como pedir para ler se o mesmo não demonstra leitura, mas apenas conhecimento e experiência prática? Como pedir produção do aluno se ele, professor, fica nas esquivas do “não tenho tempo de produzir…”? Como exigir atenção a sua aula se quando os alunos o procuram, ele nunca dá um minuto de seu tempo? Como exigir respeito se o mesmo “mandar calar a boca”, gritar, falar palavras de baixo calão em sala de aula? Bom, se o professor não se importa, talvez o aluno se importe, e talvez a formação dele no futuro também se importe. O ser humano tende a reproduzir o que vive.


Pior ainda no Direito. Que advogados um professor quer formar quando prega que “advogado tem que ser malandro”, “tem que se utilizar de ardis”, que se deve mentir para “ganhar a qualquer custo”? Que profissionais e que justiça é essa que pretende ensinar? Isso é deseducação! Mostrar a realidade é prevenir que há péssimos profissionais e que se deve estar pronto para se sair de suas manobras de má-fé, e não dizer que deve agir assim porque “na prática” é assim que ocorre.


4.1. O uso moderado da tecnologia


Do uso das grandes tecnologias da atualidade há a questão da utilização de todos os meios tecnológicos disponibilizados para o professor. Não basta a exigência, deve-se direcionar como essa tecnologia (ou para alguns professores, essa “parafernalha”) deve ser utilizada.


Dentre as novas tecnologias, a que chama mais atenção é o cada vez mais freqüente uso do datashow nas salas de aula, substituindo o antigo “retro-projetor” – A projeção das imagens prontas, o plano da aula todo esquematizado, projetado no quadro. Para aqueles que sabem como manejar muito bem as artes gráficas, alguns tem até som e movimento.


Para Michael Jacobs (2009, p. 71), “qualquer coisa a qual o estudante se sinta a vontade é útil para o aprendizado, incluindo a mais avançada tecnologia; desde que acrescente algo”.


Já para PIAZZI (2010b, p. 99), a melhora do ensino não depende unicamente da melhoria das aulas, da utilização de novos recursos e tornar as aulas mais interessantes. Esses são os pontos, mas devem ser pensado os meios. Não deve haver abusos – as imagens prontas de tais meios tiram do aluno a capacidade de imaginar. A meia luz para a grande maioria deixa-os sonolentos, e para aqueles que só conseguem aprender anotando, a dificuldade de enxergar é a queixa mais freqüente.


Na verdade, data show é muito eficiente quando usado com moderação: Utilização de imagens, da internet para mostrar vídeos, fluxogramas e até mesmo imagens ao vivo, por exemplo, de uma audiência. Mas a sua utilização excessiva poderá causar tédio ou reclamações. Infelizmente há diversos alunos que já comentaram que observaram que, por mais de uma vez, por problemas no data show, algum professor deixou de ministrar conteúdo em sala de aula.


Assim, a tecnologia deveria ser mais um meio para ajudar não o professor, mas o seu fim: a educação, proporcionar o aprendizado. Não deve ser visto como meio de “cola” do professor, que se não tiver o plano esquematizado em computador (ou mesmo em uma simples apostila) não se lembra de como esquematizar o pensamento e ministrar uma boa aula.


Este é o quadro em que há o saber, mas há uma extrema carência, uma necessidade imperiosa, da pedagogia. Esse é o quadro, em linhas simples, ao menos para o curso de Direito.


Considerações Finais


Não foi apresentado no presente trabalho nenhum assunto novo. A humilde tentativa de mapear problemas cada vez mais freqüentes dentro da sala de aula no curso de Direito e apresentar proposições foi o tema do presente trabalho.


A boa vontade e o amor pela profissão suprem falta de tempo, a não ser que o professor também apresente dificuldades em sua formação. A pedagogia é indispensável no ensino fundamental e médio. Isso é inegável. Mas não se pode negar a sua extrema necessidade também no âmbito da educação superior e no curso de Direito essa regra não pode ser esquecida.


Desde o ensino cuidadoso, às tarefas passadas até a elaboração das provas e demais meios de avaliação do aluno, o professor tem que ter cuidado e pensamento pedagógico, sempre pensando na formação dos seres humanos.


Mais do que a formação de conteúdo, formam-se seres pensantes, devendo o professor do ensino superior ter o comprometimento de desenvolver o pensamento mediocrizado que alguns carregam em sua formação deficiente de querer tirar nota a qualquer custo, ao invés de aprender.


Ademais, deve ser incentivado a produzir, como algo sendo para seu próprio interesse, a ciência da pesquisa e da extensão, da monitoria, da escrita livre, do convívio com a sociedade.


Não é uma utopia, é uma necessidade que pode ser alcançada com boa vontade. E se há professores comprometidos com o desenvolvimento pedagógico, e com o reconhecimento da necessidade da pedagogia, não há de se falar em tantos obstáculos, sabendo que se pode dar uma reviravolta em todos os problemas enfrentados em sala de aula.


 


Referências bibliográficas:

BARCELAR, Jeferson Antonio Fernandes. Saberes das Disciplinas e Saberes Pedagógicos: os desafios do ensino da história do direito. Trilhas, Belém, v. 10, n. 21. p. 73-84. Junho de 2008.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). Pesquisa Participante. São Paulo: Braziliense, 2001.

JACOBS, Michael. Como melhorar ainda mais seu inglês. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

______________Como (não) ensinar inglês: Erros comuns e soluções práticas comentadas. Ed. rev e amp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

KANITZ, Stephen Charles. Revolucione a Sala de Aula. Veja ed. 1671, ano 33, nº 42. p.23. 18/10/2000.

KING, Martin Luther. As Palavras de Martin Luther King. Rio de Janeiro: Zahar,2009

LOPES NETO AA, SAAVEDRA LH. Diga não para o Bullying: Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.

MEIRIEU, Philiphe. Frankstein educador. Barcelona: Romanyà-Valls, 1998.

PIAZZI, Pierluigi.a. Aprendendo Inteligência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2010.

_________ b. Ensinando Inteligência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2010.

_________ c. Estimulando Inteligência. 1 ed. São Paulo: Aleph, 2010.

SCHOPENHEUER, Arthur. A Arte de Escrever.  São Paulo: L&PM, 2008.

Sites visitados:


FRANÇA, Valéria. Do you speak…? Brasileiros estudam inglês mais do que nunca, mas a maioria não consegue aprender. Disponível em http://veja.abril.com.br/idade/educacao/140896/p_062.html. Acesso em 27 de setembro de 2010 às 20:33 hs.

 

Notas:

[1] No mesmo sentido, o consultor de empresas Stephen Charles Kanitz, que escreve acerca da necessidade da “revolução na sala de aula”, onde o professor deve deixar de ser o centro das atenções e estimular a capacidade de raciocínio, de objetividade ao invés de, em suas palavras, “encher lingüiça”. Para esse autor, é importante olhar para o rosto do colega em sala, é expor idéias, e não “anotar pérolas de sabedoria”. KANITZ, Stephen Charles. Revolucione a Sala de Aula. Veja ed. 1671, ano 33, nº 42. p.23. 18/10/2000.

[2] Aliás, após apresentarem o (não comprovado) método de ensino de inglês enquanto se está dormindo com o uso de gravadores, há alguns anseios no sentido de tentar aprender qualquer coisa enquanto se estiver durante o sono, conforme reportagem constate em sites da internet, inclusive o da revista VEJA. http://veja.abril.com.br/idade/educacao/140896/p_062.html, acesso em 27 de setembro de 2010 às 20:33 hs. A autora do presente artigo, ao ser indagada por um aluno sobre isso, só possuía uma única resposta: “Não há comprovação sobre isso, mas com certeza deve ter a mesma eficácia de um método como ‘emagreça dormindo’”.


Informações Sobre o Autor

Agatha Gonçalves Santana

Doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Pará – UFPa. Professora de Direito Processual Civil na Universidade da Amazônia – Unama. Advogada


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