Por: Roberto Ribeiro.
O famoso e já provavelmente temido Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)– cuja aprovação, desde 1994, é condição obrigatória para exercer a Advocacia no Brasil – é assustador?
A paulista Natália Bérgamo Pascucci, 22 anos, estudante do último ano do curso de Direito pela Universidade Paulista (Unip), em Bauru, interior de São Paulo, pensa um pouco antes de responder sobre as provas ao Âmbito Jurídico.
Ela há poucos dias foi notícia nacional graças a sua performance no Exame, cuja média nacional há pelo menos dez anos, segundo a própria OAB, atinge um índice de reprovação de mais de 70% dos candidatos aptos a prestar a prova.
A estudante – a colação de grau está prevista para junho deste ano – não apenas foi aprovada. Na segunda etapa (de caráter dissertativo) ela não deixou por menos: gabaritou. Antes, na primeira fase, de múltipla escolha, emplacou 58 das 80 questões, aproveitamento de pouco mais de 72%.
Mas à pergunta: Natália reconhece que se o Exame da OAB não mete medo, ao menos impõe respeito. E assim deve ser tratado.
Não fosse assim, o aproveitamento seria outro. Além do índice alto de reprovação, outros números mostram a dificuldade que bacharéis em Direito e estudantes do último ano têm se deparado diante do desafio de garantir a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e assim dar início à carreira na Advocacia.
Reportagem recente publicada pelo jornal Folha de São Paulo, e repercutida pelo Âmbito Jurídico, indica que entre 2017 e 2019, nove em cada dez cursos superiores em Direito não aprovaram sequer um terço dos seus alunos no Exame – 679 entre 790 faculdades.
“É muito conteúdo”, justifica ela, que admite não ter conseguido na primeira fase do Exame dar conta de toda a matéria. “É muito extenso, são cobrados os cinco anos de preparação, a OAB cobra esse conteúdo e, para passar, é preciso reforçá-lo.”
Dicas
“Cursinho preparatório ajuda”, reconheceu. “Tanto para a primeira como para a segunda prova”, acrescenta.
Mas o cursinho, em formato on-line, não foi algo novo na vida acadêmica de Natália Pascucci.
Ela conta que ao longo da faculdade, iniciada no segundo semestre de 2017 graças a uma bolsa integral, assistir a vídeo-aulas sobre as matérias que via no curso sempre fez parte da sua rotina por interesse próprio, “pra reforçar” o que via em sala de aula.
“A Internet, o Youtube em particular, tem muito material interessante, vale a pena.”
Ela voltou a recorrer ao cursinho preparatório para a segunda prova, realizada num intervalo de 45 dias depois da primeira. Desta vez, conta Natália, num ritmo muito parecido com o da faculdade, com aulas ao vivo.
Foco também é importante, segundo a futura advogada. Passado o período de provas, conta que estudou em média três horas por dia – fins de semana incluídos. Detalhe: a ainda estudante precisa dedicar oito horas do seu dia ao escritório Ayub, em Bauru, onde trabalha como assessora jurídica.
Este é outro “segredo” que para ela contou na aprovação no Exame da OAB: “Quanto mais experiência na área melhor, faz toda a diferença”.
No caso de Natália, ter acesso a estágios faz parte da vida acadêmica desde o primeiro semestre. Anote: “É um grande aprendizado, pra mim foi muito importante estar no meio desde sempre, vendo na prática como funciona.”
As dicas não terminam aqui. Ela recomenda também focar em temas que considera mais recorrentes e específicos, como Ética – “que não é tão extenso e cai” -, fazer provas de exames anteriores e, por fim, se concentrar. Não tem segredo.
Futuro
A reta final do curso de Direito coincide com o desejo de continuar estudando, algo para o qual diz ter ficado “mais consciente” ao longo da faculdade.
O desejo de dar prosseguimento aos estudos deve encaminhá-la à pós-graduação – principalmente a partir do tema que vai desenvolver na monografia de conclusão de curso, o chamado TCC, cuja pesquisa já começou.
Nela, pretende estudar a tutela jurídica de pessoas em situação de rua – os direitos amparados em Lei dessa população, incluindo questões controversas e polêmicas, como internação compulsória, entre outras.
A repercussão que obteve com a aprovação no exame da Ordem, admite que não esperava. Desde então são incontáveis os pedidos de ajuda e de dicas via redes sociais que vão desde o conteúdo da prova como cronograma de estudos, além de elogios e mensagens de parabéns e felicitação.
O perfil não difere muito: são estudantes e bacharéis que ainda não prestaram o Exame ou não foram aprovados. “Não consigo, infelizmente, responder a todos, mas estou muito contente em ter sido aprovada, receber esse reconhecimento e ajudar de alguma forma quem ainda precisa passar pelo Exame para poder advogar.”
GUIA DE ESTUDO
Além do cursinho, da experiência prática adquirida em estágio e do foco nas constantes horas de estudo, a estudante resume: “Fui refazendo provas antigas e pesquisando pela internet o que eu não conseguia entender”.