Casos dentro e fora do Brasil mostram o sucesso de intervenções cirúrgicas fetais para corrigir malformações nos bebês ainda no útero
A tecnologia cresceu de forma significativa nos últimos anos e chegou em diversos setores da vida humana. Na saúde, ela possibilitou avanços de estudos e inovações que renderam resultados positivos para a qualidade de vida e bem-estar da população.
Em setores específicos como a ginecologia, as novas tecnologias cuidam da saúde da mulher em todos os ciclos da vida, inclusive na gestação. As chamadas cirurgias fetais, por exemplo, só foram possíveis graças à tecnologia e oferecem a possibilidade de identificar e tratar alterações enquanto o bebê ainda está no útero da mãe.
Segundo o Ministério da Saúde, muitas disfunções em fetos, se não tratadas, podem levar ao parto prematuro, deixar sequelas ou até mesmo pôr em risco a vida da criança e de quem a gera. Por esse motivo, para realizar esses procedimentos, a ginecologia se une à pediatria para checar os sinais vitais da mulher e do bebê, garantindo a vida e a saúde de ambos.
O que é e como é feita uma cirurgia fetal?
Segundo a Maternidade D’Or da Rede D’Or, a cirurgia fetal é um procedimento intrauterino que utiliza tecnologias avançadas para tratar alterações do feto. Atualmente, ela é realizada em centros especializados em medicina fetal.
Apesar de ser uma área relativamente nova, ela é também uma das que mais evoluem, especialmente devido à sofisticação da ultrassonografia. Para muitos familiares, as imagens obtidas nos exames satisfazem apenas a curiosidade de ver o rosto do bebê, mas elas também permitem que os médicos identifiquem quaisquer alterações que antes eram vistas apenas após o parto.
Um artigo acadêmico da Universidade de São Paulo (USP) explica que essa técnica surgiu por volta da década de 1960, com a necessidade de melhor conhecer e atender as patologias fetais. Ainda conforme a Maternidade D’Or, para realizar esse tipo de procedimento, podem ser usadas diferentes técnicas, como abertura do abdômen materno e endoscopias percutâneas.
A indicação para as cirurgias podem depender de caso para caso. O artigo da USP salienta que entre os principais procedimentos cirúrgicos fetais estão a correção intrauterina de mielomeningocele, oclusão endotraqueal fetal na hérnia diafragmática congênita e intervenções cardíacas.
Além disso, também existem estudos sobre tipos de transplante que podem salvar a vida dos bebês, ainda na gestação.
Resultados das cirurgias fetais
Por ser um procedimento novo na medicina, os resultados das cirurgias fetais ainda estão começando a aparecer na mídia. Uma matéria publicada no CNN, por exemplo, trouxe o relato de uma família que passou por um procedimento cirúrgico fetal.
De acordo com as informações divulgadas à imprensa, a cirurgia foi realizada em um hospital de Boston, nos Estados Unidos. Os médicos repararam cirurgicamente um vaso sanguíneo malformado no cérebro do bebê enquanto ele ainda estava no útero da mãe. A criança, chamada Denver Coleman, recebeu alta algumas semanas após o nascimento e não precisou de medicamentos e outros tratamentos desde então.
A condição que afetou a menina, conforme explica um comunicado da American Heart Association (AHA), chama-se malformação aneurismática da veia Galeno (MAVG) e afeta cerca de 1 em cada 60 mil nascimentos. Antes das cirurgias fetais, os métodos para tratar essa anomalia eram feitos após o nascimento e envolviam o bloqueio das conexões artéria-veia da malformação. No entanto, o procedimento nem sempre conseguia reverter a situação.
No território brasileiro, a cirurgia também teve resultados positivos. Segundo uma matéria publicada no portal da Universidade de Taubaté (Unitau), uma intervenção cirúrgica fetal para a correção de uma malformação congênita chamada gastrósquise foi realizada no interior do estado de São Paulo.
A condição foi identificada por meio do ultrassom, que mostrou que o bebê apresentava uma abertura na barriga e que seus intestinos estavam do lado de fora, em meio ao líquido amniótico. A anomalia é a mesma que repercutiu na mídia após o caso da pequena Aurora, filha do surfista Pedro Scooby e da modelo Cintia Dicker.
Conforme explica a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a malformação acomete 5 para cada 10 mil nascidos vivos, mas estudos indicam um aumento progressivo nos últimos anos.
A cirurgia fetal realizada em Taubaté contou com uma equipe composta por 12 profissionais e deu mais saúde e qualidade de vida para a Vitória, bebê que passou pelo procedimento.
Uma pesquisa publicada no Brazilian Journal of Health Review chamada “Os avanços em cirurgia fetal para intervenção pré-natal de anomalias congênitas” aponta que as cirurgias realizadas nos fetos podem levar a melhores resultados em comparação com as intervenções pós-natais.
No entanto, o estudo reforça a importância da seleção de casos e de uma equipe especializada para alcançar resultados bem-sucedidos, uma vez que, assim como qualquer outro procedimento cirúrgico, esse também pode oferecer riscos para a mãe e o bebê.
Por fim, a pesquisa também destaca a relevância de pesquisas contínuas sobre as cirurgias fetais, a fim de aprimorar e comparar diferentes técnicas para aumentar os resultados positivos desse tipo de procedimento.