Jana Lee, fashion business influente no mercado da moda internacional, faz parte da estatística de quase 16 milhões de mulheres agredidas no Brasil a cada ano
As discussões acerca de violência contra a mulher no Brasil, apesar de terem ganhado mais notoriedade por parte da mídia e das autoridades, ainda precisam caminhar muito para que o problema seja encarado da maneira adequada. A mudança, a cada dia ganha ainda mais urgência, visto que apenas em 2018, quase 16 milhões de mulheres maiores de 16 anos foram vítimas de algum tipo de violência segundo pesquisa do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo. O caso mais recente a chocar o país é o de Mari Ferrer.
Entre as ocorrências mais comuns, ofensas verbais, ameaças e perseguição foram os relatos mais recorrentes apurados pela pesquisa. Quem são as principais vítimas? Mulheres na faixa de 16 a 34 anos, que representam quase 76% dos casos. A personal stylist Jana Lee, influente no cenário da moda internacional, infelizmente entra para esta angustiante estatística.
Quando conheceu o ex-namorado, Jana havia acabado de se mudar para São Paulo para cursar faculdade. De acordo com o relato da personal stylist, o casal se conheceu durante o período de graduação e namorou de três a quatro meses, período no qual Jana Lee sofria violência psicológica — ofensas, diminuição de capacidades e culpabilização. Foram esses os motivos que a levaram a decidir terminar o namoro.
“No dia em que decidi sair desse relacionamento, sai para comer com a mãe dele, que me culpava pelo comportamento do filho, como se eu o fizesse agir daquele jeito. Após esse jantar falei que não iria mais ficar com ele e fui pra casa por volta das nove da noite. Às 1h da madrugada, acordei com ele fazendo um escândalo na entrada do meu apartamento”, relata.
Apesar da stylist estar acompanhada das amigas, que pediram inúmeras vezes que ela não descesse para encontrá-lo, o homem afirmava que só sairia de lá após ser ouvido. Com receio por parte da vizinhança, que conhecia o casal, e para evitar mais confusão no bairro Pinheiros, em São Paulo, Jana resolveu descer para dar um ponto final na situação.
“Ele pediu para que saíssemos para comer alguma coisa e conversar. Porém, quando saímos do estacionamento para, em tese, ir a um local para resolver a situação, ele simplesmente bateu com minha cara umas três vezes no painel do carro. Na hora senti o sangue escorrendo e mesmo machucada ele falava coisas absurdas para mim”, conta.
Na tentativa de evitar mais agressões, a personal stylist conseguiu abrir a porta do carro e pulou para fora do veículo. Neste momento, o ex-namorado tentou a atropelar. “Nessa mesma rua tem uma farmácia de esquina, corri pra dentro e pedi pra ligar para as minhas amigas e para a polícia. Me levaram para o hospital, mas a polícia simplesmente me deixou lá e falou pra ir na delegacia fazer um boletim contra ele. Meu ex ainda teve a capacidade de ir no hospital e tentar falar comigo pedindo pra não dar queixa contra ele. Me recuperei, mas no fim, nunca quis dar queixa por medo dele tentar fazer algo comigo”, relata.
A justificativa de Jana Lee, não é um caso isolado. No Brasil, grande parte das mulheres que sofrem agressões decidem não prestar queixa. De acordo com uma pesquisa realizada Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 52% das mulheres que sofreram alguma agressão no último ano ficaram caladas, e quando decidem pedir ajuda, 30% preferem buscar apoio na família ou pessoas próximas do que na polícia.
Medo por sofrer retaliações por parte da polícia e de que o processo acabe não evoluindo são outros motivos pelos quais as vítimas preferem permanecer caladas.