O momento ideal para pedir demissão — antes ou depois do pagamento — depende da sua estratégia financeira, do tipo de vínculo empregatício e dos direitos que você pretende preservar. Na maioria dos casos, o melhor é pedir demissão depois do pagamento do salário ou de eventuais benefícios, para evitar riscos de atrasos ou perda de valores.
Neste artigo, você vai entender com profundidade todos os aspectos relacionados ao pedido de demissão em relação ao dia do pagamento, os riscos de cada escolha, os direitos trabalhistas envolvidos, como funciona o aviso prévio, além de estratégias para garantir que tudo ocorra de forma segura e vantajosa para o trabalhador.
O que considerar antes de pedir demissão
Antes de tomar a decisão de pedir demissão, o trabalhador precisa avaliar sua situação financeira, seus direitos trabalhistas e a relação com a empresa. É comum que o funcionário fique em dúvida sobre o melhor momento: será que é melhor pedir demissão antes de cair o salário, ou esperar receber e só então comunicar a saída?
Essa dúvida se intensifica nos casos em que há valores atrasados, pagamentos de comissões, férias vencidas, bônus de desempenho ou quando se aproxima o 5º dia útil — data comum de pagamento nas empresas.
A decisão deve considerar o seguinte:
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A empresa costuma pagar em dia?
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Há pendências financeiras a receber?
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Existe risco de represália ou retaliação?
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O trabalhador pretende cumprir aviso prévio ou deseja sair imediatamente?
Vamos analisar cada cenário em detalhes.
Pedir demissão antes do pagamento
Pedir demissão antes de receber o salário pode ser arriscado, especialmente se a empresa estiver com histórico de atrasos ou dificuldades financeiras. Ao anunciar a saída, é possível que a empresa atrase ou dificulte o pagamento de verbas rescisórias e do próprio salário já trabalhado.
Outro ponto importante: ao pedir demissão antes do pagamento e iniciar o cumprimento do aviso prévio, o trabalhador continua exercendo suas funções. Nessa situação, a empresa ainda tem obrigação de pagar o salário normalmente e não pode descumprir isso, sob pena de infração trabalhista.
Entretanto, caso o trabalhador queira sair imediatamente, sem cumprir aviso, será descontado o valor de 30 dias de salário, o que pode impactar negativamente suas finanças se não tiver saldo suficiente para compensar.
Exemplo: imagine que João trabalhou o mês inteiro, e no dia 3 do mês seguinte resolve pedir demissão, faltando dois dias para o pagamento. Ele solicita a saída imediata. Se não receber o salário do mês anterior antes de sair, corre o risco de não ter esse valor pago facilmente, especialmente se a empresa agir de má-fé.
Portanto, em situações normais, o ideal é aguardar receber o salário e depois formalizar o pedido de desligamento.
Pedir demissão depois do pagamento
Quando o trabalhador espera o pagamento cair na conta e só depois comunica sua decisão de sair, ele reduz riscos financeiros. Além disso, tem mais controle sobre o próprio dinheiro e pode planejar com mais segurança o próximo passo da carreira.
Essa é uma escolha estratégica: com o salário já em mãos, o funcionário tem mais tranquilidade para negociar o aviso prévio e resolver pendências como entrega de equipamentos, acertos de banco de horas, devolução de crachás, entre outros procedimentos.
Além disso, essa escolha também é recomendada em empresas onde o relacionamento com a chefia ou com o setor financeiro não é dos melhores. Evita-se, assim, qualquer tentativa de represália ou má vontade na hora de efetuar os pagamentos devidos.
No entanto, é importante não confundir esse cuidado com má-fé. Pedir demissão depois do pagamento não é errado: trata-se de uma estratégia legítima para preservar os próprios direitos.
Como funciona o aviso prévio na demissão por iniciativa do empregado
Ao pedir demissão, o trabalhador precisa comunicar a empresa com 30 dias de antecedência. Esse período é conhecido como aviso prévio e pode ser:
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Trabalhado: o funcionário continua prestando serviços normalmente durante os 30 dias;
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Indenizado: o funcionário solicita o desligamento imediato e tem o valor correspondente aos 30 dias descontado do acerto final (salvo acordo com a empresa);
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Negociado: ambas as partes podem negociar um período menor de aviso, desde que estejam de acordo.
Durante o aviso prévio, o salário deve ser mantido normalmente, assim como todos os benefícios (vale-alimentação, transporte, plano de saúde, etc.), até a data final.
Importante: o pedido de demissão só produz efeitos jurídicos a partir do momento em que é formalizado por escrito e entregue ao empregador. A partir desse momento, contam-se os 30 dias, salvo decisão conjunta diferente.
Direitos trabalhistas ao pedir demissão
Ao pedir demissão, o trabalhador tem direito a receber:
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Saldo de salário (dias trabalhados no mês da saída);
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Férias vencidas + 1/3;
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Férias proporcionais + 1/3;
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13º salário proporcional;
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Depósito de FGTS do mês vigente (mas sem saque);
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Sem direito à multa de 40% sobre o FGTS;
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Sem direito ao seguro-desemprego.
Por isso, o momento do pedido de demissão pode impactar diretamente o montante total recebido no acerto final. Se o trabalhador estiver com valores pendentes, é mais seguro esperar esses créditos antes de oficializar a saída.
Impacto do pedido de demissão em outros benefícios
Ao pedir demissão, alguns benefícios podem ser suspensos imediatamente ou ao fim do aviso prévio:
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Plano de saúde: a empresa pode suspender o convênio ao fim do vínculo, a não ser que haja previsão de extensão contratual ou acordo coletivo.
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Vale-transporte: o benefício cessa com o fim da prestação de serviços.
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Vale-alimentação ou refeição: algumas empresas suspendem no momento do aviso prévio, outras apenas após o desligamento.
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Premiações e bônus: o direito a bônus ou participação nos lucros dependerá do regulamento interno e da data de referência para o pagamento.
Por isso, esperar receber esses valores antes de pedir demissão pode ser vantajoso.
Diferença entre demissão por iniciativa do empregado e pedido de acordo
Desde a Reforma Trabalhista de 2017, existe a possibilidade de um acordo de demissão entre empregado e empregador. Essa modalidade permite que o trabalhador receba:
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Metade do aviso prévio indenizado (se for o caso);
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Metade da multa do FGTS (20%);
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Saque de até 80% do saldo do FGTS;
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Sem direito ao seguro-desemprego.
Essa é uma alternativa quando o trabalhador deseja sair da empresa, mas quer minimizar perdas. No entanto, exige anuência do empregador e não deve ser confundida com o simples pedido de demissão.
Estratégias para quem quer sair do emprego sem prejuízos
Quem deseja pedir demissão e sair da empresa de maneira planejada e segura deve adotar as seguintes estratégias:
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Espere o pagamento: se possível, aguarde o salário cair na conta para reduzir riscos.
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Negocie o aviso prévio: converse com a empresa e tente um acordo que evite o desconto dos 30 dias.
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Planeje sua reserva financeira: lembre-se de que não haverá seguro-desemprego nem saque do FGTS.
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Formalize por escrito: sempre registre o pedido de demissão por escrito, com protocolo de recebimento pela empresa.
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Verifique o extrato do FGTS: garanta que todos os depósitos foram feitos corretamente antes de sair.
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Organize documentos: certidões, contratos, relatórios de desempenho e outros registros importantes devem ser salvos antes do desligamento.
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Considere o calendário de férias e 13º: se faltar pouco para o período de férias ou 13º, pode ser interessante esperar para aumentar o valor da rescisão.
Pedir demissão em final de mês: cuidados com prazos e cálculo do acerto
Um erro comum é achar que pedir demissão no dia 30 ou 31 do mês é melhor por “fechar o mês”. Na prática, isso pode não fazer diferença se o aviso prévio for trabalhado.
O mais relevante é o dia do mês em que o aviso começa a contar. Se o trabalhador pedir demissão no dia 3, por exemplo, o último dia de trabalho (no caso de aviso trabalhado) será 3 do mês seguinte.
O cálculo do acerto leva em consideração:
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O total de dias trabalhados no mês da saída;
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O tempo de casa para férias e 13º proporcionais;
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Eventuais descontos de faltas ou atrasos;
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Valor do aviso prévio, se for indenizado.
Por isso, o momento da demissão deve ser pensado com estratégia, especialmente se o empregado quiser sair antes de completar um período aquisitivo de férias ou de mais um mês para o 13º proporcional.
Exemplo prático de decisão
Situação 1: Clara trabalha há 11 meses em uma empresa. No dia 3 de julho, ela pensa em pedir demissão, mas ainda não recebeu o salário de junho. O ideal para Clara seria esperar até o pagamento, que normalmente ocorre no 5º dia útil de julho. Assim, ela evita o risco de não receber o valor de junho e ainda garante saldo financeiro para se manter nos primeiros dias após a saída.
Situação 2: Rodrigo quer pedir demissão em novembro, mas falta apenas uma semana para completar 12 meses na empresa, o que lhe daria direito às férias. Se Rodrigo puder adiar a decisão por mais uma semana, terá direito a férias vencidas no acerto, aumentando seu valor de rescisão.
Perguntas e respostas
Pedir demissão antes do pagamento pode trazer prejuízos?
Sim. Se a empresa estiver com má-fé ou dificuldades financeiras, pode dificultar o pagamento do salário e demais verbas. É mais seguro esperar o recebimento.
A empresa pode se negar a pagar o salário após o pedido de demissão?
Não. O salário é devido por todo o período trabalhado, inclusive se houver aviso prévio. Negar pagamento é infração trabalhista.
Se eu pedir demissão antes de receber, perco o direito ao salário já trabalhado?
Não perde. Você mantém o direito, mas pode ter mais dificuldade de receber se já estiver desligado da empresa.
Posso pedir demissão e sair no mesmo dia?
Pode, mas nesse caso, será descontado o valor do aviso prévio do seu acerto final. Algumas empresas dispensam o aviso.
É melhor pedir demissão no início ou no final do mês?
Depende. O mais importante é avaliar se há pagamento pendente, se há férias a vencer ou outro benefício programado. Avalie o momento com base no calendário de pagamentos e direitos.
Posso negociar com a empresa para não cumprir o aviso?
Sim. O aviso pode ser negociado, desde que haja acordo entre as partes. A empresa também pode optar por dispensar o aviso sem desconto.
O que fazer se a empresa não pagar o que me deve após a demissão?
Você pode procurar o sindicato da categoria, formalizar uma notificação extrajudicial e, se necessário, ingressar com ação na Justiça do Trabalho para cobrar seus direitos.
Conclusão
Pedir demissão é uma decisão importante que deve ser tomada com cautela, planejamento e análise dos impactos financeiros. Na maioria dos casos, o ideal é esperar o pagamento do salário e de outros valores devidos antes de comunicar formalmente a saída da empresa. Isso evita prejuízos, garante maior tranquilidade e protege os direitos do trabalhador.
Além disso, é fundamental conhecer os efeitos do aviso prévio, entender o que será incluído no acerto final e avaliar se há benefícios a receber em breve, como férias ou 13º. A tomada de decisão deve considerar o cenário completo — financeiro, emocional e profissional — para que a transição seja feita com segurança e equilíbrio.