Acidente de Trabalho: Entendendo os Direitos do Trabalhador e as Obrigações do Empregador

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O ambiente de trabalho deve garantir a saúde e a segurança de todos os trabalhadores, no entanto, situações imprevistas e perigosas podem ocorrer, resultando em acidentes de trabalho. A legislação brasileira prevê uma série de direitos e deveres tanto para o trabalhador quanto para o empregador quando um acidente ocorre. Este artigo busca esclarecer o que é considerado como acidente de trabalho, as disposições da CLT sobre o tema, a obrigatoriedade de registrar a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e quais são os direitos do trabalhador acidentado.

O Que é Considerado Como Acidente de Trabalho?

De acordo com a Lei nº 8.213/91, que trata dos planos de benefícios da Previdência Social, o acidente de trabalho é todo aquele que ocorre durante o exercício do trabalho a serviço da empresa e que provoca lesão corporal ou perturbação funcional, resultando em morte, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Além do acidente típico, existem outros tipos de acidentes que são considerados como acidentes de trabalho. Estes incluem:

1. Acidente Típico

É o tipo mais comum, que ocorre durante o exercício das atividades laborais do trabalhador. Um exemplo seria um trabalhador que sofre uma queda ao manusear mercadorias ou um operador de máquinas que se machuca durante a operação do equipamento.

2. Doença Ocupacional

São as doenças desencadeadas ou agravadas pela natureza do trabalho. Elas se subdividem em:

  • Doença profissional: É causada diretamente pelo exercício de determinada função, como é o caso de trabalhadores expostos a produtos químicos que desenvolvem doenças respiratórias.
  • Doença do trabalho: Decorre das condições em que o trabalho é executado, como problemas ergonômicos que afetam trabalhadores que passam muitas horas em posições inadequadas.

3. Acidente de Trajeto

O acidente de trajeto é aquele que ocorre no percurso entre a residência do trabalhador e o local de trabalho, ou vice-versa. Para que seja caracterizado como acidente de trabalho, o trajeto deve ser o habitual e dentro dos horários regulares de deslocamento.

4. Acidente por Equiparação

Acidentes causados por atos de agressão, sabotagem ou terrorismo, desastres naturais ou até mesmo aqueles sofridos durante a prestação de socorro no ambiente de trabalho também são considerados acidentes de trabalho.

O Que Diz a CLT Sobre Acidentes de Trabalho?

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seus artigos 19 e 20, juntamente com a Lei nº 8.213/91, estabelece uma série de obrigações para o empregador e direitos para o trabalhador em caso de acidentes de trabalho. A CLT, em conjunto com a legislação previdenciária, garante ao trabalhador acidentado benefícios, proteção contra demissão e assistência para que ele retorne ao trabalho ou tenha condições adequadas de afastamento.

Principais Direitos do Trabalhador Acidentado:

  • Estabilidade no emprego: O trabalhador acidentado tem direito à estabilidade provisória por 12 meses após seu retorno ao trabalho, desde que tenha ficado afastado por mais de 15 dias e tenha recebido o auxílio-doença acidentário.
  • Benefícios previdenciários: Caso o trabalhador precise se afastar do trabalho por um período superior a 15 dias, ele passará a receber o auxílio-doença acidentário, pago pelo INSS. Se o afastamento for definitivo, ele poderá solicitar a aposentadoria por invalidez.
  • Recolhimento do FGTS: Durante o período em que o trabalhador estiver recebendo auxílio-doença acidentário, o empregador deve continuar a depositar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Além dessas disposições, a CLT também trata da obrigatoriedade do empregador em registrar o acidente de trabalho através da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), um documento essencial para garantir os direitos do trabalhador.

Quando é Necessário Fazer o CAT?

A Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é um documento oficial que deve ser emitido pelo empregador para informar ao INSS que ocorreu um acidente de trabalho ou que o trabalhador foi diagnosticado com uma doença ocupacional.

Quando a CAT Deve Ser Emitida?

A emissão da CAT é obrigatória nas seguintes situações:

  • Acidente típico: Quando ocorre um acidente de trabalho no local ou no horário de serviço.
  • Doença ocupacional: Quando um médico diagnostica que a doença contraída pelo trabalhador tem relação com o ambiente ou as condições de trabalho.
  • Acidente de trajeto: Quando o trabalhador sofre um acidente durante o deslocamento entre sua residência e o trabalho, ou vice-versa.

Prazo para Emitir a CAT

A CAT deve ser emitida imediatamente após a ocorrência do acidente de trabalho ou o diagnóstico de doença ocupacional. O empregador deve encaminhar o documento ao INSS no primeiro dia útil após o acidente. Caso não o faça, o trabalhador, seus dependentes, o sindicato ou até mesmo o médico que o atendeu podem registrar a CAT.

Consequências da Não Emissão da CAT

Se o empregador deixar de emitir a CAT, ele pode sofrer sanções administrativas, como multas aplicadas pelos órgãos de fiscalização trabalhista. Além disso, a omissão pode prejudicar o trabalhador, pois a CAT é fundamental para que ele tenha acesso aos benefícios previdenciários e demais direitos assegurados pela legislação.

O Que Acontece Quando Temos um Acidente de Trabalho?

Quando ocorre um acidente de trabalho, o empregador tem a responsabilidade de agir rapidamente para garantir que o trabalhador receba o atendimento adequado e que seus direitos sejam assegurados. As etapas que devem ser seguidas incluem:

1. Atendimento Médico Imediato

A primeira providência é garantir que o trabalhador receba atendimento médico imediato. Dependendo da gravidade do acidente, ele deve ser encaminhado a um hospital ou pronto-socorro para tratamento adequado.

2. Emissão da CAT

Após o acidente, o empregador deve emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), informando o INSS sobre o ocorrido. Mesmo que o acidente não resulte em afastamento imediato, o registro é obrigatório.

3. Afastamento e Perícia

Se o trabalhador precisar ser afastado por mais de 15 dias, ele será encaminhado para a perícia médica do INSS, onde será avaliada sua condição de saúde e definida a necessidade de recebimento do auxílio-doença acidentário. Esse benefício é pago pelo INSS a partir do 16º dia de afastamento.

4. Tratamento e Reabilitação

Durante o período de afastamento, o trabalhador pode ser submetido a tratamentos médicos e, em casos de incapacidade temporária, pode participar de programas de reabilitação profissional, promovidos pelo INSS, com o objetivo de possibilitar seu retorno ao mercado de trabalho.

Quais os Direitos do Trabalhador Quando Sofre Acidente de Trabalho?

O trabalhador que sofre um acidente de trabalho tem direitos amplamente protegidos pela legislação trabalhista e previdenciária. Alguns dos principais direitos incluem:

1. Auxílio-Doença Acidentário

Se o acidente de trabalho resultar em um afastamento superior a 15 dias, o trabalhador tem direito ao auxílio-doença acidentário, pago pelo INSS. Durante os primeiros 15 dias de afastamento, o salário do trabalhador é pago integralmente pelo empregador.

2. Estabilidade Provisória

O trabalhador que sofre acidente de trabalho tem direito à estabilidade no emprego por um período de 12 meses, a contar do seu retorno às atividades laborais. Nesse período, ele não pode ser demitido sem justa causa.

3. Aposentadoria por Invalidez

Caso o acidente cause uma incapacidade permanente que impossibilite o trabalhador de exercer qualquer tipo de atividade laboral, ele poderá ser beneficiado com a aposentadoria por invalidez, concedida pelo INSS.

4. Indenização por Danos Morais e Materiais

Se o acidente de trabalho ocorrer por negligência ou imprudência do empregador, o trabalhador pode buscar na Justiça do Trabalho uma indenização por danos morais e materiais, especialmente quando houver falhas na prevenção de acidentes ou no fornecimento de condições adequadas de segurança.

O Que Fazer Quando um Funcionário se Acidenta no Trabalho?

Ao ocorrer um acidente de trabalho, o empregador deve seguir um conjunto de procedimentos para garantir a proteção do trabalhador e o cumprimento das obrigações legais. As etapas incluem:

  1. Oferecer atendimento médico imediato ao trabalhador acidentado.
  2. Emitir a CAT o mais rapidamente possível, informando o INSS sobre o acidente.
  3. Garantir o pagamento do salário nos primeiros 15 dias de afastamento, se necessário.
  4. Encaminhar o trabalhador para a perícia médica do INSS, caso o afastamento ultrapasse 15 dias.
  5. Oferecer condições para a reabilitação profissional, se o trabalhador estiver incapaz de retornar às suas atividades originais.

Registrar a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT

O registro da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é uma das principais obrigações do empregador em caso de acidentes de trabalho. Esse documento deve ser preenchido de forma completa e precisa, informando todos os detalhes do acidente, incluindo:

  • Dados do empregador e do trabalhador.
  • Descrição do acidente e da lesão ou doença ocupacional.
  • Data e local do acidente.
  • Encaminhamento médico e medidas tomadas após o acidente.

A CAT pode ser registrada diretamente no site do INSS ou entregue fisicamente em uma agência do órgão. A empresa tem até o primeiro dia útil após o acidente para realizar a emissão do documento.

Conclusão

Acidentes de trabalho são uma realidade em diversos setores, e a legislação brasileira garante uma série de proteções e direitos ao trabalhador acidentado. Desde o atendimento médico imediato até a estabilidade no emprego, é fundamental que tanto o trabalhador quanto o empregador estejam cientes de suas responsabilidades. A emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é um passo essencial para assegurar que o trabalhador tenha acesso aos seus direitos previdenciários e que o empregador esteja em conformidade com a lei.

Se você é trabalhador ou empregador, conhecer a legislação e os procedimentos corretos em casos de acidente de trabalho é essencial para garantir que todas as partes sejam protegidas e para evitar complicações legais.