Um adeus para Roberto Campos

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O Brasil perdeu um homem raro. Não
muito simpático, é verdade, até meio sisudo, como ele mesmo gostava de brincar.
Dizia que lhe faltava o dom do sorriso. Mas quem realmente conheceu Roberto de
Oliveira Campos sabia que ele tinha um raro e apurado senso de humor. As
conversas descontraídas com outra mente brilhante, o diplomata José Guilherme Merquior, durante a estada de Campos na embaixada
brasileira na capital inglesa foram antológicas, regadas a comentários e piadas
inteligentes. Infelizmente também perdemos Merquior
cedo, aos 50 anos em janeiro de 1991. Agora, Campos se foi.
A certeza que fica é: o Brasil perdeu uma mente brilhante, um pensador que,
apesar de combatido durante toda a vida, viu as idéias que defendia triunfarem,
principalmente após a queda dos regimes comunistas. Em “Lanterna na Popa”
lembrou: “Estive certo quando tive todos contra mim”.

Nestes dias que sucederam a perda do Embaixador, muito foi escrito. Logo, é difícil
discorrer sobre algo que não tenha sido dito, algum
momento que não tenha sido lembrado. Mesmo assim nós, os inúmeros admiradores
de Roberto Campos, não deixamos de escrever, como se
fosse um último adeus, uma última homenagem para o corajoso homem que quebrou
paradigmas e nos forneceu a matéria-prima necessária para mudar nosso modo
pensar e de ver o mundo.

Polêmico ele era, ah, isto ele era com
certeza. Um debate com a presença de Roberto Campos era, no mínimo, uma aula
sobre liberdade. Mas a liberdade que Campos defendia
era aquela em sua mais ampla forma, daí ser considerado um libertário, um homem
que acreditava na democracia e na liberdade econômica como a sustentação de uma
sociedade vitoriosa.

A sua história foi lembrada por muitos,
mas vale aqui relembrar alguns pontos interessantes. Roberto Campos participou
de praticamente todos os grandes momentos do século XX. Assim foi delineando
seu pensamento. Nascido no Mato Grosso em 1917, foi seminarista, onde se
especializou em
exorcismo. Ingressou no Itamaraty em 1939. Em 1942 já servia
a Embaixada em Washington e em 1944 integrou a delegação brasileira à
conferência de Bretton Woods.
Participou do governo democrático de Getúlio, entre 1951 e 1954. Trabalhou na
elaboração do Plano de Metas de JK e como ministro do Planejamento do governo Castello. Em 1982, é eleito Senador pelo Mato Grosso. Em
1990 elege-se Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, por onde é reeleito em
1994. Em 1998 perde a disputa por uma cadeira no Senado. Entretanto, em 1999 é
eleito para a cadeira 21 da ABL, fundada por José do Patrocínio e até ser ocupada
por Campos, assento de Dias Gomes.

Seu discurso na ABL não poderia ser de
outra forma, a não ser polêmico e coerente, como Campos foi
durante toda sua vida. Em seu discurso de despedida do Congresso Nacional em 31
de janeiro de 1999 mostrou-se taciturno, pensativo: ”com o fracasso de toda uma
geração – a minha geração – em lançar o Brasil numa trajetória de
desenvolvimento sustentado”. Infelizmente, Roberto viu suas idéias serem
combatidas e deixadas para trás quando deixou o governo. O liberalismo de
Campos consistia em abrir o Brasil para a competição, incentivar a entrada de
capitais externos de qualidade, reduzir o tamanho do
Estado, deixando-o atuar onde é necessário. Um Estado grande, ao contrário do
que se pensa no Brasil, dizia ele, leva invariavelmente
aos “assistentes passarem melhor do que os assistidos”. A conclusão é clara: o
Estado deve ser mínimo.

Roberto Campos leu Hayek,
discípulo de Mises, da escola austríaca liberal, e
logo depois comentou: “Arrependo-me de ter lido tantos economistas. Bastaria Hayek. Hoje estou convicto de que o papel do estado deve
ser ainda menor do que aquele que defendi por toda a vida”. E completou: ”No
Brasil, a empresa privada é aquela que o governo controla; a pública é aquela
que ninguém controla”. Este era Roberto Campos. O seu grande legado, além de
sua obra, somos todos nós, que acreditamos em suas idéias e não tivemos a
vergonha de mudar de visão, rever conceitos, aceitar o novo e suas palavras
sensatas. Seu legado está em Carlos Hugo Studart,
Maria Lúcia Victor Barbosa e outros que escreveram textos brilhantes a seu
respeito. Está nos institutos liberais e em cada um de nós que acredita na
liberdade. Descanse em paz professor, pois suas idéias não foram propagadas em
vão, pois elas acharam um terreno fértil para prosseguir. Se precisar, também
seremos pregadores no meio de um deserto. Só temos a dizer: muito obrigado.

 


 

Informações Sobre o Autor

 

Márcio C. Coimbra

 

advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

 


 

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