Buscar a visão de fora para dentro, e não somente de dentro para fora, pode trazer clareza e respostas que confirmem, ou não, se cada companhia atua como propaga
A ascensão do conceito ESG (environmental, social e governance) amplificou também debates sobre ética, compliance e transparência, temas que têm impacto direto nos negócios e na reputação das empresas. Essa demanda vem por parte de investidores e acionistas e, também, do público – que não aceita mais posturas corporativas sem responsabilidade social, ambiental e propósito.
Sob essa ótica, uma sugestão é ver como funciona – como está organizado – o compliance das empresas que se colocam como ESG atualmente. “Buscar a visão de fora para dentro, e não somente de dentro para fora, pode trazer clareza e respostas que confirmem, ou não, se cada companhia atua como propaga”, afirma o advogado Yuri Sahione, sócio da área de Compliance, Penal Econômico e Investigações do Cescon Barrieu. “É preciso ter muita coerência de discurso externo e interno. O que se fala para o público externo é preciso ser percebido e validado pelo público interno. Do contrário, o ruído pode gerar muito prejuízo”. O mercado possui diversos exemplos de companhias com a atuação correta e outros que nem tanto.
Para exemplificar com um cenário, de acordo com o especialista, considere uma empresa que cumpre com as normas ambientais que a ela são aplicáveis, que se preocupa em se relacionar com terceiros que tenham o mesmo padrão de cumprimento de normas ambientais do que ela. A empresa é socialmente responsável e promove a diversidade e inclusão social no seu quadro de funcionários e se preocupa em conhecer se seus parceiros de negócio possuem práticas de trabalho infantil, por exemplo, ou adotam políticas de diversidade em suas empresas. Onde fica o compliance nisso?
O compliance é um sistema de gestão que não pode ser entendido apenas como de riscos. Dentro do contexto das ESG o departamento de compliance representa a verdadeira curadoria de valores da empresa. No fim do dia, é compliance que vai diligenciar para conhecer se o terceiro atende ao padrão que a minha empresa estabeleceu; vai investigar atos de discriminação internos na minha empresa é compliance; vai comunicar e difundir iniciativas de transparência na empresa (maior acessibilidade ao canal de denúncias que ganha um perfil maior de canal de dúvidas do que de denúncias, auxílio na criação do public profile ético da empresa – compliance officers que vão a público em eventos e artigos para contar o case da empresa).
Enquanto ferramenta de gestão o programa de compliance se adapta para endereçar os mais diversos aspectos que não apenas o risco de corrupção, que não é menos importante do que nenhum outro risco, mas não é hoje a única preocupação do mercado. E a resultante dessas ações que também são coordenadas por compliance traz para os colaboradores e demais stakeholders a cultura empresarial. Na prática significa dizer que esses cuidados passam a fazer parte do padrão que essas pessoas imprimem na condução de suas atividades diárias na empresa. Deixa de ser uma “exigência” do jurídico, do compliance, para ser algo que é tão básico e óbvio que não poderia ser diferente. Quando os departamentos entendem e absorvem esse tipo de padrão, eles mesmos atuam representando esses parâmetros.