A defesa prévia criminal é a primeira manifestação formal da defesa no processo penal, sendo apresentada após o recebimento da denúncia pelo juiz. Trata-se de uma etapa fundamental no procedimento, pois nela o acusado, por meio de seu advogado, tem a oportunidade de contestar a acusação, apresentar argumentos e provas iniciais, indicar testemunhas e levantar preliminares que podem levar até à absolvição sumária. Essa peça processual cumpre um papel essencial na garantia do contraditório e da ampla defesa, princípios constitucionais basilares do processo penal brasileiro.
Neste artigo, vamos explorar detalhadamente o que é a defesa prévia criminal, em que momento ela ocorre, sua estrutura, quais argumentos podem ser apresentados, qual o papel do advogado, além de destacar os erros mais comuns e como evitá-los.
O que é a defesa prévia criminal
A defesa prévia criminal é uma peça processual prevista no artigo 396-A do Código de Processo Penal. É apresentada pelo réu após o juiz receber a denúncia oferecida pelo Ministério Público. Ela é o primeiro momento de manifestação da defesa técnica, e seu objetivo principal é responder formalmente à acusação, podendo inclusive apontar vícios na denúncia, arguir nulidades e apresentar provas e testemunhas.
Essa fase marca o início do contraditório e do exercício do direito de defesa propriamente dito, já que até então o processo estava na fase de investigação e oferecimento da denúncia. Com a defesa prévia, o réu passa a atuar diretamente na condução do processo.
Quando a defesa prévia deve ser apresentada
A defesa prévia criminal deve ser apresentada no prazo de 10 dias contados a partir da citação do réu. A citação é o ato formal que informa ao acusado que foi instaurada uma ação penal contra ele, com base em uma denúncia recebida pelo juiz.
Esse prazo é contínuo e deve ser respeitado rigorosamente. Caso a defesa não seja apresentada nesse prazo, o juiz nomeará um defensor dativo para fazê-lo, ou a Defensoria Pública será intimada para atuar no caso, se o réu for hipossuficiente.
É importante que o advogado atue de forma rápida e diligente, pois perder o prazo da defesa prévia pode significar a perda de uma oportunidade estratégica no processo.
Qual o conteúdo da defesa prévia
A defesa prévia criminal deve conter uma série de elementos obrigatórios e estratégicos. Entre os principais, destacam-se:
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A qualificação do acusado
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A exposição dos fatos conforme a versão da defesa
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A impugnação da denúncia (argumentos contrários à acusação)
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A apresentação de documentos e outras provas já disponíveis
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A indicação das teses defensivas iniciais
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A arguição de preliminares (nulidades, inépcia da denúncia, etc.)
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A indicação das testemunhas a serem ouvidas
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Eventual pedido de absolvição sumária
O objetivo é apresentar uma narrativa própria dos fatos, rebater a imputação feita pelo Ministério Público e preparar o terreno para a instrução criminal.
Diferença entre defesa prévia e resposta à acusação
A expressão “defesa prévia” foi muito utilizada até a reforma do Código de Processo Penal ocorrida em 2008. Após essa reforma, o termo mais correto passou a ser “resposta à acusação”, conforme o artigo 396-A do CPP.
No entanto, na prática, muitos profissionais ainda utilizam os termos como sinônimos, e ambos designam a mesma peça apresentada logo após a citação do réu.
Portanto, embora tecnicamente a terminologia mais atual seja “resposta à acusação”, o conteúdo e a função da peça continuam os mesmos que a antiga defesa prévia.
Qual o papel do advogado na apresentação da defesa prévia
O advogado criminalista é o profissional responsável por elaborar e protocolar a defesa prévia no processo penal. Ele deverá analisar a denúncia recebida, estudar o inquérito policial, identificar as provas já produzidas e elaborar uma peça técnica e bem fundamentada.
Além disso, o advogado deverá:
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Entrevistar o réu para compreender a versão dos fatos
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Identificar teses defensivas cabíveis desde o início
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Arguir eventuais nulidades que possam extinguir o processo
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Indicar as provas que pretende produzir
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Apresentar os nomes das testemunhas de defesa
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Formular eventual pedido de absolvição sumária
É uma etapa que exige atenção, técnica e estratégia, pois as escolhas feitas na defesa prévia podem influenciar todo o desenrolar do processo.
Importância da defesa prévia para a estratégia processual
A defesa prévia é o momento ideal para organizar e expor a estratégia de defesa que será adotada durante a instrução criminal. Uma defesa bem elaborada pode resultar no arquivamento da ação penal, na absolvição sumária ou ao menos na delimitação correta do objeto da controvérsia.
Além disso, a forma como a defesa se posiciona nessa fase influencia a condução das audiências, o deferimento das provas requeridas e até a receptividade do juiz em relação às teses defensivas.
É o momento de antecipar argumentos que podem se mostrar decisivos mais à frente, bem como de apontar falhas estruturais na denúncia que, se acolhidas, encerram o processo antes da produção de provas.
Preliminares que podem ser arguidas na defesa prévia
Preliminares são questões processuais que devem ser resolvidas antes do julgamento do mérito. A defesa prévia é o momento oportuno para levantar essas questões. As mais comuns são:
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Inépcia da denúncia: quando a peça acusatória é genérica, omissa ou deficiente
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Falta de justa causa: ausência de indícios mínimos que justifiquem a ação penal
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Nulidade de atos processuais: vícios ocorridos na fase de investigação ou denúncia
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Ilegitimidade de parte: quando a ação é proposta contra pessoa que não poderia responder pelo crime
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Prescrição da pretensão punitiva: quando o tempo transcorrido torna a punição inviável
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Falta de interesse processual: quando o fato não configura crime ou já foi julgado
Essas questões, se acolhidas pelo juiz, podem extinguir o processo ou mesmo impedir seu prosseguimento.
A importância da absolvição sumária
Um dos pedidos mais relevantes que podem ser feitos na defesa prévia é o da absolvição sumária. Esse pedido ocorre quando a defesa identifica uma das hipóteses do artigo 397 do Código de Processo Penal, que são:
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A inexistência do fato
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O fato não constitui infração penal
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A existência de causa de excludente da ilicitude (ex: legítima defesa)
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A existência de causa de excludente da culpabilidade (ex: inimputabilidade)
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A extinção da punibilidade do agente
A absolvição sumária é uma forma de encerrar o processo sem que haja a necessidade de instrução, economizando tempo, recursos e evitando o desgaste de uma audiência criminal.
O que acontece após a apresentação da defesa prévia
Depois que a defesa prévia é apresentada, o juiz irá analisar a peça, os argumentos da defesa e os documentos apresentados. Com base nessa análise, ele poderá:
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Rejeitar liminarmente a denúncia, se verificar ausência de pressupostos processuais
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Receber a denúncia e designar audiência de instrução e julgamento
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Proferir decisão de absolvição sumária, caso entenda que estão presentes os requisitos legais
Caso a denúncia seja mantida, o processo segue com a fase de instrução, onde serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa, e o réu será interrogado.
Consequências de uma defesa prévia mal elaborada
Uma defesa prévia mal elaborada pode comprometer toda a estratégia do processo. Entre os principais riscos, destacam-se:
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Perda de oportunidade de arguir nulidades
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Não apresentação de documentos e testemunhas essenciais
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Fragilidade na construção da narrativa da defesa
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Dificuldade em sustentar teses jurídicas posteriormente
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Repercussão negativa na percepção do juiz sobre a seriedade da defesa
Por isso, é essencial que a peça seja redigida com cuidado, conhecimento técnico e profundo entendimento do caso concreto.
Como deve ser estruturada a defesa prévia
Embora não haja um modelo único, uma defesa prévia bem estruturada geralmente segue o seguinte formato:
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Endereçamento ao juízo competente
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Qualificação do acusado
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Breve síntese dos fatos narrados na denúncia
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Versão da defesa sobre os fatos
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Arguição de preliminares processuais
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Contestação do mérito da acusação
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Indicação das provas e testemunhas
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Pedido de absolvição sumária (se cabível)
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Requerimentos finais
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Termo de encerramento, data, assinatura e número da OAB do advogado
A clareza, a organização e a objetividade são elementos fundamentais para uma boa defesa prévia.
Defesa prévia em crimes de menor potencial ofensivo
Nos crimes de menor potencial ofensivo, a tramitação é feita nos Juizados Especiais Criminais (JECRIM), e o procedimento é diferente. Nesses casos, geralmente não há a apresentação formal de uma defesa prévia, mas sim a possibilidade de composição civil, transação penal ou suspensão condicional do processo.
No entanto, se o processo for instaurado, o advogado poderá apresentar manifestações semelhantes à defesa prévia, especialmente para questionar a admissibilidade da acusação e propor soluções alternativas.
Papel da defesa prévia no sistema acusatório
O sistema penal brasileiro é de natureza acusatória, o que significa que há separação entre as funções de acusar, defender e julgar. Dentro desse sistema, a defesa prévia desempenha papel vital ao garantir que o réu possa apresentar sua versão dos fatos antes mesmo da fase de produção de provas.
A existência da defesa prévia reforça o princípio do contraditório e contribui para a efetividade da ampla defesa, evitando que o réu seja colocado em desvantagem logo no início do processo.
Perguntas e respostas sobre defesa prévia criminal
Qual é o prazo para apresentar a defesa prévia criminal?
O prazo é de 10 dias contados a partir da citação do réu.
A defesa prévia é obrigatória?
Sim. Se o réu não apresentar, o juiz nomeará um defensor para fazer isso.
Posso apresentar documentos e indicar testemunhas na defesa prévia?
Sim. É o momento adequado para isso.
O juiz pode arquivar o processo após a defesa prévia?
Sim, se acolher preliminares ou se entender que é caso de absolvição sumária.
Preciso de um advogado para apresentar a defesa prévia?
Sim. A defesa técnica deve ser feita por advogado ou defensor público.
Posso apresentar uma nova versão dos fatos na defesa prévia?
Sim. É justamente o momento para apresentar a narrativa da defesa.
É possível pedir a extinção do processo nessa fase?
Sim, especialmente por nulidade, prescrição ou falta de justa causa.
O que acontece se a defesa prévia for ignorada?
O processo seguirá normalmente, mas o réu poderá ser prejudicado por não ter se manifestado.
Posso mudar a estratégia da defesa depois da defesa prévia?
Sim, a defesa pode ser ajustada conforme o desenrolar do processo, desde que observados os princípios processuais.
Conclusão
A defesa prévia criminal é um dos atos mais relevantes na fase inicial do processo penal. Sua correta elaboração pode evitar a continuidade do processo, garantir a absolvição sumária ou fortalecer a linha de argumentação que será desenvolvida nas demais fases. Por isso, ela deve ser feita com cautela, conhecimento técnico e estratégia clara.
O papel do advogado nessa etapa é fundamental, pois é ele quem garante que o acusado tenha seus direitos respeitados desde o início da ação penal. Seja apresentando argumentos jurídicos, questionando a denúncia ou pleiteando diligências, a defesa prévia é o momento em que a voz do réu é formalmente ouvida pela primeira vez.
Entender sua importância, cumprir os prazos e contar com orientação especializada pode ser decisivo para o desfecho de todo o processo. Diante de uma denúncia recebida, agir com rapidez e apresentar uma defesa sólida é o melhor caminho para proteger a liberdade, a dignidade e os direitos do acusado.