Dinheiro na Mão é Vendaval: Educação e Bem-Estar Financeiro

Erika de Oliveira Cavalcanti – Mestra em Segurança Pública e Graduada em Direito pela Universidade Vila Velha (UVV) e assessora em assuntos na área do Direito.

Riberti de Almeida Felisbino – Doutor, Mestre e Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e assessor em assuntos na área de Ciências Sociais.

Resumo: Este artigo discute como as pessoas gerenciam o dinheiro para buscar os benefícios do bem-estar financeiro. A delimitação do estudo foi o ano de 2018 e a técnica de coleta e análise das informações foram baseadas na abordagem qualitativa com pesquisa exploratória. Para isto foram utilizados alguns textos discursivos sobre educação financeira e o relatório “Raio x do Investidor Brasileiro – 2º Edição” da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), que revelaram: i) hoje a educação financeira é um tema sério nas vidas das pessoas; ii) as pessoas economizaram em 2018 e iii) deram um destino ao dinheiro poupado.

Palavras-chave: Educação. Bem-Estar. Dinheiro. Finanças.

 

Abstract: This paper discusses how people manage money to pursue the benefits of financial well-being. The study was delimited in 2018 and the information collection and analysis technique was based on the qualitative approach with exploratory research. Some discourse texts on financial education were used and the research report “X-ray of the Brazilian Investor – 2º Edition” of the Brazilian Association of Financial and Capital Market Entities (ANBIMA). Results: i) today financial education is a serious issue in people’s lives; ii) people saved in 2018 and iii) have given a destination to the money saved..

Keywords:  Education. Welfare. Money. Finance.

 

SumárioIntrodução. 1. Problema de Pesquisa. 2. Objetivos. 2.1. Objetivo Geral. 2.2. Objetivos Específicos. 3. Delimitação. 4. Justificativa. 5. Metodologia. 6. Referencial. 7. Análise e Discussão. 7.1. Poupando Dinheiro em 2018. 7.2. Destino Dado ao Dinheiro Poupado em 2018. Conclusões. Referências.

 

Introdução

A educação financeira tornou-se uma das mais debatidas fórmulas educacionais para promover a boa maneira de gerenciar as finanças. Muito discutida nos últimos anos, relevante para o crescimento financeiro individual e coletivo, a educação financeira está envolvida com a capacidade de instruir as pessoas a escolherem as melhores decisões financeiras para suas vidas (PEPPE, 2015; BORGES, 2013).

Domingos (2014) destaca que a educação financeira “[…] nada mais é do que algo que auxilia a administração dos recursos financeiros, por meio de um processo de mudança de hábitos e costumes adquiridos há várias gerações”. Obviamente que isso não pode ser feito sem planejamento e disciplina, pois é necessário entender os benefícios que esse conhecimento pode oferecer as pessoas quando elas estão administrando suas finanças (MENDES, 2015).

É sabido como o consumismo cresceu nas últimas décadas, então, acredita-se que é preciso promover uma reflexão sobre a relação entre as pessoas e o dinheiro e saber como elas estão administrando suas finanças. Um gerenciamento positivo do orçamento vai levar ao bem-estar financeiro. É importante dizer que o bem-estar é a condição de quem possui estabilidade financeira, proporcionando conforto e satisfação a vida pessoal. Para atingir esse bem-estar, as pessoas devem preocupar com os gastos desnecessários, falta de reservas financeiras e, principalmente, com o desrespeito ao futuro que está diretamente atrelado as finanças.

Educação financeira dá significância ao modus operandi como usar os fundos econômicos excedentes, pagar as dívidas, investir e construir patrimônio. Mendes (2015) destaca que contrair dívidas não é necessariamente algo ruim e faz parte do crescimento do bem-estar financeiro, contudo precisa-se ter condições para pagar as dívidas assumidas. Assim, geralmente, a maioria dos problemas das pessoas está ligada as finanças que, por sua vez, afeta suas vidas.

Para ter o beom-estar financeiro no presente e no futuro, as pessoas precisam ter  objetivos e ações para planejarem o manuseio das suas finanças. Desse modo, a falta de uma administração pode trazer problemas que afetam a vida das pessoas. Quanto mais cedo elas perceberem os problemas financeiros, melhor será para traçarem suas metas no gerenciamento das finanças. Para atingir o bem-estar financeiro, deve-se planejar e implementar um plano pensado para a promoção da estabilidade financeira.

Diante do exposto, o artigo foca no modo como as pessoas lidam com o dinheiro para alcançar a estabilidade financeira tão almejada por elas. Além desta Introdução e das Conclusões e Referências, o texto está assim organizado: Problema de Pesquisa (1), Objetivos (2), com Objetivo Geral (2.1) e Objetivos Específicos (2.2), Delimitação (3), Justificativa (4), Metodologia (5), Referencial (6), Análise e Discussão (7), com Poupando Dinheiro em 2018 (7.1) e Destino Dado ao Dinheiro Poupado em 2018 (7.2).

 

  1. Problema de Pesquisa

A educação financeira é um meio de fornecer conhecimento e informação sobre comportamentos que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, da sociedade (MENDES, 2015). Logo, ela constitui um conjunto de princípios para promoção do crescimento financeiro individual ou coletivo (PEPPE, 2015; BORGES, 2013). Tendo como propósito o enunciado exposto, o problema de pesquisa deste artigo se expressa na questão a seguir: Como as pessoas lidam com o dinheiro para oportunizar o bem-estar financeiro?

 

  1. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Analisar a maneira como as pessoas gerenciam o dinheiro para buscar os benefícios do bem-estar financeiro.

 

2.2 Objetivos Específicos

  1. i) Conhecer quem economizou no ano de 2018, além de ii) saber o destino dado ao dinheiro economizado nesse ano.

 

  1. Delimitação

Com o objetivo de analisar a importância da educação financeira nas vidas das pessoas, este artigo focou no relatório de pesquisa “Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição” da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). As informações desse relatório foram baseadas em pesquisa apoiada pelo Datafolha, que ocorreu entre os dias 05 e 14 de novembro de 2018.

 

  1. Justificativa

Desde sempre a educação financeira é um tema que desperta o interesses de muitas pessoas. Ao perceberem da importância de realizarem uma administração racional do dinheiro, as pessoas passam a ter uma vida financeira saudável em todas as fases da vida. A ANBIMA (2019, p. 3) diz que

 

saber cuidar do dinheiro é mais do que manter o saldo do banco no azul: o dinheiro é o responsável por fazer a ponte entre as ambições do presente e as conquistas do futuro. Com conhecimento, planejamento e disciplina, os brasileiros podem alçar voos altos e conquistar seus desejos, como a casa própria, aquele intercâmbio no exterior e a pós-graduação tão esperada.

 

Diante do relatório da ANBIMA se justifica pela importância que a educação financeira em auxiliar as pessoas a gerenciarem suas receitas, economias e decisões de investimento, promovendo um consumo consciente e evitando fraudes. Agindo de acordo com as orientações da educação financeira, as pessoas terão maior capacidade de controlar o dinheiro para ter o tão “sonhado” bem-estar financeiro.

 

  1. Metodologia

O uso de documentos em pesquisa é uma prática comum na humanidade e tem ajudado muito na compreensão da vida social. Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009) destacam exemplos de documentos que podem fazer parte de uma pesquisa documental, a saber: filmes, vídeos, slides, fotografias, ou pôsteres. Também se pode adicionar a lista, os relatórios de pesquisa. Todos esses exemplos de documentos constituem fontes ricas de informações que ajudam no esclarecimento das dúvidas de pesquisas (SA-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009).

Tendo como base a metodologia da pesquisa documental, neste artigo o documento analisado foi o relatório de pesquisa “Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição”. Esse relatório é fruto de uma pesquisa realizada pela ANBIMA, com a colaboração do Datafolha, para apreender os hábitos de poupança e de investimento das pessoas.

No relatório em foco foram entrevistadas 3.452 pessoas em todo o Brasil. Os entrevistadores ouviram moradores de norte a sul do país, que vivem em pequenas e grandes cidades. Entre os dias 05 e 14 de novembro de 2018, os entrevistados foram pessoas com mais de 16 anos de idade e pertencentes as classes A, B e C. As classes A, B e C fazem referência as classes econômicas baseadas na renda familiar. Quanto a isto, Neri (2019) destaca, que: classe A  tem um limite inferior de R$ 11.262,00 e sem limite superior; a B de R$ 8.641,00 a R$ 11.261,00; a C de R$ 2.005,00 a R$ 8.640,00; a D de R$ 1.255,00 a R$ 2.004,00 e a E de R$ 0,00 a R$ 1.254,00. Em resumo, as denominações A, B, C, D e E estão relacionadas com a renda familiar.

De acordo com ANBIMA (2019, p. 6), cada entrevista teve uma duração de 15 minutos e as

 

[…] questões misturavam respostas com escolha de alternativas preestabelecidas e citações espontâneas, ou seja, quando não havia sugestões prévias de respostas aos entrevistados. As perguntas abertas têm a finalidade de identificar as primeiras impressões das pessoas sobre determinado assunto. Já as com alternativas, chamadas de estimuladas, buscam medir a incidência de determinados tipos de comportamento.

 

O trabalho da ANBIMA fez uso de dados qualitativos com pesquisa exploratória para atingir os objetivos supracitados, que, por sua vez, ajudou no entendimento da importância da educação financeira nas vidas das pessoas.

 

  1. Referencial

Araújo et al. (2018) destacam que “hoje vemos que muitas pessoas “sofrem” com a “falta” de dinheiro em seu orçamento, assim gerando a complicações financeiras e levando a ter um nível de estresse no seu dia-a-dia e assim afetando seu relacionamento familiar e conjugal” (p. 1). Em outras palavras, as pessoas que não foram educadas para finanças acabam sofrendo com o descontrole financeiro que, por sua vez, afeta suas vidas. Então, o que é educação financeira e para que ela serve?

Para tornar mais claro o conceito de educação financeira, é oportuno conhecer o significado de Educação e de Finanças. Para isto recorre-se ao Dicionário Online de Português para saber as definições das duas palavras.

 

Significado de Educação:

substantivo feminino

Ação ou efeito de educar, de aperfeiçoar as capacidades intelectuais e morais de alguém: educação formal; educação infantil.

Processo em que uma habilidade se desenvolve através de seu exercício contínuo: educação musical.

Capacitação ou formação das novas gerações de acordo com os ideais culturais de cada povo.

Reunião dos métodos e teorias através das quais algo é ensinado ou aprendido; relacionado com pedagogia; didática: teoria da educação.

Conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas maneiras; Civilidade.

Expressão de gentileza, sutileza; delicadeza.

Amabilidade e polidez na maneira com que se trata alguém; cortesia.

Prática de ensinar adestrando animais domésticos para as atividades que por eles devem ser praticadas.

 

Significado de Finanças:

substantivo feminino plural

Rendimentos financeiros de: as finanças da empresa vão mal.

Erário; reunião das receitas e despesas de um governo.

[Por Extensão] Departamento responsável pela administração dos recursos financeiros de: seção das finanças.

[Por Extensão] A situação financeira de: preciso organizar minhas finanças este mês!

 

Ciência ou ofício de quem trabalha com os recursos financeiros de: não sei nada de finanças.

Etimologia (origem da palavra finanças). Plural de finança.

 

Assim definidas já se tem uma primeira noção do que seja a educação financeira que é, seguindo o dicionário, ter faculdades intelectuais que possam facilitar no manejo do dinheiro, ou seja, essas faculdades intelectuais são habilidades racionais que auxiliam as pessoas no entendimento da importância do controle sobre o dinheiro.

A educação no mundo das finanças refere-se a um entendimento da terminologia do mercado financeiro, a capacidade de usar a matemática financeira para interpretar dados financeiros e a capacidade de tomar decisões sobre o uso do dinheiro (SANT ANA, 2014).

Outra definição interessante é dada pela Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), que destaca

 

Adotar decisões de crédito, investimento, proteção, consumo e planejamento que proporcionem uma vida financeira mais sustentável gera impactos não só a vida de cada um, como também no futuro do nosso país. A educação financeira convida a todos para ampliar sua compreensão a respeito dessas escolhas, sendo um conhecimento que possibilita o desenvolvimento de uma relação equilibrada com o dinheiro.

 

A educação financeira é a maneira de controlar o dinheiro, não o dinheiro orientar a ação das pessoas. Desse jeito, a educação financeira oferece as pessoas valores e competências que elas passam a exercitar com mais frequência quando estão em contato com dinheiro. Em outras palavras, as pessoas expostas aos ensinamentos da educação financeira naturalizam os valores e as competências, que passam a fazer parte de suas vidas.

Lucci et al. (2006) enfatizaram que a definição de educação financeira, alegando que se refere ao conceito e atitude do comportamento financeiro, envolve uma série de atividades gerenciadas que focam no controle diário do gastos diários, do uso dos cartões de crédito, do cheque especial, dos financiamentos, dos empréstimos, entre outros. Para os autores, a educação financeira é importante sob inúmeras perspectivas como, por exemplo, da busca do bem-estar financeiro e das ações socialmente orientadas.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma importante instância internacional, diz que a educação financeira pode ser definida como:

 

 

[…] o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro (OCDE).

 

Em toda essa discussão não se pode esquecer que a educação financeira deve começar na escola, pois é nela que se formam os futuros cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. É uma matéria tão importante que a partir de janeiro de 2020 todas as escolas brasileiras devem estar completamente adaptadas as novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BATISTA, 2019). Dentre as novas diretrizes do BNCC está a disciplina Educação Financeira, que busca “[…] solucionar um problema crescente no país que é o endividamento e a inadimplência, comprovando que o Brasil precisa de educação financeira” (BATISTA, 2019).

Todo mundo sonha com uma vida financeira tranquila, com as contas, como diz o ditado popular, no “azul” e com algum dinheiro sobrando para investimento. As definições apresentadas neste capítulo levam para o entendimento de que a educação financeira deve ser oferecida o mais cedo possível as pessoas para que elas possam naturalizar a prática do bom gerenciamento do dinheiro.

 

  1. Análise e Discussão

Antes de entrar nas discussões dos dados é importante lembrar do problema de pesquisa, dos objetivos e da fonte de dados que orientaram as discussões aqui realizadas. O problema de pesquisa deste artigo se mostra na questão a seguir:

Como as pessoas lidam com o dinheiro para oportunizar o bem-estar financeiro?

Para operacionalizar esta questão os objetivos de pesquisa são essenciais. Desse modo, eles são: i) Geral: analisar a maneira como as pessoas controlam o dinheiro para buscar os benefícios do bem-estar financeiro e ii) Específicos: i) conhecer quem economizou no ano de 2018, além de ii) saber o destino dado ao dinheiro economizado nesse ano.

Esses objetivos serão apresentados e discutidos nesta seção, para isto, cada um será abordado em um tópico separado. Quanto a fonte de dados, foi utilizado o relatório de pesquisa “Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição” da ANBIMA, que teve o Datafolha como uma das instituições que colaborou com a pesquisa. São algumas características técnicas da pesquisa: i) 3.452 pessoas entrevistadas, ii) pessoas de norte a sul do país entrevistadas, iii realização das entrevistas entre os dias 05 e 14 de novembro de 2018, iv) entrevistados com mais de 16 anos de idade e v) pessoas pertencentes as classes A, B e C.

 

7.1 Poupando Dinheiro em 2018

Economizar dinheiro talvez seja a tarefa mais difícil para muitas pessoas. Muitas não têm o costume de poupar um percentual do orçamento mensal, ou porque estejam comprometidos com pagamentos ou não conseguem colocar em prática esse costume por falta de orientações. Com essa falta de orientação muitas pessoas estão endividadas e para amenizar tal situação, agora, segundo Batista (2019), a educação financeira fará parte do ensino infantil e fundamental. Crianças já vão, desde cedo, ter consciência de que é importante saber trabalhar com dinheiro (BATISTA, 2019).

Todavia, já tem outras pessoas que conseguem fazer algumas ações para economizar. A Tabela 1 a seguir destaca algumas ações que estão ajudando essas pessoas na tarefa de guardar dinheiro.

 

Tabela 1

Ações para economizar

 

Ações Percentuais
Corte de gastos 71
Economia 13
Produtos bancários 8
Trabalhando/

Trabalhando mais

8

Fonte: Elaboração própria a partir do

relatório “Raio x do Investidor Brasileiro

– 2° Edição”, ANBIMA, 2019, p. 9.

 

A maioria dos entrevistados, 71%, conseguiu poupar algum dinheiro controlando o consumo de “coisas” desnecessárias (diminuindo a saída, bebida, cigarro, entre outros e até mesmo, internalizando a prática de fazer pesquisas em busca dos melhores preços). “A opção por corte de gastos cresceu significativamente na comparação com 2017, passando de 59% para 71% dos entrevistados”, diz ANBIMA (2019, p. 10). Dos entrevistados 13% conseguiram guardar um dinheiro, seja guardando a sobra do mês ou planejando um percentual do orçamento mensal. Outra ação para economizar foi investindo em produtos bancários, como previdência privada, ações na bolsa, entre outros.

Trabalhando mais, um pequeno grupo, 8%, conseguiu guardar um pouco do salário. Interessante saber como as pessoas desse grupo conseguiram economizar. Em seu relatório, a ANBIMA nos diz como:

 

“Cortei certos tipos de gastos, cigarro, bebida, saidinhas e festas.”

 

“A cada mês fechado eu guardo meu próprio dízimo, 10% do salário”

 

“Deixei de sair, coloquei minha filha em um colégio mais em conta.”

 

“Primeiro eu guardei o dinheiro na poupança e depois me convenci de que eu não tinha dinheiro.”

 

“Trabalhando em dois serviços, poupava o de um e vivia com o do outro.”

 

Com essas atitudes as pessoas pouparam um dinheiro que futuramente será importante para elas aplicarem em seus sonhos ou pagar, por exemplo, algumas prestações a mais da moradia ou carro financiado.

 

7.2 Destino Dado ao Dinheiro Poupado em 2018

Na seção das discussões sobre o dinheiro economizado em 2018, foi visto algumas ações que as pessoas fizeram para poupar mais dinheiro, buscando, mesmo que inconscientemente, o bem-estar financeiro.

Nesta seção será conhecido o destino dado pelas pessoas ao dinheiro poupado em 2018. Das pessoas que economizaram em 2018, 48% delas buscaram aplicar em produtos oferecidos pelos seus bancos. De acordo com o relatório da ANBIMA, “mais da metade (59%) aplicou em produtos financeiros nos quais já tinha algum dinheiro investido anteriormente. Apenas 23% se aventuraram em uma nova aplicação no mercado” (2019, p. 12). O relatório deixa claro que as pessoas sempre vão agir na área em que conhecem, pois já possuem o conhecimento e se sentem mais seguras para aplicar as suas economias poupadas em 2018.

Quanto a isto, a pesquisa perguntou: “Aplicou o dinheiro em um produto financeiro que já tinha conta?” (2019, p. 12). Boa parte dos entrevistados, 59%, diz que aplicou o dinheiro em um investimento financeiro que já possuía. Agora aqueles que começaram uma aplicação nova foram 23% do total. Dos entrevistados, 18% não responderam a pergunta.

A pesquisa da ANBIMA ainda identificou que esses investidores têm mais de 25 anos de idade, 41% possuem uma renda com até dois salários mínimos e 61% têm mais de dez salários. Em 2018, quando foram feitas as entrevistas, o valor do salário mínimo era de R$ 954,00, então, boa parte dos entrevistados (61%) ganhava mais de R$ 9.540,00. Controlando bem o orçamento, esses entrevistados conseguiam colocar o dinheiro separado nas aplicações bancárias.

Embora a aplicação em produtos bancários seja a prática comum entre muitos entrevistados, o destino do dinheiro economizado, em 2018, também tomou outro caminho. A Tabela 2 a seguir destaca alguns destinos das economias.

 

Tabela 2

Destino das economias

 

Destinos Percentuais
Aplicou em produtos financeiros 48
Comprou carro/moto 9
Comprou imóveis/lotes/terrenos 8
Investiu no negócio próprio 5
Pagou dívidas 5
Reformou, construiu casa, comprou materiais de construção 4
Fez uma viagem, passeio, saiu mais, está pagando uma viagem que vai fazer 4
Fez um curso, estudou, pagou um curso de filho/neto 3
Deixou em casa 3
Ainda não fez nada, continua economizando, mas não em produtos financeiros 5

Fonte: Elaboração própria a partir do relatório

“Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição”,

ANBIMA, 2019, p. 13.

 

O destino para 48% dos entrevistados foi aplicar o dinheiro em produtos financeiros. Em seguida 9% comprou carro ou moto e 8% investiu em imóveis ou terrenos. Dos entrevistados, 5% investiram no próprio negócio, pagou dívidas ou ainda não fez nada com o dinheiro. Para aqueles que reformaram e viajaram foram 4% do total. Por fim, 3% das pessoas entrevistadas fizeram um curso ou deixou o dinheiro parado em casa.

Como ficou exposto na tabela acima, o relatório mostra que 48% das pessoas aplicaram em produtos financeiros em 2018. Diante disto, consideramos relevante perguntar: i) Quem são essas pessoas? ii) O que são esses produtos financeiros? e iii) Quais foram os produtos financeiros utilizados por elas?

Quanto a primeira pergunta, a Tabela 3 a seguir destaca os atributos socioeconômicos vinculados a essas pessoas.

 

Tabela 3

Atributos socioeconômicos

 

Atributos Percentuais
Atividade remunerada 84
Contribuinte do INSS 64
Classe C 56
Homem, em média, 42 anos de idade 54
Região Sudeste 53
Casado, em média, 2 filhos com Renda Familiar Mensal Média R$ 5.000,00 49
Ensino médio 47
Ensino superior 35
Assalariado com registro CLT 34
Autônomo 10
Funcionário público 8

Fonte: Elaboração própria a partir do relatório

“Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição”,

ANBIMA, 2019, p. 25.

 

As informações acima permitem traçar sociologicamente o perfil desse grupo: homem casado, vive na região Sudeste e pertencente a classe C, na sua maioria com ensino médio e superior, tem atividade remunerada com carteira assinada, contribuindo com o INSS, possui uma Renda Familiar Mensal Média de R$ 5.000,00.

Com relação segunda pergunta, a literatura (ANTÓNIO, 2013) destaca que os produtos financeiros são operações feitas pelos bancos para apreensão de recursos e concessão de créditos às pessoas que desejam aplicar o dinheiro economizado. Entre uma infinidade de produtos financeiros, os mais destacados são: i) Caderneta de Poupança, ii)  Certificado de Depósito Bancário, iii) Debênture e iv) Título Público. A Caderneta de Poupança, a maneira mais popular de investimento pessoal, apresenta liquidez e tem um baixo risco em suas operações. Já o Certificado de Depósito Bancário é um produto aplicado em um período preestabelecido, que rendem com taxas pré ou pós-fixadas. A Debênture é um título de crédito emitido pela empresa para buscar, em longo prazo, rendimentos de investidores. Já o Título Público é um ativo de renda fixa lançado pelo governo para apreender captar recursos que possa refinanciar a dívida pública (ANTÓNIO, 2013).

 

Querendo rendimentos para as suas economias, os 48% dos entrevistados buscaram no mercado alternativas viáveis e seguras para o dinheiro poupado em 2018. Quanto a terceira pergunta, a Tabela 4 a seguir destaca alguns produtos financeiros escolhidos por eles.

 

Tabela 4

Produtos financeiros

 

Produtos Percentuais
Poupança 88
Previdência Privada 6
Títulos Privados 5
Fundos de Investimento 4

Fonte: Elaboração própria a partir do relatório

“Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição”,

ANBIMA, 2019, p. 26.

 

A maioria dos entrevistados, 88%, viu na Caderneta de Poupança um produto financeiro seguro e de fácil de rendimento para suas economias. Em seguida, poucos entrevistados foram buscar rendimentos na Previdência Privada, nos Títulos Privados e Fundos de Investimento, com 6%, 5% e 4%, respectivamente.

Foi visto nesta seção uma diversidade de maneiras de investimento. Muitas pessoas estão preocupadas em destinar suas reservas e procuram em que investir. Muitos foram para Caderneta de Poupança. Seja nisso ou naquilo, o importante é que essas pessoas estão de olho no futuro, então, investem em algo que possa levar ao bem-estar financeiro.

 

Conclusões

Com o propósito de oferecer uma pequena contribuição ao tema da educação financeira, a discussão neste artigo foi apoiada em alguns textos discursivos sobre o tema e no relatório “Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição” da ANBIMA. Os objetivos destacados na seção Objetivos foram atingidos e as observações feitas, ao longo do texto, permitem concluir este artigo ressaltando algumas reflexões.

É evidente a relevância da educação financeira nas vidas das pessoas. Segurança, independência e liberdade financeira é tudo que elas querem. Assim, concluímos que sabendo usar as orientações dadas pela educação financeira as pessoas terão condições de alcançar o bem-estar financeiro.

A pessoa poupadora busca juntar uma determinada quantia no presente momento para ser utilizada em um futuro próximo. A ação de poupar requer das pessoas um esforço para mudar hábitos, já naturalizados, do descontrole financeiro. No relatório analisado foi visto que muitas pessoas estão poupando dinheiro, seja uma quantia pequena ou não, do orçamento mensal. Tal atitude para essas pessoas é importante porque elas conseguem ter alguma segurança, independência e liberdade financeira, dando mais estabilidade financeira. Desse modo, concluímos que no controle das finanças, as pessoas não poupam por poupar, mas poupam para realizar seus sonhos.

Muitas pessoas aplicaram o dinheiro, elas compraram algum meio de transporte (carro ou moto), algumas adquiriram imóveis ou terrenos e outras pessoas destinaram suas reservas no que elas achavam a melhor opção no momento, como: investiram em seus próprios negócios, pagaram dívidas, reformaram suas residências, fizeram viagens, entre outros. No relatório analisado foi visto que as pessoas têm uma infinidade de destinos para o dinheiro. Dessa forma, concluímos que estar no controle das finanças, as pessoas pouparam para realizar um sonho, que já estava planejado; e no controle das finanças essas pessoas conseguiram realizá-lo, comprando um carro, um imóvel, uma viagem, pagando uma dívida, entre outros.

Finalizamos este artigo dizendo que, dada à importância da educação financeira na atualidade, esperamos que as contribuições trazidas por nós possam incentivar e servir para pensar na necessidade de conhecer ainda mais a temática aqui discutida.

 

Referências

Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Raio x do Investidor Brasileiro – 2° Edição. Disponível em: https://is.gd/9yosBD. Acesso em: 03 fev. 2020.

 

ANTÓNIO, CATARINA DOMINGUES. Produtos, serviços e operações de uma instituição bancária. Dissertação (Mestrado em Gestão Financeiro) – Instituto Superior de Gestão, Lisboa, 2013.

 

ARAUJO, Beatriz; FRANCISCO, Maiara; PADILHA, Fausto; MECHI, Rogerio. Educação financeira. Revista Científica, União das Faculdades dos Grandes Lagos, São José do Rio preto, v. 1, n. 1, p. 1-15, jan./jun. 2018.

 

BATISTA, Vera. Agora é obrigatório – crianças aprenderão educação financeira nas escolas em 2020. Disponível em: https://is.gd/M6RG6G. Acesso em: 08 dez. 2019.

 

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DOMINGOS, Reinaldo. Educação financeira e finanças pessoais: qual a diferença? Disponível em: https://is.gd/NLTuYL. Acesso em: 08 dez. 2019.

 

ENEF. Estratégia Nacional de Educação Financeira. Disponível em: https://is.gd/2f5280. Acesso em: 08 dez. 2019.

 

LUCCI, Cintia. Retz, ZERRENNER, Sabrina Arruda, VERRONE, Marco A. Guimarães, SANTOS, Sérgio Cipriano. A influência da educação financeira nas decisões de consumo e investimento dos indivíduos. Disponível em: https://is.gd/zQOGZL. Acesso em: 08 dez. 2019.

 

OCDE. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Recomendação sobre os princípios e as boas práticas de educação e conscientização financeira. Centro OCDE/CVM de Educação e Alfabetização Financeira para América Latina e o Caribe. Disponível em: <https://is.gd/DPJX76>. Acesso em: 08 dez. 2019.

 

MENDES, Juliana de Souza. Educação financeira para uma melhor qualidade de vida. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização Matemática Financeira Aplicada aos Negócios) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2015.

 

NERI, Marcelo. As classes médias brasileiras. FGV Social. 2019. Disponível em: https://is.gd/Gmq6Ur. Acesso em: 22 jan. 2020.

 

PEPPE, Lilian Brazile (2015). Perspectiva da Educação Financeira: uma análise didática. XIX Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática.  Disponível em: https://is.gd/Kf6t4E. Acesso em: 11 fev. 2020.

 

SÁ-SILVA, Jackson Ronie, ALMEIDA, Cristovão Domingos, GUINDAN, Joel Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, Rio Grande, v. I, n. I, p. 1-15, jan./jun. 2009.

 

SANT ANA, Marcus Vinicius Sousa. Educação financeira no Brasil: Um estudo de caso. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Centro Universitário Una, Belo Horizonte, 2014.

 

VISENTINI, Lucas, WEINGARTNER, Thiago da Silva. Educação Financeira: Análise dos conhecimentos de estudantes relacionados a finanças em uma escola de ensino médio.  Revista Sociais e Humanas, v. 31, n. 1, p. 81-95, jan./abr. 2018.

 

Site

Valores nominais do salário mínimo. Disponível em: http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/salario_minimo.htm. Data de acesso: 28 de janeiro de 2020.

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