Hanseníase: Do Diagnóstico ao Tratamento

HANSENIASIS: From Diagnosis to Treatment

 

Elizangela Martins Souza Rodrigues

 

Resumo: O artigo científico, tem como objetivo principal discutir o tema Hanseníase uma doença crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, que possui a capacidade de infectar grande número de indivíduos, transmitida pelo ar. Foi motivo de preocupação durante décadas, e ainda é. O tema se justifica pela importância de um diagnóstico precoce ao combate e prevenção da doença. Discutir-se – à, o fato do Brasil ainda ser um dos maiores países com taxas de detecção de novos casos, mesmo diante de tantas Políticas Públicas já existentes. Tendo como base metodológica estudos e pesquisas de índices da doença em todo país, a problemática do presente trabalho científico estará pautado em ¨Descobrir os fatores determinantes na dificuldade de um diagnóstico e tratamento precoce? Com o intuito de apontar medidas de combate a transmissão da doença devido a um diagnóstico tardio ¨. Por meio, de pesquisas bibliográficas de materiais históricos e da evolução da doença/tratamento. Busca-se, analisar os indicies de incidências a cada ano proporcional ao aumento de casos diagnosticados, apresentar dados epidemiológicos da Hanseníase; classificar os tipos de hanseníase; identificar os fatores que determinam o preconceito e a exclusão social do indivíduo portador da doença, suas causas e transmissão. A fim de alcançar os resultados pretendidos, do qual, possamos ter um diagnóstico precoce com o viés de facilitar o tratamento evitando a propagação da doença e a cura do paciente de forma mais rápida, minimizando os sintomas e os estágios.

Palavras-chaves: Diagnóstico. Doença. Preconceito. Prevenção. Tratamento.

 

Abstract: The main objective of the scientific article is to discuss the topic Leprosy, a chronic disease caused by Mycobacterium leprae, which has the ability to infect large numbers of individuals, transmitted through the air. It was a matter of concern for decades, and still is. The theme is justified by the importance of an early diagnosis to combat and prevent the disease. It will be argued that Brazil is still one of the largest countries with detection rates for new cases, even in the face of so many existing Public Policies. Based on methodological studies and index indices of the disease throughout the country, the problem of the present scientific work will be based on “Discovering the determining factors in the difficulty of a diagnosis and early treatment? With the intention of pointing out measures to combat the transmission of the disease due to a late diagnosis ¨. By means of bibliographical research of historical materials and the evolution of the disease / treatment. We search, analyze the incidence rates each year proportional to the increase in diagnosed cases, present epidemiological data on leprosy; classify the types of leprosy; identify the factors that determine the prejudice and social exclusion of the individual with the disease, its causes and transmission. In order to achieve the desired results, of which we can have an early diagnosis with the bias of facilitating the treatment avoiding the spread of the disease and the cure of the patient more quickly, minimizing the symptoms and stages.

Keywords: Diagnosis. Disease. Preconception. Prevention. Treatment.

 

Sumário: Introdução. Materiais e Métodos. Resultados e Discussões. Considerações Finais. Referências .

 

Introdução

O presente artigo será pautado no tema: ¨HANSENÍASE: Do diagnóstico ao Tratamento¨, com o viés de demonstrar a importância em um diagnóstico precoce e na efetividade do tratamento. Rompendo preconceitos e barreiras criadas durante décadas com relação a enfermidade. Onde os próprios médicos se recusavam a ficar perto de pacientes com hanseníase, durante a idade média acreditava-se que a doença era contagiosa e hereditária. No século XIX e XX a internação dos pacientes passou a ser compulsória (OPAS/ OMS, 2018).

A hanseníase está citada nos textos bíblicos como a temida ¨lepra¨, devendo os portadores ser isolados para evitar o contágio, pois nos tempos antigos não se conhecia outra forma de controle. Durante décadas foi motivo de preocupação, e ainda é, por ser uma doença crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, que possui a capacidade de infectar grande número de indivíduos, sendo transmitida pelo ar. Tem cura quando detectada precocemente, e tratada corretamente (OPAS/ OMS, 2018).

Apesar da criação de programas governamentais que previnam a eliminação da doença, esse tipo de afecção atinge grande número da população brasileira. O Brasil é único país das Américas que não eliminou a doença enquanto problema de saúde pública (ARAÚJO, 2007).

A Hanseníase representa um grave problema de saúde pública no Brasil, além dos agravantes inerentes a qualquer doença de origem socioeconômica; ressalta-se a repercussão psicológica gerada por esta doença (BRASIL, SECRETÁRIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016).

Todo portador de Hanseníase foi primeiramente comunicante, portanto, considerado de importância epidemiológica significativa em termos de endemia e passa a se tornar grupo de risco vulnerável do ponto de vista do processo infeccioso (CARRASCO; PEDRAZZANI, 1993).

Destarte o Brasil ainda ser um dos maiores países com taxas de detecção de novos casos de hanseníase dentre os países do continente americano e, no mundo, fica atrás apenas da Índia (BRASIL, SECRETÁRIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016).

Cabe ressaltar, que embora o Governo Federal tenha implantado o instrumento de notificação da doença, o (SINAN) Sistema de Informação de agravos de Notificações, vê-se a necessidade do desenvolvimento de uma Base de Dados Específica da Hanseníase nos Estados brasileiros mais atingidos. Diante de tal evidência, percebe-se que aqueles que trabalham com a prevenção da doença encontram diversas barreiras em relação ao diagnóstico e as identificações epidemiológicas, de sua incidência, o que prejudica as atuações preventivas, pois não são todos os profissionais que lidam com a doença que estão aptos a enfrentar seu crescimento (DATASUS, 2019).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nas décadas de 1980 e 1990, a carga global de casos de infecção por M. leprae diminuiu quase 90%. Sendo uma doença com alta transcendência e por ser transmissível, merece atenção das autoridades sanitárias, devendo ser controlada (OPROMOLLA; BACCARELLI, 2003).

A Hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, no entanto, raramente ocorre em crianças. Observa-se que crianças, menores de quinze anos, adoecem mais quando há maior endemicidade da doença. A incidência da doença é maior no sexo masculino do que no feminino na maioria das regiões mundiais (BRASIL, Ministério da Saúde, 2010).

Além das condições individuais, outros fatores relacionados aos níveis de endemia são condições socioeconômicas desfavoráveis, assim como condições precárias de vida e de saúde e o elevado número de pessoas convivendo em um mesmo ambiente. Estes fatores influem no maior risco de adoecer (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

O tema se justifica pela importância de um diagnóstico precoce ao combate e prevenção da doença. Diante do fato de hoje o Brasil ser o segundo países com maior índice de hanseníase no mundo, perdendo somente para índia, mais de 32 mil pessoas são diagnosticadas por ano no país (Dados apresentados pelo SUS – Sistema único de Saúde entre 2015 e 2017).

Por mais que essa doença tenha sido incluída no planejamento de ações de saúde do ministério da saúde, ela ainda mostra força com o crescente aparecimento de casos em todas as regiões do país. Percebe-se que as ações de mobilização social e treinamentos de equipes de saúde não devem focar somente em determinadas regiões, ou populações específicas, o combate de ocorrer em todo País, quiçá no mundo. Colocar em pauta a importância de um diagnóstico precoce para o combate e o tratamento e de suma relevância, pois maior será o número de casos tratados rompendo-se assim as cadeias de transmissão (DATASUS, 2019).

Ademais, por mais que esse não seja um tema novo. Ainda é muito carente de conhecimento entre os profissionais da área da saúde. É possível perceber que mesmo os profissionais mais experientes, ainda tem muitas dúvidas acerca do tema. Algum dos fatores que causam a falta de conhecimento, podemos citar a falta de interesse dos profissionais, destarte a existência de poucas atividades voltadas para o problema, a falta de preparo e capacitação dos profissionais, e dos agentes comunitários sobre a doença, má informação da população e avaliação inadequada dos contatos domiciliares (DATASUS, 2019).

Lembremos, que para que qualquer ação de assistência no tratamento de hanseníase seja efetiva, devemos nos lembrar do perfil epidemiológico da doença. Quando uma pessoa recebe o diagnóstico é imprescindível que todas às pessoas que tenham tido contato com aquele doente também seja examinado e orientado sobre a apresentação de sintomas. A hanseníase desenvolve-se lentamente e insidiosamente, é possível que essa pessoa desenvolva a doença (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, causada pela bactéria Mycobacterium leaprae. A transmissão se dá pelas vias aéreas, por meio do contato entre uma pessoa infectada para uma saudável suscetível. As manchas causadas não doem e não coçam e o período de incubação da doença é de cinco anos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

O diagnóstico de caso de hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, e é realizado por meio da análise da história e das condições de vida do paciente, do exame dermato neurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autonômico) (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Os casos com suspeita de comprometimento neural, sem lesão cutânea (suspeita de hanseníase neural pura) e aqueles que apresentam área (s) com alteração sensitiva e/ou autonômica duvidosa e sem lesão cutânea evidente, deverão ser encaminhados aos serviços de referência (municipal, regional, estadual ou nacional) para confirmação diagnóstica (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Recomenda-se que, nessas unidades, os casos sejam submetidos novamente ao exame dermato neurológico, à avaliação neurológica, à coleta de material (baciloscopia ou histopatologia cutânea ou de nervo periférico sensitivo) e, sempre que possível, a exames eletrofisiológicos e/ou outros mais complexos para identificar comprometimento cutâneo ou    neural discreto, avaliação pelo ortopedista, neurologista e outros especialistas para diagnóstico diferencial com outras neuropatias periféricas. Em crianças, o diagnóstico da hanseníase exige exame criterioso, diante da dificuldade de aplicação e interpretação dos testes de sensibilidade (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Antes da descoberta do tratamento de hanseníase, o controle da doença era feito por meio do isolamento das pessoas nos hospitais, e o isolamento compulsório, determinado pelas autoridades federais. Essas medidas eram tomadas para quebrar a corrente do contágio, pois os doentes eram afastados dos seus familiares, dos amigos, do seu trabalho, da sua comunidade. Com essas medidas, milhares de famílias foram destruídas sendo está uma política sanitária que embora tenha sido utilizada para evitar a transmissão, ela acabou por violar os direitos humanos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A partir da década de cinquenta, o uso da sulfona permitiu que o tratamento fosse realizado ambulatorialmente e implantou medidas para combater o preconceito. Nos anos setenta, o médico brasileiro Abraão Totberg, preocupado com a discriminação contra as pessoas atingidas pelo bacilo, tomou a iniciativa de denominar a doença de hanseníase. Com o tratamento, os pacientes ficaram curados e tiveram alta, contribuindo para derrubar os muros do isolamento, mas não a barreira da discriminação (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A imagem social da doença é histórica. O desenvolvimento da ciência não foi suficiente para mudar a resposta de medo e preconceito em relação à doença, apesar de Armauer Hansen, em fins do século XIX, descobrir o agente causador, comprovando o caráter infectocontagioso e anulando a ideia de hereditariedade, pecado ou castigo. Ainda assim, surge a teoria de que o isolamento do doente eliminaria o mal, incentivando a adoção do modelo de tratamento baseado no cerceamento da liberdade em grandes instituições de isolamento (MATOS; FORNAZARI, 2005).

O tratamento da hanseníase é primordialmente ambulatorial. Os esquemas terapêuticos devem ser realizados segundo a classificação operacional do indivíduo acometido, com doses mensais e outras diárias dos medicamentos indicados, se tratado a tempo no decorrer de 6 a 36 meses o paciente vem a ser curado, evitando o agravamento do estágio e a transmissão (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

A hanseníase tem cura, se tratada de forma adequada e logo no início pode evitar incapacidades físicas, já que atinge pele e nervos, afirma o Ministério da Saúde (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Neste sentido, o artigo apresenta a importância do desenvolvimento e implantação de um Sistema de Informação mais eficaz para acompanhar a Hanseníase. Instituir ações multidisciplinares, consistindo na tentativa de integração de Equipes de Saúde da Família (ESF), do Núcleo de Apoio ao Saúde da Família (NASF) e da Vigilância Epidemiológica (VE) para uma atuação mais precisa após a identificação dos casos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

A partir de uma Base de dados local e a agregação de uma equipe multidisciplinar, para que possa orientar o portador de Hanseníase e seus familiares, lembrando que o indivíduo precisa de uma atenção integral de várias especialidades. A multidisciplinaridade é de fundamental importância para o êxito na cura do doente e na prevenção do agravo (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Com o intuito de reduzir o preconceito e o tom pejorativo, o termo passou a ser ¨hanseníase¨. Médicos e enfermeiros estão mais conscientes, mas alguns pacientes ainda relatam descaso e preconceito dentro de hospitais e clínicas. A evolução social e da ciência nos proporciona atualmente uma educação permanente a capacitação teórica e prática, destinada aos profissionais de saúde deve ser contínua, de modo a conseguirmos que os pacientes hansenianos sejam atendidos em todas as unidades básicas de saúde em busca da melhoria na capacidade de diagnosticar e controlar a erradicação da doença (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

 

Materiais e Métodos

O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva epidemiológica com investigação bibliográfica, em que apresenta uma análise de caráter quantitativo dos casos notificados de Hanseníase. A coleta de dados foi realizada nos dias 12 e 14 de março de 2019, sendo coletadas informações do período de 1 de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2017, além disso, foram captadas referências bibliográficas no período de 2010 a 2018, em que foi visado buscar dados epidemiológicos.

A população foi representada por usuários de ambos os sexos de todas as faixas etárias, notificados ao Sistema de Informações de Agravos e Notificações (SINAN) do DATA SUS (www.datasus.gov.br/) sítio do Ministério da Saúde.

O estudo utilizou o banco de dados secundários de domínio público, sem identificação nominal, sendo dispensado da apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Observaram-se os princípios éticos constantes da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n. 466, de 12 de dezembro de 2012.

A análise foi realizada através de estatística descritiva simples e comparativa entre as diferentes regiões brasileiras e entre o período de 2010 a 2017.

 

Resultados e Discussões

No período estudado de 2010 a 2019, com o viés de capitar dados epidemiológicos. Pode-se constatar que, nos últimos anos, os profissionais estão percebendo que a detecção de novos casos acontece tardiamente, quando a doença já se manifesta em estágio avançado.

Onde os maiores fatores que podem influenciar são as condições geográficas, socioeconômicas, e a falta de profissionais especializados. As detecções tardias acontecem, porque os sintomas ainda estão passando despercebidos pelos profissionais que atuam no atendimento básico de saúde (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Segundo o Ministério da Saúde, em 2016 o Boletim Epidemiológico Mundial, publicado em setembro de 2017 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informa que 143 países e territórios reportaram casos da doença em 2016. Do total de 214.783 casos novos informados, o Brasil ocupou a segunda posição com 25.218 (11,7 %) e a índia com 135.485 (63%) do total dos casos novos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Para Marco Andrey Cipriani Frade (2012), professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia, os profissionais da saúde têm dificuldade em diagnosticar a doença porque falta preparo e há a noção errônea de que a hanseníase está deixando de ser um problema de saúde pública no país. “Quem procura e sabe o que está buscando acha a doença”, afirma.

O Ministro da Saúde Arthur Chioro, em 2015 já relatava que os esforços realizados em relação à mobilização dos profissionais na área de saúde, dentre gestores, enfermeiros, médicos e sociedade é importante para tratar não só os casos diagnosticados, mas as famílias dessas pessoas “essa estratégia é decisiva para interromper a cadeia de transmissão da doença” (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Em 2016, foi elaborada uma estratégia global para hanseníase que tem a estimativa de 2016 a 2020, essa estratégia visa acelerar a ação de eliminação da doença, porém segundo o plano de metas ainda há muitos desafios a serem superados, como o atraso na descoberta de novos pacientes, a persistência da discriminação de pessoas afetadas o impacto limitado na transmissão (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

Considera-se um caso de hanseníase a pessoa que apresenta um ou mais dos seguintes sinais cardinais e que necessita de tratamento poliquimioterápico: a) lesões; b) acometimento      de nervo (s); e c) baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. É uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional e de investigação obrigatória. Onde os casos diagnosticados devem ser notificados, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação/Investigação (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

O Programa Nacional de Controle da Hanseníase do Ministério da Saúde desenvolve um conjunto de ações que visam orientar a prática em serviço em todas as instâncias e diferentes complexidades, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), fortalecendo as ações de vigilância epidemiológica da hanseníase, a promoção da saúde com base na educação permanente e a assistência integral aos portadores deste agravo (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

A vigilância epidemiológica corresponde a um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual e coletiva, tendo a finalidade de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle das doenças e agravos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A classificação operacional do caso de hanseníase, visando definir o esquema de tratamento com poliquimioterapia é baseada no número de lesões cutâneas, de acordo com os seguintes critérios: Paucibacilar (PB) – casos com até cinco lesões de pele; e Multibacilar (MB) – casos com mais de cinco lesões de pele (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).

As pessoas têm imunidade para o M. leprae, e a maioria não adoece. Entre as que adoecem, o grau de imunidade varia determinando a forma clínica e a evolução da doença. As formas de manifestações clínica da hanseníase são quatro: indeterminada, tuberculoide, virchowiana e dimorfa (classificação de Madri). A partir da forma indeterminada, a hanseníase pode evoluir para as demais formas clínicas (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Em análise, ao sistema do DATA SUS- (departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil), onde é possível acompanhar os casos espalhados pelos Estados brasileiros, consoante epidemia de doenças como a Hanseníase, aponta que apesar da redução de 19 para 3 doentes a cada 10 mil habitantes. A hanseníase no Brasil, ainda configura um problema de saúde pública o que exige uma atenção redobrada dos responsáveis por meio de uma vigilância resolutiva (SINAN, 2019).

Segundo as fontes que envolvem o Ministério da Saúde, o SINAN – (Sistema de Informação de Agravo e Notificação), e o DATA SUS, o homem ainda é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. Pelo qual, o contágio ocorre através da pessoa portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior contagiando outras pessoas (SINAN, 2019).

A avaliação do grau de incapacidade física mostrou que a maioria dos novos casos apresentou grau 2, onde o risco de apresentarem deformidades no momento do diagnóstico cresce significativamente a medida que aumenta o atraso no diagnóstico, reforçando ainda que o diagnóstico precoce e a medida mais eficaz de prevenir o dano, facilitando o tratamento e a cura do paciente (SINAN, 2019).

 

Captura de Tela 79

 

Na tabela acima, percebe-se como que a região centro-oeste possui as taxas mais elevadas nos anos de 2010 a 2015, vindo a ter uma redução em 2016 e 2017. O diagnóstico tardio e a demora para iniciar o tratamento podem provocar o desenvolvimento de incapacidades e deformidades nas pessoas atingidas pela doença.

 

Captura de Tela 78

A principal via de eliminação do bacilo pelo indivíduo doente de hanseníase e a mais provável via de entrada do bacilo no organismo passível de ser infectado, são as vias aéreas superiores – o trato respiratório. Existe, também, a possibilidade de penetração do bacilo através da pele, quando esta não se apresenta íntegra. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato direto com a pessoa doente não tratada (SINAN, 2019).

A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, no entanto, raramente ocorre em crianças. Observa-se que crianças, menores de quinze anos, adoecem mais quando há uma maior endemicidade da doença. Há uma incidência maior da doença nos homens do que nas mulheres, na maioria das regiões do mundo (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

A maioria dos afetados em todas as faixas etárias são os homens. O Ministério da Saúde (2019) explica que há uma série de fatores que podem influenciar, como por exemplo, sexo, idade, as condições geográficas, socioeconômicas etc. logo, esse predomínio em homens e explicado geralmente pela maior exposição ao bacilo, e pelo menor cuidado dos homens com a saúde em detrimento ao sexo feminino. Onde retarda um diagnóstico e aumenta os riscos com relação ao desenvolvimento e transmissão da doença.

O diagnóstico da hanseníase é realizado através do exame clínico dermato neurológico. Buscam-se sinais da doença no paciente, que passa a ser considerado um caso de hanseníase se apresentar uma ou mais de uma das características a seguir: presença de lesão ou lesões de pele com alteração de sensibilidade, acometimento de um ou mais nervos associados à presença de espessamento neural e/ou baciloscopia positiva (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Devido aos acometimentos dos nervos, as incapacidades físicas e deformidades são um grande problema na hanseníase, sendo responsáveis pela exclusão dos trabalhadores do mercado de trabalho, do convívio social e da sua participação na comunidade (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

 

Captura de Tela 77

 

Fonte. Imagens da aparência da doença. Versão online. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/imagemdasemana/index.php?caso=318 dia 01 de maio 2019.

¨A afinidade que o bacilo apresenta por pele e nervos periféricos dá à doença características peculiares, o que pode facilitar o seu diagnóstico na maior parte dos casos¨(ARANTES, 2010, p. 155).

¨A organização dos serviços de saúde é um dos fatores mais importantes no enfrentamento da hanseníase por proporcionar a detecção e o tratamento¨ (MAGALHÃES; ROJAS, 2007, p. 75).

Quanto ao tratamento é gratuito e oferecido pelo SUS, consiste em uma associação de medicamentos chamada de poliquimioterapia (PQT), que evita a resistência do bacilo que ocorre, com frequência, quando se utiliza apenas um medicamento, impossibilitando a cura da doença (SINAN, 2019).

Nas formas mais brandas (paucibacilar) demora em torno de seis meses – são utilizados rifampicina e dapsona; já nas formas mais graves (multibacilar) o tempo é de um ano ou mais – são utilizados rifampicina, dapsona e clofazimina (SINAN, 2019).

Uma vez por mês, o paciente recebe uma dose supervisionada da medicação na unidade de saúde e leva uma cartela com as medicações padronizadas para casa. As lesões de pele podem desaparecer logo, o que não quer dizer que a pessoa esteja curada, daí a importância de se respeitar o tempo de tratamento (SINAN, 2019).

 

Captura de Tela 76

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), toda pessoa que apresenta um ou mais dos critérios listados a seguir, com ou sem história epidemiológica e que requer tratamento quimioterápico específico: lesões de pele com alteração de sensibilidade; espessamento de nervo (s) periférico (s), acompanhado de alteração de sensibilidade; e baciloscopia positiva para bacilo de Hansen (SINAN, 2019).

A classificação operacional do caso de Hanseníase, visando o tratamento com poliquimioterapia é baseada no número de lesões cutâneas de acordo com os seguintes critérios: Paucibacilar (PB) – Casos com até 5 lesões de pele; Multibacilar (MB) – Casos com mais de 5 lesões de pele (SINAN, 2019).

É fundamental seguir o tratamento, pois é eficaz e permite a cura da doença, caso não seja interrompido.  Os indicadores operacionais apontaram discreta melhoria na qualidade do atendimento aos portadores da doença (SINAN, 2019).

Cavalcanti; Silva (2008), utiliza um estudo descritivo do tipo longitudinal com os objetivos de descrever e analisar a distribuição e o comportamento dos casos novos de hanseníase no município de Cabrobó, entre os anos de 2001 e 2007. Aponta o autor que a taxa de detecção de hanseníase foi calculada em base de 10.000 e os casos novos expressos em números absolutos. Os resultados indicam o predomínio da forma multibacilar (já nas formas mais graves), nos anos estudados e que pode estar havendo diagnóstico tardio da doença.

Os dados indicam que o sexo feminino é mais acometido pela hanseníase que o sexo masculino em Cabrobó, o que pode estar relacionado a uma baixa pesquisa da doença nos homens. Esse fato pode estar relacionado também a uma maior procura dos serviços de saúde pelas mulheres e à ineficiência desses serviços em alcançar a população masculina para o diagnóstico da doença, pois os coeficientes de detecção da doença são predominantemente maiores no sexo feminino (CAVALCANTI; SILVA, 2008, p.23).

Em seu estudo sugere que:

Deve-se investir na estruturação dos serviços de saúde para o enfrentamento da hanseníase e interromper a cadeia de transmissão da doença, qualificar a atenção básica, fortalecer ações de vigilância epidemiológica, ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento com poliquimioterapia, prevenir incapacidades e reabilitar em todos os níveis do sistema de saúde (CAVALCANTI; SILVA, 2008, p.23).

Após ser realizado um estudo com base em diversas pesquisas referentes ao tratamento e ao diagnóstico da doença hanseníase, percebe-se, que os dados disponíveis em menos de 20 anos para cá, discutem os mesmos problemas. Dos quais, podemos apontar o homem como o maior incidente da doença com diagnóstico tardio, sendo assim, um potencial em transmissão, devido fato das mulheres se cuidarem mais, e conseguirem um diagnóstico precoce e assim chegar a cura com mais facilidade (SINAN, 2019).

 

Considerações Finais

Embora exista ainda grandes dificuldades quanto a coleta de dados atualizados sobre o avanço da doença. Através da pesquisa realizada, pôde-se observar que o Brasil ainda possui grandes dificuldades em conter o avanço e agravamento da doença.

Ademais, por mais que esse não seja um tema novo. Ainda é muito carente de conhecimento entre os profissionais da área da saúde. É possível perceber que mesmo os profissionais mais experientes, ainda tem muitas dúvidas acerca do tema.

Algum dos fatores que causam a falta de conhecimento, podemos citar a falta de interesse dos profissionais, destarte a existência de poucas atividades voltadas para o problema, a falta de preparo e capacitação dos profissionais, e dos agentes comunitários sobre a doença, má informação da população e avaliação inadequada dos contatos domiciliares.

Para que qualquer ação de assistência no tratamento de hanseníase seja efetiva, devemos nos lembrar do perfil epidemiológico da doença. Quando uma pessoa recebe o diagnóstico é imprescindível que todas às pessoas que tenham tido contato com aquele doente também seja examinado e orientado sobre a apresentação de sintomas. A hanseníase desenvolve-se lentamente e insidiosamente, é possível que essa pessoa desenvolva a doença.

O processo de monitoramento da doença deve ser fundamentado em informações que enfatizem os aspectos operacionais, propiciando discussão e reformulação de processos de trabalho nos serviços.

Logo, o tratamento supervisionado contribui para reduzir o abandono de tratamento e aumentar o número de pessoas curadas. As pessoas em tratamento podem continuar suas atividades normais: conviver com sua família, seus colegas de trabalho e amigos. Sendo importante que a comunidade tenha participação ativa no processo de eliminação da hanseníase.

A organização dos serviços de saúde é um dos fatores mais importantes no enfrentamento da hanseníase por proporcionar a detecção e o tratamento. Ao comparar as diversas formas e épocas de estudos com o auxílio de coleta de dados, com o viés de definir o perfil de enfrentamento epidemiológico da hanseníase, podendo assim vir a subsidiar ações de enfrentamento do agravo da doença no que concerne a elaboração de estratégias em Saúde Pública para o controle da doença.

 

Referências

ARANTES et al. Avaliação dos serviços de saúde em relação ao diagnóstico precoce da hanseníase. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 19, n. 2, pág 155, abr-jun, 2010.

ARAÚJO. Marcelo Grossi. Hanseníase no Brasil: artigo científico. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.36, n°3, págs. 373-382, Uberaba day/June 2007. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822003000300010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822003000300010>. Acesso em:  04 de novembro de 2018.
BRASIL. DATASUS. (2017). Versão online. Disponível em: http://datasus.saude.gov.br/ Acesso em: 01 de janeiro de 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Autocuidado em hanseníase. Faces, mãos e pés. Editora MS, Brasília DF, 2010. Versão imprensa. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/autocuidado_hanseniase_face_maos_pes.pdf . Acesso em:  03 de fevereiro de 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretrizes para vigilância, atenção e eliminação da hanseníase como problema de saúde pública. Manual técnico-operacional. Brasília: Ministério da Saúde;2016. Versão online. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/Manual_de_Diretrizes_Eliminacao_Hanseniase.pdf. Acesso em: 03 de fevereiro de 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia prático sobre a Hanseníase. Brasília-DF, 2017. Versão online: Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/22/Guia-Pratico-de-Hanseniase-WEB.pdf. Acesso em:03 de fevereiro de 2019.

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