Sim, alguns remédios podem, de fato, gerar um resultado positivo no teste do bafômetro (etilômetro), mas essa positividade geralmente é superficial, temporária e decorre de resíduos de álcool na boca ou da presença de substâncias que os aparelhos podem interpretar erroneamente como álcool. É crucial entender que a quantidade de álcool presente nesses medicamentos raramente é suficiente para atingir o nível alcoólico no sangue que configura uma infração ou crime de trânsito. A Lei Seca no Brasil busca medir o álcool que vem do ar alveolar dos pulmões, que reflete o teor alcoólico no sangue, e não apenas o resíduo na boca.
Como o Bafômetro Funciona e o que Ele Realmente Mede
Para entender se um remédio pode influenciar o resultado do bafômetro, primeiro precisamos compreender como o aparelho funciona e o que ele se propõe a medir. O etilômetro, nome técnico do bafômetro, é um equipamento projetado para detectar a concentração de álcool no ar alveolar, que é o ar proveniente dos pulmões, e não o ar da boca ou da garganta.
Quando uma pessoa ingere bebida alcoólica, o álcool (etanol) é absorvido pelo sistema digestivo e entra na corrente sanguínea. O sangue, ao passar pelos pulmões, libera o álcool para os alvéolos pulmonares, de onde é exalado na respiração. A concentração de álcool no ar alveolar é diretamente proporcional à concentração de álcool no sangue. O bafômetro utiliza essa proporção para estimar o teor alcoólico no sangue.
Os bafômetros mais comuns utilizam células a combustível ou espectroscopia infravermelha para detectar o etanol.
- Células a combustível: O ar assoprado passa por uma célula que oxida o etanol, gerando uma corrente elétrica. Quanto maior a concentração de etanol, maior a corrente, e o aparelho converte essa corrente em um valor numérico (em miligramas de álcool por litro de ar alveolar – mg/L).
- Espectroscopia infravermelha: O ar é exposto a raios infravermelhos. O etanol absorve a luz infravermelha em comprimentos de onda específicos, e a quantidade de luz absorvida indica a concentração de álcool.
É importante destacar a diferença entre o álcool na boca (álcool residual) e o álcool no ar alveolar (álcool sistêmico):
- Álcool Residual: É o álcool que pode permanecer na boca, garganta ou nos dentes após o consumo de certas substâncias (enxaguantes bucais, alguns xaropes, bombons de licor). Esse álcool pode evaporar rapidamente e ser detectado se o teste for feito logo em seguida.
- Álcool Sistêmico: É o álcool que foi absorvido pelo organismo, entrou na corrente sanguínea e está sendo exalado pelos pulmões. É esse tipo de álcool que a Lei Seca busca coibir e que o bafômetro é calibrado para medir de forma mais precisa.
A maioria dos etilômetros modernos é projetada para tentar diferenciar o álcool residual do sistêmico, ou pelo menos para que o efeito do residual seja mínimo se houver um pequeno tempo de espera. Por isso, a fiscalização frequentemente pede um breve intervalo (alguns minutos) antes de realizar o teste, ou oferece uma segunda medição em caso de resultado positivo inicial, para que o álcool residual na boca se dissipe.
Medicamentos que Contêm Álcool na Composição
Sim, muitos medicamentos líquidos, especialmente xaropes e soluções orais, possuem álcool (etanol) em sua composição. O álcool é utilizado como solvente, conservante ou para melhorar a absorção de certas substâncias ativas. A quantidade de álcool nesses produtos pode variar, mas geralmente é baixa se comparada a bebidas alcoólicas.
Alguns exemplos de medicamentos que podem conter álcool:
- Xaropes para tosse e resfriado: Muitos xaropes, tanto para tosse seca quanto para tosse com catarro, podem conter álcool. Ele pode atuar como um solvente para os princípios ativos ou como um leve sedativo/relaxante.
- Exemplo: Alguns xaropes expectorantes ou antitussígenos.
- Soluções e Elixires Orais: Certos medicamentos para problemas digestivos, vitaminas líquidas ou tónicos (como o famoso Biotônico Fontoura, que já teve em sua fórmula um teor alcoólico notável) podem ter álcool.
- Exemplo: O Biotônico Fontoura, em sua formulação tradicional, continha cerca de 9,5% de álcool. Embora a formulação possa ter mudado, é um exemplo clássico de medicamento com álcool.
- Medicamentos Homeopáticos em Solução: Muitas preparações homeopáticas líquidas utilizam álcool como veículo de diluição e conservação, geralmente em concentrações mais elevadas (30% ou mais) para garantir a estabilidade das tinturas-mãe.
- Extratos de Ervas e Fitoterápicos Líquidos: Alguns extratos de plantas medicinais são preparados com álcool para extrair os compostos ativos e preservá-los.
- Medicamentos para Gástricos e Antissépticos Bucais (Não Medicamentos): Embora não sejam “remédios” no sentido estrito, alguns antissépticos bucais (como Listerine) contêm altos teores de álcool (até 20-30%) e podem gerar uma leitura temporariamente positiva se o teste do bafômetro for feito imediatamente após o uso. Pastilhas e balas com recheio de licor também se encaixam aqui.
Importante: A quantidade de álcool em uma dose típica desses medicamentos geralmente é muito pequena para ser absorvida pelo organismo e resultar em um teor alcoólico significativo no sangue. O que pode acontecer é uma detecção temporária do álcool residual na boca, logo após o uso.
O Risco de Falso Positivo Temporário no Bafômetro
O risco de um medicamento causar um resultado positivo no bafômetro existe, mas é quase sempre um falso positivo temporário, devido à presença de álcool residual na boca.
Como Isso Acontece:
- Álcool Residual na Boca: Se você tomar um xarope com álcool, usar um enxaguante bucal alcoólico ou comer um bombom de licor e, em seguida, soprar o bafômetro, o aparelho pode detectar esse álcool que ainda está na boca, língua e garganta.
- Volatilidade do Etanol: O etanol é volátil e evapora rapidamente. O álcool que permanece na boca se dissipa em poucos minutos (geralmente de 10 a 15 minutos).
O que Fazer em Caso de Suspeita de Falso Positivo:
- Informe o Agente: Se você tiver acabado de tomar um medicamento com álcool ou usado um produto bucal, informe o agente de trânsito no momento da abordagem. Explique o que consumiu.
- Solicite um Tempo de Espera: Peça para aguardar alguns minutos (15-20 minutos) e fazer um novo teste. Esse tempo é geralmente suficiente para que o álcool residual da boca se evapore e o bafômetro meça apenas o álcool sistêmico (dos pulmões).
- Lave a Boca com Água: Se possível, beba um pouco de água ou enxágue a boca. Isso ajuda a remover o álcool residual.
- Peça a Releitura: Após a espera e/ou o enxágue, peça para soprar o bafômetro novamente. Se o resultado for significativamente menor ou zero, isso reforçará a sua alegação de falso positivo.
- Solicite Outros Meios de Prova: Se, mesmo após a espera, o teste ainda der positivo e você tiver certeza de que não consumiu bebida alcoólica, você pode solicitar ao agente a realização de um exame de sangue para dosagem de álcool ou um exame clínico em uma unidade de saúde. O exame de sangue é a prova mais definitiva da concentração de álcool no sangue.
É importante ressaltar que a mera alegação de ter usado um medicamento com álcool, sem outras provas ou a solicitação de um novo teste após alguns minutos, geralmente não é suficiente para invalidar a autuação. A Lei Seca é rigorosa, e a fiscalização busca coibir o consumo de bebidas alcoólicas, que atingem o sangue em níveis perigosos.
Remédios que Não Contêm Álcool, Mas Podem Afetar a Capacidade de Dirigir
Além dos medicamentos que contêm álcool em sua composição, existe uma vasta categoria de remédios que, mesmo sem etanol, podem afetar a capacidade psicomotora do motorista e, embora não deem positivo no bafômetro, representam um sério risco à segurança no trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê a infração de “dirigir sob influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência” (Art. 165). No entanto, muitos medicamentos que afetam a direção não são “substâncias psicoativas que determinam dependência” no sentido legal do Art. 165, mas ainda assim prejudicam a condução.
Esses medicamentos podem causar efeitos colaterais como:
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Sonolência e Sedação:
- Antialérgicos (anti-histamínicos de primeira geração): Ex: maleato de dexclorfeniramina (Polaramine, Dexclor), prometazina (Fenergan).
- Relaxantes musculares: Ex: ciclobenzaprina (Miosan), carisoprodol.
- Analgésicos opioides e alguns analgésicos fortes: Ex: tramadol, codeína.
- Antidepressivos e ansiolíticos (benzodiazepínicos): Ex: clonazepam (Rivotril), diazepam (Valium), alprazolam (Frontal), amitriptilina.
- Remédios para dormir (hipnóticos): Ex: zolpidem.
- Antipsicóticos: Medicamentos utilizados no tratamento de transtornos psiquiátricos graves.
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Alteração da Visão:
- Colírios para dilatar a pupila.
- Alguns medicamentos para glaucoma.
- Antidepressivos e antialérgicos podem causar visão turva.
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Vertigem, Tontura e Perda de Equilíbrio:
- Diuréticos.
- Anti-hipertensivos (especialmente no início do tratamento ou em doses elevadas).
- Alguns antibióticos.
- Medicamentos para labirintite.
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Alteração de Reflexos e Coordenação:
- Anticonvulsivantes/antiepilépticos.
- Alguns medicamentos para Parkinson.
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Nervosismo, Agitação ou Irritabilidade:
- Alguns broncodilatadores.
- Medicamentos para emagrecer (anorexígenos) que atuam no sistema nervoso central.
Sinal de Alerta: Muitos medicamentos que causam esses efeitos trazem na bula um alerta específico sobre a interação com a direção veicular ou operação de máquinas. É crucial ler a bula de qualquer medicamento antes de dirigir.
Recomendação: Se você estiver tomando algum desses medicamentos e precisar dirigir, converse com seu médico e farmacêutico. Eles podem orientar sobre os melhores horários para tomar o remédio, se é seguro dirigir, ou se há alternativas com menos efeitos colaterais. Dirigir sob o efeito dessas substâncias, mesmo que não seja álcool, pode ser tão perigoso quanto dirigir embriagado e pode levar a acidentes, mesmo sem configurar infração por álcool.
O Metabolismo do Álcool no Organismo e a Resposta do Bafômetro
O metabolismo do álcool no organismo é um processo complexo que influencia diretamente a leitura do bafômetro. Quando o álcool é ingerido, ele é absorvido principalmente no estômago e no intestino delgado e rapidamente distribuído por todo o corpo através da corrente sanguínea.
- Absorção: O álcool começa a ser absorvido logo após a ingestão. Fatores como o tipo de bebida, a quantidade de comida no estômago (o alimento retarda a absorção), o peso corporal e o metabolismo individual influenciam a velocidade de absorção.
- Distribuição: Uma vez absorvido, o álcool se distribui pela água do corpo. Por isso, pessoas com maior percentual de água corporal (homens, por exemplo) tendem a ter uma concentração de álcool no sangue ligeiramente menor para a mesma quantidade ingerida.
- Metabolização: A maior parte do álcool (cerca de 90-98%) é metabolizada no fígado, principalmente pela enzima álcool desidrogenase (ADH). O restante é eliminado pela urina, suor e, crucialmente para o bafômetro, pela respiração.
- Eliminação: A taxa de eliminação de álcool do organismo é relativamente constante e lenta, girando em torno de 0,01 a 0,02% de concentração alcoólica no sangue (BAC) por hora. Não existem métodos rápidos para “cortar o efeito” do álcool, como tomar café forte, banho frio ou comer alimentos. Apenas o tempo permite que o corpo metabolize e elimine o álcool.
Como isso se relaciona com o bafômetro:
- Pico de Concentração: O teor alcoólico no sangue (e, consequentemente, no ar alveolar) atinge um pico entre 30 e 90 minutos após a ingestão, dependendo dos fatores de absorção.
- Medição do Ar Alveolar: O bafômetro é projetado para medir o álcool que vem dos alvéolos pulmonares, pois essa concentração reflete o teor de álcool no sangue. O ar profundo dos pulmões tem uma relação estável com a concentração sanguínea de álcool.
- Persistência do Álcool: Como a eliminação é lenta, o álcool pode permanecer detectável no ar alveolar por várias horas após o consumo. Uma única dose de bebida pode levar horas para ser completamente eliminada, e doses maiores podem demorar até 24 horas ou mais.
A importância do tempo: O intervalo de 15-20 minutos que os agentes podem solicitar antes de um segundo teste de bafômetro é fundamental. Ele serve para que qualquer álcool residual presente na boca (proveniente de medicamentos, enxaguantes, bombons, etc.) seja evaporado, garantindo que a medição seja do álcool sistêmico dos pulmões, ou seja, do álcool que realmente foi absorvido e está na corrente sanguínea. Se após esse tempo o resultado ainda for positivo, é muito mais provável que o condutor tenha, de fato, consumido bebida alcoólica.
A Importância da Honestidade e do Esclarecimento na Fiscalização
Em uma abordagem de trânsito onde o teste do bafômetro será realizado, a honestidade e o esclarecimento sobre o uso de medicamentos (e outros produtos) podem ser cruciais para evitar problemas desnecessários.
- Comunique a Situação: Se você tomou um medicamento que sabe ou suspeita que contém álcool, ou usou um enxaguante bucal alcoólico, informe o agente de trânsito imediatamente. Explique a situação de forma clara e calma.
- Exemplo: “Senhor policial, acabei de tomar um xarope para tosse que contém álcool na fórmula. Será que poderíamos esperar uns 15 minutos para fazer o teste?”
- Apresente a Bula ou Receita (se tiver): Se você tiver a bula do medicamento que comprove a presença de álcool ou uma receita médica que justifique o uso da medicação, apresente-as ao agente. Embora não invalidem automaticamente um teste positivo por álcool de bebida, demonstram sua boa-fé.
- Colabore com a Fiscalização: Embora você tenha o direito de recusar o bafômetro (sujeitando-se às penalidades da recusa), a colaboração pode ser a melhor estratégia se você não bebeu. Soprar o bafômetro e, se der positivo, solicitar um segundo teste após um intervalo pode ser a forma mais rápida de resolver a situação e provar sua inocência em relação ao consumo de álcool.
- Observe os Sinais de Alteração da Capacidade Psicomotora: Lembre-se que o crime de trânsito por embriaguez pode ser comprovado por sinais de alteração da capacidade psicomotora (olhos vermelhos, fala arrastada, dificuldade de equilíbrio, odor de álcool no hálito). Se você está sob efeito de um medicamento que causa sonolência, vertigem ou outras alterações, e o agente notar esses sinais, ele pode registrar um termo de constatação, o que pode complicar sua situação, mesmo sem álcool no sangue. A honestidade sobre o uso de tais medicamentos também é importante aqui.
Os agentes de trânsito são treinados para lidar com essas situações. Eles sabem que alguns produtos podem causar falsos positivos temporários e geralmente permitem um tempo de espera ou uma segunda testagem. A atitude do condutor, demonstrando colaboração e transparência, pode influenciar positivamente a abordagem e a decisão do agente. O objetivo da fiscalização é coibir o álcool ao volante, não penalizar quem usa medicamentos de forma legítima.
Outras Substâncias e Alimentos que Podem Gerar Falso Positivo Temporário
Além de medicamentos, outras substâncias e alimentos podem, de forma semelhante, causar um falso positivo temporário no teste do bafômetro, também devido ao álcool residual na boca ou a processos de fermentação que produzem pequenas quantidades de álcool.
- Enxaguantes Bucais com Álcool:
- Exemplo: Listerine, Periogard e outros antissépticos bucais podem conter entre 5% e 30% de álcool. Se o teste for feito imediatamente após o uso, o resultado pode ser positivo.
- Solução: Enxaguar a boca com água e esperar 15 a 20 minutos. O álcool evapora rapidamente.
- Bombons de Licor:
- Contêm licor ou alguma bebida alcoólica no recheio. O álcool fica na boca.
- Solução: Enxaguar a boca e esperar alguns minutos antes do teste.
- Alimentos Fermentados (Pães, Massas):
- Produtos de panificação fermentados (como pão de forma, pães caseiros com fermentação longa) podem conter quantidades mínimas de álcool devido ao processo de fermentação do fermento biológico.
- Solução: O impacto é geralmente insignificante e se dissipa rapidamente. Se consumidos em grande quantidade e o teste for imediato, pode haver um resíduo mínimo.
- Frutas Muito Maduras:
- Frutas como bananas, abacaxis e maçãs muito maduras podem sofrer um processo de fermentação natural, produzindo pequenas quantidades de álcool.
- Solução: O teor é ínfimo e raramente causaria um positivo relevante.
- Vinagre Balsâmico ou de Maçã:
- Alguns tipos de vinagre, especialmente os artesanais ou envelhecidos, podem conter resquícios de álcool do processo de fermentação.
- Solução: O impacto é mínimo, mas é um ponto a se considerar.
- Kombucha:
- Bebida fermentada à base de chá, contém pequenas quantidades de álcool (geralmente abaixo de 0,5% a 1% ABV, mas pode variar). O consumo excessivo pode gerar alguma detecção, mas geralmente abaixo dos limites de infração.
Em todos esses casos, o princípio é o mesmo dos medicamentos com álcool: o álcool detectado é residual e superficial, não sistêmico. O período de espera de 15 a 20 minutos e um enxágue bucal com água costumam ser suficientes para que o resultado do bafômetro reflita a real condição do organismo em relação ao álcool absorvido.
Implicações Legais e o Direito de Defesa
A Lei Seca é rigorosa, e a alegação de “tomei um remédio” não é, por si só, uma carta branca para invalidar um teste positivo no bafômetro, especialmente se houver outros indícios de embriaguez. No entanto, o condutor tem o direito à ampla defesa em todas as esferas.
O que o CTB Diz:
- Art. 165: Dirigir sob influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.
- Art. 165-A: Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de álcool ou outra substância psicoativa.
Ambos resultam em multa de R$ 2.934,70 e suspensão da CNH por 12 meses. O crime de trânsito (Art. 306) exige 0,34 mg/L no bafômetro ou sinais de alteração da capacidade psicomotora.
Direito de Defesa:
Se você foi autuado por embriaguez ao volante e acredita que o resultado positivo do bafômetro foi devido a um medicamento ou a um falso positivo temporário, você tem o direito de se defender:
- Defesa Prévia: Argumente sobre erros formais no Auto de Infração, ou sobre a falta de observância do procedimento do agente (ex: não oferecer segunda testagem após tempo de espera, não oferecer exame clínico/sangue).
- Recurso à JARI (Junta Administrativa de Recursos de Infrações): Apresente laudos médicos, bulas de medicamentos, e argumentos que comprovem que você não ingeriu bebida alcoólica, e que o resultado foi atípico devido ao uso de uma substância específica.
- Recurso em Segunda Instância (CETRAN/CONTRANDIFE): Se o recurso à JARI for negado, você pode recorrer à segunda instância administrativa.
- Ação Judicial: Em casos mais complexos ou de grande prejuízo, a via judicial pode ser uma opção para tentar anular a multa e a suspensão, apresentando provas e argumentos mais detalhados. A prova de que o medicamento tem álcool e que você não consumiu bebidas alcoólicas será crucial.
Desafio Legal: Provar em juízo que um resultado positivo significativo foi apenas por um medicamento é um desafio, especialmente se o valor for alto e se houver outros sinais de embriaguez. A jurisprudência tende a ser rigorosa e a dar peso à prova do bafômetro. A alegação de uso de medicamento deve ser acompanhada de evidências sólidas e de uma narrativa consistente com a dosagem e eliminação do álcool.
É por isso que a recomendação de informar o agente e solicitar um novo teste ou outros meios de prova no momento da abordagem é tão importante. Essa é a sua primeira e melhor chance de esclarecer a situação e evitar todo o processo burocrático e legal.
Perguntas e Respostas Frequentes (FAQ)
1. Se eu tomei um xarope com álcool, o bafômetro vai dar positivo?
Pode dar um resultado positivo temporário se você soprar o bafômetro imediatamente após tomar o xarope, devido ao álcool residual na boca. No entanto, o álcool residual se dissipa em poucos minutos (geralmente 15-20 minutos).
2. O que devo fazer se der positivo e eu só tomei remédio?
Informe o agente de trânsito imediatamente que você tomou um medicamento (cite qual). Peça para aguardar uns 15-20 minutos e, se possível, enxágue a boca com água. Em seguida, solicite um novo teste. Se o resultado for diferente, reforça sua alegação.
3. Posso recusar o bafômetro se tomei remédio?
Você pode recusar, mas a recusa em si (Art. 165-A do CTB) já é uma infração que gera as mesmas penalidades de dirigir embriagado: multa de R$ 2.934,70 e suspensão da CNH por 12 meses. A recusa não evita a punição administrativa. O ideal é soprar e, se necessário, solicitar contraprova ou tempo de espera.
4. Quais tipos de remédios podem conter álcool?
Principalmente xaropes para tosse e resfriado, alguns elixires e soluções orais (como tónicos ou vitaminas líquidas), e muitas preparações homeopáticas líquidas. Alguns antissépticos bucais também contêm álcool.
5. Um bombom de licor pode dar positivo no bafômetro?
Sim, se o teste for feito imediatamente após o consumo, o álcool do bombom pode ser detectado como residual na boca. O efeito é temporário e se dissipa rapidamente.
6. Meu remédio não tem álcool, mas me deixa sonolento. Isso me causará problemas?
Sim, embora não dê positivo no bafômetro, dirigir sob o efeito de medicamentos que causam sonolência, tontura ou alteram reflexos é perigoso e pode configurar a infração do Art. 165 (se for considerado “substância psicoativa que determine dependência”) ou justificar a autuação do Art. 277, §2º (apresentação de sinais de alteração da capacidade psicomotora), ou ainda outras infrações por imprudência (Art. 169). Sempre leia a bula e consulte seu médico.
7. Um exame de sangue é mais preciso que o bafômetro para comprovar álcool?
Sim, o exame de sangue é considerado a prova mais definitiva da concentração de álcool no sangue. Ele mede o teor alcoólico sistêmico, e não o residual da boca. Você pode solicitá-lo como contraprova.
8. A alegação de uso de remédio é suficiente para anular a multa?
Geralmente não é suficiente por si só. A alegação precisa ser acompanhada de provas (bula, receita, resultado de segundo teste negativo após espera) e ser consistente com o baixo teor que o medicamento realmente poderia gerar. Se o bafômetro registrou um teor alto, é muito improvável que tenha sido apenas pelo remédio.
9. O que fazer se o agente não me der a chance de fazer um segundo teste ou exame de sangue?
Isso pode ser um argumento para sua defesa ou recurso. A Resolução do CONTRAN prevê procedimentos para a fiscalização, e a negativa de uma contraprova justa (se o condutor apresentar justificativa razoável e não houver sinais claros de embriaguez) pode ser contestada.
10. Quanto tempo depois de tomar um remédio com álcool é seguro dirigir?
Para produtos com álcool residual na boca (xaropes, enxaguantes), esperar 15 a 20 minutos e enxaguar a boca com água é geralmente suficiente. No entanto, se o remédio causar sonolência ou outros efeitos que afetam a direção, você não deve dirigir enquanto estiver sob esses efeitos, independentemente de ter ou não álcool.
Conclusão
A dúvida sobre a influência de medicamentos no teste do bafômetro é comum e legítima, dada a rigidez da Lei Seca no Brasil. De fato, alguns remédios e produtos bucais contêm álcool em sua composição e podem, sim, gerar um resultado positivo temporário no bafômetro, especialmente se o teste for realizado imediatamente após o uso. No entanto, essa detecção se refere ao álcool residual na boca, que se dissipa rapidamente, e não ao álcool sistêmico, que está na corrente sanguínea e afeta a capacidade de dirigir.
A chave para evitar problemas nessas situações é a transparência e a colaboração com o agente de trânsito. Se você utilizou algum produto que possa conter álcool, informe o policial, solicite um breve período de espera (15 a 20 minutos) e, se possível, enxágue a boca com água antes de um segundo teste. Essa atitude proativa pode resolver a situação no local e evitar a autuação indevida.
É vital lembrar que o bafômetro é calibrado para medir o álcool que vem dos pulmões, o que reflete a concentração de álcool no sangue. As quantidades de álcool em medicamentos geralmente são mínimas e não seriam suficientes para atingir os limites que configuram infração ou crime de trânsito se absorvidas pelo organismo.
Mais importante do que a preocupação com o bafômetro é a atenção aos efeitos colaterais de medicamentos que não contêm álcool, mas podem prejudicar a sua capacidade de dirigir. Sonolência, tontura, alteração de reflexos e visão são perigosos no tr trânsito e podem levar a acidentes, mesmo sem configurar embriaguez. Sempre leia a bula de seus medicamentos e, em caso de dúvida, consulte seu médico ou farmacêutico sobre a segurança de dirigir enquanto estiver sob o efeito da medicação. A prudência e a responsabilidade são os melhores aliados da segurança no trânsito, garantindo que você dirija sempre em plenas condições.