A oposição vive um momento singular.
Com a divulgação das mais recentes pesquisas de opinião para a eleição
presidencial, percebe-se que vivemos dias em que o governo federal sofre uma
série de desgastes, principalmente em decorrência do racionamento de energia. A série de fatores que arranham a imagem do governo, ao mesmo
tempo, impulsionam as candidaturas de oposição ao Planalto. Dos três
mais notórios candidatos a Presidência, percebe-se que o pré-candidato pelo PT,
Lula, passou do patamar dos 30%. Itamar Franco, governador das Minas Gerais,
desponta em uma das pesquisas como o segundo colocado isolado, deixando para
trás Ciro Gomes, que aparece em
terceiro. Em outras, Ciro e Itamar aparecem empatados. Serra,
a cada dia que passa, observa suas intenções de voto minguarem
como conseqüência da crise que circunda o governo. Mas será que a oposição
conseguirá tirar todo o proveito necessário deste bom momento político?
É a hora dos
candidatos de oposição. O crescimento da insatisfação popular com o governo federal
mostra que este é o momento dos oposicionistas se apresentarem seriamente para
o eleitor, propondo soluções concretas e propostas factíveis, mostrando toda a
maturidade e serenidade que um líder necessita para ocupar o cargo maior da
República. No caso dos partidos situados mais à esquerda, que estão procurando
mostrar um posicionamento mais moderado, este é o momento certo para apresentar
propostas, críticas e sugestões alternativas, ao invés de incitar manifestações
e passeatas. No caso dos pré-candidatos que ocupam cargos executivos em
governos estaduais, este é o momento de mostrar bom senso e se unir a todos brasileiros no esforço para reduzir o consumo de
energia, mesmo sendo contra o racionamento determinado pelo governo federal no
estado em que governam. Esta posição séria e coerente foi mostrada pela
governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que mesmo se opondo ao racionamento de
energia em seu estado, percebeu a gravidade da crise nacional e passou a tomar
medidas visando a diminuição do consumo, ganhando
assim, a simpatia dos eleitores. Uma das grandes qualidades de um líder não é
marcar posição, mas observar o contexto da situação e tomar as medidas mais
sensatas que beneficiem a população.
Na esteira da idéia de indicar
maturidade para o eleitor, objetivando se mostrar mais simpático àqueles mais
moderados e encobrir uma face mais radical, o PT lançou um programa de governo
para as próximas eleições ao Planalto. Primeiramente, o impacto foi o esperado,
pois se percebe que o Partido dos Trabalhadores está mais flexível em pequenas
questões. Entretanto, continuam sendo pequenas, pois além de nova roupagem,
necessitariam de novos conceitos para convencer o eleitorado mais moderado. O
PT continua pregando um antiamericanismo exacerbado, postado-se, entre outros, contra a globalização e a ALCA.
Além disto, coloca-se contrário a privatização e a
redução da atuação do Estado na economia, conceitos que em países mais
avançados do mundo foram fundamentais para gerar riqueza e bem estar para
população. Se o PT se mostrasse mais flexível, poderia tirar um proveito muito
maior da atual situação de crise instalada no governo federal, convencendo os
eleitores mais moderados com propostas factíveis.
Este é o momento da oposição, pois daqui para
frente existe a forte possibilidade de o governo dar uma guinada, administrando
a crise, e como resultado, impulsionar seu candidato para o segundo turno. Já
dizia Maquiavel que mal deve ser feito de uma vez, e o bem aos poucos. É bem
possível que FHC possa estar seguindo esta cartilha e depois de tantas
tempestades, a calmaria possa bater às portas do Planalto em 2002. Isso
mostraria a habilidade do governo em lidar com crises sérias. Esta pode ser a
grande “carta na manga” do governo, de que tanto se fala. Enquanto isso resta a oposição, neste momento singular, tornar-se confiante e
séria perante a população, pavimentando seu caminho ao Planalto. Talvez a
sucessão esteja muito mais nas mãos da oposição do que nas do governo, mas pelo
visto até o momento, ela ainda não percebeu este fato.
Informações Sobre o Autor
Márcio C. Coimbra
advogado, sócio da Governale – Políticas Públicas e Relações Institucionais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. Mestrando em Relações Internacionais pela UnB.
Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) articulista semanal do site www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br. Tem artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).